A Eterna Segunda Vida de Alex Tanner escrita por Laís Bohrer


Capítulo 2
Ties of Brothers


Notas iniciais do capítulo

Lay*:

Quando escrevi esse capítulo eu esperava algo menor, mas acabei me empolgando demais, em poucas palavras me apeguei a Alex, portanto esse capítulo foi deprimente de escrever, porque eu me imaginei no lugar da Alex, perdendo seus laços, um a um, deixando de ser quem é. O nome dela na verdade é Alexandra Mary Tanner, mas odeia ser chamada desse jeito, então ficamos só com Alex. Alexandra é um nome grego, significa otimismo, alguém que busca ajudar os outros, conquista a todos com sua enorme meiguice, bem isso se encaixa um pouco pois Alex conquistava todos que a conheciam.

Eu não esperava mesmo sentir o que a Alex sentiu nesse capítulo.
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"Dá-se importância aos antepassados quando já não temos nenhum."
— François Chateaubriand



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Laços de Irmãos

Para onde eu estava indo? Eu não sei.

O que eu estava pensando quando estava indo? Eu não sei.

O que eu estava sentindo? Raiva, muita raiva.

Meses haviam se passado desde que Bree desapareceu, quantos meses eu não sei, eu já havia perdido a noção do tempo. A partir daí, Bree nunca mais foi vista e depois dos cartazes que Edgar teve a ideia de espalhar pelas ruas de Forks, a família Tanner já perdera as esperanças.

Ninguém mais dizia “Bom dia” ou “Boa noite”, eu já não tinha mais ânimo para ir pra escola – e por mais incrível que pareça ninguém ligava -, há pouco descobrimos que minha mãe tinha câncer no colo do útero e já estava em depressão e meu pai só voltava para casa nos fins de semana e como se isso já não fosse suficiente, ele voltava caindo de bêbado e brigava com a minha mãe, eu não podia ver, mas ouvia toda sexta à noite. E Edgar, tinha Edgar, bom... Ele era o único que ainda parecia resistir, forçava alguns sorrisos para mim durante a manhã e parecia o único que estava realmente ali, que estava comigo.

Era isso, de um capítulo para o outro eu tinha acordado no meio de uma família que não era a minha. Todas as noites, Bree estava em meus pesadelos – cujos quais eu não gostaria de descrever – e em um desses, eu acordara gritando.

Então eu esqueci como se abria os olhos.

Alex... Alex... um zumbido chiava o meu nome.

– Alex! – foi quando o grito de Edgar finalmente me alcançara, desviando-me de um ciclo repetitivo de pesadelos atormentadores.

E meu irmão mais velho estava ali, sentado na beirada da cama no meu quarto que repentinamente parecia tão frio como o lugar de onde saiam os sussurros incompreensíveis de Bree.

Meus pulmões clamavam por ar, foi como se durante o tempo em que estive dormindo eu tivesse me esquecido de respirar.

– Nunca, não é? – eu disse com minha voz saindo mais fina do que a de uma criança.

– O que? – perguntou ele e os olhos castanhos olhando pra mim.

– As coisas nunca mais voltarão a ser como antes... – eu disse.

Eu não sei se eu esperava que ele me aconselhasse, que retrucasse com algum argumento com palavras difíceis que me fariam revistar o dicionário, que ele me incentivasse do contrário, mas ele simplesmente disse:

– É, eu sei.

Então depois de um tempo, Ed deitou ali comigo, o único vestígio de família que eu ainda tinha... Por enquanto, mas claro que naquela época eu também não sabia disso.

Bree não fora a única a desaparecer, na verdade ela apenas foi uma de muitos, o primeiro foi um garoto loiro chamado Riley, uma menina da minha idade chamada Lucy e um universitário chamado Evan. Apenas esses que eu lembrava o nome, até porque não era difícil de esquecer: Lucy era uma portadora de TDAH da minha sala no ano passado, claro que eu me lembrava dela. Mas o tal do Evan eu nunca conheci, mas Ed sim.

Ed e eu éramos os únicos que ainda sentávamos-nos à mesa para tomar café, e sempre colocávamos um prato para meu pai, minha mãe e para Bree, mesmo sabendo que eles não fossem aparecer. Nenhum deles.

Quando meus olhos pousaram na foto que estava na segunda página do jornal – que meu pai sempre lia -, a foto do tal Riley... As imagens da noite no McDonald’s, os vampiros góticos, ele estava entre eles, bom, disso eu nunca tive certeza.

