“Eu nunca achei que você fosse boba

Mas querida, olhe para você

Você tem que se levantar, carregar seu próprio peso

Estas lágrimas não vão a lugar algum, baby...”

Sara

Eu me sentei novamente no sofá e esperei que eles começassem as explicações.

– Como Edna disse, – Carlos começou – nós sabemos que Steven soltou Leonardo e podemos ajudá-lo para que as conseqüências não sejam muito ruins quando isso vier à tona.

– Como vocês sabem disso e como podem ajudar? – Perguntei. Realmente eu duvidava muito que alguém pudesse fazer algo contra a sociedade.

– Nós somos agentes da Interpol. – ele me mostrou o distintivo.

Interpol? Será que a sociedade tem agentes infiltrados lá também?

Ele pareceu perceber minha desconfiança, porque respondeu em seguida.

– Não se preocupe, nenhum dos agentes trabalhando neste caso são americanos, então não há nenhuma possibilidade de serem membros da Skull & Bones. Você está segura conosco.

– Então vocês sabem da influência da sociedade na polícia?

– Acho que nós sabermos sobre o seu pai responde à sua pergunta.

– Então porque ainda não fizeram nada?

– Não é assim que as coisas funcionam. – Edna respondeu – Nós precisamos de muitas provas e testemunhas. Temos algumas provas, mas as testemunhas sempre acabam desaparecendo...

– Mortas, você quis dizer. – Corrigi. – E eles vão me matar também se souberem que estou conversando com vocês.

– Não se preocupe, ninguém sabe que eu sou da Interpol. O meu disfarce de professora da Universidade é perfeito.

– Eles são espertos, vão acabar percebendo se continuarmos nos encontrando.

– Não vão! – Carlos intercedeu – Nós temos um plano para pegá-los.

– Ótimo! E o que estão esperando? – perguntei sem entender porque eles já não estavam fazendo algo pra acabar com aquela corja.

– Precisamos da sua ajuda, Sara. – Edna disse.

– O que vocês precisam saber? Sou nova na sociedade e não sei muita coisa sobre ela, seria melhor se pedissem ajuda para um dos seniores.

– Não é isso. – Esme negou – Nós sabemos sobre a sociedade. Sabemos que Daniel é um membro e por isso escapou da pena de morte. Que eles ajudaram na sua fuga e estão escondendo-o. Sabemos que foi a sociedade que planejou o seqüestro da sua escola para pressionar o seu pai que se negou a libertar Leonardo. Sabemos que eles ameaçaram você para que convencesse o seu pai a ajudá-los.

– Então eu não estou entendendo. Se vocês sabem tudo sobre a sociedade, como eu posso ajudá-los?

– Nós precisamos que você descubra onde eles estão escondendo Daniel e Leonardo. – Respondeu Carlos.

– Eu não posso fazer isso. Eles nunca vão me dizer, eu sou a última pessoa pra quem Luke vai contar isso.

Os olhares que eles me lançavam diziam outra coisa.

– Você é a única que pode fazer isso. – Edna falou.

– Porque eu? – perguntei.

– Nós soubemos que Luke tem um interesse especial em você.

– Então é isso? Vocês acham que só porque Luke quer me levar pra cama, ele vai me contar onde o Daniel está? Não acredito que vocês estão me pedindo pra fazer isso! – Disse e já estava me arrependendo de ter ficado.

– Sara querida, nós jamais lhe pediríamos isso. – Ela falou. – Tudo o que você precisa fazer é ganhar a confiança dele e convencê-lo a lhe dizer onde os bandidos estão.

– Eu não posso fazer isso, professora. Eu simplesmente não vou conseguir. É impossível!

Ela se levantou e sentou ao meu lado no sofá.

– Se você não conseguir, nós nunca vamos pegá-los e você, seus amigos e sua família nunca terão paz, nunca se livrarão deles. Nós estamos te dando uma chance de terminar com tudo isso e salvar seus amigos.

– Eu não posso. Eles vão descobrir que eu estou traindo a sociedade e vão me matar.

– Eles só vão descobrir se você contar a alguém.

– Se eu aceitar participar desse plano, eu não vou poder contar a ninguém? Vou estar... sozinha?

– Sim. Se você contar a alguém vai arriscar jogar tudo por água abaixo. – Respondeu Carlos.

