Take Back the Night escrita por Camyarsie


Capítulo 4
Apresentações


Notas iniciais do capítulo

" Rick, enraivecido, parou de andar. Levantou a cabeça e os fuzilou com o olhar. Aqueles garotos não tinham ideia do que ele havia passado... Do que perdera... "



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Mestre Eddard deixou o menino entrar e o colocou em cima de uma escrivaninha ali perto. O garoto não disse uma palavra, somente continuou quieto, olhando para baixo, cabisbaixo.

Seu novo responsável não podia culpa-lo por isso. Sabia que ele tinha passado por bastante coisa naquele reino. E o luto de perda de família não é com facilidade que é superado. Mestre Eddard sabia por experiência própria.

Foi preparar alguma coisa para o menino comer, vendo que estava fraco. Enquanto foleava as páginas do livro de receitas e colocava os ingredientes necessários em uma vasilha, espiava por cima do ombro para ver se o garoto fazia alguma coisa. Ele somente ficou lá, parado, esperando.

A casa que estavam não era grande; um canto onde continha espaço para preparar a refeição, outro com uma bancada de trabalho para ler algum livro ou algo do tipo (que era onde o menino permanecia), uma mesa para visitas comerem, uma espada de diamante encostada em um canto para enfeite e duas camas em outro cômodo.

Assim que levou a comida pra ele, o mesmo pegou a vasilha e devorou a comida rapidamente; deveria estar faminto. Logo após ele ter terminado de comer, Eddard finalmente disse alguma coisa:

– Olá menino. Meu nome é Mestre Eddard, e serei o seu responsável daqui em diante. Quem é você?

O garotinho louro continuou encarando o chão.

– O encontraram no reino Altos Terrenos, completamente destruído pelos monstros. Trouxeram-no para a nossa vila, e bateram na minha porta, perguntando o que faríamos com você. Foi decidido que ficará sobre a minha guarda. Então, novamente, quem é você? – disse, se ajoelhando para entrar no campo de visão dele.

Ele demorou um pouquinho para responder, mas o fez.

– Meu nome é Rick. Sou o filho de Marcus IV, o rei de Altos Terrenos. Sendo assim sou o príncipe de meu lar. Tenho cinco anos. É tudo que tenho a dizer.

Mestre Eddard o encarou por um segundo a mais. Que ironia da vida. Ninguém menos do que o príncipe havia sido o único sobrevivente de seu reino. Teria que educar um príncipe. Contudo, ele poderia saber com mais detalhes do que acontecera.

– Pode nos explicar o que exatamente aconteceu lá? Do por que os monstros simplesmente invadiram as fortificações do castelo e as moradias em volta?

– Sei tanto quanto vocês. Uma hora estava dormindo em meu quarto, e na outra, minha mãe me tirava da cama dizendo que tínhamos que sair dali. Depois, quando estávamos no salão principal, meu pai chegou correndo nos mandando correr. Fugimos o quanto pudemos, mas dois Creepers explodiram na ponte para a torre mais alta, fazendo boa parte dela desabar. É tudo que lembro antes de desmaiar. Você... Sabe se meus pais estão vivos?

– Não. Lamento. – Rick dirigiu seus olhos azuis claros para baixo novamente, com algumas lágrimas se acumulando neles.

Mestre Eddard se levantou.

– Muito bem. Hoje, te darei uma folga dos deveres, devido às circunstâncias. Porém, amanhã, assim que acordar deve se dirigir a mim para saber o que deve fazer. Estamos entendidos?

Rick assentiu levemente. – Ótimo. – Com essa última palavra, Mestre Eddard saiu da casa, deixando Rick só, para extravasar toda a emoção que segurava.

* * *

Rick não se lembrava de ter ido para uma das camas, mas quando o outro dia amanhecia lá se encontrava. Ficou encarando o teto de sua nova casa por um tempo indeterminado. Sentia uma tristeza profunda, mais forte que qualquer emoção que já tivera na vida. Perdera seus pais, amigos, seu lar... Tudo em uma única noite. Se pudesse chorar mais, o faria, porém, chorou tanto no dia anterior que ficaria surpreso se viesse mais alguma lágrima.

Depois do que pareceram anos, levantou-se. Sabia que seria um dia cheio, Mestre Eddard havia deixado bem claro. Arrastando os pés, foi para o começo da residência e viu que ninguém estava lá. Como queriam que ele cumprisse deveres se não davam nenhum? Dirigiu-se à porta, abriu-a e o sol de dez horas o cegou por um instante. Colocando a mão num ponto estratégico para vir sombra ao seu rosto, fechou a porta atrás de si e deu uma olhada no local.

Para a sua surpresa, todas as casas eram feitas de arenito e uma argila bem resistente. A vila era um pouco maior do que imaginara; composta por cerca de quinze casas, algumas maiores do que outras. Humildes plantações que existiam eram feitas no meio do deserto. Perto dali, um poço próximo e um pequeno estábulo.

