Forever

O crepúsculo estendia-se no céu anunciando o fim de mais um dia normal. E em algum lugar de uma floresta, a cena se repetia. Mais um dia de esforços inúteis. Mais um dia de fracasso eminente. Não sabiam onde estavam, nem o quanto longe haviam sido arremessados por aquela explosão que enfrentavam quase que diariamente. A única coisa que sabiam é que haviam, mais uma vez, perdido a oportunidade perfeita de capturar aquele talentoso Pokémon pelo qual dedicaram seus últimos anos caçando diariamente. Novamente Ash e Pikachu haviam levado a melhor e derrotado a equipe  Rocket.  Meowth estava resmungando algo, enquanto pulava da árvore para o chão sem muitos problemas. Ele era sempre o primeiro a se levantar quando pousavam.. Talvez porque fosse um Pokémon gato.  James bufou e ergueu o rosto direção á Jessie. Ele não estava na posição mais confortável de todas. Estava agarrado á um tronco de árvore, prestes a cair á qualquer momento. Jessie havia caído em um galho á cima dele e parecia completamente desanimada.

- Cê ta legal, Jessie?
- Já estive pior....! – Ela resmungou de mau humor.

Um barulho estranho foi ouvido pelos dois, que imediatamente olharam para o lado, onde o galho em que Jessie havia caído prendia-se á arvore.

- Ah...não! – Ela disse em suplica.
- Não.. – James murmurou em mesmo tom.

Novamente o barulho. O galho se partiu, fazendo com que Jessie desmoronasse bem em cima de James, que por sua vez teve seu galho quebrado também e foi direto ao encontro do chão duro revestido pela grama verde da floresta.  Ambos gemeram de dor. James choramingou, insinuando toda a sua decepção e dor.

- Porque sou sempre eu que fico em baixo?

Jessie não conteve uma risada, porém se arrependeu assim que sentiu uma dor forte em suas costas.

- Ai.. Minhas costas....!
- Hey, vocês dois, vão ficar ai para sempre? – Meowth disse colocando ambas as mão na cintura.
- Cala a boca, Meowth. – Jessie resmungou.
- Ah.. Belos companheiros que eu tenho. Dois molengas! – Disse ele se virando. – Que seja, demorem o quanto quiser. Eu vou ver se acho algo para comer. Estou morrendo de fome. – E saiu, sumindo por entre a mata densa da floresta.

James ergueu um pouco o corpo retirando os pedaços de galhos que estavam sobre ele e em seguida segurou o corpo de Jessie, em uma tentativa de ajudar ela á se levantar.

- Consegue se levantar?
- Acho que sim...! – Ela fez uma careta e com dificuldades se levantou, com ambas as mãos nas costas. - Ai!
- Está ficando velha para isso, Jessie! – James falou, se levantando também.
- VELHA? QUEM VOCÊ TÁ CHAMANDO DE VELHA, SEU IDIOTA? – Ela berrou partindo para cima dele e segurando  a camisa do uniforme do homem.
- Ah! Calma! Calma! Não  foi isso que eu quis dizer! – Ele tentou se redimir. Algumas vezes esquecia do temperamento forte de Jessie.
- Acho bom! - Ela resmungou e se arrestou, mancando, para um canto, onde se sentou sobre um pedaço de madeira que havia ali.

 James passou a mão direita sobre o próprio pescoço e mexeu vagarosamente a cabeça para os lados, como se estivesse alongando o músculo dolorido. Jessie, por sua vez, jogou o corpo para trás, acreditando que havia algum lugar para se encostar, porém quando percebeu que não havia, era tarde demais. Novamente caiu na grama de costas, e berrou mais uma vez com a dor do impacto.

- AAAI!
- JESSIE! – James correu até ela e segurou rapidamente a mão da ruiva, puxando-a de volta para cima.