– Sara – Edna começou – eu sei que isso é muito difícil para você, arriscar a sua vida e a das pessoas que você ama. Mas eu sei que você pode fazer isso. Eu não te pediria isso se não tivesse certeza de que você é capaz. Acho que você mais do que ninguém quer terminar com isso e colocar essas pessoas na cadeia onde é o lugar delas. Pense bem, eu sei que as conseqüências desse plano vão ser ruins se ele der errado, mas pense que se ele der certo, tudo isso, todo o seu sofrimento vai terminar.

Eu queria muito isso. Sentia-me de alguma forma culpada porque Steven estragara tudo e sentia que eu tinha que consertar aquilo. Eu devia isso aos meus amigos, devia isso ao Jared e ao Miguel. Agora eu tinha uma oportunidade para fazer isso, para acabar de vez com aquela Irmandade da Morte. Eu tinha medo, muito medo. Eu sabia que se aceitasse participar daquilo seria tudo ou nada. Mas eu sabia que não havia outro jeito. Embora Pedro insistisse que havia outra forma de sair dessa, eu sabia que ele apenas estava lutando contra o desespero e o fato de que nunca conseguiríamos ser livres sem ajuda. E agora eu tinha uma, mas eu teria que fazer isso sozinha. Sem a ajuda dos meus amigos, sem o apoio dele. Eu não sabia como fazer isso, ou se eu iria conseguir, mas eu estava desesperada e tinha que tentar.

– Tem razão. Eu quero terminar com isso, vou fazer o que puder para ajudar.

Edna sorriu e me abraçou.

– Que bom. Tenho certeza que vai dar tudo certo. Você é uma garota forte e determinada quando quer alguma coisa.

– Mas vocês vão ter que me prometer que se... acontecer algo comigo ou se der errado, vocês vão proteger minha família e os meus amigos.

– Não se preocupe, nós vamos ficar de olho em todos. – Garantiu Carlos.

– Agora, é importante que ninguém saiba do nosso plano, o sigilo é essencial para que ele dê certo. Não importa o que aconteça, você deve colocá-lo sempre em primeiro lugar.

– Eu não vou esquecer isso. Mas se ninguém vai saber do plano, como eu vou explicar ao Pedro e aos meus amigos a minha... amizade com o Luke? Eles sabem que o odeio e vão desconfiar.

– Eu tenho certeza de que você é capaz de lidar com isso, quando tudo acabar eles saberão o motivo de você ter feito o que fez e a perdoarão.

É claro que esse plano tinha falhas. Eu não sabia até onde eu teria que ir com o Luke para conseguir as informações e temia que se eu fosse longe demais, acabasse perdendo Pedro para sempre.

– Para que tudo dê certo, - ouvi Edna continuar - só vamos nos falar novamente fora da Universidade quando você conseguir as informações de que precisamos. Até lá, ninguém pode desconfiar que a nossa relação vai além de professora-aluna, certo?

– Certo. O que eu faço quando tiver as informações?

Ela pegou um dos livros e me estendeu.

– Fique com esse livro e quando tiver as informações, me devolva. Assim eu saberei e ninguém desconfiará de nada.

Eu peguei o livro.

– Alguma pergunta?

Eu ergui os olhos do livro e olhei para ela.

– Precisa ser o Luke? Não tem outra pessoa que possa dar essa informação? – perguntei, ainda com um fio de esperança.

– Você não gosta dele. – Ela disse e não era uma pergunta. – Mas infelizmente não há outra pessoa mais suscetível a nos fornecer esta informação.

– É como nós dissemos, se houvesse outra forma jamais lhe pediríamos isso. – afirmou Carlos.

– Ok. Eu vou conseguir essa informação. – disse determinada.

– Todas as nossas esperanças estão com você, Sara. – Edna disse.

Eu saí da casa de sua casa segurando a bolsa com os livros que pedira e o que me emprestara, ele me acompanharia até eu conseguir as informações de que precisava.

Ouvi um estrondo e olhei para o céu onde as nuvens negras avançavam ameaçadoras. Era como eu me sentia agora, como se tivesse que atravessar nuvens negras de tempestade antes de ver novamente a luz do sol e respirar o ar limpo.

A chuva começou a cair e eu apressei o passo, mas ela acabou me pegando antes que conseguisse entrar no campus. Era uma chuva fria e eu tremi quando fiquei molhada, mas isso não me importava. Agora eu tinha esperanças de que havia encontrado um caminho para a liberdade e aquele meu sofrimento não ia durar muito.

Porque nada dura pra sempre, nem mesmo aquela chuva fria de novembro.