Bella

Rosa. Vermelho. Corações. Casais apaixonados por cada metro quadrado. Música melosa nos alto-falantes, misturadas com o anúncio do baile que ocorreria amanhã. Esse era o cenário atual da minha escola, que tinha se transformado de um ambiente escolar neutro para um lugar cheio de frufru e aroma chato de amor pelo ar.

Maldito Green e sua secretária irritante que tinham a mania de decorar a porcaria dos corredores com essa baboseira todo ano!

— Ai, que lindo! — exclamou Nessie, jogando uma mão cheia do confete, que trazia no braço, em minha cara.

— Porra, Nessie! Não jogue essa porcaria na minha cara — resmunguei, abrindo meu armário para pegar meus livros.

De lá caiu um papel rosa cheio de purpurina. Estranhando, abaixei-me para pegar o negócio em formato de coração, vendo que era um cartão.

Abri, vendo uma letra digital altamente rebuscada.

‘’Você pode ser a página mais linda que o destino escreverá na vida de alguém, então, deixe a vergonha de lado e arrume um par para o baile de Valentine’s Day que ocorrerá neste sábado, às seis horas, no ginásio da escola.

E viva o dia do amor!’’

Equipe Twilight News.

— Sério que você enfiou o meu nome nessa porcaria? — resmunguei para a minha prima, jogando o maldito cartão no fundo do meu armário.

— Está no nome da equipe. Deixa de ser rabugenta, Bells. — Bufou — Todo mundo da escola recebeu esse cartãozinho e ficaram muito satisfeitos.

— Acho que sou a exceção a sua regra, querida — falei sarcasticamente, colocando os livros em um braço e fechando o armário com o outro.

Deixei minha prima para trás, caminhando pelos corredores para fora do colégio, a fim de me livrar um pouco daquele lugar antes que as aulas começassem. No caminho, alguém jogou glitter rosa no ar e eu acabei com alguns em meus cabelos, que estavam presos em um rabo de cavalo. Suspirei frustrada, mas apenas segui o meu caminho.

Era oficial. Odiava o dia dos namorados.

[...]

Quando o sinal bateu para o inicio das aulas daquele dia, eu saí do meu esconderijo — que consistia em ficar escorada na árvore mais distante da entrada da escola — e caminhei a passos rápidos para o interior da escola. Porém, antes de seguir para a aula, entrei no banheiro feminino para aliviar minha bexiga.

A minha surpresa foi encontrar Nessie sentada no enorme banco que ficava em frente às cabines com uma coisa em suas mãos que me deixou ainda mais surpresa: o coelhinho branco, surrado, que levava o nome de Chico. Ela aparentemente não tinha percebido minha presença, já que seus olhos estavam fixos na pelúcia a sua frente, perdidos em outro mundo.

— Eu pensava que esse coelho não existia mais — comentei baixinho, atraindo sua atenção para mim.

Os olhos castanhos, tão parecidos com os meus, estavam conflituosos, perdidos e tristes. Dei um passo para trás, espantada com a intensidade do olhar e me perguntando o que se passava na cabeça de Nessie.

— Eu também pensava assim — engoliu em seco, voltando a olhar para o coelho — Imagine a minha surpresa ao abrir o armário e vê isso caindo, ainda mais com uma carta escondida.

— Carta? — perguntei curiosa, sentando-me ao seu lado.

Ela apenas me passou o papel dobrado quatro vezes. Olhei para o papel em minhas mãos e olhei para Nessie. Ela não olhava para mim.

— Eu não a li. Leia para mim, por favor.

Sem mais delongas, desdobrei o papel jornal, revelando a letra feia de Jacob nele. Pigarreei antes de começar a leitura.

‘’Hey, Nessie... Bom, eu não sei bem como fazer isso. Quer dizer, o plano inicial era para que eu me passasse por um admirador secreto, mas depois de passar a noite quase em claro, pensando em algo romântico o suficiente para te dizer, eu decidi jogar tudo para o outro e contar logo a verdade. Acho que agora estou devendo um pedido desculpa para alguém... Enfim, depois de jogar tudo para o alto, eu me lembrei que eu ainda tinha o Chico guardado em uma caixa no fundo do meu closet — é, eu não tive coragem de jogar seu coelho de pelúcia favorito fora —, então eu pensei: ‘’o que seria mais legal do que devolver o Chico a Nessie?’’. Talvez essa tenha sido a melhor ideia que eu tive em tempos, espero que você tenha gostado dela e, por favor, agora que está em posse do Chico, não bata com ele em mim. Tenha um pouco de consideração (cara de cachorrinho abandonado). Eu realmente queria vê sua expressão ao vê seu coelho de volta. Será que seus olhos brilharão como brilharam naquele quatro de julho enquanto assistiam a queima de fogos? Será que você sorrirá da mesma forma? Eu espero do fundo do meu coração que, no mínimo, você tenha ficado feliz.