Jessie se ergueu, porém não voltou á posição original em que estava,ao invés disse, deixou o corpo cair sobre o de James, apoiando sua testa sobre o ombro do companheiro. Já não tinha forças nem para ficar em pé. Aquele havia sido um dia duro para todos. James entendia Jessie. O homem levou a mão direita ás costas da ruiva, e apoiou-a ali. 

- Deve estar exausta. – Afirmou. Ela apenas gemeu em resposta. – Deixa que eu te ajudo. – Ele disse, e como o bom cavalheiro que sempre fora, pegou-a no colo e se levantou. Jessie não queria se aproveitar da educação de James, mais realmente estava exausta e não tinha forças para recusar tal gentileza. Recostou a cabeça no peito do amigo e passou um dos braços pelo pescoço do mesmo.

Ele olhou em volta, procurando um local bom para deitá-la... Mas como sempre, não havia nenhum local realmente confortável. Bufou. Aquela vida era terrível. Não tinham sossego, nem férias, muito menos paz.  Não tinham dinheiro e nem um lugar descente para dormir. Jessie fechou os olhos e soltou uma risada débil. James a olhou por um segundo e repetiu a ação da ruiva.

- Suas costas.. doem muito, Jessie? – Ele indagou, ainda em pé, parado. Ela o olhou, com indagação nos olhos. – É que se estiverem muito ruins posso te levar á um medico.... Deve ter algum centro por aqui.

Jessie sorriu e negou com a cabeça.

- Não se preocupe com isso, James. É exagero meu.

James andou até próximo á uma arvore e colocou a ruiva ali, deitada.

- Obrigada. – Ela sussurrou.
- Não tem problema... – Ele disse ao se sentar ao lado dela. Direcionou o olhar para o Céu, que aos poucos se tornava cada vez mais escuro. – Achei que fossemos conseguir dessa vez. O plano era tão bom.
- Já devíamos ter nos acostumados com o fracasso. – Ela falou sem animo. Abriu os olhos e fitou James com tristeza. – O chefe está certo, sabia? Nós somos uns inúteis. Nunca fazemos nada direito.
- Não liga para isso. - James tentou animá-la, porém aquele sentimento de fracasso que invadia Jessie também era sentido por ele.
- Não temos nem aonde dormir, James.
- Mas estamos todos juntos. Eu, você e o Meowth. Isso que importa.
- Morrendo de fome, sede e cansaço. – Ela resmungou, chateada. – Sem dinheiro... sem uma vida. – Ela virou o rosto para o lado oposto e fitou o breu que agora se tornara aquela floresta. – Dava tudo para ter um pouco do que você tinha...
- Isso é tão importante para você? – Ele voltou o olhar para ela, receoso com a resposta.
- Lógico que sim. Porque outro motivo eu estaria aqui?

James se levantou e se virou, andando em direção á floresta. Jessie rapidamente virou o rosto e fitou-o.

- Aonde você vai, James?
- Vou procurar o Meowth.

Foi a única coisa que ele disse antes de sumir por entre a escuridão da mata. Jessie suspirou. Será que James havia se chateado com o que ela disse? Sabia que James havia desistido da vida da alta sociedade para ficar ao lado dela e de Meowth e sabia também como ele se sentia em respeito á isso.

James sempre foi educado como um cavaleiro, um nobre, e mesmo tendo negado suas origens e se misturando á um grupo criminoso, ele ainda mantinha fortes características de sua origem, como a educação e cavalheirismo, pelo menos, para com aqueles que ele realmente se importava. Jessie gostava daquilo nele e se sentia muito feliz por James ter desistido de tudo para continuar ao lado dela e Meowth, porém, para ela que sempre viveu na miséria, era difícil imaginar um motivo forte suficiente para largar um mundo de luxo.

Fora sempre por aquilo que eles lutaram. Queriam fama, sucesso, dinheiro e luxo. Sempre foi isso que ela acreditou e que ele também parecia desejar. Então, porque James havia ficado tão chateado? Ela apertou os olhos contra o breu, e tentou ver se ele ainda estava por perto. Será que ele realmente havia ido procurar Meowth? Ou apenas estava se mantendo um pouco longe?

