Intercambista escrita por Clara Luce


Capítulo 2
Capítulo 2 - Irmãos


Notas iniciais do capítulo

Oi pessoal!!!!! Capítulo fresquinho pra vocês! Comentem e favoritem, please!



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O que há de errado com os americanos? Por estar no território deles, precisei conter minha vontade de pular no pescoço daquele cafajeste e preservar meus tapas, dando-lhe socos de uma vez. “Espera eu me enturmar que você vai ver quem vai ter olheiras, seu safado”. Minha raiva era tanta, que passei por ele tocando nossos ombros com certo ódio e em português, o xinguei:

–Vai pro inferno, seu monte de esterco!

A porta bateu atrás de mim e ao longe pude ouvir suas gargalhadas. Sim, eu queria chorar, eu precisava chorar, mas quando cheguei do lado de fora para fazer isso, o maldito policial me pegou.

–Você está muito encrencada mocinha.

Ah não, mas eu mal cheguei!

Meus olhos que já estavam prestes a transbordar, não aguentaram a pressão e em menos de um segundo comecei chorar e apontar pra dentro da escola. Na hora o policial parecia assustado, mas com certa dificuldade por não saber o que fazer.

–Um cara! Lá dentro... – Falava, meio aos soluços.

–Um cara? Como ele é?

–Usa um casaco de couro preto e... e fuma. Também tem cabelos estranhos, meio cobre e completamente bagunçados.

–Oh droga, o que Edward faz aqui? – Disse o policial, me largando e correndo para dentro da escola.

Me senti aliviada por ter me livrado do policial, mas ao mesmo tempo exausta por toda aquela pressão psicológica. Por que ninguém me disse que seria tão difícil? Eu quero voltar, eu preciso dos conselhos da minha mãe, da minha cama bagunçada e até das vizinhas fofoqueiras. Aqui não é meu lugar. Todos fora de casa são estranhos, insensíveis e cruéis! Ninguém me quer aqui, mas no Brasil sei que minha mãe e Clarice me querem bem.

Nem percebi que estava andando sem rumo este tempo todo. Me sentei numa calçada em baixo de uma árvore enquanto o sol desaparecia aos poucos. Não conseguia parar de chorar. Quaisquer líquidos que eu tinha dentro do corpo se foram pelos olhos. Acabei me assustando quando uma mão pesada pousou em meu ombro.

–Moça, se sente bem? – Perguntou um cara com olhos arregalados e um queixo quadrado com um furinho no meio. Ele meio que me lembrava Michael Jackson.

–Eu pareço bem? – Disse grossa, me arrependendo logo em seguida. Primeira vez que um cara é educado comigo e eu faço isso.

Surpreendendo-me completamente, ele se senta ao meu lado e me olha nos olhos.

–Me desculpa, é que tudo está sendo difícil. - Me expliquei - É meu primeiro dia aqui.

–Pelo seu sotaque e beleza exuberante, aposto que é de outro país.

–Ah... – Falei surpresa, dando um sorrisinho.

–Deveria sorrir mais. É o que moças bonitas fazem, certo? – Disse contente por ter conseguido cessar o meu choro. – Prazer, sou Jasper.

–Prazer, Jasper. – Falei, apertando sua mão - A propósito, sou Isabella, mas os americanos gostam de me chamar de Bella.

–Bella soa melhor. Parece mais fácil.

–Algumas pessoas me chamam de Isa no Brasil. Parece estranho agora que estou aqui.

–Você vai se acostumar. Seu problema comparado com o meu não parece problema. Preciso cuidar do meu irmão mais velho. Ele não consegue parar de aprontar, inclusive o procurava antes de parar aqui. De três em três meses é preso por alguma briga de rua e meus pais precisam pagar um absurdo pra tirá-lo das grades. Fora que já tem dezenove anos e ainda não saiu da escola. Eu tento ajudá-lo, mas isso só faz com que ele me odeie mais.

–Meu amigo, sua história é um caso fatídico. Me perdoe por não entender nada de irmãos, já que sou filha única.

