Only a Fairy Tale escrita por Helena Lovegood


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Posto o próximo capítulo daqui três dias (06/01). Espero que gostem!



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Sentada naquele balanço de madeira velho, Agatha pôde perceber que o mar estava calmo, ao contrário dela.

Era verão, fazia dez graus, estava nublado e um vento cortante penetrava até os ossos da menina. Mas depois de 16 anos morando nesse frio interminável que é a Suécia, estava acostumada. Puxou as mangas da velha e grossa blusa de lã para conseguir um pouco mais de conforto, sem sucesso.

Todos os dias antes da escola ela ia até aquele balanço olhar a imensidão azul do mar. Todos os dias. Morava com a irmã mais velha não muito longe dali. Elas vieram para Malmö depois da morte dos pais, para ver se conseguiam esquecer, dar um novo rumo pra vida. Mas às vezes não para apenas “seguir em frente”. Agatha tinha só sete anos quando eles sofreram um acidente de carro. Meg, sua irmã, tinha 14. Elas moraram um tempo com uma tia do interior, mas quando Meg completou dezoito anos decidiram sair de lá. Agora elas viviam numa pequena casinha, com apenas sala, banheiro e quarto. As paredes eram de madeira branca, os poucos móveis foram dados por sua tia e as duas dividiam um quarto minúsculo. Ainda assim, Agatha gostava de lá. Gostava de morar perto do mar, gostava das flores que Meg sempre trazia e gostava da escola que entrara. Meg trabalhava como arrumadeira num hotel chique do centro da cidade. Agatha queria que ela fizesse faculdade, mas não dava: o trabalho tomava todo o seu tempo.

Meg era a melhor irmã do mundo. Apaixonada por dinossauros (tinha uma dúzia de pelúcias deles, todos aninhados em sua cama), sempre tinha uma piada para animar Agatha. Ela perdeu a conta de quantas vezes se perguntou o que faria sem a irmã. Fisicamente, as duas não eram nada parecidas. Meg tinha cabelos castanhos escuros, em um elegante corte Chanel, olhos verdes e nariz pequeno. Agatha tinha cabelos louros claríssimos, olhos cinzentos e nariz arrebitado. Quando crianças, Meg gostava de brincar com Agatha dizendo-lhe que era adotada. Coisa que, foi descobrir aos 12 anos, era verdade. Meg contou-lhe quando ainda estavam no interior, disse que não podia mais guardar só para si. Agatha não se sentiu mal, nem mesmo com raiva. Apenas agradecida, pois os pais foram os melhores que ela poderia ter tido, mesmo que só por sete anos.

Agatha pegou a mochila e se virou para ir para a escola. Era um pouco longe, ela teria que andar por uns quinze minutos. O percurso não era de se reclamar: passar por uma pequena estradinha que corria paralelamente com o mar, até se virar à esquerda, andar por uns três quarteirões e encontrar um grande prédio de tijolinhos vermelhos, a Lycée Albert Skolan. E foi isso que ela fez.

Ao entrar na escola, onde pôde finalmente tirar o pesado casaco, se dirigiu diretamente á aula de matemática, pois já estava atrasada. Agatha não tinha muitos amigos na escola. Para falar a verdade, não tinha nenhum. Entrara no meio do semestre, quando os “grupinhos” já estavam formados e também não se preocupou muito em entrar em algum.

Depois do que pareceram horas de tortura em forma de cálculo, o sinal tocou. Agatha foi a última a sair da grande sala branca e cheia de janelas do segundo andar. Próxima parada: biblioteca, pesquisar sobre algum cara que já morreu há muito tempo e, de fato, não mudará em nada a sua vida saber a razão pela qual ele encontrou a morte.

Depois de descer as escadas, chegou à porta da biblioteca e parou.

Havia uma garota, não muito mais velha que Agatha, discutindo com a Lissa, a bibliotecária, mais além, no corredor. A garota em questão era baixa, meio gordinha, tinha cabelos pretos na altura dos ombros, que se esvoaçavam enquanto ela falava. Seus jeans pareciam ser de número maior que o dela, e a cada segundo ela dava um puxão para ele não cair.

– Mas eu preciso! – Ela dizia, exasperada – Preciso encontrar uma pessoa! É muito importante!

– Você não é aluna e nem parente de uma! – Retrucou Lissa – E, veja só, nem ao menos sabe o nome da pessoa que...

– Mas. Eu. Preciso!

– Basta! Vou chamar a diretora! Acha mesmo que vai entrar na escola assim, garota? Conheço seu tipinho! – Disse Lissa, se encaminhando para diretoria, enquanto a garota dava mais um puxão na calça.

– Mas é sério! Eu... – Ela se interrompeu e olhou para baixo. Só agora Agatha percebeu que estava segurando alguma coisa prateada na mão direita, que na distância de três metros que Agatha estava, ela não pôde ver o que era.

