Safe & Sound II: A Sociedade Secreta escrita por Gistar


Capítulo 21
Vinhos


Notas iniciais do capítulo

Mais um capítulo pra vocês! Espero que gostem. Boa leitura!



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“Você sabe que eu posso mudar, eu posso mudar

Mas eu estou aqui no meu molde

E eu sou um milhão de pessoas diferentes

De um dia para outro...

Eu não posso mudar meu molde

Não, não, não, não, não..."

Sara

Eu ainda não havia pensado em uma desculpa para o meu sumiço no jantar quando estava voltando às seis da tarde para o dormitório.

Esse era o problema do seu namorado e de todos os seus amigos saberem praticamente tudo a seu respeito. Você não podia mentir.

Eu podia inventar que finalmente resolvera falar com Steven e saíra correndo para a casa dele, mas eu achava que não era uma desculpa boa o bastante. Só tinha um jeito: eu precisava de um álibi.

A primeira pessoa que me veio à mente foi Jana. Mas ela faria muitas perguntas e eu não a conhecia tempo suficiente para confiar um segredo desses. Acabei decidindo por uma das pessoas que me conhecia há mais tempo e que eu tinha certeza que confiaria em mim a ponto de não me julgar: Ângela.

Foi assim que desviei a meio caminho do meu quarto e tomei a direção do quarto dela.

– Sara? Entra! – convidou assim que me viu parada à sua porta.

– Está sozinha? – perguntei enquanto caminhava para dentro.

– Estou. Lia está cobrindo uma matéria para o jornal do campus. Senta!

Ela indicou duas poltronas a um canto do quarto e eu sentei em uma enquanto ela foi para a outra.

– Preciso da sua ajuda, Angie!

Ela continuou calada enquanto eu contava minhas suspeitas sobre o interesse de Luke em mim e a conversa que eu tivera com Pedro quando voltávamos do fim de semana. Terminei contando sobre o convite para jantar.

– ...e eu preciso ir nesse jantar, mas Pedro não pode saber ou tentará me impedir. Preciso que me ajude a pensar em como fazer isso sem que ele desconfie.

– É claro que eu te ajudo, amiga. Mas você tem certeza de que vale apena arriscar seu namoro pra tentar descobrir os motivos por trás dos atos do Luke? Você tem idéia do quanto isso é arriscado?

– Eu sei, mas confie em mim, eu sei o que estou fazendo.

– É claro que confio. Tem alguma ideia do motivo que vai dar pra se ausentar do jantar?

– É por isso que eu preciso de você. Não consigo pensar em nada bom o bastante.

Ângela ficou alguns minutos em silêncio enquanto pensava em algo.

– Você pode dizer que não está se sentindo bem e que vai dormir um pouco. Tenho certeza que Pedro não vai lá verificar se você estiver dormindo.

– Mas Jana vai perceber minha ausência quando voltar.

– Eu posso distraí-la! Só me diz quanto tempo precisa que eu dou um jeito.

– O jantar é às nove. Três horas serão o bastante, vou tomar cuidado pra não demorar mais do que isso.

– Então vá indo e faça como eu te falei. Depois que a Jana descer, eu vou segurá-la lá embaixo, mas você vai ter que sair e voltar pela saída de emergência, para não correr o risco de ser pega...

Depois que acertamos tudo, eu voltei para o dormitório e me atirei gemendo na cama quando entrei.

– O que houve? – Jana perguntou preocupada.

– Cólica.

– Quer um remédio? Eu tenho um ótimo. – ofereceu enquanto pegava a bolsa para procurar o medicamento.

– Não, obrigada. Passei na farmácia e já tomei um, eu só preciso descansar um pouco, ficar deitada e quieta...

– Então não vai descer pra comer?

– Não... Vou tentar dormir um pouco. Pode avisar aos outros pra mim?

– Eu vou sair com o Eric e não vou jantar aqui. Mas eu passo lá e aviso eles antes de ir.

– Obrigada.

Ela saiu do quarto e eu esperei que Angela me desse um toque no celular que seria o sinal de que ela já estava lá embaixo.

Depois de alguns minutos eu recebi o toque e fui me trocar. Coloquei um vestido simples e uma maquiagem leve.

O restaurante não era longe, mas eu teria que ir a pé até o ponto de taxi e dali iria de carro até o local.

Faltavam quinze minutos para as nove horas quando eu saí do quarto e desci a escada de emergência que dava nos fundos do prédio. Contornei-o, tomando cuidado para não passar muito perto das janelas que por sorte estavam com as cortinas abaixadas.

Caminhei rapidamente até o ponto de taxi e tomei um, dando o endereço do restaurante.

Olhei para o relógio e vi que eram nove horas em ponto quando entrei no restaurante. Continuei parada perto da entrada enquanto procurava a mesa onde ele estava e o encontrei numa mesa distante e um pouco isolada das outras.

Dirigi-me até ela.