- James... – Ela chamou, tentando adivinhar se ele ainda estava por ali. Conhecia ele, sabia que era bem típico de James querer sair de perto das pessoas quando algo o chateava de verdade. – James... – Chamou novamente.

- O que foi..? – Ele indagou em meio ao breu, escondido.
- Vem pra cá...
- Eu vou procurar o Meowth.
- Não vai não....
- Vou sim.
- Então porque ainda está aqui? – Ela sorriu, pegando-o pela mentira de perna curta.
- Estava apenas pensando para que lado seguir...
- Você não vai, James. Se quisesse, já teria ido... Volte para cá.

O som das folhagens invadiu o local, e logo James apareceu, surgindo em meio á escuridão da noite. Ele andou até ela, á passos extremamente lentos e se sentou. Jessie se ergueu e sentou-se, de frente para ele.

- Ficou chateado com o que eu disse?
- Não. – Ele mentiu novamente, desviando o olhar do dela.
- Ora, James.. Eu sei quando está mentindo para mim... Você disfarça muito mau.

Ela  abaixou um pouco o corpo e o olhou de baixo, tentando fazer com que seus olhares se encontrassem.

- Ei, seu idiota. Olha para mim! – Ela brincou, tentando descontrair.
- Trouxe frutas. – Meowth disse, chegando ao local com um grande monte de frutas frescas. – Foi a única coisa que encontrei.
- A maça maior é minha! – James berrou enquanto avançava sobre Meowth, fugindo de Jessie.
- Hey, nem pense nisso, espertinho! Eu peguei essa aqui para mim!

Meowth e James começaram um “Cabo de guerra”com a Maca, cada um puxando-a para um lado, como duas crianças famintas disputando o único alimento. Jessie olhou para James, porém seus pensamentos não estavam focados na cena que presenciava, e sim, unicamente, no companheiro. Era notável a mudança de James. Algo devia estar acontecendo. James andava estranho, estava mais calado, mais observador e até mesmo mais sensível ás grosserias de Jessie. Aquilo estava a preocupando.

Foi necessário que Jessie desse um basta naquela briga, para que os dois parassem de berrar e de disputar a maça. No final das contas, quem comeu aquela fruta foi ela, e os dois tiveram de se conformar com maças menores.

- Qual é o próximo plano?  - Jessie começou o assunto.
- Eu tive uma idéia..Mais vamos precisar descansar bastante. Temos um longo túnel á cavar amanhã!
- Um buraco? De novo? Mais já fizemos isso umas milhares de vezes! – Resmungou James.
- James tem razão, Meowth. Não vai dar certo!
- Não temos dinheiro para comprar maquinas! É a única coisa que podemos fazer!

James e Jessie suspiraram. Meowth terminou com a fruta que comia e pegou mais uma no monte que havia trago, levantando-se em seguida.

- Estou com sono. Vou dormir! Boa noite para vocês! – Meowth se virou e andou em direção á mata.
- Espera, onde você vai, Meowth? – Jessie berrou.
- Tem uma casa por aqui.. E eu vi uma garota por ali. Vou me fingir de gato perdido e pedir abrigo para ela essa noite! Amanhã eu encontro vocês!
- HEY, ISSO NÃO É JUSTO, MEOWTH!
- A vida não é justa, James! – Meowth debochou saltando para uma arvore. – Tchauzinhooo! Hahahahaa – Ele desapareceu.

James murchou, olhando o breu da floresta.

- Ah.. Eu também queria ir...!
- Esquece, James..! Ninguém vai dar abrigo pra dois ladrões. O Meowth é muito espertinho! – Bufou, e deu mais uma dentada na fruta. –  Pokémon idiota – Ela xingou-o, enquanto mastigava o único jantar que tinham.
- Bem que eu achei que o Meowth estava bomzinho demais indo buscar frutas para agente... – Ele fez um bico, como um garotinho mimado.
- Pelo menos ele fez algo antes de abandonar agente no frio da noite enquanto dormia aconchegante em uma almofada!
- Aahhh.. ele deve ter muita comida lá..! E uma lareira quentinha.. – James sonhava, imaginando o local onde Meowth passaria a noite, e invejando-o. – Deve ser tão... tão magnífico!

