Thanks For Sharing escrita por poison ivy


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Comecei a escrever essa história no ano passado, mas nunca achei que estava boa o suficiente para ser postada. Depois de algumas modificações resolvi arriscar. Se eu não postar nunca saberei se ela é boa ou não, não é mesmo?



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/457806/chapter/1

Há meses insistiam para que eu frequentasse uma dessas reuniões do AA, sempre disse que não precisava. Ainda acho que não preciso, ninguém aqui acha que precisa, mas por insistência de alguém sempre acaba voltando. Eu acabei voltando. E, outra vez, estou aqui sentado nessa desconfortável cadeira de metal.

Reuniões do AA funcionam como uma espécie clube secreto, onde você fala da sua vida para pessoas que realmente não se importam com você, mas aparecem sempre para tomar café ruim e comer rosquinhas de graça enquanto alguém está falando. Sempre tem alguém para “compartilhar” uma experiência. Acho que as pessoas se cansam vir aqui só ouvir e, num determinado dia, tomam coragem para ir ao púlpito e parar de mentir para si mesmo. E quando menos se dá conta está diante de todo mundo confessando.

—Meu nome é Anthony Stark, e eu sou um alcoólatra.— admiti.

As palavras saíram da minha boca com uma facilidade que me assustou, nem percebi a distância que percorri do lugar onde estava até o púlpito, só acordei quando as pessoas retribuíram a minha saudação inusitada, mas já que eu estava ali, parado diante deles, precisei continuar.

—Fiz muita coisa boa na vida, sóbrio na maioria das vezes— continuei com a minha história —Mas também fiz muita merda, muita mesmo, bêbado quase sempre. Com certeza vocês viram em algum noticiário. Falando assim parece que a minha vida se resume a momentos de bebedeira e sobriedade. Bem.— pigarreei —É basicamente isso. Ah, também tem as mulheres, quando as conheço estou quase bêbado, e quando acordo sóbrio ao lado delas, mando-as embora. Na verdade, não sou eu quem manda, sou um pouco covarde para encarar uma mulher quando estou sóbrio. Dei-me conta disso aos 14 anos, quando bebi pela primeira vez. Eu estudava num colégio de classe alta e a maioria das garotas naquela época eram cruéis. Lindas e cruéis. As garotas da minha idade se interessavam por caras mais velhos com carros velozes. Qual era a minha chance com elas? Nenhuma. Até o dia em que eu dei a primeira festa na minha casa. Meus pais tinham ido viajar, dispensei os funcionários, e convidei metade da escola para ir pra casa. Bebi um pouco para me soltar e conseguir chegar nas garotas, descobri que quando as garotas bebem elas não têm muito critério. Ou talvez, naquela noite eu tenha deixado de ser o fedelho careta e tenha me tornado o cara legal, com uma casa bacana que estaria disponível para festas pelo menos uma vez por mês. Não importava. O importante era que as garotas bêbadas eram fáceis e me deixavam tocá-las em lugares que eu jamais tocaria se elas estivessem sóbrias, e o melhor, elas me tocavam de volta. Garota, depois de garota, depois de garota comprovou a teoria. Eis o resumo dos meus primeiros porres.— concluí.

Olhei para o lado e, com um aceno de cabeça, o cara que tomava as rédeas das sessões me disse para prosseguir.

