Belos tempos. escrita por Laucamargo


Capítulo 16
Troca de presentes


Notas iniciais do capítulo

Uma semana maravilinda para todos!!



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Vários dias se seguiram... Foram tranquilos e serenos como tinham que ser. Laura recebeu uma carta da mãe, dizendo-lhe que estava com saudades e que logo voltaria para vê-la. Seu pai também recebera uma carta de D. Constância, mas preferiu não dividir com a filha o conteúdo. Quanto mais a menina pensava em tudo o que estava acontecendo menos ela entendia porque tudo tinha que ser tão complicado! Seu pai parecia sofrer com a ausência de sua mãe, mas também sofria com as constantes discussões quando ela estava por perto. Talvez tudo se resolvesse mais facilmente se eles escutassem a verdade em seus corações e abandonasse um pouco do orgulho. Esses pensamentos não condiziam com a pouca idade que ela tinha, mas eram fruto de incontáveis momentos em que observava as ações dos adultos ao seu redor e também das longas conversas que sempre tinha com sua Ba.

Seu irmão Albertinho, viera fazer uma visita rápida, apenas um fim de semana, mas foi muito divertido e esclarecedor também. Ele lhe dissera que D. Constância não estava tão feliz como esperava que ficaria ao passar essa temporada na capital, dizia sempre para ele que sentia muita falta do marido e que sua irmã estava para lhe tirar o juízo, com suas lamúrias e queixumes. Os irmãos depois de muito conversarem, entenderam que o que a mãe parecia precisar era apenas de uma pequena mudança de ares as vezes e que nesse ponto o Sr Assunção não estava ajudando muito.

Ela e Edgar estavam sempre juntos, na escola, na vila ou até mesmo na fazenda. Conversavam, riam, brincavam e a amizade entre eles tornava-se cada vez mais forte.

No último domingo, já no fim da tarde, Laura resolveu passear com o seu Trovão e quando avisou ao pai sua intenção esse lhe disse que iria acompanhá-la.

Saíram então, pouco tempo depois, pai e filha, num trote lento e num silêncio confortável, até que Dr Assunção resolveu iniciar uma conversa.

–Filha, já há alguns dias que quero lhe dizer algo mas confesso que me sinto desconfortável.

– Porque meu pai?! O que há de tão sério que o senhor não consiga me dizer?

– Bom ... eu farei uma pequena viagem essa semana.

– Viajar? Para onde?

– Marquei com sua mãe de ir buscá-la.

A menina apenas olhou para o pai, sem saber ao certo o que dizer. Dentro dela havia muito do orgulho de sua própria mãe e isso não lhe agradava nem um pouco. Seu primeiro impulso fora agredir ao pai por estar se rebaixando a realizar as vontades de D. Constância, mas então lembrou-se de sua Bá, dizendo-lhe que esse era uma problema dos dois e que eles é que deveriam resolver da melhor maneira possível, para eles, e que essa maneira poderia não agradá-la.

– Você não vai dizer nada Laura?!

– Pai, eu não tenho o que lhe dizer. Se o Sr esta decidido a ir buscá-la, se entende que isso será bom para o senhor e para ela, eu aceito, mas não tenho como esquecer todo esse tempo em que minha própria mãe me esqueceu aqui. Eu sei que estava com o senhor, mas eu tenho mãe, não é? Ela não se lembrou que tinha uma filha até poucos dias atrás. A maneira com que ela deixou essa casa, me magoou e isso eu não tenho como negar, e nem quero.

– Você me surpreende, minha filha, sempre.

– Oras, por quê? Apenas lhe disse o que sinto e agradeça a Du, pelos muitos conselhos que vem me dando a respeito de tudo isso!

– Você não percebe, mas esta crescendo e se mostrando sensata e destemida, e acho que D. Lurdes, tem razão quando me diz que você será senhora de seu destino bem cedo...

Laura gostou de ver o seu pai lhe dizendo aquilo, era agradável se ver pelos olhos de alguém que ela admirava acima de qualquer outra pessoa.

