[Insira seu título aqui] escrita por Helo, William Groth, Matt the Robot, gomdrop, Ana Dapper


Capítulo 46
Sou arrastada para o liquidificador divino


Notas iniciais do capítulo

Leiam as notas finais



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Helo

Se, em algum momento, alguém teve alguma dúvida sobre a liderança de Matt, com certeza mudou de ideia após ele armar o maior barraco com uma deusa maluca de cinco metros de altura.

Por um momento, ela ficou desconcertada pelas palavras dele. Então se recompôs e nos olhou de uma forma que me fazia ter vontade de me esconder debaixo da cama e jamais sair:

— Vocês estão mortos.

— E agora? – disse Marcy, ainda parecendo abalada após sua quase morte.

— Agora corremos.

E foi o que fizemos. Corremos a plenos pulmões por um caos onde costumava ser nosso lar, com batalhas por todos os lados, seguidos por Éris, que fazia bolas de fogo na palma das mãos e jogava aleatoriamente pelo acampamento e em nós.

— Corram o quanto quiserem, pequenos semideuses, isso não irá salvá-los, só estão retardando o inevitável!

Ouvimos um grito, Éris havia atirado mais uma bola de fogo em uma árvore. Um galho se partiu e caiu em cima de um filho de Hécate, Chris.

Matt saiu correndo em direção a ele, enquanto Éris gargalhava.

Marcy e eu continuamos correndo até que chegamos ao punho de Zeus. Não havia escapatória. Estamos perdidos.

Mas então Marcy me surpreende, tirando um crânio de cristal do tamanho de uma palma de dentro do bolso do casaco surrado que ela usava. O mesmo que eu havia visto antes. Ela rapidamente puxou uma adaga da minha bainha e cravou no cristal, com habilidade, sem nem me deixar tempo para questionar.

No início, não entendi o que ela estava tentando fazer. Estávamos sob ataque. Que diabos ela estava fazendo com um cristal? Mas logo compreendi o que ela estava fazendo quando uma névoa espessa começou a subir das extremidades do cristal e dar forma a diversos guerreiros, com a "pele" – se é que se pode chamar assim – num tom acinzentado, mas os ossos eram visíveis, como se estivessem querendo escapar. Eles eram enormes e em segundos, vários deles formaram uma barreira, como se protegessem Marcy da deusa. Ela segurou minha mão com força e nossos dedos se entrelaçaram. Percebi que, ao fazer isso, ela se concentrou, como se estivesse fazendo algo muito importante. Então relaxou, e os soldados começaram a atacar nossos inimigos.

— Seus soldados não a ajudarão agora, querida – Éris disse estalando os dedos, mas ainda assim cambaleou alguns passos para trás, na defensiva.

Foi quando começou a ventar. Ventava e ventava muito forte, uma tempestade como eu nunca tinha visto começou a cair. Segurei-me em uma raiz fincada no chão para não ser tragada pela tempestade, Marcy agarrou-se em meu tornozelo.

Éris ria sádica e loucamente, enquanto desesperadas, tentávamos nos segurar e não ser levadas para o que agora era um furacão girando ao redor dela. Minha mão suava e sangrava, devido à tamanha força com a qual eu segurava aquela raiz, como se minha vida dependesse disso, o que é claro, dependia mesmo.

Eu já não tinha mais forças, na verdade, não queria ter, seria tão mais fácil parar de lutar e deixar que ela me matasse, de forma indolor e rápida. Estava farta de todos esses joguinhos, de como os deuses brincavam com a vida das pessoas, como um jogo qualquer de um videogame, só queria descansar. Então soltei o galho e fomos sugadas pelo furacão. Girávamos e gritávamos. Com muito esforço, ofereci minha mão a Marcy, que a segurou firme. E então tudo parou no ar, eu já não sabia o que era real ou não. Seria algum feitiço?

Foi quando as imagens começaram. Minha mãe num hospital segurando um pequeno embrulho nas mãos, me embalando no que parecia ser o dia do meu nascimento. Outro flash, Marcy pequenina correndo por vielas escuras, uma mulher de capuz cochichava em seu ouvido. Minha infância no Acampamento, com Quíron cuidando de mim. Marcy correndo ao lado de Hezel, ainda criança, com um sorriso verdadeiro estampado em seu rosto, como nunca havia visto antes. As imagens iam aparecendo e desaparecendo rapidamente, se os deuses usassem o PowerPoint, seria daquele jeito. Começaram a passar mais rápido, eu crescendo no Acampamento, Marcy fugindo de monstros, a mesma mulher ora cochichava para mim, ora para ela, como uma miragem. Nosso encontro no Acampamento, mais sussurros, minha mãe sorrindo, gritos, um garotinho muito parecido com Marceline sangrando, mais gritos.

— Socorro! – dizia, sem som, um garoto. Alv. Senti o sabor salgado das lágrimas e a mão dela tremendo junto à minha. Não precisávamos assistir para saber o que aconteceria a seguir, a moça de capuz sopra, os olhos de Marcy ficam vidrados, ele morre.