Jessie não se conteve, e também entrou na onde de imaginação de James. Logo já via a maravilhosa lareira queimando á sua frente, e o calor provindo dela esquentá-la.

- Ah.. deve ser muito maravilhoso! Imagine.. Um banho quente em fontes de água termais! E um maravilhoso banquete com carnes, vinhos e comidas deliciosas!
- E uma cama quentinha e macia! – Os olhos de James brilhavam.

Um vento gélido e forte soou pela floresta, atingindo-os  e fazendo com que cada fio de cabelo que eles tinham se arrepiassem. Bateram os dentes e se jogaram, um contra o outro, abraçando-se para que o calor dos corpos amenizassem o frio da noite.

- Que injustiçaa! – James disse em um choramingo.
- Ahh..! Eu vou enforcar o Meowth pela manhã!

James suspirou e afrouxou o abraço, Jessie fez o mesmo, porém não se separaram, estava frio demais para cogitarem aquela possibilidade.

- Amanhã temos que procurar o balão. – Jessie resmungou.
- Não deve estar muito longe.  O vento estava para leste. Amanhã, pela manhã, assim que o Meowth voltar, agente sai para procurar.
- Então vamos mesmo ter que dormir sem nem sequer um cobertor?
- Nem lembre..- James clamou em um tom meloso. – O que eu não daria por um saco velho de dormir...!
- Vamos morrer congelados, James!

Os dois choramingaram por mais algum tempo, até que resolveram procurar pelas redondezas do local algum tipo de lenha que pudesse ser usada para fazer uma fogueira. Não demorou para que arrumassem alguns pedaços de madeira usáveis. No final, não conseguiram lenha suficiente para manter uma fogueira acesa durante toda a noite, porém pelo menos por algum tempo, teriam uma fonte de calor para amenizar o frio da noite.

- A noite vai ser longa.. – Jessie resmungou, abraçando as próprias pernas, sentada encostada á uma árvore.
- Pois é. – James cuidava para que a fogueira recém acesa, não apagasse.

O silencio reinou por um breve espaço de tempo, até que Jessie o quebrou.

- James.. – Chamou.
- Que foi, Jessie? – Respondeu, levantando o olhar, antes focado na fogueira.
- Vai me dizer porque ficou chateado comigo naquela hora?
- Eu não fiquei chateado.
- Ficou sim. – Jessie apoiou o queixo sobre o próprio joelho e forçou um sorriso. – Sei quando mente.. E sei que está mentindo.
- Deixa de ser chata!
- James... – Ela se levantou e andou até ele á passos lentos. – Faz algum tempo que você anda estranho. O que está acontecendo com você?
- Eu não estou estranho. – Ele se ergueu, porém não olhou para Jessie, apenas desvio da ruiva e seguiu para seu canto.
- James! – Ela segurou-o pelo pulso. – Por favor...! Foi porque eu falei da sua família? Que eu daria tudo para ter aquilo?

James suspirou e levantou ambas as mãos, segurando Jessie pelos ombros. Focou os olhos nos dela e esboçou um sorriso triste, que poucas vezes Jessie havia visto naquele rosto.

