Cheguei na escola na segunda-feira. Claro que eu e o Brendon dividimos o carro. Algumas pessoas olharam estranho e ouvi alguém dizer que estávamos juntos. Fiz uma careta. Fui até o meu armário e encontrei Brian encostado nele. Era só o que me faltava...

– O que você quer? - Perguntei.

– Bom dia, Anne. - Revirei os olhos.

– Vai mandar eu me foder de novo? Qual é, Brian. Fala logo o que você quer.

– Se alguém perguntar, eu que terminei com você. - Gargalhei.

– Tá de brincadeira, né?

– Não. Imagina o que as pessoas iam pensar se soubessem que eu levei um pé na bunda.

– Então elas vão achar que você terminou porque é corno.

– Como é?

– To em outra. Agora dá pra dar licença?

– Em outra? Tá com quem, Anne?! Acha que é assim? Não faz nem cinco dias e você já tá com outro?! Que espécie de vadia você é?! - Bati na cara dele.

– Nunca mais fala assim comigo! Agora sai da frente do meu armário.

– A gente ainda vai voltar, Anne. - Ele falou baixo e perto de mim.

– Nos seus sonhos, só se for. Sai da frente, Brian!

– Tá tudo bem por aqui? - Ouvi a voz do Ethan.

– Resolveu parar de ser covarde? - Brian perguntou debochando.

– A questão não é ser covarde e sim inteligente. Você acha mesmo que uma pessoa sensata tentaria se defender de cinco pessoas pra apanhar ainda mais? Sabia que você era burro, mas não achava que era tanto. - Olhei pro Brian. Ele mediu o Ethan de cima a baixo.

– Não esquece o que te falei. - Ele falou pra mim, virou as costas e saiu.

– O que ele falou pra você? - Ethan perguntou encostado no armário ao lado do meu.

– Nada demais. Ex inconformado. Só isso. - Levei minha mão até o rosto dele e acariciei. Ele sorriu. - E você. Como tá?

– To bem. E você? Como passou ontem?

– Bem também. Hoje eu vou buscar o resto das minhas coisas depois da escola. E vou procurar um trabalho também. Pretendo vender algumas coisas na internet também. Não quero incomodar ninguém.

– Você nunca incomodaria o Brendon.

– Eu não sou da família, Ethan. Eu sou muito grata por ele e pela mãe dele mas ali não é meu lugar. Eu quero um canto só pra mim. - Ele assentiu.

– Entendo...

– Quer me ajudar a tirar foto pra vender minhas coisas?

– Apoio moral? - Ele pegou na minha cintura. Sorri surpresa.

– Tipo isso. - Ele sorriu também e me deu um selinho.

– Olá, casal do ano. Agora saiam da frente do meu armário. Agradecido. - Brendon falou. Fomos mais pro lado. Abri meu armário e peguei o livro que usaria na primeira aula.

– Ethan vai dar uma passada lá na sua casa, tá? - Disse pro Brendon.

– Tá ué. - Ele falou rindo.

– Por que o risinho? - Perguntei e ele de ombros. Revirei os olhos.

(...)

– Então, você não tem experiência? - A mulher me perguntou se sentindo superiora.

– Não. - Respondi no mesmo tom.

– Bom, desculpe. - Ela disse e me deu as costas, me deixando sozinha no meio da loja. Ela nem se deu ao trabalho de olhar meu currículo. Peguei meu celular pra ver as horas. 16h30.

"Não conseguiu nada até agora?"

Brendon perguntou.

"Não"

Respondi. Saí da loja e fui até uma outra que o Ethan tinha me falado mais cedo. Era uma loja de roupas. Quando entrei, a loja não estava cheia, mas tinha bastante gente. Eu sabia que a loja ficava lotada de sexta e sábado.

Fui até o balcão e perguntei se eu podia deixar meu currículo. O homem sorriu e disse que tudo bem, que era só esperar uns minutos. Falei que tudo bem. Olhei em volta. Eu comprava aqui. A maioria das minhas colegas compram aqui.

– Boa tarde. - Ouvi atrás de mim. - Poderia vim até o meu escritório? - Supus que fosse o marido da dona. O segui. - Minha esposa não veio hoje. Ela pediu pra eu cuidar da loja hoje. - Chegamos ao escritório e ele pediu pra eu sentar. - Vi que você não tem experiência. - Vai começar tudo de novo.

– É, eu realmente to procurando meu primeiro emprego.

– Bom, além de eu lembrar um pouco de você e pelo seu nome, sei que irá saber falar até com estrangeiros.

– Sim.