Nossas brigas, sussurros, ódio, gritos, dor, mais sussurros. Nossa luta que parecia ser eras atrás, porém acontecera há apenas alguns dias, sussurros. Gritos, sussurros, gritos, sussurros, gritos... Ouço as batidas do meu coração muito altas, mas ao mesmo tempo enfraquecendo.

Fecho os olhos, pelo que parece ser uma eternidade, quando os abro, estou novamente no chão.

— Ainda não compreendem? Vocês foram só peças no meu tabuleiro. Há anos eu tenho semeado a discórdia, sempre à espreita, cochichando. Mas vocês são tão tolas, ingênuas, tão autossuficientes pra perceber... Vocês não são nada, nada além de uma parte minúscula de um plano arquitetado há muito tempo. Eu sabia que vocês arruinariam a missão, e então, meu querido Ares ficaria furioso e descontaria em quem quer que cruzasse seu caminho, cá entre nós, ele não é o mais inteligente dos deuses! – Ela riu com gosto. – Foi fácil convencer sua amiga a roubá-lo para mim, através do filho de Hécate. Eu posso ser muito persuasiva. Ares descontaria em vocês, semideuses. E então seus pais asquerosos iriam se ofender, expulsando-o do Olimpo – disse ela com os olhos brilhando. – Substituindo-o pela pobre Éris, que a todo momento, só tentou ajudar os pequenos heróis – disse em tom de deboche, fazendo meu sangue ferver.

— Ninguém nunca acreditaria em você – disse Matt, que havia nos alcançado, quase sem fôlego, mas determinado e cuspindo aos pés da deusa, que ria histérica e insanamente.

— Quem vai dizer o contrário? O corpo de vocês e de todos nesse lugar irá jazer sob essas pedras.

Então, ela materializou uma lança e levantou-a contra nós.

Neste momento, os céus ribombaram em trovões e raios os rasgaram.

Viu-se um clarão e todos os presentes tiveram que desviar o olhar. Quando a luz cessou, doze seres estavam diante de nós.

Sim, os deuses.

Zeus lançou um raio no exército de monstros, que foram incinerados instantaneamente, ou fugiram, deixando montes de corpos para trás. Uma a uma, as divindades formaram um círculo ao redor de Éris (que havia assumido sua forma em tamanho normal, não mais uma deusa sanguinária de cinco metros de altura). Porém, eu nem mais ouvia o que eles diziam, estava muito atordoada e mil coisas se passavam pela minha cabeça, um turbilhão de pensamentos, como um cardume desorientado.

E então, algo me ocorreu. Eu não precisava daquele ódio, eu não precisava reprimir lembranças, eu só sofria porque me permitia sofrer.

Eu só tinha medo porque me permitia temer.

Eu sempre achei que toda essa amargura era uma forma de manter tudo o que eu perdi perto de mim. Mas eu não precisava disso.

Quebre as correntes. 

Então nada daquilo fazia mais sentido, tudo o que Éris havia me mostrado foi como um tapa na minha cara, me fez perceber que eu, na verdade, estava morta.

Sim, eu falava com as pessoas, ria e fazia minhas atividades, mas aqui dentro, eu estava mais fria que um cadáver. E nem havia me dado conta.
Eu tinha que me permitir viver.

Guardar todo aquele ódio, culpar alguém, culpar Marcy, nunca me levaria a nada.

Quebre as correntes.

Eu sempre repetia pra mim mesma que precisava ser forte pelas pessoas que eu amava. Mas não, eu precisava ser forte por mim, precisava recomeçar e deixar tudo pra trás.

Só viver cada dia como se fosse o último, o que, se tratando de uma semideusa, poderia ser mesmo.

Quebre as correntes.

Só agora me dava conta do quanto eu fora egoísta, sempre olhando pra tudo que eu não tinha ou que fora roubado de mim.

Minha mãe

Alv

Minha infância

Meus sonhos...

E tudo aquilo que eu de fato tinha?

Uma família

Um lar

Amigos

E só então me dei conta: não era o que eu tinha, e sim o que eu era. E o que eu era?

Correntes que unem também o destino.

As correntes que aprisionaram Marcy e a mim todo esse tempo. Que nos impediram de viver. De talvez, juntas, construirmos uma história diferente para nossas vidas. Sem sermos controladas por deus algum. Sem estarmos aprisionadas no nosso próprio mundo fantasioso. Uma história em que poderíamos ser livres. Não mais uma peça no jogo deles, não mais um plano mirabolante.

Não. Nunca mais.

Enfim, nós nos compreendíamos por inteiro.

Quebre as correntes.

— Marcy...

E tudo ficou escuro.


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Notas finais do capítulo

Se você está lendo isso, é porque mesmo com todas as reviravoltas, você não desistiu da fic. PARABÉNS! Obrigada por ter nos dado essa chance sem ao menos saber do que se trataria e permanecer até aqui.
Obrigada acima de tudo aos meus amigos, queridos autores, pela paciência e também pela falta dela.
Espero que tenha gostado de acompanhar um pouquinho da vida da Helo, porque eu, com certeza, amei cada palavra.
Câmbio e desligo #TeamHelo



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