–As vezes queria ser filho único, mas isso significaria não brigar com ninguém por ter chegado bêbado toda madrugada.

–Droga, seu irmão é um monstro! Bêbado toda madrugada?!

–Sim, minha mãe está ficando doente por causa dele e isso o deixa louco, mas ele não melhora. A nova moda agora é trazer três, às vezes quatro mulheres pra dentro do quarto. E não nos poupa dos sons nojentos.

Aquilo me fez fazer uma careta. Que droga de vida a daquele cara! Me identifiquei com ele e acho que ele também se identificou comigo, pois conseguiu se abrir assim, com tanta facilidade.

–Quantos anos você tem, Jasper?

–Tenho dezessete e estudo aqui pertinho na Wellesley High School.

–Legal! Eu também! Isso significa que vamos nos ver amanhã.

–Sim e se considere com companhia para o almoço. Seremos eu e você durante uma hora e meia. Vai ser ótimo.

–Por falar em hora, já escureceu e eu preciso voltar pra casa antes que a minha host mother endoide.

–Claro, claro. Posso te acompanhar até lá?

–Seria ótimo.

A companhia de Jasper era ótima e seu bom humor me levantava. Ele era a pessoa mais educada e engraçada que já havia conhecido. Fora que era um lutador por aguentar as loucuras do irmão. Por tudo o que me contou, seu pai não parece ser muito presente, já sua mãe parece ser uma mulher carinhosa.

Quando lhe contei que não tinha um pai, ele ficou vermelho, talvez sem graça por ter usado a expressão “como vai seu velho?”. Eu senti vontade de rir daquilo, mas o respeitei. Chegando em casa ele me deu um abraço, pegando-me de surpresa quando deu um breve beijinho no meu rosto.

–Vejo você amanhã.

Parada na frente da porta, não sabia se batia ou entrava de uma vez. Qual era a melhor opção? Decidi entrar, afinal, Charlie me disse que fazia parte da família. Ao entrar arregalei os olhos. Havia um cara novo, mas enorme e musculoso na minha frente. Ele era bonito, só parecia ameaçador.

–O que é você? – Falei rápido, sem pensar que o certo seria “who” ao invés de “what”.

–Sou uma pessoa. E você?

–Sou intercambista e estou morando por aqui.

–Atá, você é a tal de Bella que a minha mãe e meu pai foram procurar agorinha?

–Ah, merda! Quer dizer, desculpa, você é Emmett?

–Sou. Eu sei, você pensava que eu era um garotinho de oito anos. Meus pais fazem parte desse negócio de intercâmbio desde quando eu era pequeno e nunca trocaram a foto perfil. Mas tá aí, esse sou eu, seu irmão pra todos os casos. – Falou sem dar a mínima pra mim, porém não foi mal educado. Antes de me dar as costas e começar a subir as escadas, completou seu pequeno discurso – Acho melhor você ligar pra minha mãe. A não ser que queira vê-la enfartar, sabe, ela acabou de passar por uma má situação por minha causa e graças a deus você aprontou essa, se não eu estaria até agora ouvindo e ouvindo e ouvindo.

Droga! Eu precisava de um número e de um telefone, mas ele nem me deu oportunidade de falar. Antes de procurá-lo novamente, vi um celular em cima do sofá. Talvez ali tenha o número de Sue. Peguei-o e dei graças a deus por não ter senha, mas antes que pudesse digitar o número, percebi que havia uma mensagem na caixa de entrada. Estava escrito “Edward”. Afinal, esse Edward era uma celebridade? Sue falou dele no telefone e até o policial! Abri a mensagem sem pensar e li o seguinte texto:

“Cara, você ta muito molenga! Se quer fumar uma verdinha comigo, precisa agilizar esse seu jeito. Os tiras nunca dão mole, nem mesmo na escola por o que estou vendo aqui. Vim pra cá e encontrei uma garota que falava uma língua esquisita. Sinistro.”