– Eu só espero que vocês dois não voltem aquelas infindáveis discussões novamente.

– Não. Creio que não será assim. Manterei uma casa para nossa família, na capital e sempre que desejarmos poderemos passar uma temporada lá.

– E minha escola?

– Logo, você poderá estudar na capital, assim como o seu irmão. Isso também já esta resolvido com sua mãe.

– E como foi que vocês resolveram tudo isso, à distância?

– Nada que um pouco de boa vontade não resolva.

Olhando atentamente para o pai, Laura percebeu que ele parecia feliz e isso era muito bom. Também se lembrou de que Edgar estava indo para a capital e provavelmente ela iria logo depois, isso também era muito bom!

Já estavam voltando do passeio, quando Laura avistou Edgar ao longe, carregando um grande embrulho.

– Pai, posso receber o Edgar?

Depois de um breve olhar em silêncio, do pai, Laura acreditou que ele não lhe daria permissão, assim surpreendeu-se quando ouviu:

– Não demore.

Laura mudou a direção de sua montaria e foi ao encontro de Edgar. Quando estavam próximos o bastante para ouvirem um ao outro, perguntou:

– Mas que surpresa é essa?!

– Oi Laurinha. Como você está?

– Tudo bem. Acabo de vir de um passeio bastante esclarecedor com o meu pai.

Edgar, apenas olhou esperando que ela lhe contasse.

– Minha mãe estará de volta essa semana. Meu pai vai buscá-la.

– E isso não te agrada, Laura?

– Não é isso Edgar. Mas você sabe, como D. Constância é, e como ela me trata!

– É bem provável que essa temporada longe tenha arrumado algumas coisas, Laura, não se preocupe tanto com isso.

– Espero que você tenha razão. – Curiosa, logo perguntou sobre o grande embrulho que Edgar carregava:

– Mas o que é isso que você esta trazendo?

Edgar que preferia ter encontrado com Laura em sua casa e sem plateia, desconversou:

– Não é nada. Uma encomenda que tenho que entregar...

–Sei ... e o dono da encomenda mora por aqui.

Laura disse, achando graça do constrangimento de seu querido amigo. E continuou, enquanto via que ele ficava cada vez mais sem gracinha.

– Eu estava indo tomar um lanche, você me acompanha ou essa "encomenda" é muito urgente?!

–Tudo bem. Posso parar um pouquinho.

Ficou levemente enrubescido por mentir tão descaradamente. O presente era para Laura, mas jamais teria coragem de lhe entregar com o Dr Assunção por perto. Assim acompanhou-os até a casa grande, onde o pai de Laura despediu-se assim que viu que D. Lurdes os esperava na porta, dizendo que precisava resolver algumas coisas com o Benjamim.

Depois de se banquetear com o lanche que D.Lurdes preparou, os dois permaneceram sentados na grande mesa da cozinha conversando sobre a cada vez mais próxima ida de Edgar para a capital e a eminência da volta da mãe de Laura.

Para Laura era tão fácil dividir com ele seus pensamentos mais secretos, tinha certeza de que ele ouvia com toda a atenção e as vezes lhe parecia até que ouvia o que ela nem chegara a colocar em palavras... antes isso a assustava, mas hoje ao contrário deixava-a tranquila e com uma sensação de segurança, que poderia confiar nele inteiramente. Esse era um sentimento novo, bom e ruim ao mesmo tempo, se é que isso era possível.

Como a tal caixa permanecia ao pé da mesa próxima ao Edgar, Laura não resistiu e brincou com ele:

– Tomara que não seja nada que estrague, porque a essa hora já era ...

Como ela estava a olhar para a caixa, Edgar logo entendeu do que se tratava.

– Confesse que você está mortinha de curiosidade?! Vá pode dizer...

– Eu? Curiosa? Porque eu estaria querendo saber o que vc carrega nessa caixa misteriosa?!! Que bobagem! Só acho estranho você não estar com pressa nenhuma de ir entregar a tal "encomenda".