A garota começou a olhar feita louca pelo corredor dominado pelos alunos. Talvez esteja realmente esteja procurando alguém, pensou Agatha. Porque ou era isso ou queria vender drogas, e ninguém que queira vender maconha numa escola entra pela porta da frente.

Ela começou a andar, quase correr, na direção que Agatha estava. A garota não parecia ameaçadora, pelo contrário, parecia mais uma criança que se perdeu da mãe em um parque de diversões.

Ela estava perto... Agora Agatha podia ver o que estava em sua mão, era um espelho de aparência secular... Mais perto... Seus olhos eram castanhos quase negros... Mais perto... Ela não pode estar me procurando, pensou... Mais perto... O espelho devia estar refletindo a luz, porque parece estar...

Você!– A garota agarrou o braço de Agatha e ela deu um pulo. Por puro reflexo, deu um empurrão na garota, que quase caiu de bunda no chão.

Ela já se virava, ignorando os olhares dos alunos quando sentiu o toque da garota novamente.

–Espera! Preciso falando com você! – Agatha nem respondia, apenas continuava andando, se desviava e pensava Maluca, Maluca, Maluca... – É sério! Me escuta! – Ela segurou seus ombros e a virou de frente pra ela. – É. Muito. Sério.

Agatha olhou diretamente nos olhos dela. Podia ser só uma besteira, que mal teria falar com ela?

– Ok, só pare de me segurar... – disse ela, tirando as mãos da garota de seus ombros e dando uma puxada na alça da mochila, que ameaçava cair. – E, por favor, não fale alto assim.

– Desculpe, mas você não colabora muito também – respondeu ela, ofegando. Agatha percebeu que, mesmo sendo bem baixinha, era mais alta que a nova conhecida - Preciso muito falar com você e é muito sério.

– Tudo bem, pode falar – Respondeu Agatha, fazendo uma lista mental de tudo o que essa estranha podia ter para lhe dizer.

– O quê? Aqui? Com esse povo todo?! – Disse ela em voz alta e fazendo um amplo gesto, indicando os muitos adolescentes em seus armários, que fizeram cara feia para as duas.

Fale baixo! – disse Agatha em um sussurro.

– Ah... Vem cá! – Disse a estranha, puxando-a com a mão livre- Onde tem um lugar onde a gente possa conversar?

– Eu não sei... – Respondeu Agatha, sendo levada pelo corredor – Talvez na...

E então, vindo do fim do longo corredor, elas escutaram a voz de Lissa.

– É aquela ali, dona Diretora! Entrou na escola sem permissão e...

Corre! – Exclamou a garota, e Agatha não teve opção a não ser seguir em seu encalço.

Correram se desviando dos alunos e ocasionalmente trombando em um.

– Desculpe! – murmurava Agatha, enquanto a estranha puxava a sua mão em direção á saída da escola.

– Parem! – Soava a forte voz da diretora, de quem Agatha admitia ter um pouco de medo. – Parem!

As duas finalmente chegaram ás portas de entrada e, para desespero de Agatha, a estranha as abriu com um estrondo e continuou correndo pela rua fria e deserta.

– Eu. Tenho. Que voltar! – Dizia Agatha, ofegando.

– Não, você não precisa! – Ao que parece, a garota perecia em melhor forma que ela, e segurava a mão de Agatha com tamanha força que era impossível se soltar.

As duas deram a volta no quarteirão, saindo do olhar de radar da Diretora, que pareceu desistir de procura-las. Agatha nunca se destacou em absolutamente nada na escola. Se seu nome não estivesse na lista de chamada seria possível nem reparar nela ali, então possivelmente a diretora achou que ela deveria ser amiga da estranha e que entrou na escola sem permissão. Aquilo não seria nem um pouco inviável.

– O que você está fazendo! – Gritou Agatha, se livrando da mão da estranha.

– Preciso que você me escute! – Gritou a estranha de volta.

–Então diga logo! Preciso voltar pra escola!

– Não, você não precisa! Já lhe disse! A escola não é importante agora!

– E o que é?! – Disse Agatha.

A estranha hesitou. Parecia estar escolhendo as palavras certas.

– Primeiro – disse ela depois do que pareceu uma eternidade, mas fora apenas alguns segundos – preciso saber seu nome. O meu é Nyx. – Ela estendeu a mão.

– O meu é Agatha – respondeu a garota, apertando-lhe a mão e pensando que tipo horrível de mãe colocaria o nome “Nyx” na filha.

– Tudo bem Agatha, quero me escute e faça perguntas depois...

– Mas...

– Só depois, por favor – Por alguma razão ela parecia com medo de falar, quase como se as palavras pudessem matá-la. – Bem, você é adotada...

– Como sabe...? – Ela já se desesperou.

– Só. Depois. – Disse ela, com um olhar suplicante. – Você é adotada, porque você não tem pais.