Mas as coisas realmente chegavam ao ponto quando Ed e meu pai brigavam, eu apenas ouvia tudo do topo da espada, até que chegou o momento em que Ed pós Bree no meio do conflito então eu fechei os olhos quando ouvi um “TAP!”, soube que meu pai tinha batido no meu irmão, mas eu não me movi como faria normalmente, naquela época eu me lembro que a Alex que eu costumava ser já estava morrendo também, junto com minha mãe.

Foi quando Ed disse:

“Estou fora” disse ele simplesmente.

“Ed...” essa foi à voz da minha mãe. “Edgar Tanner, eu não vou deixar que...”

“Não vai deixar?” debochou Edgar, o que me surpreendeu, pois Edgar nunca faltava com respeito com a minha mãe. “Você nem está mais aqui, está? Porque durante todo dia você fica se lamentando naquele maldito quarto. Você já conseguiu parar pra pensar como Alex e eu ficamos? Não é a única doente por aqui...”

Mesmo que eu não pudesse ver, eu sabia que a minha mãe estava chorando, mas sabia que Edgar tinha razão.

Eu me levantei do chão quando Ed surgiu na minha frente, ele não disse nada, apenas se dirigiu para o quarto.

Eu o segui.

– Me leve com você – foi só o que eu pedi.

Ele parou de jogar as coisas na sua mochila e finalmente olhou para mim.

– Eu não posso – disse ele.

– Por quê? Você não pode me deixar também – eu retruquei.

Ele hesitou, andou até a mim lentamente, o chão rangendo abaixo dele, havia sombras abaixo de seus olhos, eu soube que eu não era a única que não conseguia mais dormir.

– Você vai ficar bem onde está, Alex.

– Como pode saber disso?

Ele não respondeu. Forçou um sorriso e soltou os meus ombros.

– Quem vai receber Bree quando ela voltar? – perguntou ele.

Minha vez de ficar sem a fala. Era um argumento fraco, todos sabiam que Bree não ia mais voltar, por isso estávamos naquelas condições.

– Ed... – eu não consegui completar.

Edgar passou por mim, com a mochila nas costas, ele bagunçou meu cabelo uma última vez e disse:

– Adeus, pirralha.

Então eu apenas ouvia os passos de Ed descendo as escadas apressadamente e depois de ouvir meu pai gritar: “Você não é mais meu filho!” e o bater da porta, eu corri para o meu quarto, nosso pug, Abraham correu ao meu lado e ficamos lá, eu derrubei a última lagrima.

Não culpava Ed, apenas o culpava por me deixar ali no meio daqueles loucos que eu um dia eu chamara de pais. Aquele pai bêbado que tirou as rodinhas da minha bicicleta, aquela mãe doentia que reclamava das minhas roupas largas e o fato de eu usar boné o tempo todo... Antes mesmo de eu saber, eu estava sozinha.

– É Abraham... Parece que sobramos não é? – eu disse a ele.




“Sinto sua falta.” Dizia o bilhete que eu deixei no quarto de Bree antes de ter o mesmo fim de Ed, o mesmo fim mesmo. Edgar foi dado como um dos desaparecidos depois daquilo. Minha mãe mandou a polícia atrás dele, mas ninguém o encontrou mais.

– Alex – minha mãe surgiu na porta.

Cabelos loiros e tingidos que já estavam voltando a sua cor natural, alguns fios grisalhos. O rosto cheio de sardas, ela estava cada vez mais magra e pálida, tão frágil, tão fraca que estava se apoiando na parede para se manter de pé.

– O que você quer? – eu posso ter soado um pouco rude, mas eu não me importava. Nunca me importei, não vou começar a me importar agora.

Ela sacudiu a cabeça.

– Você está indo também, não é? – perguntou ela.

Não respondi.

– Achei que estivesse – ela se aproximou de mim, mas eu recuei um passo.

Ela pareceu magoada e se sentou na minha cama acariciando um ursinho marrom que eu sempre deixava no canto da cama, o nome dele era Chuck, o nome veio depois que Abraham o mastigou, ai ele já não era mais tão fofo assim.

– O que aconteceu com a gente? – perguntou ela. – Éramos felizes, não éramos?

– Acho que sim – eu disse finalmente – Engraçado como só damos valor a certas coisas quando perdemos elas.

Ela apenas assentiu, e isso só me deu vontade de sair correndo dali, e pode parecer covarde, mas foi isso o que eu fiz. Eu agarrei uma mochila – que antes eu usava para ir à escola - e passei pela porta deixando minha mãe com o Chuck no meu antigo quarto – cujo hoje, nem mesmo a cor da parede eu me lembro... -, mas cá entre nós, imagine-se no meu lugar, sua família se desfazendo lentamente e sua mãe... Que não estava realmente ali. Não mais.