– Que bom que veio! – disse enquanto puxava a cadeira pra mim. Ele tinha um sorriso presunçoso, como se tivesse ganhado uma aposta.

– Eu vim apenas porque preciso de algumas respostas. – falei.

– Você está muito bonita.

– Obrigada.

Ele também era e eu certamente teria devolvido o elogio se ele fosse qualquer outro homem.

O garçom chegou e nos entregou o menu. Era um restaurante italiano e eu acabei decidindo por um espaguete. Eu adorava espaguete.

Ele pediu um vinho para acompanhar e eu acabei concordando. Se eu estava disposta a fazê-lo falar era melhor que eu não complicasse as coisas se não fosse necessário.

– Bonita aliança! – ele falou e eu percebi que minha mão direita estava estendida sobre a mesa.

– Pedro me deu esse fim de semana. – falei admirando a aliança.

– Ele é um cara de sorte por ter uma mulher como você, mas está abusando dela.

– O que está querendo dizer?

Ele sorriu ao perceber que eu não estava entendendo.

– Ele permitiu que você viesse aqui hoje, parece que não tem medo de perdê-la.

– E não precisa ter. Não há a mínima possibilidade disso acontecer.

Nesse momento o garçom chegou trazendo nossos pedidos.

– Então, o que ele disse quando você contou sobre o meu convite, não quis vir com você? – perguntou.

– Eu não contei a ele. Não sabe que estou aqui. – confessei.

Ele ficou sério de repente.

– Por que não contou a ele?

– Porque provavelmente ele não me deixaria vir e como eu já disse, precisava de algumas respostas.

– Pode começar o interrogatório então. O que quer saber?

– Como você acabou na sociedade?

Ele olhou para os lados. A nossa sorte é que estávamos num lugar reservado e ninguém podia nos ouvir.

– Achei que íamos falar sobre minha vida fora da Ordem...

– Já disse que vim até aqui somente porque preciso de respostas.

Ele soltou os talheres e me encarou sério.

– E por que precisa saber disso?

– Eu quero entender como... você e Pedro eram amigos quando crianças. O que levou você a se virar contra ele? Ele disse que você era um cara legal e que não sabe o que levou você a se envolver com Daniel. Foi o seu pai? Ele o obrigou a fazer tudo aquilo e você não teve opção? Foi isso?

Eu o encarava desejando ardentemente que ele me respondesse que ele fora obrigado pelo pai dele, pois assim seria mais fácil de convencê-lo a me ajudar.

Ele balançou a cabeça.

– As pessoas mudam. Eu gosto de fazer parte da Ordem e do poder. Gosto de estar no controle, fazer parte da elite.

– Então nunca se arrependeu de ter dito sim naquela sala escura? Em nenhum momento da sua vida?

– Nunca.

Minha esperança murchou com a resposta dele. Eu realmente teria que fazer aquilo da maneira mais difícil.

Ele voltou a sorrir e a pegar os talheres.

– Parece decepcionada. Esperava que eu dissesse que meu pai é um carrasco que me forçou a entrar na Ordem.

– É, mais ou menos isso. Pedro me contou que vocês tinham algumas desavenças.

– Ele não é um pai perfeito, erra às vezes, mas eu o amo. Acho que você é capaz de entender isso, seu pai também não é um santo.

Eu não gostei dele ter comparado Steven ao crápula do pai dele, mas deixei passar essa.

– Mais vinho? – ele ofereceu e eu percebi que já havia bebido uma taça inteira por toda a ansiedade que sentia.

– E o Daniel?

– O que tem ele?

– Vocês... se davam bem?

– Sim, mas não vim aqui para falar dele. Então não tem medo que Pedro descubra que você veio jantar comigo? – perguntou se desviando rapidamente do assunto.

– Ele não vai descobrir, mas se souber não tem nada demais, estamos apenas conversando.

– Nada demais por que você não quer. – ele respondeu e segurou minha mão que estava sobre a mesa. Eu tentei tirá-la, mas ele a segurou firme e ficou passando o dedo na aliança. – Tem o nome dele gravado nela?

– Tem.

O garçom chegou pra verificar se queríamos mais alguma coisa e ele pediu outra garrafa de vinho. Tentei novamente tirar minha mão, mas ele continuou segurando-a firmemente.

Quando o garçom saiu, ele a soltou e eu a deixei embaixo da mesa.

– Já disse que amo o Pedro. – Afirmei.

– Eu sei, mas isso não significa que não possa conhecer outras pessoas. Todos os vinhos devem ser provados, alguns apenas um gole, outros a garrafa inteira. Mas precisa provar todos pra saber qual é o melhor.

– Estamos falando de pessoas, não de vinhos.

– Então, ele é seu primeiro namorado. Você nunca se envolveu com outros caras e se nega a fazer isso porque tem medo de descobrir que ele é o cara errado e de deixar de amá-lo.

– Isso é um absurdo! Eu... eu jamais deixaria de amar o Pedro e eu não preciso me envolver com outros homens pra ter certeza de que ele é o certo. Eu sei que é!