Edgar então se levantou e pegou a caixa que extrapolava os seus braços e depositou-a na frente de Laura.

– Pode matar o que esta te matando, Laurinha. É para você. Não quis entregar na frente do seu pai, mas vim aqui para lhe trazer isso. – disse apontando para a caixa. - Eu fiz, e relutei muito em te entregar. Então por favor se achar horrível, finja que gostou para eu não morrer de vergonha, pode ser?!!

Laura já estava a retirar a cordinha que prendia a caixa. Era algo muito grande, portanto não poderia ser outra história que ele escreveu... outro bichinho também não, porque não tinha buraquinhos para respirar... Ela se atrapalhou com as cordinhas e foi preciso que o Edgar lhe ajudasse.

– O que é Edgar? Você esta tão misterioso!

– Calma Laurinha, abra ... isso, pronto, ai está.

Laura não podia acreditar no que seus olhos viam. Simplesmente era um momento raro: ela estava sem palavras. Olhava para Edgar e para a belezinha que retirara da caixa de papelão... Uma linda casa de boneca, feita com uma madeira fininha, leve e cheia de detalhes, janelas, camas, mesas, cadeiras, uma pequena boneca de pano ... uma coisa linda! A mais linda que Laura já vira, e por ter sido ele quem fez se tornou quase encantada...

– Ah não! Você vai chorar?! Esta tão feia assim? Não gostou? Eu levo embora, não se preocupe... - Edgar não fazia ideia de como estava enganado!

–Oras, cala a boca menino! Eu estou sem palavras e isso é coisa rara em se tratando de mim! Eu adorei! – enquanto falava ia pegando em todas as peças no interior da casinha...- Essas casinhas de boneca são tão difíceis de fazer. Como você conseguiu? Olha que amorzinho esse quarto! – Agora olhando para Edgar, não conseguiu segurar-se e aproximando-se dele ao ponto de ver os pontos dourados de seus olhos, deu-lhe um leve mais demorado beijo no rosto. E foi uma surpresa para os dois quando Edgar virou o rosto e recebeu um pedacinho desse cálido beijo nos lábios...

Ambos apenas se olharam, sem conseguir colocar em palavras, ou sem querer estragar o momento com elas. Edgar foi o primeiro a falar:

– Eu queria deixar uma coisa feita com minhas próprias mãos, para vc se lembrar de mim quando eu for para a capital. – Como ainda estavam muito próximos, ele fez uma leve carícia no rosto de Laura enquanto falava. – Me incomoda a ideia de que você vá se esquecer de mim...

Em seus olhos Laura viu uma nuvem encobrir os pontos dourados, e ela compreendeu que faria qualquer coisa para que isso não voltasse a acontecer.

– Eu amei o presente, principalmente porque foi você quem fez. E não vou me esquecer de você, mesmo que vc nunca mais volte, ou que se esqueça de mim, morando numa cidade grande e cheia de atrativos.

Nesse momento foi Edgar quem viu nos olhos de Laura uma nuvem...

– Pois então eu te faço uma promessa: - segurando o rosto de Laura de ambos os lados disse - Passe o tempo que for, você sempre ficará em minha lembrança. E logo que concluir meus estudos eu voltarei.

– E se eu não estiver mais aqui?!

– Eu encontrarei você onde quer que esteja. E podemos nos corresponder enquanto eu estiver lá, não precisamos ficar sem nos falar. E sempre que possível eu virei visitar meus pais e você.

Laura entendia que ele tinha que ir, mas não conseguia atinar em como iria viver sabendo que ele estava longe. Porque agora que o ano se aproximava do fim ela percebia que ele lhe era muito especial e seu afastamento, por mais benéfico que fosse iria lhe machucar.

– Não é para você ficar convencido, mas isso aqui ficará muito sem graça sem você.

Num abraço, que de certa forma selou a transformação da amizade dos dois em algo maior, despediram-se com a promessa de que ainda teriam um tempinho juntos antes de Edgar viajar.


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Notas finais do capítulo

Um abração e até mais...