Que ódio daquele fulaninho. Quem ele pensava ser? O rei da cocada preta? Se um dia eu encontrá-lo novamente, juro esfaqueá-lo até a morte. Que chato! Eu mal cheguei aqui e já arranjei um inimigo. E todos parecem não gostar de mim. Imagino como será na escola.

(...)

O despertador toca e eu imediatamente estranho o som. Esse “PI PI PI” não tem nada ver com “Girls Just Wanna Have Fun”. É entediante. Consegue ser pior que minha vida atualmente. Fui até o banheiro e me olhei no espelho. Eu tava um caco. Talvez tenha sido devido a bronca que levei ontem dos meus pais postiços. Eles ficaram uma fera por eu não ter ligado pra eles e nem me deixaram explicar.

Pois bem, agora não tem volta. Ainda me restam trezentos e sessenta e quatro dias. Um ano de pura tristeza. Nos meus sonhos eu me imaginava sendo adorada aqui, sendo a estrela, sendo a brasileira que falava duas línguas. Mas ninguém me vê assim. Pensei que uma vez na vida tudo seria diferente, que talvez eu não seria mais a magrela e branquela da escola. Estava enganada.

Decidida a chamar atenção, coloquei uma calça de couro preta, um tênis all star que ia até a canela e uma blusa cheia de nomes de bandas de rock. Não parecia gótica nem nada, mas sim estilosa. Amarrei meu cabelo num rabo de cavalo e deixei vários fios soltos, inclusive minha franja. Fiz uma make caprichada e não tive pena de usar o lápis.

Então, pela primeira vez desde que chegara aqui, me sentia bonita.

Desci as escadas e não encontrei ninguém, a não ser Emmett que me olhou de um jeito estranho.

–Achava que brasileiras se vestiam de um jeito todo colorido, sabe, saias curtas. Uma vez vi uma reportagem cujas mulheres usavam umas espécies de guarda-chuvinhas cheios de enfeites.

–Achou errado, Emmett. Digamos que eu sou meio exótica no meu país. – Menti. Sempre me vesti de maneira comum, tipo calça jeans, regata e sapatilha, mas precisa impressionar alguém por aqui. - Esses guarda-chuvinhas são acessórios do frevo, uma dança típica brasileira.

–Legal. Vai querer uma carona? Meus pais me disseram pra não te deixar ir sozinha.

–Tá, tudo bem.

Coloquei um cereal na tigela e enchi de leite. Achei que ia comer ovos com bacon ou aquelas panquecas de seriados, mas me enganei. A senhora LaBow estava longe de acordar, ou seja, sem café da manhã elaborado.

Saímos apressados, já que Emmett comia mais que três obesos. Deve malhar muito pra conseguir manter aquela forma, porque nossa, nunca vi ninguém comer tanto em um café da manhã.

–Tá brincando! – Falei, incrédula com o que via diante de mim.

–O que?

–É um Camaro! E amarelo! – Falei, arregalando os olhos e tocando a lataria.

–E daí?

–Como assim “e daí”? Tem noção do que isso significa pra mim? Eu sempre quis entrar em um destes aqui.

Já podia até imaginar como seria a sensação do couro do banco me tocando! Fazendo uma certa careta do tipo “de que planeta você é?”, Emmett deu a volta e entrou em sua belíssima máquina. Estava prestes a fazer o mesmo quando fui advertida.

–Esse lugar aí já tá ocupado, gatinha. Vai precisar encarar o banco de trás.

Olhei-o com certa incredulidade e assenti, me sentindo golpeada. Devo ter ficado pelo menos um pouquinho corada, pois minha empolgação era tanta que aquela decepção com certeza foi perceptível. O banco de trás era horrível! Mais apertado que o do fusquinha azul do cara que mora do lado do meu apartamento, mas como já percebi que estrangeiros só se ferram por aqui, acabei me acostumando com cerca de dois minutos.

Andamos por algumas ruas até que Emmett entrou num caminho de pedras cercado por árvores e parou de frente a um portão preto enorme e elegante que se abriu em duas partes em menos de quinze segundos.