—Aos 20 eu já não controlava mais o quanto bebia. Eu estava num buraco e não saí mais dele, uma vez me disseram que a idade em que você começa a beber é a idade em que você congela, sendo assim, talvez eu fosse um menino de 14 no corpo de um homem. Mas aos 20 eu já tinha o meu carro veloz, meu apartamento no centro de Manhattan, estava concluindo a minha graduação no MIT e, apesar de bêbado e rebelde, era considerado um gênio, único herdeiro de uma das maiores fortunas do país, tinha tudo o que eu queria ter na hora em que eu queria. E as mulheres praticamente se jogavam na minha cama sem que eu precisasse fazer muito esforço, estava confortável em ser superficial, pegar garotas e desapontar meus pais. Mas, aos 21 meus pais faleceram, e eu perdi as únicas pessoas que até então haviam se preocupado comigo. Aos 35 eu descobri que tinha tudo e não tinha nada, na verdade me disseram isso. Essa verdade foi jogada na minha cara por um estranho, a quem hoje eu devo a vida, enquanto eu definhava numa caverna no meio de um deserto no Afeganistão. Foi uma espécie de reabilitação forçada, três meses sem beber. Se já era difícil beber algumas gotas de água potável que dirá alguma bebida destilada. Não tinha estado sóbrio por tanto tempo desde o começo do ensino médio. Fui ao inferno, e voltei. Voltei mais forte, determinado. Eu não era mais Anthony Stark, possuía um alter-ego, o homem de ferro, pela primeira vez na minha vida encontrei algo ao qual eu realmente queria me dedicar. Só que ser um herói traz responsabilidade, cobrança. O governo estava no meu pé, queria a tecnologia que eu havia desenvolvido, as pessoas nas quais eu confiava estavam me traindo e logo eu busquei consolo na bebida novamente. Eu era um bêbado com uma armadura, uma combinação que não era tão boa, que poderia ser devastadora. E foi. Por isso estou aqui, me disseram que se eu usasse a armadura bêbado novamente ela seria tirada de mim. Não importa o que eu tenha feito para o bem-estar do país durante os meus vários momentos de sobriedade. Por esse motivo estou aqui.— reiterei —Durante a minha ascensão e queda pude ver quem são as pessoas com as quais eu posso contar, e foram elas que insistiram para que eu viesse, não posso deixar que tirem tudo de mim, não posso desapontá-las.— disse ao abandonar o púlpito.

Saí da sala sem olhar para trás, para uma primeira vez até que fui bem, pelo menos não passei mal. Costumava passar mal ao falar na frente de estranhos quando era criança. Por falar em estranhos, precisava conversar com alguém, e só vinha um rosto à minha mente.

—Que tal jantarmos, posso passar na sua casa em 30 minutos?— perguntei ao sacar o celular do bolso do paletó —Ótimo, passo no restaurante e levo o jantar para casa.— disse quando ela me respondeu que ainda nem havia deixado a minha casa.

Trabalhávamos em casa há alguns meses, me tiraram quase tudo, inclusive ela. Happy já havia morrido por minha causa, não podia deixar que a mesma coisa acontecesse com Pepper, para salvá-la desenvolvi um dispositivo semelhante ao meu e o coloquei em seu peito. A princípio ela ficou furiosa, mas depois se adaptou, me agradeceu, também encontrou seu alter-ego. Resgate. Era o nome ideal para tudo o que ela representava em minha vida. Nós estávamos recomeçando do zero a Stark Resiliente era uma nova e promissora cartada.

Eu estava aterrorizado, e confuso, mais do que eu já havia estado a minha vida inteira. Mas dia após dia eu continuei determinado, sem beber, e frequentando as reuniões para ganhar café e rosquinhas grátis, e acreditando que poderia ser um homem melhor. Hoje estava me sentindo forte, determinado. Era o meu primeiro encontro sem estar bêbado.

Era um encontro pra mim, por mais que pra ela fosse só mais um jantar em minha companhia. Passei no restaurante italiano que ela gostava, pedi seu prato favorito. Ela estranhou quando me propus a arrumar a mesa, Pepper foi gentil, abriu mão do vinho tinto para que eu não tivesse uma recaída, mas eu insisti que ela bebesse, ver outra pessoa ingerindo bebida era um teste de resistência. Um teste que eu passei. Falamos sobre negócios, programas de tv, filmes, relacionamentos, os dela obviamente, antes da nossa conversa decisiva precisava ter a certeza de que ela não estava com ninguém. Porém, para mudar de assunto ela me perguntou sobre as reuniões, e eu confessei que aquela tarde foi a primeira vez em que eu falei numa reunião em quase nove meses. Repassei tudo o que falei para os estranhos, e ela me parabenizou pela minha coragem.