Agatha olhou para ela com a raiva crescendo dentro de si. Quem ela pensa que é para lhe dizer isso? Sim, talvez seus pais biológicos não a quisessem e os adotivos morreram, mas ela não ia ficar ouvindo isso de ninguém.

Ela já ia deixar Nyx falando sozinha, mas a próxima frase a prendeu.

– Você veio das estrelas. Você veio das estrelas porque é mágica. Você é mágica porque – ela olhou com certo medo para Agatha – é uma fada.

***

Sabe quando você está quase dormindo, e de repente sente como se tivesse caído de um lugar bem alto, aquela coisa que desperta você e te deixa quase com raiva, já que estava prestes a pegar no sono? Foi isso que Agatha sentiu, quase como se Nyx tivesse lhe dado um tapa na cara.

– Ou sou o q-que?

– Uma fada. – Respondeu Nyx, como se essa fosse a coisa mais óbvia do mundo- Ah, qual é? Acha mesmo que alguém normal seria tão pálida quanto você?

Então esse era o argumento dela? Sua palidez? Por favor, Agatha realmente era branca como papel, mas, por Deus, ela morava na Suécia! Que pessoa tem a capacidade de ser bronzeada num país em que a temperatura média é de nove graus?

– Você é uma completa retardada - disse Agatha, devagar e se afastando – Não sou uma fada, não existem fadas. Vá usar esse truque em garotas do fundamental, porque comigo...

– Você sabe que é verdade! – Nyx exclamou, quase desesperada – Você sabe! Lá no fundo, me diz que você nunca se sentiu diferente!

Agatha parou. Havia lago dentro dela, realmente, mas poderia ser apenas uma dorzinha de estômago...

– Me diz que você nunca ligou para o fato de ser adotada, porque no fundo sabia que não tinha pais!

Bom, ela nunca realmente ligou para isso, mas é porque tinha tido pais realmente bons e...

– Me diz que você não ama gelo e que fica olhando feito idiota pro mar!

O quê? Isso é verdade também. Agatha sempre gostou do inverno rígido (dezessete graus negativos), até mesmo comia gelo e nunca ficara resfriada. Pensando bem, ela não se lembra de ter contraído qualquer tipo de doença...

– E me diz – falou Nyx, olhando diretamente para ela – que você nunca acreditou em fadas.

Hum... Ela fora, desde os três anos, a mais completa obcecada por fadas do mundo. Tivera festas de aniversário com o tema, centenas de bonecas com asas e até com borboletas (de que Meg e a sua mãe tinham nojo) ela se dava bem: os tais insetos vinham feito loucos pousar em seu dedo, mas aí... Aí seus pais morreram e tudo pareceu perder a magia. Meg teve depressão, ela se sentia completa e absolutamente sozinha. A última coisa que pensaria era em fadas.

E, de repente, a certeza que Nyx estava falando a verdade a invadiu completamente. E ela era tão grande quanto à certeza que seu nome era Agatha Stincovitck, que morava na Suécia, que sua irmã era Meg Stincovitck e de que realmente (e incrivelmente) ela era um ser mágico. Com poderes mágicos. E uma casa mágica que, definitivamente, não era ali.

– Ai. Meu. Deus. – Disse Agatha com os olhos arregalados. Ela segurou Nyx nos ombros – Acredito em você! Ai meu Deus, sou uma fada! Ai meu Deus, desculpe ter te chamado de retardada! Eu apenas...

– Tudo bem, é legal descobrir isso, mas estamos com pressa – falou Nyx, segurando os ombros dela de volta, já que estava quase dando pulinhos. – Existem poucas fadas e você é uma especial, por isso veio das estrelas, quase ninguém é assim...

– Você é uma fada também?

– Bem, sou, mas ainda não vi nem a cara das minhas asas, e não se empolgue, isso demora – respondeu ela, parecendo abatida – Mas o importante aqui é você! Você não é uma fada qualquer, é uma fada das estações.

Agatha continuou olhando para ela, daria tudo por mais informações.

– Isso significa que é seu dever trazer uma das estações à Terra. Você é tipo uma das rainhas das fadas, parabéns. – Continuou ela, parecendo contente em saber tanto – Você deve ir até a Ilha para aprender a usar seus poderes, e temos que ir pra lá agora, por que...

– Espere. – Interrompeu Agatha – Como sabe que sou uma fada?

Nyx ergue o espelho de mão que ainda estava segurando. Ele não refletia luz alguma, brilhava por si só.

– Isso foi da última Rainha do Inverno. – Explicou Nyx – Brilhou porque você é a atual.

Nyx lhe entregou o espelho. Agatha sentiu como se ele fosse um pedaço de casa, a qual ela não visitava há muito tempo. Ela ergueu o espelho para ver o seu reflexo. Ás suas costas, haviam grandes asas cinzentas.


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Notas finais do capítulo

Se gostaram, comentem (:



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