– E nossos maiores clientes são da alta sociedade. Bom, como eu disse anteriormente, eu só estou ajudando minha mulher a cuidar da loja, mas tenho quase certeza que ela te aprova. Te ligamos amanhã, tudo bem? - Sorri.

– Claro. - Saí da loja. A confeitaria não era longe. Fui até lá. - Oi. - Falei sorrindo. Ethan me olhou risonho.

– Oi. Aconteceu alguma coisa?

– Acho que já consegui um emprego.

– Mas já? - Ele perguntou surpreso. - Onde?

– Naquele loja que você me falou hoje. O cara disse que muito provavelmente vai me ligar amanhã.

– Isso merece uma comemoração. - Ele disse já pegando um bolo. O que ele sabia que era meu preferido.

– Não, Ethan. Eu to sem grana.

– E daí? Temos que comemorar que agora você tá virando gente grande.

– Ah, claro. Virei mocinha. - Ele riu baixo e me entregou o prato com o bolo. Comecei a comer. - Vai mesmo hoje lá?

– Na tua casa? Vou.

– Vou te esperar, então.

– Falta mais de uma hora pra eu sair, Anne. Pode ir.

– Não. Eu te espero. - Enquanto o Ethan atendia aos clientes, eu continuei comendo meu bolo e depois ele me deu mais um pedaço. - Depois que eu for embora rolando, não reclama.

– Para de frescura. Vou arrumar minhas coisas já. Acho que consigo sair mais cedo. - Assenti e ele foi pros fundos da confeitaria. Um tempo depois, saiu já com a mochila. Entramos no meu carro e fomos até a casa do Brendon.

– Pedi pizza já. - Brendon falou quando nos viu.

– Não precisava. - Ethan falou.

– Por que não? Vai dizer que tá com vergonha?

– Ah... - Ethan disse com vergonha e eu e o Brendon rimos. A mãe dele apareceu e apresentamos o Ethan pra ela. A pizza não demorou a chegar e fomos todos comer.

– Eu não entendi. O que você quer fazer? - Brendon perguntou depois que comemos.

– Eu não vou usar essas bolsas e muito menos a maioria dos sapatos. Tem vários pares que eu nunca usei, Brendon.

– E esses vestidos cheio de frufrus? - Ethan perguntou olhando o meu guarda-roupa.

– Alguns eu vou colocar pra vender também. - Respondi.

– Caralho, Anne. Olha o tamanho disso. - Brendon disse pegando um dos meus sutiãs. Peguei da mão dele.

– Para com isso, seu pervertido! Não é pra mexer naquela gaveta!

– Só tava vendo se tinha alguma coisa interessante ali. - Ele falou com a maior cara lavada.

– Cala a boca, Brendon! - Ethan já estava tirando algumas coisas do meu guarda-roupa. - Esse vestido não vai, Ethan.

– Vai usar onde, Anne? - Ele perguntou.

– Pode surgir uma oportunidade. - Falei dando uma de inocente. Ele olhou pro Brendon, que deu de ombros, e jogou o vestido em cima da cama. - Ethan!

– Desapega, Anne. - Fui até lá.

– Deixa que eu me resolvo com isso. - Comecei a procurar as coisas pra vender. Meus vestidos! Meus sapatos! Minhas bolsas compradas em Paris! To quase chorando!

– Isso aqui parece bolsa de perua. - Ethan falou pegando uma parecendo que pegava uma lesma.

– Essa aí foi uma tia minha que me deu. Nunca usei. Sempre achei horrível. Vai ser a primeira a ser colocada no site. - Continuei vendo o que colocaria pra vender.

Depois de horas, começamos a tirar as fotos. Demorou, mas isso porque o Brendon resolvia desenterrar uma lembrança de cada roupa que eu pegava nas mãos.

No fim, quando já tínhamos tirado as fotos, Ethan foi embora, pois estava tarde. Eu peguei meu notebook e o Brendon o dele. Dividimos as coisas e começamos a publicar num site de compras e vendas.

Essa foi a parte mais fácil. Depois, com todo o cansaço do dia, tomei banho e fui direto dormir.

Acordei no dia seguinte com o Brendon me acordando de um jeito amigável. Berrando no meu ouvido.

– Todo dia vai ser assim?! - Berrei e ataquei todos os travesseiros nele.

– Levanta logo, ou vai se atrasar.

– Não me enche!

– Agora é sério. - Ele sentou-se ao meu lado na cama e começou a acariciar minhas costas. - Sua mãe ligou. Acho que ela vem aqui mais tarde. - Levantei num pulo.

– Tá de brincadeira, né?

– Juro que não. - Quero me enterrar num buraco e não sair nunca mais!