–Ei, aonde você tá indo? Estamos atrasados!

–Calma, calma. Eu não vou te estuprar e te deixar num saco de lixo, se é o que está pensando.

–Eu não estava pensando nisso.

–Achei que estava. Só vamos dar carona para um amigo. Os pais dele acabaram vendendo seu carro como uma espécie de castigo. Foi uma dó, sabe, era um Volvo maneiro.

Busquei algo em minha cabeça para aproveitar que ele estava mais disposto a conversar para acabar puxando um papo, mas nada me ocorreu. Eu queria me matar por ter perdido a oportunidade de conversar com meu host brother, mas tudo bem, ainda teria centenas de dias.

Meu queixo meio que caiu quando paramos de frente a uma casa per-fei-ta. Além de ser cercada por árvores, era grande e parecia completamente aconchegante. Existiam detalhes de madeira por toda parte e as janelas eram enormes, de vidro. Parecia um sonho e eu queria entrar lá dentro para desfrutar de todo aquele luxo.

Eu poderia estar sonhando por um momento, mas todo sonho se transformou em pesadelo no mesmo instante em que o desprezível Edward saiu pela porta.

–Mãe, eu já disse que não quero, vê se para de encher a porra do meu saco. – Gritou para dentro de sua casa, antes de deixar a porta aberta e acender o cigarro, caminhando calmamente até o carro.

–Você só pode tá brincando! – Cochichei para Emmett, que me olhou meio espantado.

–O que? Vai me dizer que já o conhece? Pelo amor de deus, esse Edward não perde uma oportunidade.

Afundei no banco, sentindo meu coração disparar. Eu não acreditava que veria aquele idiota novamente. Todo meu plano de esfaqueá-lo ia água a baixo sendo substituído pelo medo dele me humilhar na frente de Emmett, o cara que vejo todos os dias.

–Hey cara. Você sumiu desde ontem, nem me mandou uma mensagem. – Falou Emmett, assim que o bad boy entrou no carro.

–Claro que eu te mandei. Inclusive te contei que conheci uma lou...

Sua frase foi interrompida quando nossos olhares se cruzaram no espelho retrovisor. Eu arregalei meus olhos e ele de início pareceu um pouco assustado, mas depois deu um sorrisinho torto e se virou para trás, encarando-me frente a frente.

–Que espécie de pessoa é você e o que faz aqui? Sabe que me deixou encrencado ontem? Matt, o policial, me encontrou e pensou que eu tinha abusado de uma garota, já que a mesma saiu chorando do prédio. Precisei fugir novamente. E por acaso eu te magoei, princesinha? – Falou todo sínico e eu não pude me segurar, pois a raiva que brotou de mim era igual se não maior que seu sarcasmo.

–Vamos por partes. Você perguntou que espécie de pessoa eu sou, certo? Digamos que eu sou comum comparada a um completo drogado metido a besta como você. E eu quero que se dane se não sou americana.

–Nossa, depois dessa me considere um drogado magoado. Mas como assim não é americana?

Virei a cara para o lado na intenção de encontrar um vidro para olhar a rua, mas nem isso eu podia naquele camaro idiota. Se quisesse olhar a rua deveria olhar para o vidro da frente e não faria isso nem que me pagassem. Esse Edward encontraria alguma maneira de chamar minha atenção se eu fizesse.

–Uau. Até parece espanhola. É espanhola? Seu sotaque é meio diferente do último espanhol que veio pra cá.

–É porque ela é brasileira. – Disse Emmett, meio que se divertindo com nossa discussão.

–Hmmm... trouxe algum daqueles biquínis pequenos na sua mala?

–Trouxe... – Falei sarcástica – Se quiser eu te empresto um, talvez o rosa combine com você.

