Cronicas das doze essências. escrita por Ak


Capítulo 5
Me torno um membro agregado das sentinelas de Floencia




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Zenite saiu tempestuoso do local, batendo a porta e acordando alguns dos soldados que ali descansavam. E também o senhor Cedric, que pulou da cadeira em que dormia. Ele esfregou os olhos e virou-se para mim, sorrindo amigavelmente.

– Hanzo! Bom dia, meu jovem! Como está sua perna?

– Minha perna ... – Eu nem lembrava que estava machucado. Não sentia mais dor alguma, nem havia sinal de ferimento. Consegui levantar sem problema.

– Viu só, eu não disse que as curandeiras de Floencia eram as melhores de Yujia? – Ele sorriu eufórico

– É, parece que sim. Hehehe – Respondi.

Cedric levantou-se e seguimos juntos para o saguão central. Eu ainda estava intrigado com aquela pedra que havia aparecido na minha cama, mas resolvi coloca-la no bolso, só por precaução. Chegando lá, vimos as sentinelas reunidas com os soldados do palácio. Zenite estava ao lado de Yannefir, dizendo alguma coisa que a flautista parecia estar simplesmente ignorando. Fomos ate eles e, ao nos aproximarmos, Zenite recebeu o senhor Cedric com um "bom dia" e a mim com um "esta atrasado, garoto", o que me fez fulmina-lo com os olhos enquanto ele se afastava. O vovô colocou uma de suas mãos sobre meu ombro e apontou para uma uma cadeira que estava a minha frente. Eu não sabia se ele estava sugerindo que eu me sentasse ou que jogasse aquela cadeira na cabeça do Zenite. Que era o que eu queria fazer. Na duvida, apenas sorri e balancei a cabeça negativamente.

– Aparentemente, a sacerdotisa quer falar conosco. - Yannefir disse. - Tem algo a ver com a expedição na torre de Isis.

Cedric colocou sua outra mão sobre o ombro de sua neta. Pude ver um pouco de preocupação em seus olhos. Porém, antes que dissesse algo, sinos soaram no saguão. Estes anunciavam a chegada da sacerdotisa. Ela desceu calmamente pela escada central. Estava com um vestido vermelho e seus longos cabelos ruivos presos em uma trança caída sobre seu ombro. Duas pessoas a acompanhavam. Zenite estava de um lado, e do outro, havia um sujeito com cara de "eu queria estar dormindo". Ele era alto, mais alto que o Zenite. E de ombros largos, com o cabelo preto aparado como o de um militar.

– Muito bem. - a sacerdotisa começou. - Como muitos aqui já sabem, o general Clint e as sentinelas da cidade vieram ao palácio por conta dos estranhos acontecimentos que estão ocorrendo em Yujia, tal como o aparecimento de monstros em nosso palácio ontem. Ele organizou uma expedição para a torre de Isis, o local onde o mal foi selado séculos atrás, e veio em busca de reforços.

– Eu mesmo selecionarei aqueles que irão me acompanhar. - A voz do general ecoou firme pelo saguão. Os soldados se entreolharam, era clara a tensão que havia pesado entre eles. - E, claro. Tenho que lembrar que essa e apenas uma missão de reconhecimento. - Ele disse aquilo com um sorriso forçado no canto do rosto, me perguntei se ele estava tentando convencer as tropas ou a si mesmo do que dizia.

– E isso é tudo. – A sacerdotisa concluiu. – Os soldados estão dispensados.

Logo, os soldados seguiram para o jardim, guiados por Zenite e Clint. A maioria deles não parecia muito satisfeita com a ideia da expedição, porém, depois daquele ‘’ ... eu mesmo selecionarei aqueles que irão me acompanhar, blah blah blah’’, acho que eles não poderiam reclamar de muita coisa.

Por fim, Yannefir, Cedric e eu estávamos nos retirando também, mas, a sacerdotisa interviu.

– Esperem. – Ela disse. – Há algo que tenho que falar com vocês. Poderiam me acompanhar?

Nem esperou que respondêssemos, ela deu as costas e seguiu pelas escadas dirigindo-se a seus aposentos. Entreolhamos-nos. Sei que eu não fui o único a achar estranho o jeito apressado que ela se afastou.

Nos a seguimos até seu quarto. Lá, encontramos a sacerdotisa sentada na ponta da cama. Ela pediu que nos aproximássemos. Estava fitando o chão, com o olhar pesado.