Antes que eu passasse pela porta, Abraham, o cachorro, gemeu para mim, inclinando as patinhas e erguendo o focinho. Acariciei sua cabeça.

– É cara... Você vai ser o próximo. – eu disse.

Quase me esqueci que naquele dia eu estava fazendo dezesseis anos.

E eu nunca mais voltei para aquela casa.



E depois disso foi quando tudo realmente começou.

Algum lugar longe, na verdade eu não sabia exatamente onde eu estava indo, mas eu sabia que tinha ouvido ela, eu tinha ouvido, ou era mesmo a minha própria voz ou minha mente me pregando peças outra vez.

A neve abaixo de mim atrapalhava nos meus passos, minha roupa estava em trapos, meu casaco não era suficiente para espantar o frio, havia um corte no meu antebraço que sangrava muito, rosnados e gritos vinham de algum lugar que na verdade era lugar nenhum.

E como um vulto ela apareceu.

Os cabelos castanhos e ondulados caiam-lhe em cascatas ao lado de seus ombros, sua pele estava branca como a neve abaixo de nós, ela estava exatamente como o dia em que desapareceu como se tivesse parado na faixa dos quinze

– Bree... – foi só o que eu consegui dizer e mesmo assim minha voz saiu como um sussurro.

Não me aproximei, tinha medo que ela desaparecesse, seus olhos vermelhos pousaram doentios no sangue pingando do meu braço esquerdo.

Espere um instante... Olhos vermelhos?

– Não deveria estar aqui – foi o que ela disse.

Ela disse...

– Porque não? – eu perguntei – Onde você esteve todo esse tempo? Ah, Bree... As coisas estão tão estranhas sem você lá, mamãe está pirada e papai estava caindo de bêbado quando eu o vi...

– Não deveria estar aqui! – ela disse mais alto, como se estivesse com raiva por me ver. – Você tem que correr, o mais rápido que puder, corra para longe daqui.

Eu andei até ela e a abracei.

– Não vou sem você... – eu disse.

Foi como se o dedo de um gigante tivesse me dado um peteleco, e no instante seguinte eu estava do outro lado, de costas para uma árvore.

– Bree... – eu murmurei.

– Vá embora – ela disse – Eu não quero você aqui, eu não quero te ver nunca mais.

Eu hesitei.

– O que fizeram com você?

– Eu te odeio, Alex! – ela disse – Eu te odeio porque você... Por que... Droga! Apenas me deixe em paz e não apareça mais.

Meus membros pareciam de gelatina de repente, Bree não me odiava, isso estava na voz dela. Havia sangue escorrendo dos meus lábios, Bree me olhava de um jeito quase faminto.

– Vá... Logo... – ela disse. – Antes que seja tarde.

– Bree – eu chamei, me forçando a levantar, meus membros reclamavam, eu tremia. – Qual é... Eu venho te enchendo o saco o tempo todo, sei que sou irritante, mas você... Você não pode estar falando sério.

Ela chiou um palavrão e com a mesma rapidez que surgira, desaparecera.

Não... Eu não posso deixar... Eu pensei.

Então corri, clamando seu nome sem me preocupar com seus avisos. Era minha irmã, oras, eu não podia deixar que ela simplesmente sumisse novamente.

Depois do que me pareceram horas, eu me vi sentada atrás de uma pedra, ofegando. O corte no meu braço ardia, retirei o casaco mesmo naquele tempo, o casaco já não me servia de nada agora. Coloquei um pouco de neve no ferimento sem saber se aquilo ajudaria ou pioraria, mas eu havia visto alguém fazendo algo parecido em um filme.

Eu a quero... – arregalei os olhos ao ouvir a voz, não estava tão distante de mim.

A voz era de Bree.

Inclinei-me um pouco atrás da pedra, contendo-me para não correr imediatamente para ela.

Como pontinhos negros no meio da neve, eles estavam ali, eu nunca esqueci nenhum daqueles rostos:

Primeiro, haviam três figuras encapuzadas, mas eu só conseguia ver o rosto de dois deles.

No meio das três figuras, uma criança, não deveria ter muito mais da minha idade, seus cabelos eram grossos de um castanho pálido, curtos até os ombros. Bastante magra e andrógina, seu rosto lindo e angelical, a única coisa demoníaca eram seus olhos, olhos vermelhos como sangue. Olhos vermelhos como os de Bree.

