Tudo o que Sou escrita por Samantha Silva


Capítulo 2
Capítulo 02




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/457252/chapter/2

Naquele primeiro dia ali, Brenda havia se aproximado, depois de meia dúzia de palavras, o beijou no rosto e na boca, depois não relutou quando ele a envolveu e a puxou para mais perto, enquanto fitavam o horizonte com os pensamentos em expectativa.

Estavam na mesma colina onde ele se encontrava agora. Era o seu lugar preferido em todo aquele lugar e parte disso era por causa de Brenda, que ficou em silêncio ao seu lado quase um dia todo. Coisa que ele interpretou como uma promessa de que tudo ficaria bem para ele e entre eles.

Tudo isso, para que no dia seguinte ela sumisse o dia todo, executando tarefas que a levavam para longe dele. Ele já havia pensado na possibilidade de ser apenas coincidência, afinal tanta coisa precisava ser feita, ele não podia esperar que ela ficasse na cola dele o dia todo, mas sabia que não era isso. Pois ele tentou se aproximar, mas seus bons dias e boas noites eram respondidos sem que olhasse para ele e de forma automática. E suas ofertas de ajudá-la em qualquer coisa que estivesse fazendo eram rejeitadas sem a menor cerimônia, ela sempre o mandava fazer algo que fosse mais importante.

Brenda, com certeza, o estava ignorando e ele não tinha a menor ideia do motivo disso.

Com Minho preocupado em ocupar o corpo de todas as formas possíveis para não dar espaço para que a mente se ocupasse com pensamentos fúnebres, Thomas não tinha mais ninguém com quem compartilhar suas angústias. Será por isso que Brenda se afastara? Será que ela não queria ficar ouvindo suas lamentações? Não podia ser, simplesmente, porque ele não era assim, desde que acordou naquela caixa ele sempre manteve as coisas dentro de si.

A única que sempre arrancava alguma palavra dele era a própria Brenda, então, não, ela não tinha se afastado por isso.

Continuou observando a cena na areia. Brenda largara suas “asas” e agora brincava de roda com as crianças. De longe ele não conseguia entender a cantiga, mas ouvia a voz dela e segundos antes de todos rirem e ficar impossível distinguir qualquer voz, ela riu e o som o atingiu bem no meio do peito, espalhando-se pelo resto do seu corpo, causando um formigamento que, antes era bom, mas agora, parecia pior que a granada que o atingira daquela vez junto aos bergs.

Cansado daquilo, de ver Brenda feliz, enquanto ele não estava, sem que ela ao menos se importasse com ele, decidiu sair dali o quanto antes.

Quando se levantou e deu uma última olhada para Brenda, quase caiu para trás ao ver que ela tinha parado a brincadeira e olhava diretamente para ele. Àquela distância ele não podia ver a expressão no rosto dela, mas estava encarando-o, o rosto fechado como se tentasse lhe dizer algo.

Thomas queria que seu rosto dissesse “odeio você”, embora ele não odiasse, não houvesse a menor possibilidade disso acontecer em um futuro próximo e soubesse que aquilo era extremamente infantil.

Não tinha ideia do que acabara de demonstrar, mas Brenda soltou as mãos das crianças e saiu correndo para onde não conseguia enxergá-la.

Agora que ela não estava mais na praia, ficou tentado a permanecer ali – embora a tentação de fato fosse correr atrás dela e tentar saber o que aconteceu -, mas tinha coisas a fazer. Minho o aguardava e não era recomendado deixá-lo esperando.

Quando encontrou o amigo, nenhuma palavra fora dita. Minho jogou-lhe uma lança e já se encaminhou em direção a floresta, Thomas o seguiu.

Eles não costumavam conversar muito enquanto caçavam, pois qualquer som afastava os animais, mas assim que chegaram em uma área aberta, onde as árvores eram mais espaçadas, Minho sentou-se sob a sombra de uma e Thomas o encarou sem entender.

– Sente-se, trolho – ordenou.

– Como assim, Minho? Nós não viemos caçar?

– Depois. Agora nós vamos conversar. Depois nós pegamos uns dois coelhos e está bom por hoje.

– Conversar?

– Ande logo com isso. Sente de uma vez.

Thomas sentou-se ao lado do amigo e aguardou que ele iniciasse a tal conversa.