Foi procurar por Mestre Eddard. Quando passava por outros adultos, todos o encaravam e sussurravam entre si. Vestiam túnicas de diferentes cores, e estranhamente tinham o hábito de esconder suas mãos nas mangas das túnicas.

Passou por um grupo de crianças que brincavam; pareciam ter a sua idade, ou quem sabe um pouco mais velhos. Rick animou-se um pouco vendo que tinha crianças por ali, mas a sua empolgação não durou muito.

– Olha, é o novato! – um deles falou, apontando pra ele. Imediatamente, correram para alcança-lo.

– Você é aquele príncipe de Altos Terrenos, não é? – outro perguntou.

– Deve ser um filhinho do papai, que não sabe nem de onde os ovos vêm. – um outro fala cruelmente. Fechando a cara, Rick não parou para ouvi-los, porém eles continuaram andando ao seu lado, alguns até chegando a empurrar um pouco.

– Olha, parece que ele andou chorando! – o que tinha o denunciado percebeu, vendo seus olhos inchados. – Está triste de vir pra cá, magricelo?

– Ah! Coitadinho. Será que ele vai chorar agora?

Rick, enraivecido, parou de andar. Levantou a cabeça e os fuzilou com o olhar. Aqueles garotos não tinham ideia do que ele havia passado... Do que perdera...

– Vou chorar de felicidade quando quebrar as suas caras de imbecis. Vou avisando: é melhor fecharem essas bocas fedorentas antes que a usem para berrar de dor.

Todos pararam de falar e foram saindo de fininho. Rick achou que os tinha intimidado, até ver quem chegara para vê-lo. Engolindo e seco, ergueu a cabeça. Ali estava Mestre Eddard, o olhando secamente.

– Posso saber o que acontecia aqui?

Rick calou-se. Possivelmente, ele vira só a pior parte: que Rick ameaçava os “colegas”.

– Venha comigo. – o segurando firmemente pelo ombro, Mestre Eddard o guiou até um ponto mais afastado e deserto da pequena cidade.

– Eu posso explicar... – o garoto começou a falar, mas o adulto o interrompeu.

– Não vai explicar nada. Eu vi a situação. Mesmo que suas palavras tenham sido em legitima defesa, se eu ouvi-las novamente, irei puni-lo devidamente. Não está mais em Altos Terrenos. Agora, eis a sua tarefa: regue e ara a terra das plantações. Das três. – entregou-lhe uma enxada.

Rick saiu resmungando baixinho, sem que o seu responsável o ouvisse, é claro. Óbvio que não estava em Altos Terrenos, pois se estivesse, estaria com seus pais... Ou com os seus amigos, brincando de pega-pega e esconde-esconde sem nenhuma preocupação... Mas não era nada disso que se passava; tinha que aturar crianças malvadas e se se defende, leva bronca.

O trabalho nas plantações levou uma eternidade; até pegar o jeito de mexer na enxada, Rick ficou encharcado de suor. Foi realmente um alívio ir ao poço para pegar a água necessária; aproveitando, jogou uma boa parte em si mesmo para refrescar-se do calor do deserto.

Achava que as outras crianças também tinham levado bronca, porque elas não o atormentaram mais. Ou estivessem com seus deveres. Não importava.

No fim do dia, dirigiu-se à sua casa. O sol já se punha no horizonte. Abriu a porta e se deparou com o esperado; Mestre Eddard estava ali, na escrivaninha de trabalho, foleando alguns pergaminhos.

– Eddard, eu terminei de regar e arar as plantações. Posso descansar?

– Se for simplificar meu nome, chame-me somente de mestre, não o contrário.

– Certo... Mestre. – Rick ainda não se simpatizara com ele.

O adulto deu uma olhadinha nele. Seu macacãozinho todo sujo, o cabelo descabelado e o corpo cheio de terra.

– No descanso, aproveite para tomar um banho. Não vá sujar a cama.

Dirigiu-se ao pequeno banheiro que ali havia, e percebeu que não havia nenhuma banheira ou chuveiro para que pudesse se banhar. Voltou a falar com o Mestre.

– E como é que vou tomar banho?

– Há um lago perto da vila pra isso. É melhor se apressar, está quase anoitecendo.

Cauteloso, Rick saiu e procurou pelo tal lago. O sol já havia quase desaparecido no horizonte, e nenhuma alma viva estava fora de suas casas. A uns cinquenta metros da última construção, achou o lago que procurava. Rapidamente, correu pra lá e tirou a roupa para mergulhar. Depois de no máximo cinco minutos, após esfregar o corpo como sua mãe o ensinara, vestiu novamente sua roupa e quando estava prestes a sair correndo ouviu passos atrás de si.

Virou-se e se deparou com olhos negros o encarando. Olhos malignos de um Creeper.


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Notas finais do capítulo

E aí está o capítulo, que prometi que não demoraria. E pronto!! Demorei somente quatro dias para postar... Nos falamos nos comentários...



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