E a mesma estava ali, ajoelhada na neve, sendo segurada por um garoto com os cabelos cor de mel, musculado, mas magro.

Bem diante deles havia outras pessoas, gravei o rosto de cada uma delas: Uma mulher com cabelos caramelo com o rosto em formato de coração. Uma garota que parecia ter dezenove anos, magra, pequena e com os cabelos pretos espetados. Outra alta com os cabelos dourados batendo-lhe nas costas – parecia uma das modelos de American Next Top Model (Bree que via essa porcaria, eu não) -. Um cara que parecia seu namorado, com cabelos ondulados, musculoso, grande, um armário, o tipo de cara que roubaria seu lanche no recreio... Um cara de cabelos loiros, muito gato, como um astro de cinema. Também havia um garoto de cabelos cor de bronze, não era musculado, mas também não era tão magrinho, ele estava na frente a uma garota – como se estivesse disposto a protegê-la de qualquer coisa - muito branca, com cabelos longos, lisos, cabelo castanhos e olhos cor de chocolate.

O rosto dela tem formato de coração - um testa grande com uma marca de viúva, olhos puxados, grandes, maçãs da bochecha proeminentes, e um nariz pequeno e uma mandíbula pequena e queixo pontudo. Os lábios dela são um pouco fora de proporção, um pouco cheios demais para a mandíbula pequena dela. As sobrancelhas dela são mais escuras do que seu cabelo e são mais retas do que arqueadas.

Ela era a mais humana dentre aquele grupo de loucos.

– Podemos nos responsabilizar por ela... – disse o astro de cinema.

A garota encapuzada desviou o olhar de Bree para ele.

– Os Volturi nunca dão uma segunda chance – disse sombriamente com sua voz tão angelical quanto seu rosto. – Ande logo com isso, Felix, quero ir para casa.

Quando um garoto alto, muito grande e forte se aproximou de Bree que eu finalmente entendi o que estava para acontecer.

– Não... – murmurei. – Bree... BREE!

Mas era tarde demais, e nunca existiu possibilidade de eu salvá-la. “CRACK!” e a cabeça de Bree estava caída na neve, não havia sangue, nem nada que pudesse me fazer vomitar – com exceção, a cabeça dela. -, ela parecia uma boneca de vidro quebrada, eu gritei e cobri minha boca.

– Não... – eu murmurei. – Não...

Então cai de joelhos, as lagrimas caindo uma atrás da outra, escorrendo pelo meu rosto e congelando ao tocar na neve, o forte cheio do sangue em meu braço invadiu minhas narinas.

Eu olhei para cada rosto ali, todos eles me observavam curiosamente. O garoto com cabelos cor de mel arregalou os olhos para o meu braço.

– Não... – eu me arrastei até o corpo de Bree estraçalhado ali, o garoto com cabelos cor de mel se afastou rapidamente de mim como se eu fosse um tipo de animal muito perigoso. – Vamos... Me desculpe... Bree...

Os olhos de Bree me encarando era mais uma imagem para me atormentar durante os pesadelos.

Eu me belisquei, em uma tentativa falha de acordar.

Mas eu não acordaria, pelo menos, não do mesmo jeito.

– Sua idiota, vaca, estúpida, irritante... – continuei xingando Bree até que não agüentei mais, o ferimento no meu braço sangrava muito, ardia muito.

Finalmente levantei os olhos. Os olhos vermelhos da garota encapuzada me olhavam com interesse. Eu me arrastei recuando.

– O que você fez? – eu sussurrei.

Enquanto isso, os outros apenas observavam como espectadores.

– Ora, ora... – cantarolou a garota. – Um lanchinho. Não foi um prazer vê-los, Cullen’s, espero não encontrá-los novamente... Agora – ela voltou-se para mim – eventos desagradáveis como esse sempre me deixam com fome.

Eu recuei até que a garota exibiu suas presas para mim e pulou no meu braço, eu gritei.

E a última coisa que eu vi antes de tudo escurecer, foram os olhos dourados do garoto com cabelos cor de bronze.

O que... Está olhando? Porque não fez nada? Eu pensei.

Por um momento tive a impressão de que ele realmente pudesse me ouvir.


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Notas finais do capítulo

Impressão? Bom...

Eu não ia postar hoje, mas ai eu comecei só de bobeira e acabei escrevendo o capítulo todo (e eu ia escrever mais hein). Bom, espero que tenham gostado e obrigada aos que leram, desde já!

Beijos Azuis!



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