– Bem ... – ela começou. – Irei direto ao ponto. Hanzo e Yannefir, o general Clint quer que vocês o acompanhem até a torre de Ísis.

Não posso negar que fiquei surpreso com aquelas palavras. Só então me lembrei vagamente que Zenite havia me dito algo parecido momentos atrás. Porém, eu estava sonolento demais pra ter prestado atenção. Olhei para Yannefir. Ela não mostrou reação ao pedido da sacerdotisa.

– Claro, não irei obrigá-los a ir... aquele lugar ... aquele lugar é ... – Ela apertou as mãos com força. Podíamos ver o quanto ela estava se esforçando para falar. Quase como se cada palavra pesasse em sua consciência.

– Eu irei. – Yannefir falou sem hesitar. Sua voz era firme e decidida. – E você, vem?

Instantaneamente todos olharam diretamente para mim. Sem pressão, claro.

Eu queria ajuda-los. E também, se fosse para não fazer nada, seria melhor eu nem ter recebido essa arma. Sim, claro que eu iria. Mas foi difícil dizer algo com todo mundo me olhando daquela forma. Tentei responder, porém, só o que consegui dizer foi um ‘’ - Er ...!?”

– Hanzo, há mais uma coisa que você precisa saber. – Disse a sacerdotia. – Como eu lhe disse, a torre de Ísis é o centro da força de Yujia ... e também.. lá está o portal que separa nossos mundos. O único jeito de você voltar para o seu mundo ... é pela torre de Ísis.

– ... voltar para o meu mundo . – Retruquei.

Foi então que eu percebi que não havia pensado sobre isso ainda. Eu Havia esquecido completamente do meu mundo. Meu pai , meu irmão ... eu já havia sumido por um dia, o que eles estariam pensando ? Eu sempre quis fugir de minha vida monótona, mas, eu não poderia ficar em Yujia para sempre. Estava claro o que eu precisava fazer. Eu tinha de ir para a torre de Ísis.

– Er ... eu tenho uma pergunta. – Falei

– ... sim ?

– Se o único portal entre esse e o meu mundo está na torre de Ísis ... como exatamente eu cheguei aqui ?

– Os buracos no véu ... – Yannefir sussurrou

– Correto. – A sacerdotisa assentiu. – O véu que divide os mundos parece estar enfraquecendo... Isso é uma das coisas que o general quer investigar. Você provavelmente foi trazido para cá por um desses buracos, Hanzo.

Ao ouvir aquilo, instantaneamente diversas lembranças vieram a minha mente. Coisas estranhas que aconteceram comigo e que eu achei melhor não contar a ninguém para não ser mandado para um manicômio.

Por exemplo, um dia eu estava indo para escola, andando tranquilamente pela calçada e fui surpreendido por um nevoeiro. Momento depois estava correndo por uma plantação de milho, sendo perseguido por um espantalho de olhos flamejantes que segurava uma foice e gritava “VOLTE AQUI INVASOR, VOCE NÃO VAI ROUBAR AS MINHAS ESPIGAS”. Depois disso a névoa apareceu de novo e quando dei por mim, estava caído no gramado em frente à escola. E esse foi mais um dia completamente normal na minha vida. Depois dessa história dos ‘’buracos no véu’’, tudo isso começou a fazer sentido. Até porque, ser perseguido por um espantalho assassino falante por uma plantação de milho é uma coisa totalmente normal. Quem nunca passou por isso?

– ... Entendi. – Assenti coçando a nuca. -

– .... e então, você vem ou não? – Yannefir , sempre direta.

– Haha. – Deixei escapar uma risada. – É claro que sim.

A sacerdotisa suspirou e voltou a e fechar as mãos com força.

– Certo ... – disse hesitante. – Avisarei ao general da escolha de vocês. Agora, devem estar com fome, não é? – Ela forçou um sorriso. – Porque não vão para a sala de refeições? Teremos um grande banquete para as tropas do palácio!

– É uma boa ideia. – Concordei. Com isso, deixamos a sacerdotisa e seguimos de volta para o saguão. O senhor Cedric não havia dito uma palavra, de certo estava preocupado com sua neta.

– Vovô ... – Yannefir chamou sua atenção.

