A Sexta Guardiã escrita por Rocker


Capítulo 9
Capítulo 8 - É preciso ser forte.




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Capítulo 8 - É preciso ser forte.

Nãe era uma cena que eu esperava ver quando desci as escadas.

– O que está fazendo? - perguntei, parando no último degrau da escada.

– Olhando as fotos que... - Jack começou a dizer, mas calou-se quando me viu.

Eu não sei se era meu vestido que talvez estivesse curto demais para a ocasião, ou o all star que ia até o joelho, ou a trança que talvez estivesse desarrumada. Eu não sei o que era, mas parece que algo no meu visual fez com que Jack Frost perdesse a fala. E eu não sabia se isso era bom ou ruim, mas fez com que alguma coisa se inflasse no meu peito.

– Que minha mãe provavelmente deixou aí para chorar rios de lágrimas? - completei, terminando de descer e indo até a porta, sentindo que ele já me seguia.

– Você podia ser mais sensível, não acha? - Jack disse, aparentemente irritado, enquanto passava pelo portal da porta de entrada.

– Fui sensível quando vi meu pai morrendo diante dos meus olhos. - eu disse, sem conseguir evitar que minha voz ficasse embargada e que algumas lágrimas escorressem. - Agora eu preciso é ser forte pra ajudar você e os outros guardiões.

Eu joguei a chave de volta no vaso de planta na lateral da casa, de onde Jack provavelmente deve tê-la tirado, e me virei para ele. Jack Frost estava calado, apenas me observando atentamente. Ele analisava meu rosto, meus traços e minhas expressões, como se procurasse arrancar alguma informação ou algum pensamento que eu estivesse tendo, apesar dos óculos impedirem. A única coisa que eu realmente pensava, no momento, era em honrar a memória do meu pai. Meu pai não morreu em vão e eu provarei isso.

– Vamos, acho que já estamos atrasados. - disse Jack, estendendo a mãe que não segurava o cajado, e eu hesitei um pouco, antes de segurá-la e ele me envolver com o outro braço.

Jack pegou impulso, e saímos voando pelos ventos frios em direção ao Cemitério Municipal. Sentia o vento gelado batendo em minha coxa, fazendo-me arrepiar, e dei graças a Deus que estava com um casaquinho, que o all star era cano alto, e que Jack felizmente não poderia ver minha calcinha. Isso seria extremamente constragedor.

– Isso já está ficando rotineiro. - reclamei, enquanto observava os edifícios e casas extremamente pequenos abaixo de nós.

– Você acostuma. - Jack respondeu, brincalhão.

Ou talvez não.

Eu provavelmente nunca me acostumaria com isso. Jack estava de costas para a cidade, e eu deitada em seu peitoral, vendo as ruas passando por trás de seu ombro, enquanto ele tinha um braço em volta da minha cintura para impedir que eu caísse. Não que eu não gostasse dessa aproximação - afinal, ele é Jack Frost, ninguém recusaria -, mas acostumar? Provavelmente não.

Levantei um pouco meu rosto para poder enxergar o dele, e me coloquei as mãos sobre seu moletom azul, procurando de algum jeito não cair para aquela morte súbita.

– E por quê você acha isso? - perguntei, vendo seus olhos azuis procurando pelos meus.

E um sorriso sarcástico se abriu em seus lábios finos.

– Porque agora vamos trabalhar juntos, e pelo que eu saiba, você não voa.

Olhei bem para os seus e percebi que, apesar dos traços sarcásticos em seus lábios, havia um apoio sincero no brilho de seus olhos. E uma gratidão imensa surgiu em mim.

– Obrigada. - eu disse, abrindo um sorriso um pouco envergonhado.

– Pelo quê? - Jack perguntou, confuso, e franziu o cenho.

– Por estar comigo nesse momento difícil. - respondi, ainda meio envergonhada, e agradecendo mentalmente por estar de óculos escuros.