- Jessie, quando eu fugi de casa, estava apenas fugindo por causa da Jessiebell.... não queria me casar com alguém que não me aceitava do jeito que eu era.. E também não queria continuar vivendo em uma sociedade que exigia tanto de mim. Quando nos juntamos na equipe Rocket e sobe que você desejava mais do que tudo a riqueza.. eu também quis aquilo. É confortável e agradável ter tudo o que precisa quando se deseja, sem precisar se esforçar muito para isso.. Mas não é tão bom assim, como você pensa também. Quando você conheceu minha família, viu que eu me livrei da Jessiebell... Ela desistiu de mim depois de toda aquela confusão que aprontamos. Eu podia ter ficado ali.. podia ter voltado para casa.. Mais eu preferi seguir com vocês. Mesmo sabendo que voltaríamos a vida de miséria... – Ele pausou por um momento e deixou que as mãos corressem pelo braço da ruiva, segurando as mãos dela.  - Eu prometi que ficaríamos juntos e achei que fosse isso que você queria também.
- E é o que eu quero! – Jessie sorriu. – Ah, James.. Você estava assim estranho porque achava que eu não queria mais fazer parte da equipe Rocket? – Ele não respondeu. Ela continuou. – Eu amo estar aqui. Mesmo vivendo nessa miséria. Continuaremos juntos, James! Não se preocupa com isso.
- Não é só isso.. – Ele abaixou a voz, desviando o olhar.
- Então o que é? – Ela indagou preocupada.

James não costumava ser daquele jeito. Havia algo o perturbando.. O ferindo.

- É que eu.... – James tinha uma expressão angustiada, temerosa, como se quisesse falar algo, mais não conseguisse. – Ah.. esquece isso! Vamos dormir.. Já está tarde...
- Não, James. – Jessie teimou. Levando a mão ao rosto dele. Ela levantou  o rosto do mesmo, fazendo com que ele a olhasse. – Me diz o que é...

James novamente expressou angustia no olhar. Ele não queria falar, ou melhor, sentia receio de falar o que queria.  Jessie retribuiu aquela angustia, não gostava de ver o companheiro daquele jeito. James hesitou mais uma vez, entreabriu os lábios como se desejasse falar algo, mais desistiu. A incerteza era muito maior do que ele havia imaginado. Queria falar com Jessie, queria desabafar e falar o que sentia, mais o medo de perdê-la completamente era maior.

Jessie e James sempre se gostaram muito, e isso não era segredo para ninguém. Muito menos para eles.  O companheirismo, a amizade, a cumplicidade estava presente em cada segundo da vida que eles construíam um ao lado do outro. Perante os sacrifícios de James, a paciência de Jessie mesmo com todas as diferenças que possuíam, era incontestável o sentimento de amizade que havia ali. Porém..era muito mais do que aquilo, e a cada minuto que passava James sentia que aquele sentimento corroia-o por dentro, destruindo-o pouco a pouco. Ele precisava, como nunca havia precisado em sua vida, dizer tudo o que guardava dentro de si, e saber se tudo o que sentia era, realmente, recíproco.


- Tem algo te incomodando, não tem? – Ela indagou, esboçando um sorriso raro de cumplicidade.

Ele anuiu em silencio.

- Fala o que é, então.  – Ela intensificou o sorriso. – Sabe que pode falar qualquer coisa para mim, não sabe?
- Eu sei. – Ele sorriu.

Era demais para ele. Como ela queria que ele se segurasse? Por mais que o medo fosse muito, ele não podia diante daquilo. O sorriso puro de Jessie. Parecia ironia, mais não era. Não para ele. Ele a conhecia, e sabia que era raro aquilo, mais era isso que o fazia mais especial. Não sabia porque gostava tanto dela. Qualquer um que olhasse pelo lado lógico não veria  nenhuma qualidade boa o suficiente para amá-la. Jessie era egocêntrica, interesseira, estressada, brava, irritante, sarcástica, e até algumas vezes grosseira e insensível... Mais ainda sim, era a Jessie. A Jessie que sempre estava ali. E ele amava demais ter por perto.