Nessie, eu sou apaixonado por você há tanto tempo — desde os nossos quinze anos, para ser mais exato — que qualquer coisa que te faça feliz, me faz feliz (mesmo que eu implique algumas vezes). Você pode achar que eu sou louco, talvez eu seja mesmo, e eu te digo que tentei com todas as minhas forças refrear essa paixão que cresceu em mim. Pelos os últimos anos acho que consegui algum êxito, mas depois que eu beijei os seus lábios parece que tudo o que eu sentia por você rompeu-se em mim de uma forma mais brutal e eu não sei mais como controlar isso. Então estou aqui, me sentindo meio idiota, escrevendo um bilhete (que se transformou em uma carta) para pedir uma chance para nós, Nessie. Sei que você tem medo de perder as pessoas que ama depois do acidente dos seus pais, mas, acredite em mim quando eu digo que eu nunca vou te deixar. Mesmo que você me esculache, não queira mais me vê pintado de ouro, eu sempre estarei aqui para você. Se conseguir sentir alguma esperança em um ‘’nós’’, por favor, deixe-me saber, nem que seja com um final de você.

Feliz dia dos namorados,

Jake.’’

— Uau. — soltei, escorando-me nas costas do banco, totalmente passada.

O que eu tinha combinado com Jacob ontem só o envolvia se passando por um admirador secreto, não ele revelando todos os seus sentimentos de uma forma tão fofa em um bilhete — que mais parece uma carta — e ainda devolvendo o Chico a sua verdadeira dona.

Olhei para a minha prima, que ainda parecia está do mesmo modo, a não ser por duas lágrimas que vi deslizando do seu rosto e caindo na calça jeans que usava.

— Nessie? — chamei, preocupada, tocando em seu ombro.

Ela secou as lágrimas rapidamente, estendendo a mão para mim sem me olhar, em um pedido mudo para o bilhete. Um tanto hesitante, entreguei o papel a ela.

— Obrigada — agradeceu com a voz embargada, levantando-se do banco e saindo quase correndo do banheiro.

— NESSIE! — gritei, tentando segui-la, mas ela já tinha sumido pelo corredor — Merda!

[...]

De rabo de olho, eu espiava Renesmee enquanto eu tinha os papeis com a pauta de hoje em mãos. Ela parecia perfeita, exatamente como tinha saído de casa. Seus olhos não tinham vestígios de choro, sua maquiagem estava impecável e sua expressão era pura distração enquanto ela fuçava algo em seu celular.

Eu até tentei abordá-la no momento em que vínhamos juntas para cá, mas absolutamente nada saiu dela — sem contar que Emmett não demorou a nos fazer companhia. Agora estava nós cinco na salinha do jornal, nos preparando para o TN especial (e último QC).

— Sabe o que eu estava pensando? — indagou Jake, saindo do espaço de equipamentos e se juntando a mim, Emmett e Nessie na bancada.

Diferente de Nessie, que não tinha esboçado reação alguma depois do episodio do banheiro, Jacob parecia um pouco acanhado. Sem contar nas várias olhadas — não retribuídas — que tinha dado a Renesmee.

— E você pensa? — brincou Emmett, sorrindo para ele.

Jacob revirou os olhos.

— Ben vai com Angela ao baile, mas Angela foi banida do mesmo — ignorou Emmett, uma atitude bem atípica — Como foi isso? O Green está dando colher de sopa aos virgens? — brincou no final, sorrindo de lado.

Emmett e eu nos entreolhamos com os cenhos franzidos. Jacob tinha razão. Se Angela tinha sido proibida de ir ao baile por ter feito parte da armação, como ela seria par de Ben?

— Eu falei com o Green. Foi à única forma de fazer o Ben vim como câmera, já que você e o Jasper declinaram para vim ao baile — respondeu Nessie do seu canto, não levantando os olhos para nós.

— Você sabe que Jazz e eu iríamos — colocou Jake simplesmente.