–Por acaso está insinuando que eu sou gay? – Não olhei pra sua cara, achando seu tom de voz um pouco ameaçador. Desviei o olhar para minhas mãos, em meu colo. – Cara, essa menina tem gênio forte. Se ela fosse um cara, eu quebraria a cara dela e se ela fosse uma garota, eu provavelmente transaria com ela. A propósito, sou Edward Cullen, foi um prazer te conhecer, gracinha. Considere-me seu perseguidor oficial.

Confusa olhei pra frente, mas ele já havia voltado a posição de carona, sentado e quieto olhando para o celular. O que quis dizer com “se ela fosse uma garota” e “perseguidor oficial”? Não entendi, mas também não puxei mais papo. Não queria ter aquele tipo de contato por aqui, o cara parecia ser meio perigoso. Preferiria ir pra escola a pé a partir de amanhã.

(...)

Era meio dia e dei graças a deus por enfim a hora do almoço chegar. Tudo estava sendo uma tortura, eu perdi as duas primeiras aulas e quando precisava trocar de sala, sempre chegava atrasada, pegando os piores lugares. Todos me olhavam de rabo de olho por ser nova e não entendia quase nada do que os professores falavam. Haviam me dado dezenas de livros grossos e pesados e eu não conseguia encontrar meu locker*.

Fui para o refeitório que estava lotado e entrei na fila, já procurando por Jasper, mas não o encontrava no meio daquilo tudo. Dei dois dólares para a mulher da cantina que me devolveu uma bandeja. Ali vinha uma espécie de sanduíche num saquinho, uma maçã e uma caixinha de leite. Parecia legal.

–Bella! – Ouvi a voz familiar me chamar.

Olhei pra trás e vi Jasper correndo até mim com um saco marrom.

–Oi! Como vai, Jasper?

–Vou bem, muito melhor agora, claro. Vem, vou te levar até um lugar mais calmo.

Fomos até uma mesa mais afastada, no canto de todo o enorme refeitório. Me sentei na mesa e comecei degustar meu almoço que até estava bom. Jasper havia trazido alguns chocolates e biscoitos. Eu provei e estavam deliciosos.

Já me sentia animada e feliz novamente. Era saudável conversar com Jasper. Ele sempre me animava. Olhei ao redor e o que vi me chocou um pouco. Mais afastado, em uma mesa quase no centro, Edward nos observava enquanto uma líder de torcida magrinha o massageava as costas. Ao perceber que o vi, tirou abruptamente as mãos da garota de suas costas e começou andar até mim. Senti o sangue escorrer de minha cara e a comida meio que empacou na minha garganta.

–Essa não... – Falou Jasper, provavelmente sabendo que aquele sujeitinho não prestava.

–Eae maninho! – Disse o cretino, ficando em pé atrás de mim e colocando as mãos no meu ombro.

–Er... Oi Edward. Bella, esse é Edward, meu... meu irmão.

Engasguei no mesmo instante e comecei tossir feito louca chamando a atenção de todos presentes no refeitório. Eu fui do mal a pior, já não enxergando mais nada devido meus olhos lacrimejados. Me levantei do banco procurando por água em qualquer lugar. Engasguei feio. Podia ouvir as risadas ao meu redor, senti que alguém me jogou uma caixinha de leite nas costas.

Antes de me sentir molhada, acabei grata por aquele impacto ter me feito desengasgar. Abri meus olhos molhados e olhei em volta. As pessoas faziam silêncio e me olhavam como se eu fosse um ser de outro planeta. Neste mesmo instante o sinal tocou e todos começaram a se locomover normalmente, como se nada tivesse acontecido.

E lá estava eu, cheia de leite, branca, grudenta e no meio do refeitório.

–Bella! – Disse Jasper, parecendo preocupado. Logo atrás dele estava Edward, vermelho como um tomate, quase morrendo de tanto rir.

–Eu não vou aguentar, não vou... Ela parece um panda!

Me sentindo humilhada, quis chorar novamente assim que percebi que Edward não era o único rindo de mim.

–Jasper, volta pra aula. Eu vou pra casa, não se preocupe, vou ficar bem. – Disse com a voz embargada.

–Mas...