– Como, Sara? Como você sabe disso se não se envolveu com outro cara?

– Porque eu o amo e isso basta pra mim! – senti meu rosto vermelho. A raiva das insinuações dele me fez levantar de repente da mesa e esbarrar no garçom que havia chegado com o vinho.

Só percebi o que havia acontecido quando senti a bebida gelada escorrer por dentro do meu vestido e ouvi o barulho da garrafa quebrando no chão.

– M... – soltei um palavrão ao ver meu vestido cujo tecido azul claro agora estava com uma enorme mancha vermelha da bebida.

O garçom começou a pedir desculpas enquanto limpava a sujeira e eu percebi que Luke se esforçava para segurar o riso.

Peguei minha bolsa e estava me virando pra sair quando ele me segurou.

– Espere um pouco, não pode sair assim. Tome!

Ele pegou seu sobretudo e me ofereceu.

– Não precisa! – eu respondi, mas ele já estava colocando-o sobre meus ombros.

– Não seja boba! Você está encharcada e está frio lá fora.

Eu acabei aceitando, mas saí imediatamente do restaurante e fui procurar um táxi.

Para meu desespero, não havia nenhum à vista e faltavam poucos minutos para a meia-noite. Se eu não conseguisse achar um logo, Jana voltaria para o quarto e eu iria estar encrencada!

Infelizmente eu estava com um salto agulha de 10 cm, mas decidi ir caminhando devagar pra não cair e rezando para que passasse logo algum táxi. Eu tinha andado apenas meia quadra quando uma limusine emparelhou ao meu lado. Não precisei olhar pra saber quem era.

– Quer uma carona?

– Obrigada, mas acho que vou fazer uma caminhada até o campus. – menti.

– Quantos centímetros tem esse salto? Vai acabar caindo e se machucando. Entra! – pediu descendo do carro e abrindo a porta.

– Ficou maluco? Não vou chegar lá com você!

– Eu te largo uma quadra antes.

– Ok, se você prometer que não vai voltar com aquele papo de vinhos durante o caminho todo.

– Tudo bem, eu prometo não falar de vinhos.

Eu entrei no carro e ele sentou ao meu lado.

– Desculpe se a aborreci. Prometi que seria educado e acabei irritando você. – ele parecia realmente arrependido.

– Esquece! Tá tudo bem.

– Será que podíamos ao menos ser amigos?

Eu o olhei desconfiada e ao mesmo tempo surpresa com a pergunta. Pensei um pouco antes de responder. Eu poderia tentar ser amiga dele, mas Pedro com certeza não ia gostar. E eu poderia dizer que não dava e perder a chance de conseguir alguma informação sobre Daniel e Leonardo. Resolvi aceitar com algumas condições.

– Podemos. Mas se você vier novamente com esse papo do Pedro não ser o cara certo ou ficar me paquerando, acabou. E precisa me dar um tempo pra pensar numa forma de dizer a ele que o cara que ameaçou nos dar de banquete aos leões quer ser meu amigo.

Ele riu do que eu disse, mas parou quando viu que eu não estava brincando.

– Ok, eu aceito as condições, mas não acha que exagerou no drama quando disse que eu queria dar vocês de banquete aos leões?

– Não. Você iria fazer exatamente isso!

– A Ordem iria e você sabe que eu não podia passar por cima dela.

– Sei?

– Pode parar aqui. – ele disse ao motorista quando estávamos a uma quadra do prédio do meu dormitório.

– Boa noite e obrigada pela carona. – agradeci e quando eu ia tirar o casaco ele me parou.

– Leva ele, me devolve amanhã. Você ainda tem que caminhar uma quadra e o vento está gelado.

– Ok, amanhã eu te devolvo então. Tchau.

Eu desci do carro e fui andando até o prédio.

Eu estava quase chegando quando Ângela me mandou uma mensagem de texto avisando que Jana ainda não havia chegado.

Eu apressei o passo e fiquei olhando para os lados, preocupada com a possibilidade dela e Eric chegarem naquele momento e me pegarem.

Quando cheguei no quarto, não havia nem sinal dela ainda.

Fui tomar um banho e quando tirei o casaco ouvi um barulho de algo metálico cair no chão.

Olhei pra baixo e vi que era um chaveiro. Tinha uma pequena chave e no chaveiro tinha um número com as iniciais L.M.

Era a chave do quarto de Luke.

Era melhor ele ter uma cópia, pensei, porque eu não iria sair àquela hora da noite pra lhe devolver. Resolvi que iria de manhã cedo lá e aproveitaria pra levar também o casaco.

Depois de tirar o vestido (que infelizmente foi direto para o lixo), eu tomei um banho.

Coloquei o despertador para bem cedo. Se eu iria até o quarto de Luke, seria melhor que eu fizesse isso numa hora que não houvesse ninguém na rua.


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Notas finais do capítulo

Então? Concordam que todos os vinhos devem ser provados? Bjs



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