Nessie largou os papeis que lia em cima do balcão, olhando finalmente para Jake. Os olhos castanhos estavam um pouco afiados.

— Está feito, Black. Não precisamos de choro. — desviou o olhar para o relógio na parede — Vamos começar em três minutos. — sorriu levemente.

Jake ainda ficou olhando para ela por alguns segundos, antes de desviar o olhar para mim. Ele parecia perdido. Mexi meus dedos indicadores um ao redor do outro, indicando que falaríamos depois. Meu amigo apenas suspirou, voltando para o seu posto.

Não demorou muito para que o TN daquela sexta-feira extremamente rosa e vermelha começasse.

— Bom dia, meu bom pessoal do Phoenix High School! Vamos dá inicio nesse belo dia dos namorados ao Twilight News!— Emmett deu início.

— Quem aí já está na expectativa para o baile amanhã? Eu estou super ansiosa e com um lindo vestido em casa para usar — falou Renesmee com a sua típica voz alegre para o jornal.

— Não posso dizer que tenho um lindo vestido para o baile, mas tenho um perfeito para fazer toda cobertura do evento amanhã — li a fala escrita por Nessie, contendo a vontade de revirar os olhos — Isso mesmo, pessoal. Como já foi dito aqui, o Twilight News fará toda cobertura do baile, com direito a entrevistas e demonstração de todo o cenário que dará vida ao baile.

— Então, senhoras e senhores, peguem seus parceiros e arrasem amanhã! — concluiu Renesmee.

— Deixando o baile um pouco de lado, vamos saber mais sobre as últimas noticias que ocorreram nesta última semana — prosseguiu Emmett.

— Não existiram muitas, pois, por incrível que pareça, essa foi uma semana relativamente calma — Nessie fez um leve muxoxo — Próxima semana terá um torneio de xadrez durante o fim de semana aqui no PHS, então, amantes de rainhas, reis e cavalos, garantam já sua entrada ou participação nesse evento.

— O jogo dos Tigers também está se aproximando. E já estou sabendo de muita animação pelos bastidores — pisquei para Emmett.

— PARA CIMA DELES, TIGERS! — gritou meu amigo, não perdendo o costume de enaltecer o seu time.

— O clube de matemática do colégio foi selecionado para o campeonato estadual de matemática. Boa sorte as cabecinhas brilhantes que conseguem domar essa fera chamada matemática — continuou Nessie.

— Essa não é sua especialidade, hein, Nessie? — brincou Emmett.

Nessie lhe deu a língua.

— Acho que nem a sua, hm, big bear?

Emmett riu.

— Pode crer.

— Após os comerciais, vamos saber das novidades informais, vulgo fofocas, que percorreram os corredores da PHS e o último quadro do Querido Cúpido! — anunciei.

— Eu já sinto saudades do QC, e sei que muita gente por aí também. — Nessie fez biquinho.

— Com certeza, Nessie. — concordou Emmett, piscando para mim — Até já!

A musiquinha do comercial começou a tocar e nós aproveitamos a pausa de dois minutos para beber água e checar as últimas coisas.

— Sério que precisamos anunciar que — pegou o papel, fazendo aspas — ‘’O capitão do time de futebol americano e a capitã das líderes de torcida irão juntos ao baile’’.

— ‘’Depois de três anos que isso não ocorre’’. — Nessie completou o que tinha no papel — É claro! Isso era para ser um clichê do high school e faz três anos que não acontece. Sem contar que Rose gostou até demais, porque isso tiraria pessoas irritantes do pé dela.

Emmett franziu o cenho.

— Estão chateando ela?

— Sabe como é. As pessoas gostam de fazer perguntas indiscretas — Nessie sorriu.

— Cinco perguntas, Nessie? Sério, pensei que o máximo seriam quatro — resmunguei, olhando a folha com as perguntas e prévias de respostas estabelecidas.

— Não seja chata, Bells. É edição especial de dia dos namoradinhos. O blog bombou com as perguntas. — deu de ombros, sorrindo de uma forma esquisita.

Ela estava escondendo algo?

— 10 SEGUNDOS! — gritou Jasper da cabine.

A conversa se encerrou ali. Ambos voltaram sua atenção para frente, esperando a vez de falar. Assim que a música que anunciou a volta acabou, tomei minha fala.

— Estamos de volta com o último bloco do TN de hoje e já entrando para o assunto baile outra vez, sim, Nessie? — olhei para ela, que já tinha um sorriso maroto nos lábios.