O ignorei e fui até a mesa, pegando meus livros, não sem antes perceber que alguém escreveu “your dumbell” em um deles. Isso era o mesmo que “seu imbecil” ou alguém muito idiota. Alguém a ponto de se encontrar ensopada de leite no primeiro dia de aula numa escola completamente diferente da sua.

Eu me odiava. Peguei a mochila e os cadernos, saindo de cabeça baixa pela primeira porta que vi. Acabou que saí pelos fundos e haviam algumas garotas ali, inclusive a magrela que massageava Edward uns minutos atrás. Elas começaram fuxicar. Eu fingi não perceber e revirei os olhos quando elas riram baixinho.

–Tá precisando de um banho, querida.

–Talvez possamos resolver isso. – Disse uma voz fininha e quando olhei pra trás, um jato de água tão forte a ponto de me derrubar no chão atingiu-me e fez com que meus livros voassem longe, dentro de uma poça de lama.

Elas riram ainda mais e não se contentaram só com aquilo, me xingavam sem parar.

–EI! PAREM! PAREM! ALICE, ISSO NÃO VAI FICAR ASSIM! QUANTOS ANOS VOCÊ TEM? – Falou uma morena, bronzeada, com saia longa, alta e provavelmente da minha idade.

A garota me ajudou a levantar-me do chão e parecia preocupada com o que acabara de ver. As outras pareciam temê-la.

–Olhe só pra você! Meu deus, perdão, perdão, não pense que todos são assim. Esses são a minoria, mas nossa! Você está ensopada! Sou Rosalie Hale, presidente do grêmio estudantil e você é Isabella Swan, a intercambista brasileira, certo? Te procurei nas primeiras aulas, mas não encontrei.

–É... eu me atrasei. – Disse me levantando.

–Vem, vamos no vestiário, vou te emprestar algo para vestir.

–Desculpe, eu só quero ir embora. – Falei chateada, dando as costas para a mulher simpática. Não queria que ela me visse chorando.

–Tudo bem , eu aviso na secretaria, mas...

Não dei bola e recolhi meus livros sujos e molhados. Distante dali pude ver Edward. Droga, ele não deveria me ver naquele estado, fraca, suja, chorando. Era tudo culpa dele. Unicamente dele. Se não tivesse aparecido com o intuito de fazer gracinhas nada disso teria acontecido. Com raiva joguei meus livros longe. Aquelas porcarias não teriam mais jeito, de qualquer maneira.

Corri depressa pelo gramado da escola, mas antes que pudesse estar livre ELE me parou. Achei que começaria rir da minha cara e da situação, mas me surpreendendo, me segurou pelos ombros e me olhou nos olhos.

–Você está bem? – Fiquei incrédula e ainda mais irritada com sua falsa moral. Não respondi nada. Minha cara deveria estar mais inchada que a de um sapo.

Vendo que nem me movia, Edward tirou seu casaco de couro e quando foi colocá-lo em mim, tirei de suas mãos.

–Eu não preciso de nenhuma porcaria sua! – Disse fria, segurando o casaco e olhando firme em seus olhos. – Você fede maconha.

Joguei seu casaco no chão e passei por ele, me arrependendo depois. Isso me fez chorar o triplo do que estava chorando e quando olhei pra trás ele andava para o lado oposto segurando seu casaco. Me senti um grande monstro por ter lhe tratado daquele jeito, mas eu não estava mais aguentando toda aquela pressão psicológica. Se as coisas nãos melhorassem eu voltaria para o Brasil amanhã mesmo.


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Notas finais do capítulo

*Os locker são aqueles famosos armários que vemos em filmes sobre escolas americanas.

Spoiler do Capítulo 3 - Mau Até Os Ossos

“Vá à secretaria e pergunte de quem é este número: 051881462 e se for uma garota esperta vai conseguir descobrir o que vem lhe intrigando tanto. Estarei atrás das árvores no almoço, você vai querer me agradecer.”

É isso, a partir de agora as coisas vão esquentar ;)

XOXO



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