Take Back the Night escrita por Camyarsie


Capítulo 22
Superação


Notas iniciais do capítulo

"Rick se lamentava por não ter uma família. Mas agora percebia que ela sempre esteve diante de seus olhos. Estava tão imerso na escuridão que acabava não enxergando a luz."



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Mestre e discípulo voltavam para o seu lar ao quase cair da noite. Rick andava cabisbaixo e pensativo.

Toda vez que olhava para o Mestre, ouvia novamente as palavras em seus ouvidos, como um sussurro: você é o filho que nunca tive.

Momentos antes, Rick extravasou uma parte que esteve impregnada nele por muito tempo. O que sempre quis dizer, mas nunca teve coragem. Quando foi questionado com perguntas tão pessoais, simplesmente explodiu. Fazia anos desde que não tinha uma conversa casual com alguém, muito menos um questionário sobre seus sentimentos mais profundos e doloridos.

Contudo aquela declaração desmontou completamente a sua raiva. E teve mais êxito ainda em eliminá-la quando o Mestre continuou dizendo o que pensava. Que ele se importava com a sua segurança e com o seu bem estar.

Rick já havia se perguntado do por que ele era tão seco e mal humorado. Porém após algum tempo supôs que essa era a personalidade dele. Nunca tinha sequer imaginado que um dia o Mestre Eddard havia se apaixonado. E que também perdera a família.

Até a confissão, Rick não se tocara que durante todo o tempo que esteve na aldeia, sempre contou com o seu Mestre. Ele sempre estava lá quando tinha algum problema. Sempre tentava resolver ao seu jeito.

Rick se lamentava por não ter uma família. Mas agora percebia que ela sempre esteve diante de seus olhos. Estava tão imerso na escuridão que acabava não enxergando a luz.

O Mestre merecia uma explicação, depois de ter falado tudo aquilo.

Repetiu as perguntas para si mesmo: Poderia me explicar do por que não para nenhum segundo de treinar? E também do motivo que simplesmente se calou?

– Eu prometi vingança ao Jean. – começou imerso no passado – Prometi diante de seu corpo que o Herobrine vai pagar pelo que fez. Então estou me dedicando ao máximo para cumprir minha promessa.

Eddard não parou de andar, embora tenha prestado muita atenção.

– Você ainda se culpa pelo o que aconteceu? – ele perguntou cautelosamente.

Essa pergunta o acertou em cheio.

– Sim – respondeu com a voz falhando – Herobrine quis me atingir matando meu melhor amigo. Jean não tinha nada a ver com isso. Naquele dia, deve ter percebido que todos os monstros nos tomaram como alvo. Eu achava que era por mim, mas a minha morte seria apenas um grande bônus. Quando os monstros perceberam que eu já estava condenado, imediatamente reforçaram o ataque para o lado de Jean.

– Atacaram Jean porque ele o defendeu na hora, como disse.

Realmente, Mestre Eddard não era o mais animador no assunto “sentimentos”.

– Provavelmente também por esse motivo. – falou rispidamente – Porém tem aquela profecia. Derrotará quem a todos dá temores. Não sei como, nem quando, mas sei que um dia vou enfrentar o Herobrine cara a cara. E ele sabe disso. Então, até esse momento chegar, provavelmente não irei morrer tão facilmente.

– Até lá? – o Mestre repetiu – Está sugerindo que quando lutar com ele vai morrer facilmente?

– Sinceramente... Não tenho ideia – revelou, abalado.

– E todo nosso treinamento? Será em vão? E como você pode ter certeza que ele sabe sobre a profecia?

– Tive um sonho alguns meses atrás que confirmou isso. Era a minha imagem na profecia sendo queimada. Não precisa ser um gênio para sacar a mensagem.

Não chegou a saber se o Mestre fingiu ignorância ou se somente queria lhe dar um pouco de espaço; mas Rick não negou as perguntas sobre o treinamento.

No fundo queria muito destruir o Herobrine pedacinho por pedacinho; contudo não sabia se tinha forças para esse feito. Toda vez que pensava nesse desejo, lembrava-se do último verso: Irá falhar; seja pelo bem ou pelo mal.