Ele, primeiro, a fitou com carinho, e depois, inconscientemente, deixou que seus obres verdes baixassem e observassem os lábios rubros que ele já havia estudado em sua mente milhares de vezes. Os mesmo lábios que, por noites, ele sonhara tocar. Rubros como as rosas que ele tanto amava. Não quis mais saber. Não desperdiçaria aquela oportunidade. Mesmo que o medo ainda residisse em seu coração, ele sabia, que se não fizesse aquilo, o arrependimento que sentiria, seria mil vezes mais doloroso do que qualquer temor de rejeição.  Ele avançou na direção da ruiva, tomando-a em seus braços e, sem pensar duas vezes, beijou-a ferozmente. A primeira reação de Jessie foi se encolher em razão ao susto que tomara com tal atitude. Jamais imaginara que James faria aquilo, daquela maneira.  Manteve os olhos azuis arregalado nos primeiros segundos, porém fora impossível continuar daquele jeito, enquanto sentia os lábios quentes de James tocarem os seus de maneira tão apaixonadamente feroz.  Se para ele fora difícil se controlar quando ela sorriu, não era mais fácil para ela se controlar perante aquele ato. Sentia seu coração pular de seu peito, e o calor de James tomar completamente seu corpo. Era quase que irresistível. Ela se deixou levar por aquele louco sentimento, que tanto em James quanto nela, adormeciam, esperando o momento certo de virem a tona.

Ela passou uma das mão pela nuca de James, afagando os cabelos lisos e sedosos do rapaz, enquanto correspondia com toda a mesma vivacidade, cada segundo do beijo apaixonado do mesmo.  Permaneceram com aquilo por minutos a fio, e só pararam pois para ambos, o ar parecia faltar. Com a respiração ofegante, ambos abriram os olhos lentamente enquanto os rostos afastavam-se apenas os centímetros necessários para que fosse possível um enxergar o rosto do outro.  James sorriu.


- Você entendeu agora, o que estava me incomodando?

Jessie sorriu.

- A cada dia que eu convivo com você, eu tenho mais noção do quanto idiota você é, James.
- Como...? – Ele arregalou os olhos. Por mais que houvesse cogitado aquilo, era difícil compreender o que estava acontecendo. Sentiu seu coração se comprimir dentro do peito, contorcendo-se ao tamanho de um grã de areia.  
- É. Você é um idiota. Um grande idiota. – A voz dela soava serena, e firme, diferentemente de seu coração que palpitava descompensadamente alto. Ela deixou uma breve risada escapar, porém não havia nenhum pingo sequer de ironia ali. – Porque, diabos, demorou tanto tempo para fazer isso? – Ela indagou, mordendo o próprio lábio inferior, tentando ocultar o sorriso de felicidade que havia estampado em seu rosto.

Assim que ouviu aquelas ultimas palavras, James sentiu um alivio invadir seu corpo antes petrificado. Como Jessie foi capaz de lhe dar tamanho susto? Ele deixou uma risada aliviada escapar de seus lábios, e puxou-a mais para si, abraçando-a com força.

- Amo você.  – Ele sussurrou em êxtase.
- Para sempre, James? – Ela indagou em mesmo tom. Ele sorriu.
- Para sempre, Jessie.  – Ele respondeu, sorrindo também.

Dessa vez quem tomara a iniciativa fora Jessie, que em meio á uma risada de pura felicidade, beijou-o quase com a mesma intensidade que James havia feito antes. Pouco se importou com o fato de ter acabado derrubando James no chão, ou com a sutil dor que ainda sentia nas costas. Aquilo era tudo muito relevante. O que importava era o que enfim estava acontecendo ali. O que importava era o fim do anonimato daqueles sentimentos que ambos guardavam dentro do peito. O que importava é que estavam juntos. E desta vez, muito mais juntos do que sempre estiveram.

A fogueira feita por James, não demorou muito para se apagar, porém, para a sorte daquele casal Rocket, não fora muito necessário a existência de uma fonte artificial de calor, afinal, nunca em suas vidas, estiveram tão aquecidos como estiveram naquela noite.

Naquela noite, tudo se tornara perfeito. E eles sabiam que tudo continuaria daquele jeito, por todo o sempre.