—Pep...— disse colocando minha mão sobre a dela.

—Vou lavar a louça, Tony.— ela disse vacilante, e levantou da mesa.

—Você não precisa fazer isso.— tentei a impedir.

—É sexta à noite, Tony, a empregada só volta na segunda. Deixe-me fazer isso.— ela pediu juntando os pratos e talheres. A segui em direção à cozinha e a assisti enquanto ela colocava as louças na lavadora.

—Se era apenas isso eu mesmo poderia ter feito.— disse a ela.

—Só que você nunca faz.— ela replicou maneando a cabeça. Secretamente, eu sempre adorei a petulância sutil dela, Pepper era a única pessoa capaz de me desafiar e, nos últimos meses algo nela me desconcertava. Só que para o meu desespero ela era a única mulher que parecia resistente a mim —Agora preciso ir, está tarde.— ela disse.

—Se você me dissesse que tinha compromisso teria encurtado a história depois do jantar.— eu disse.

—Não tenho.— ela respondeu.

—Então porque a pressa? Você ainda tem algumas taças de vinho para beber.

—Ótima jogada, mas você não vai me embebedar, Sr Stark.— ela disse —Como é mesmo uma parte da sua história...? “Garotas bêbadas eram fáceis e me deixavam tocá-las em lugares que eu jamais tocaria se elas estivessem sóbrias, e o melhor, elas me tocavam de volta. Garota, depois de garota, depois de garota comprovou a teoria”.— disse recapitulando a nossa conversa. Taí uma coisa que odeio nela, o fato de ela prestar tanta atenção ao que eu digo, nenhuma mulher nunca se importou com o que eu digo, na verdade, diálogo nunca foi o forte das minhas relações.

—Não estou tentando te embebedar, Pep, não usaria de artimanha tão baixa com você. Mas você não pode ir embora e deixar esse vinho todo aqui, eu posso ter uma recaída.

—Eu levo a garrafa.— ela disse ao pegar o objeto sobre a pia.

—Você não está entendendo, Pepper, eu não quero te deixar ir.— segurei sua mão livre.

—Tony...— sussurrou desviando o olhar do meu.

—O que foi?— segurei seu queixo e fiz com que ela me olhasse.

—Não quero ser um brinquedo em suas mãos, alguém com quem você dorme quando está entediado ou carente. Mas também não vou mentir, depois daquela noite eu achei que nós pudéssemos... então eu descobri seu caso com a Agente Hill.

—Como? Quando?

—Numa conversa com ela, enquanto você esteve em coma depois da sua luta com o Osborn.— ela me respondeu.

—Não era um caso, eu dormi com ela uma vez.— me defendi.

—Você já dormiu com uma porção de mulheres uma única vez, comigo também...

—Foi diferente...

—Não deveria ter acontecido, você estava fugindo do Osborn, eu havia acabado de me tornar uma heroína, se é que eu posso me definir assim. Eu estava uma confusão só... sua cabeça estava uma bagunça,... você nem se lembrava daquela noite até alguns dias. Eu não aceitei voltar a trabalhar pra você na esperança de que algo entre nós acontecesse novamente, eu aceitei trabalhar com você outra vez por que...

—Por quê?

—Preciso ter certeza de que você vai continuar vivo e sóbrio. Queria que você também se mantivesse fora de confusões, entretanto...

—Isso é praticamente impossível.— completei, certo de que era isso o que ela diria —Não tente se enganar e me enganar, Pep, no fundo você sabe porque ficou e eu sei porque te pedi para ficar. Usei a desculpa errada para manter você aqui essa noite.— tirei a garrafa de vinho da mão dela e joguei todo o restante do conteúdo dentro da pia —Você não sai da minha cabeça há algumas semanas, desde aquele baile para os investidores da empresa, desde aquele quase beijo.

—Nós nos repelimos, Tony, o eletroímã do seu peito e o do meu possuem a mesma polaridade, nós não poderemos nos aproximar.— ela sussurrou contra os meus lábios.