– Tire os óculos.

Droga!

– Por quê? - perguntei, engolindo em seco.

– Só tira. - ele respondeu, abrindo um sorriso torto. E eu sabia que se ele não estivesse com uma segurando o cajado e a outra a minha cintura, ele mesmo teria tirado.

Suspirei derrotadamente, e passei o braço direito por trás de seu pescoço para me equilibrar melhor sobre seu corpo. Ele apertou um pouco mais o braço ao redor da minha cintura, provavelmente percebendo que eu tentava não morrer. Tirei meus óculos devagar, rezando para meus olhos não estarem tão inchados, e olhei bem para o rosto de Jack Frost, procurando alguma reação que indicasse porque ele queria que eu os tirasse.

– Você fica mais bonita assim. - Jack disse, sorrindo, e eu senti minhas bochechas queimarem. De novo. - Você está vermelha de novo!

Droga! Será que não dava pra ele prestar menos atenção, não?!

– Ali! - apontei para a minha oportunidade de escape, que estava há vários metros abaixo de nós e se intitulava ser o cemitério de Ottawa.

Jack desceu-nos até uma parte mais afastada do cemitério, onde ninguém podia nos ver. Acabamos pousando atrás da capela onde meu pai foi velado, mas o caixão já estava sendo quando abaixado no túmulo, há vários metros dali. Saí de trás da capela, e vi que tia Sophie, Lily e minha mãe olhavam em volta, procurando, possivelmente, por mim. Lily foi a primeira a me ver; seus olhos brilharam em reconhecimento, e ela puxou a manga comprida do vestido da minha mãe. Minha mãe e tia Sophie logo me viram e fizeram sinal para que eu me aproximasse, como se estivessem apenas esperando por mim para descer o caixão.

Respirei fundo e dei um passo à frente; até que me lembrei de que eu não era a única ali. Virei-me para Jack Frost, que parecia pronto para levantar voo, e segurei a manga de seu moletom azul.

– Vem comigo. - eu pedi num sussurro quase inaudível.

– Vão pensar que você é louca. - Jack disse, olhando por cima do meu ombro, onde provavelmente parentes e amigos do meu pai me olhava como se eu tivesse algum problema mental.

Talvez eu tivesse, isso nunca foi comprovado cientificamente.

– Eu não me importo. - respondi, puxando-o pela mão em direção à pequena multidão reunida ao redor do caixão.

Não soltei sua mão até que estivéssemos ao lado do caixão fechado. Minha mãe analisou minhas roupas rapidamente, mas parece que não havia uma crítica muito forte quanto a elas. Ela sabia que se não fosse o enterro do meu próprio pai, eu estaria pior. Lily viu Jack Frost ao meu lado, e abriu-lhe um sorriso singelo. Jack soltou minha mão para bagunçar levemente os cabelos loiros de Lily, e eu aproveitei para me agachar sobre a terra batida. O funcionário do cemitério abriu a portinhola do caixão, e eu pude ver o rosto machucado de meu pai uma última vez. Senti um toque gelado em meu ombro esquerdo, e quando me virei, Jack se agachou ao meu lado. O cajado apoiado em seu ombro, e em sua outra mão havia um floco de gelo.

Um perfeito floco de gelo.

Assim que Jack colocou-o sobre a palma da minha mão, eu soube o que fazer. Aproximei-me do caixão e coloquei o floco de gelo ao lado dos cabelos do meu pai.

Não sei o que os outros viram naquele momento. Lily e tia Sophie - que ainda acreditava - sabiam que aquilo era uma memória de Jack. Eu também sabia, e me senti agradecida por Jack Frost ainda estar ao meu lado naquele momento. Se não fosse por isso, eu teria desabado há muito tempo. Mas eu precisava ser forte. Precisava ser forte para ajudar os guardiões. Precisava ser forte para proteger Lily.

Precisava ser forte para vingar a morte do meu pai.


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