— Com certeza, Bella! A grande novidade sobre o evento está no fato de que o capitão do time de futebol americano e a capitã das líderes de torcida irão juntos ao baile de Saint Valentine depois de três anos que isso não ocorre!

— Yeah, Rosalie e eu estamos trazendo a ‘’tradição’’ de volta, mas isso não significa que tenhamos algo mais que uma amizade — colocou Emmett.

— Mas vocês formariam um belo casal caso isso acontecesse. Não acha, Bella? — maliciou Nessie, olhando para mim.

Contive uma risada, principalmente ao vê a cara chocada de Emmett.

— Sim, Nessie. Seria um belo casal.

— Parece que temos um complô contra mim, então é melhor seguir para a próxima fofoca — falou Emmett, semicerrando os olhos para a gente — Ainda dentro do assunto baile, parece que alguém que foi banida do mesmo está planejando aparecer assim mesmo.

— É, gente, Tiffany Campbell não desiste mesmo. Então, querida, se estiver me ouvindo, se preserve. Acho que não vai querer ser expulsa por seguranças e manchar mais a imagem que nem existe mais, sim? — disse Nessie tranquilamente, apesar de o veneno escorrer de cada palavra dita.

— Uau, isso é o que eu chamo de conselho — sorriu Emmett — Agora, para fechar o nosso TN em clima de dia dos namorados, nada melhor do que o Querido Cúpido com ótimos conselhos amorosos para os corações do PHS. Então, com vocês, o nosso Querido Cúpido!

— Olá a todos do PHS! Parece que com a chegada do dia dos namorados, o blog lotou com perguntas enviadas por vocês, então, nessa edição especial iremos responder ao vivo cinco das perguntas enviadas. — Fiz uma pequena pausa — A primeira pergunta não é da Fallen_red: Olá, Querido Cúpido! Só estou passando para te agradecer por ter me ajudado — sim, eu finalmente estou com o carinha da minha antiga escola, pois fui atrás, como você disse, e estou muito feliz por isso. Tenha um feliz dia dos namorados! Parte de agradecimento? Isso é novidade, mas... Uau, Fallen_red. Fico realmente feliz por meu conselho ter te ajudado em sua busca. Tenha um ótimo feliz dia dos namorados também. — passeia folha — A segunda pergunta é do pseudônimo Angel2: Olá, Querido Cúpido! Estou me relacionando com um cara que é complicado. Eu me apaixonei, mas sei que ele não sente o mesmo, apesar de não me deixa em paz, fica mandando mensagem e me ligando o tempo todo. Quero me desapegar, pois não vejo futuro nessa relação. O que faço para esquecer essa paixão? Se quer realmente cair fora, Angel2, precisa ser mais dura quando esse cara vier atrás de você. Deixe bem claro que não está mais interessada. Superar esse amor, porém, vai ser mais difícil. Infelizmente, o melhor remédio para um coração partido é o tempo, mas você também pode sair mais com os amigos, frequentar lugares diferentes e se interessar por novos passatempos para se distrair e não pensar tanto nele. Boa sorte!

‘’A terceira pertence ao pseudônimo FaultBoy, que diz o seguinte: Olá, Querido Cúpido! Bem, o dia dos namorados está batendo na porta e eu ainda não sei o que fazer para conquistar a garota que eu gosto. Alguma sugestão para um cara apaixonado? Uau, FaultBoy, você me pareceu um pouco desesperado, mas relaxe, ok? Conquistar uma pessoa pode ser uma tarefa difícil às vezes, mas nada impossível — se ela retribuir ou quiser retribuir o sentimento. A coisa mais fácil que você tem que fazer é conhecer algum dos gostos dela e puxar um papo legal sobre eles. Chame-a para sair, tomar um sorvete, assistir a um filme, ir a uma livraria legal... Algo que a deixe tranquila e relaxada. Conquiste a confiança, jogue charme, flerte, e cruze os dedos para ser correspondido.

A NaturalBlonde quis saber o seguinte: Olá, Querido Cúpido! Bem... Tem esse cara que eu fiquei há um tempo, coisa de momento, mas que o deixou magoado comigo, pois o meu interesse era em outra pessoa. Agora, depois de algumas coisas que aconteceram, eu passei a olhar melhor para esse cara e acho que estou gostando dele mais do que devia. Devo investir nele, ou pular fora? Considerando que eu terminei há pouco tempo o meu namoro. — franzi meu cenho, sentindo uma estranha familiaridade naquela história, ainda mais com aquele pseudônimo. — NaturalBlonde, eu gosto muito da ideia de siga os seus sentimentos — apesar de não fazer isso por vezes, completei em pensamento — então, se eles estão começando a se desenvolver por esse cara, apenas deixe ir. Não apresse as coisas, vá com calma. Curta o momento, sinta-se confortável. Se for para ser, será.’’