* * *

Desta vez foram em um campo diferente. Com a água os cercando em todos os lados, Mestre Eddard e Rick encontravam-se em uma espécie de mini ilha; ao lado a velha ponte feita de tijolos e mármores tão brancos como as nuvens no céu. Ambos lutavam há um tempo, mas se estavam cansados não demonstravam.

Rick atacou ferozmente três vezes; contudo o Mestre conseguiu se defender e se esquivar; aproveitando a deixa, Rick literalmente pulou por cima de seu obstáculo e o surpreendeu às suas costas, porém novamente Eddard se esquivou.

O adolescente não dava a chance de recuperação; atacava com ou sem o auxílio da arma seguidamente. Eddard mal conseguia sair do caminho.

Até que finalmente aconteceu: com um chute potente, Rick tirou a espada das mãos do Mestre. Ela fincou-se no solo mais adiante.

Ganhou a luta.

Seguiu-se um momento de silêncio; que os dois olhavam para a arma cravada na grama. Eddard deu uma espiada respeitosa ao vencedor.

Virou-se para seu discípulo. Este não continha o sorriso.

– Depois de tanto esforço, eis o dia que o aluno venceu o mestre – falou, curvando-se respeitosamente ­– Agora sou eu que devo me curvar perante meu novo mestre. O seu sacrifício valeu a pena.

– Valeu – Rick murmurou.

* * *

Praticamente à noite, guardaram o resto da comida e as armas e decidiram voltar. Passariam por um risco maior nesse trajeto, por conta das estrelas já estarem surgindo, mas agora não havia como recuar o tempo.

Rick, que se encontrava mais à frente, deu uma espiada para trás. Certo diálogo cruzou sua mente.

– É verdade tudo aquilo que me disse? Sobre... Amy? E... Todo o resto.

– Sim. Por que mentiria sobre uma coisa dessas?

– Como ela era? Para você se apaixonar por alguém... Não sei como imaginá-la. Disse que ela era educada e encantadora... Mas simplesmente não consigo te encaixar com uma mulher tão pacífica...

Mestre Eddard soltou um sorriso irônico.

– Deve ser difícil mesmo formar uma imagem minha desse jeito. Amy... O que posso dizer dela...? Era difícil de não gostar. Um tipo de pessoa que deixa o ar mais leve simplesmente pela sua presença. Eu gostava da felicidade que irradiava. Acho que o conceito “os opostos de atraem” resume tudo. Na verdade, na aparência era muito parecida com você... Somente a cor dos olhos que diferencia, já que eram verdes.

Essa última parte o fez corar.

– Ainda bem que minha verdadeira mãe não é parecida comigo... Se não poderia pensar que rolou um caso entre os dois...

Rick não viu a reação do Mestre; contudo se virasse para trás provavelmente o veria vermelho como um tomate.

Se eu não tivesse puxado o lado paternal, poderia até simular que o Mestre é o meu verdadeiro pai...

* * *

Já conseguiam enxergar as luzes das tochas. As únicas coisas que os separavam do descanso eram a distância e a duna de areia.

– Hoje você me superou, caro aluno – Eddard falou após um longo silêncio – Com o esforço de cada dia, venceu a primeira de suas metas. Com dedicação e esperança, tudo é possível. Nesse passo, irá derrotar o seu maior inimigo.

– Você acha? – Rick sussurrou em dúvida.

– Vou precisar repetir? – respondeu com a voz dura.

Tem razão. Não posso hesitar; caso contrário, irei forjar meu próprio fardo.

Então sentiram o cheiro de fumaça. O céu escuro ocultava o véu acidentado ardendo sobre as casas, mas agora que prestavam atenção o viam claramente. Ao fundo, escutaram gritos.

Mestre Eddard saiu correndo na sua frente. Rick o acompanhou meio segundo mais tarde, não deixando de pensar: de novo, não!

Assim que escalaram a duna, pararam perplexos e contemplaram o ataque.

Incêndios erguiam-se uns bons metros consumindo as moradias; um aldeão era queimado vivo e corria desesperado tentando apagar o fogo de si. Vagueavam vários esqueletos e... O que era aquilo? Pareciam... Pessoas rosa entrando em decomposição carregando armas de ouro.

O Mestre socou uma mão na outra; exalando desafio. Rick olhou para algo roxo mais longe. Um... Portal.

A compreensão sugou a cor de seu rosto. Um ataque do próprio inferno.


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