Pepper estava tão disposta a fugir que parecia não notar que nós estávamos a alguns centímetros há vários minutos e nada fez com que eu me afastasse dela. Ela me repelia naquele momento e não o eletroímã em seu peito. Só uma coisa poderia mostrar para ela que nós nos atraíamos naquele instante. E antes que ela pudesse se esquivar trouxe seus lábios aos meus, segurei sua nuca, tinha seus cabelos sedosos entre os meus dedos, a minha outra mão segurava forte eu sua cintura. Os lábios dela ainda tinham um suave gosto de vinho, e naquele instante eu não me importava em talvez ter abandonado 8 meses de sobriedade. A tomei com vontade, necessidade, e ela estava se deixando levar por mim, me dei conta disso quando tentei separar-me dela para tomar ar e ela logo me puxou de volta, suas mãos estavam entre os meus cabelos também. Mas quando o ar tornou-se indispensável tivemos que nos separar.

—Viu?— murmurei a centímetros da boca dela, seus lábios estavam entreabertos facilitando a entrada do ar —Nós não nos repelimos.

—Como isso é possível?— ela sussurrou —Você ainda usa o reator eu pude senti-lo em seu peito.

—Algumas noites em claro na oficina estudando física.— respondi.

—Mas...como?

—Isso realmente importa?— perguntei acariciando seu rosto.

—Não, não importa.— respondeu retribuindo o meu carinho, não precisei dizer mais nada, Pepper havia entendido a minha iniciativa. Eu precisava estar perto dela. Sempre. A todo o momento, tocá-la, beijá-la, amá-lá sem que nos repelíssemos e, tinha certeza de que a partir de agora ela não fugiria mais de mim.

—Preciso te dizer algumas coisas.— ela me olhou apreensiva e eu não resisti em beijar-lhe castamente para acalmá-la. Saímos da cozinha e fomos em direção à sala, sentamos-nos no sofá, virei-me em sua direção precisava olhar para ela enquanto conversávamos —Quero que você saiba que a minha intenção não é brincar com você, eu estou nisso, completamente, está na hora de eu desenvolver um relacionamento não-toxico e não-tão-casual a ponto de ser anônimo e insignificante.

—Você não sabe o quão contente fico em ouvir isso.— ela sorriu para mim.

—Aos poucos estou me reconstruindo, me refazendo, me reinventando. Re-tudo o que eu perdi, estou me encontrando novamente, tomando de volta a minha dignidade. Posso lidar com as pressões e as responsabilidades se você estiver ao meu lado, evoluí incrivelmente, as coisas que me aterrorizavam não me assombram mais...

—Tony, você não precisava me dizer tudo isso, não depois do que você fez para que nós pudéssemos nos aproximar.— ela segurou meu rosto entre as mãos e apoiou sua testa à minha, seus olhos estavam grudados nos meus, nossos lábios separados por milímetros.

—Posso cuidar de mim agora, e de você.

—Não preciso que você cuide de mim, não agora. Agora eu só preciso que você me beije.— ela praticamente suplicou. Não hesitei, a beijei com volúpia. Precisava mais dela do que podia imaginar, precisava do seu corpo, seu coração, seu amor —Preciso que você me ame.— ela murmurou contra minha boca.

—Isso vai ser fácil, eu já amo você, Pep.— admiti.

As palavras saíram da minha boca com uma facilidade surpreendente então eu me dei conta de que aquele era mesmo o dia em que a minha vida estava mudando. Mudando para a melhor, era o dia de parar de guardar para mim as coisas que sempre tive medo de admitir. Compartilhar.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

E aí, curtiram?

Sempre quis escrever uma história inspirada numa HQ, o universo é tão mais vasto que os dos filmes, dá pra explorar muito mais.
Obrigada por terem lido, e já que chegou até aqui. Comenta, vai? É de graça e incentiva os autores.


Beijos,

Ivy.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Thanks For Sharing" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.