Peguei a última folha, percebendo que ela tinha sido impressa separada das outras, já que a folha com a quarta pergunta ainda tinha um bom espaço para caber a última pergunta. E o mais estranho de tudo: não tinha resposta prévia, e eu sempre deixo algo rabiscado. Olhei para Nessie, que me fitava em ansiedade, apontando para o relógio em seu pulso.

Pigarreei e em seguida li a pergunta impressa.

— A última pergunta do QC foi mandada pelo pseudônimo Readhead e diz o seguinte: Olá, Querido Cúpido! Hum... Eu realmente preciso de ajuda, estou jogando meu bote salva-vidas em você, então, vamos lá... Como conseguir ter a chance com uma garota que teve seu coração quebrado tantas vezes que tem medo de tentar de novo?

Eu parei novamente, mas agora não foi por estranhar algo. Foi porque eu não fazia à mínima ideia de como responder aquilo, afinal, como responder sobre o seu maior dilema?

Coloquei a mão no microfone, olhando duramente para Nessie.

— Você está brincando comigo? — sussurrei enraivecida.

— Apenas responda com o seu coração, Bella. Eu sei que ele tem a resposta para isso — incentivou.

Bufei.

— Foda-se seu romantismo, Nessie! Eu não sei responder essa merda.

Minha prima saiu do seu lugar, se ajoelhando a minha frente e pegando meu rosto entre suas mãos, olhando-me atentamente.

— Você sabe, Bells. No fundo você sabe. Apenas respire, desligue seu cérebro e ouça seu coração, por favor. Isso é tão importante.

Olhei um pouco chocada para Nessie, questionando-me o porquê de ela querer tão enfaticamente que eu respondesse com o meu coração. Minha ficha caiu segundos depois e eu me perguntei se aquilo poderia ser real.

— Essa pode ser a sua chance. Responda, por favor — falou Nessie, como se lesse os meus pensamentos e confirmasse as minhas suspeitas — O tempo está correndo e as pessoas devem está começando a se perguntar o que aconteceu.

Eu assenti, virando-me para frente outra vez. Respirei fundo, fechando os olhos e me perguntando se eu realmente queria ir por aquele rumo. Quer dizer, eu podia dizer qualquer besteira, mas eu queria dizer qualquer besteira? Quando meu coração doeu em meu peito, eu senti que não. Eu precisava ser sincera. Sincera como nunca.

— Ahn, desculpem-me pela demora, mas essa pergunta realmente me fez pensar. Readhead, lidar com esse tipo de pessoa nunca é fácil, porque, como você mesmo colocou, ela tem medo de tentar outra vez. Porém, lá no fundo, existe uma chama nela que anseia alguém que realmente a valorize e não quebre o seu coração como outros tantos fizeram. Então... Busque isso. Vá atrás. Mostre os seus sentimentos, outra vez, se necessário. Deixa-a perceber que você é bom, que você vale à pena e que você está disposto a tentar com todo o seu coração. Some-se a ela... E torça para que ela acredite em você.

[...]

— Estranhei a ausência da notícia bombástica sobre o fim do namoro entre Edward Cullen e Isabella Swan — comentei com um tom divertido para Nessie.

Estávamos apenas nós duas na salinha do TN, depois que o mesmo acabou. Os meninos foram os primeiros a sair, a fim de aproveitarem o resto do almoço para comer alguma coisa no refeitório. Nessie e eu preferimos ficar para trás e organizar a sala para a próxima sexta. Bem, para ser sincera, eu fiquei para encurralar a Nessie contra parede e perguntar sobre o que acontece hoje mais cedo.

— Nunca sabemos o dia de amanhã, né? — piscou um olho para mim.

— Foi ele, não foi? — indaguei, pegando os papeis de hoje e os colocando dentro do pequeno armário que tinha ali.

Hum... Digamos que eu também tinha outra coisa para saber também.

— Foi ele o que? — perguntou de forma distraída.

— A última pergunta. Foi o Edward, não foi? — fechei a porta do armário, virando-me para mim prima.

Nessie sorria.