– O que anda acontecendo entre você e a Brenda?

– O que? – a pergunta pegara Thomas de surpresa, achou que Minho queria desabafar sobre Newt ou falar sobre qualquer outra coisa, mas jamais sobre ele e Brenda.

– É isso mesmo que você ouviu. Eu sei que tem algo rolando. Vocês eram uma boa dupla antes de atravessarmos o Transportal e agora mal se olham.

– Eu... – Thomas tentou pensar em algo que esclarecesse a mudança de comportamento entre eles, mas não conseguia, pois não sabia o que tinha acontecido. – Eu não sei. Foi a Brenda que se afastou. – explicou, consciente do tom choroso da última frase.

– E você não a forçou a explicar o porquê disso? Ah, cara, você é mesmo um monte de plong.

– É que... – e mais uma vez ele não conseguia se completar.

– O que eu sei meu amigo é que você tinha um lance estranho com a Teresa, mas aí surgiu a Brenda e você que é um sortudo de mértila, ficou dividido, só que... Você sabe... Agora você tem apenas a Brenda e...

– Não fale assim, como se eu estivesse agradecido por não poder estar dividido.

– Tá. Não consegui me expressar direito. O ponto é que agora você tem apenas a Brenda e, bom, pelo o que vi há pouco, acho que ela não sabe como lidar com isso. Você tem que falar com ela.

Thomas não podia negar que Minho trouxe à tona um ponto sensível: Havia Teresa e ele a perdera. Embora soubesse que tudo que ela fez foi por ordem do CRUEL e tenha perdoado, na época, aquilo fora suficiente para que seus sentimentos por ela mudassem. Lamentava sua morte, mas pela forma como ocorreu, pela ligação que sentia com ela, desde que se lembrava e por saber que ela fora sua melhor amiga desde muito tempo.

Mas agora, se fosse pensar em quem gostava, daquele outro jeito, a resposta seria obviamente Brenda. E ter consciência disso no momento em que ela parecia preferir qualquer um a ele, não fez o melhor por seu coração.

– E então? – insistiu Minho.

– Como?

– Você está aí sem falar nada. Vai falar com ela?

Então, Thomas lembrou-se das palavras ditas a pouco pelo amigo.

– O que você quis dizer com “pelo o que vi há pouco”?

Minho pareceu arrependido de ter dito aquilo e buscando a melhor maneira de explicar, mas não havia maneira melhor que a verdade.

– Um pouco antes de você descer da colina e me encontrar para virmos caçar eu vi a Brenda.

– E?

– Ela passou correndo por mim, olhava para os próprios pés e se eu não tivesse me afastado, teríamos trombado. Aí eu a chamei e disse para que prestasse mais atenção, ela parou e olhou para mim e, cara, ela estava chorando.

– Chorando? – a informação socando-o no estômago.

– Sim, e não era pouco. Só sei que eu não consegui dizer nada e ela só se virou e continuou a correr.

– E por que isso teria a ver comigo?

– Porque logo atrás dela vieram as crianças. Elas me perguntaram se eu a tinha visto e acabei dizendo que não, para que elas não a incomodassem e perguntei se ela não estava na praia e foi quando o John disse que ela estava lá com eles, até que ficou um tempão olhando para alguém no alto da colina e depois saiu correndo.

– Ah... – Thomas suspirou ao compreender.

– Era você, certo?

– Sim. – Thomas não sabia o que pensar daquilo. Será que ele tinha feito algo para Brenda que não lembrava ou não se dera conta de que fora importante?

– Ouça o que eu digo, você tem que falar com ela. Estamos contando com vocês para reproduzirem e encher esse lugar.

Mesmo sem olhar para ele, Thomas sabia que Minho estava sorrindo, mas aquelas palavras não pareceram engraçadas para ele. Logo seu corpo ficou tenso, petrificado em expectativa.

Lembrou-se da forma como seu corpo respondeu ao de Brenda desde os primeiros momentos nos túneis do subsolo. Era uma lembrança ridícula para o momento, mas não conseguiu evitar.

– Vamos pegar uns coelhos? – perguntou Minho se levantando.

– Claro. – Thomas agradeceria qualquer coisa que pudesse adiar seus pensamentos.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Tudo o que Sou" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.