– ... não precisa dizer nada, minha filha. Sei que esta cumprindo com sua obrigação como guardiã. – Ele sorriu pesadamente. Yannefir lhe deu um abraço e logo seguiu na frente. O senhor Cedric suspirou enquanto via ela se afastar.

– Ela está crescendo ... – Ele disse.

– Ela vai ficar bem. – Tentei consola-lo

– Assim espero ... mas não posso evitar de me preocupar quando ela sai nessas missões ...

– Não esquenta. – pousei a mão sobre o ombro dele. – Tomo conta dela

– Você é um bom garoto, Hanzo. – Ele finalmente sorriu. – Agora venha. Sei que também está morrendo de fome. Hehehe

Sim, eu estava. Seguimos então para o ‘’refeitorio’’ do castelo. Lá, haviam varias mesas longas enfileiradas. Sentados estavam centenas de soldados esfomeados servindo-se de frutas, pães, vinhos e outras coias que eu não consegui identificar.

Sentei-me ao lado de Cedric, que abocanhava uma diferente fruta azul que tinha o formato de uma pera. Decidi experimentar. Tinha um gosto esquisito. Era doce e levemente picante. Preferi ficar com os pães. Olhei em volta e não vi Yannefir, mas achei melhor não perguntar por ela. E assim a manhã seguiu tranquila.

Logo, os soldados se dispensaram. O general já havia escolhido suas tropas, e estes deviam se preparar para a partida, que seria no dia seguinte. Cedric me guiou até o depósito do arsenal do castelo, que ficava a alguns corredores do refeitorio. Porque, é claro que eu não poderia embarcar com o exercito usando a farda da universidade, uma calça jeans e um tênis.

Lá, fomos recebidos por um soldado que devia ter duas vezes a minha altura e trinta e duas vezes a minha largura.

Ele me avaliou enquanto coçava a barba.

– Vai mesmo se juntar ao exercito, garoto? – Ele perguntou

– Na verdade, o general me convocou para a expedição na torre de Ísis.

– Não sabia que recrutavam pessoas da sua ... altura. – Ele riu

– Como assim ? – Questionei enquanto Cedric se segurava uma risada

– Sim sim, claro... – Ele resmungou. Não parecia ter me levado muito a sério. Moveu-se até uma parede onde estava um mostruário de todo tipo de arma. Eram armas enormes.Claramente desproporcionais para o meu tamanho. Haviam machados, bastões, arcos, espadas e diversas outras coisas. – Tem preferência por alguma. Hahahaha. – Falou com um tom incrivelmente irônico

– Na verdade ... – Virei mostrando a lamina lunar em sua bainha que eu carregava nas costas. – Eu já tenho uma arma.

Olhei para ela por cima do ombro e vi que seu rosto havia ficado pálido. – Essa é ... – Ele apontou para minha espada com a mão tremula.

– ... é sim. – Cedric assentiu.

– Er ... certo, certo.Vou pegar algo pra você. – Ele apressou-se e abriu um baú onde haviam algumas vestimentas. Tirou de lá uma roupa cinzenta de fivelas e caneleiras pretas que pareciam ser feitas de couro.

– Aqui... esta deve ser do seu tamanho. - Falou

Agradeci pelos equipamentos e saímos do depósito. Vi que o balconista nos observava coçando a cabeça enquanto nos afastávamos.

– Venha, vou lhe mostrar os dormitórios da milícia. – Cedric disse. – Podemos guardar essas coisas lá.

Ele me acompanhou até o saguão, porém, repentinamente ele se lembrou de algo e disse que tinha de ir. Falou que precisava resolver umas coisas relacionadas a seu trabalho na cidade. Não entendi porque ele saiu tão apressado.

– Os dormitórios ficam no final daquele corredor. – Ele falou

Segui pela passagem que me foi indicada, o que me levou a uma escadaria que terminava no jardim. Chegando lá, algo chamou minha atenção. Eu ouvi uma melodia. Um som que eu havia reconhecido.

Mais a frente, vi Yannefir tocando sua flauta a sombra de uma arvore. Estava sentada sobre a grama de olhos fechados. Quando os abriu, achei que fosse me mandar mais um daqueles ataques sonoros e tentar estourar meus tímpanos nos por estar bisbilhotando. Mas, para minha surpresa, ela não o fez. Sequer mostrou reação a me ver. Então, fui até ela.

– Posso me sentar ?


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