— Para falar a verdade, não sei.

Olhei chocada para ela.

— Como assim não sabe? Nessie, não minta para mim.

— Não estou mentindo.

Estudei bem a expressão de Nessie: ela tinha o rosto tranquilo e me fitava com o típico sorriso que se pudesse falar me chamaria de idiota. É, ela não estava mentindo, porém eu não estava totalmente convencida.

— E o que foi aquele drama todo?

Ela revirou os olhos, jogando-se em sua habitual cadeira.

— Alice me falou que tinha falado com ele ontem, aconselhando-o a mandar uma pergunta para o Querido Cúpido, então quando eu li essa mandada pela manhã algo me disse que era dele — ela riu — Sem contar no pseudônimo. Readhead? Tinha como ser mais óbvio?

Ignorei sua pergunta final, mas interessada no fato inicial.

— E porque diabos a Alice faria isso?

— Muitas pessoas que torcem por vocês dois, Bells. Só você que não faz o mesmo — beijou minha bochecha e, aproveitando do meu estado catatônico, deixou-me sozinha na sala.

Quando eu consegui piscar os olhos novamente, tentei ir o mais rápido possível para fora, afinal, ainda tínhamos coisas importantes para falar, mas Nessie já tinha evaporado.

Droga!

O assunto era para ser ela e Jake e acabamos por divagar nos meus problemas com Edward Cullen.

— Preciso falar com Nessie.

[...]

— Hey, faniquita! — exclamou Jake, chamando-me com a mão para onde ele, Emm, Jasper e Alice estavam.

— Para de ser idiota, Jake — resmunguei para ele, colocando-me ao seu lado e socando seu ombro.

— Ai, ai. Sem violência — tentou bagunçar meus cabelos, mas eu — milagrosamente — desviei — Ok, sem brincadeiras. Agora, você notou alguma familiaridade na NaturalBlonde?

Observei Emmett revirar os olhos, enquanto eu franzia o cenho.

— A da pergunta do QC?

— Sim! — exclamaram ele e Jasper. Ao que parece, meu irmão parecia excitado com aquilo também.

— Bem, não vou negar que senti — fui sincera.

— YAS! — comemoram, trocando um High-5 — E quem você acha que é, irmãzinha? — indagou Jazz.

— Não sei se posso falar — sorri amarelo.

Não que Rose tivesse falado algo revelador, mas não precisávamos dizer que ela tinha escolhido um vestido em que uma das intenções era ‘’impressionar alguém’’ principalmente quando o parceiro era Emmett McCarty.

— Oh, vamos lá, todos nós sabemos que é a Rose — bufou Jake.

— Alice? — olhei alarmada para ela.

— Eles são espertos — se defendeu, colocando as mãos rentes aos ombros.

— Então, quer dizer que aí tem? — perguntou Emmett, passando de desinteressado para interessado em um piscar de olhos.

Alice e eu trocamos um olhar ansioso.

— Não é algo que devemos saber, Emm, e sim você. Aí tem? — reverti o quadro, olhando maliciosamente para o meu amigo.

— Uuuuuh — os meninos soltaram, caindo na gargalhada.

Emmett bufou, frustrado, enquanto os meninos ainda riam. Alice piscou para mim, levantando os polegares discretamente como se dissesse ‘’boa’’.

— Que tanta risada é essa, gente? — chegou Nessie perguntando.

E ela não estava só. Rosalie e Edward estavam logo atrás e pareciam discutir algo, enquanto olhavam para um livro de matemática. Assim que o cara ruivo colocou os olhos em mim, sua boca se abriu em um esplendoroso sorriso e, sentindo-me tímida, sorri fracamente, desviando o olhar para o chão. Isso tudo em um espaço de cinco segundos.

Que merda tinha sido essa?

Jake e Jasper ficaram em silêncio com a pergunta de Nessie durante três segundos, antes de rirem novamente. Edward, Nessie e Rose os fitaram em confusão. Emmett tinha um olhar suspeito sobre Rose, mas essa pareceu não perceber.

— Vamos embora, antes que eles engulam mais um palhaço. — falei monotonamente.

Nessie foi a primeira a correr para o carro, estranhamente — aos olhos de fora — mal se despedindo dos nossos amigos. Mas eu sabia o porquê de ela está fugindo: Jacob Black. Minha prima era ótima em mandar os outros irem em frente, mas quando o assunto era ela...

Ao chegarmos a nossa casa, eu a encurralaria. Primeiro, tentar resolver os problemas com Nessie. Depois, tentar resolver os problemas com o meu coração.

[...]

— Então, ela não disse nada? — perguntou Jacob com um suspiro.

Ele tinha ligado para mim minutos depois que cheguei em casa, querendo saber se eu consegui alguma coisa de Nessie.

— Nada, Jake. Eu até tentei, mas... Coisas atrapalharam — disse distraidamente, enquanto ajeitava o meu closet e via o que ainda servia o que não servia mais.

Outro suspiro.

— O que eu faço agora?

— Olha, eu vou tentar falar com ela de novo, ok? Então, por enquanto, não faça nada.

— Não sei mais o que fazer mesmo.

— Paciência, Jake — fiz careta ao achar um jeans que não parecia mais tão bonito.

— Preciso ir me arrumar. Hoje tem noite dos caras — comentou com certa diversão na voz.

Revirei os olhos, mas um sorriso pairava em meu rosto.

— Divirtam-se. Tchau, Jake.

— Tchau, Bells.

Encerrei a ligação, jogando meu celular em cima da cama e me aprofundando no meu closet. Achei várias blusas que eu não usava mais — e que eu nunca usei, porque elas foram compradas por minha mãe e Renné tinha um gosto duvidoso às vezes — e coloquei tudo dentro de um grande saco. Alguns jeans foram juntos também, alguns calçados nada a ver, casacos, até que minha mão bate com algo. Afastei algumas peças de roupa para poder vê em que tinha batido, e logo me deparei com a caixa rosa claro de tamanho médio, decorada ridiculamente com glitter, corações, estrelas, arco-íris e pôneis. Ela carregava todas as recordações dos meus relacionamentos fracassados.

Peguei a caixa em mãos e coloquei-a no chão, sentando-me de frente para ela em seguida. Ao abrir o objeto e me deparar com todo conteúdo que tinha dentro — cartas, fotos, flores murchas, cd’s, pelúcias. Eu senti uma grande vontade de colocar fogo em tudo, o que era estranho, pois uma semana atrás eu ainda era apegada demais aquelas lembranças. Como as coisas tinham mudado tanto em uma semana?

Peguei uma das fotos em que eu estava com Dereck, nós dois na praia, eu com um grande sorriso no rosto e ele com sua expressão de bad boy, que na verdade estava mais para otário mesmo. Embaixo da foto em minhas mãos, tinha outra só que agora com o Kevin, o pegajoso. Eu tinha uma cara assustada enquanto ele me abraçava exageradamente. Antes essa foto fazia com que o meu corpo se arrepiasse, mas única coisa que eu fiz nesse momento foi rir. Rir tanto que caí de costas no chão.

— Eu preciso me livrar disso. — Constatei para mim, enquanto olhava as outras lembranças espalhadas no espaço rosa.

Com as roupas separadas e a caixa pronta para tomar um destino para fora da minha vida, eu desci as escadas à procura de Grace para instruí-la a mandar aquelas roupas para quem precisava. Grace sempre sabia.

Ao deixá-la com o grande saco, eu me encaminhei para a calçada da minha casa junto com a caixa, um isqueiro e álcool. A rua estava sem movimento, então o meu pequeno show não seria notório.

Coloquei a caixa junto ao meio-fio sem muito cuidado. Espalhei o álcool por toda a sua extensão, me certificando que ele estava na quantia suficiente. E, por fim, lancei a chama, vendo com satisfação o fogo se alastrar por tudo aquilo que com certeza não me faria falta.

— O que você está fazendo? — escutei a voz levemente rouca e curiosa de Edward Cullen.

Olhei além das chamas, vendo o rosto de Edward um pouco distorcido por conta do calor. Involuntariamente, eu sorri para ele. E ele retribuiu o meu sorriso, apesar de parecer um pouco confuso.

— Me livrando do passado — respondi a sua pergunta em um sussurro — Talvez esteja na hora de dar vez as coisas novas.

Edward

Estávamos Emmett, Jacob, Jasper e eu sentados com os pés dentro da piscina, bebendo suco de laranja — já que bebida alcoólica com os meus pais em casa não seria nada viável — e conversando besteiras. Até que as vidas amorosas minha e de Jake foram colocadas na roda. Jacob acabou revelando a surpresa de dia dos namorados que tinha feito para Nessie e sua falta de resposta, e eu lhes confessei que era o ReadHead. Deixei de fora o curto diálogo que tinha tido com Bella mais cedo, pois não queria me encher de esperança — mais da que eu já estava cheio.

Oh, tudo bem que ela necessariamente não disse que estava repensando sobre nós, porém a frase ‘’talvez esteja na hora de dar vez as coisas novas’’ pode fazer um cara sonhar, sim?

— Pensando bem, esse seu pseudônimo foi bem óbvio, hein, bro — riu Emmett, bagunçando meus cabelos.

Esquivei-me da sua mão, rindo um pouco com sua fala. Talvez tenha sido óbvio demais, mas eu precisava me dá um desconto, pois estava sob pressão.

— As pessoas e seus pseudônimos óbvios. — disse Jacob sarcasticamente, lançando um olhar para o amigo.

Emmett bufou.

— Porque vocês estão insistindo na história da Rosalie? Que coisa chata da porra — resmungou, tomando o resto do seu suco (metade do copo) em um gole só — Merda! Queria uma cerveja agora.

Olhei meio surpreso para eles ao saber daquela novidade. Então Rose também tinha apelado para o cúpido? Será que ela sabia quem era?

— Será que ela sabe que é a Bella?

— Provavelmente. — Concordou Jasper — Se Alice disse para você falar com o cúpido de forma suspeita, talvez Rose também esteja sabendo do ‘’trabalho’’ — fez aspas com os dedos — da minha irmã. — olhou para Emmett — E Emmett, você tem que admitir que exista probabilidade real de que seja a Rose. Você não queria, nem um pouquinho, que fosse?

Emmett suspirou, olhando para água azul a sua frente.

— É claro que eu queria. Eu... — franziu os lábios, parecendo está em uma luta interna consigo mesmo — Eu gosto da Rose, tá legal? Eu realmente adoro aquela mulher. Só não quero me iludir outra vez — suspirou derrotado.

Jacob tocou em seu ombro, sorrindo-lhe empaticamente. Não pude deixar de ter o mesmo sentimento de empatia por ele. Estávamos todos no mesmo barco.

Menos o Jasper.

— Caras, vocês estão terríveis! — exclamou, olhando-nos com os olhos arregalados.

— O único que está sendo feliz no amor é você, Jazz. — disse para ele, vendo-o abrir um pequeno sorriso.

— Sim. Alice é maravilhosa. E já estava na hora de eu me dá bem. — sorriu ainda mais — Eu só tomava naquele buraco estreito galera, porra, tinha que dá um salto na minha vida.

Foi impossível não rir das palavras e da expressão idiota do nosso amigo loiro. Até o próprio Jasper riu. Mas isso durou cerca de um minuto, até cairmos em um silêncio confortável.

Era bom está com os amigos.

— Olha, eu sei que está difícil para vocês agora, mas juro que em um momento vai melhorar. — Jasper quebrou o silêncio, falando em um tom sério e tranquilo. — Emmett, Rose pode está sim afim de você, então, aproveite a chance no baile e a chame para sair. Quem sabe onde isso pode parar? — arqueou uma sobrancelha. Emmett sorriu para ele. — Jake, Nessie é uma criatura difícil, diabólica, e que talvez vá fugir de você, mas acho que você precisa dá um tempo para que ela digira os seus sentimentos. Ou então a amarre a leve para o Texas. — Brincou no final, fazendo com que ríssemos levemente. — Ok, não faça isso. Papai pode ser calmo, mas até os calmos têm o seu momento de estresse, e Charlie não é nada bonito assim. — Suspirou, olhando para mim — E Edward, mesmo com toda pinta de garota durona, minha irmã sempre foi a mais sensível das nossas garotas. Em algum momento ela vai cair em si. Eu espero, pelo menos.

— Quem diria que Jasper Hale estaria em uma relação e nos dando conselho amoroso. — Caçoou Emmett, jogando água em Jasper com um dos pés.

O loiro de esquivou dos pingos — inutilmente — e sorriu maliciosamente para o amigo.

— Eu sou o Jaz-yo, o cara que vai cantar sobre sexo e amor. Esse aqui é só um esquenta para... — antes que ele pudesse terminar de ser soberbo, Jacob o jogou na piscina.

Emmett, Jake e eu caímos na gargalhada quando ele submergiu parecendo um pinto molhado e rosnando todos os palavrões que faziam parte do seu vocabulário. Jasper poderia está apaixonado e falando coisas sérias — às vezes — mas, no fim das contas, ele ainda era o Jasper.