– Não se preocupe, senhora Walker. Eu não vou ficar aqui por muito tempo.

– Imagine, querida. Pode ficar o tempo que quiser. - Brendon sorriu e concordou com a mãe. Ela pediu pra uma das empregadas arrumar o quarto de hóspedes pra mim. Depois, eu me joguei na cama e o Brendon fez o mesmo.

– O que aconteceu? - Ele perguntou me olhando.

– Tudo começou quando o Ethan foi lá em casa.

– Ele foi lá?!

– Dá pra parar de surtar? Parece uma menininha.

– O que ele foi fazer lá?

– Disse que foi ver como eu tava. Aí ele começou a falar que gostava realmente de mim.

– Novidade... - Revirei os olhos.

– To fazendo o que você me pediu. To te contando. Enfim, a gente se beijou.

– Graças a Deus! - Ele disse erguendo as mãos pra cima. - Eu nunca torci tanto pra você beijar um menino!

– Parece uma garota de 12 anos quando a amiga dá o primeiro beijo.

– Cala a boca. Continua.

– Minha mãe chegou bem na hora. Ela expulsou o Ethan de lá.

– Por isso vocês brigaram?

– Ela me chamou de vadia, Brendon. De vadia!

– Sua mãe podia se olhar no espelho.

– Eu saí no tapa com ela. - Falei de olhos fechados sentindo as lágrimas vindo de novo.

– Mas isso tá melhor do que eu imaginei! E aí? - Abri os olhos de novo.

– E aí que eu saí de casa. Ela me expulsou também. E, sinceramente, se não expulsasse eu teria saído do mesmo jeito.

– Bom, eu acho que você deve ir falar com o Ethan. Conversar com ele...

– E, Brendon? - Ele me olhou arqueando a sobrancelha. - To pensando em arrumar um emprego.

– Tá falando sério?

– Eu não quero viver de favor na casa dos outros até ir pra faculdade.

– Aqui não é casa dos outros. Aqui é sua segunda casa. Mas... Faz o que você achar melhor. Agora vai passar um remédio nesses arranhões e arrumar essa juba horrorosa pra ver o Ethan.

– Gay. - Murmurei. - Mas quem disse que eu vou vê-lo?

– Pergunta pra Bonny se eu sou gay. E eu disse que você quer vê-lo. Você quer que eu sei.

– Brendon...

– Você é afim do Ethan. Não mente pra mim.

– Eu ainda tenho umas coisas pra resolver com o Brian. - Brendon revirou os olhos.

– Eu sei. Mas vai ver o Ethan primeiro. - Levantei, peguei uma muda de roupa, minha toalha e fui pro banheiro. Quando saí, estava sozinha no quarto. Arrumei meu cabelo e desci. Brendon estava jogado no sofá da sala de estar.

– To melhorzinha? Ou os machucados ainda tão horríveis?

– É que você é como se tivesse um pinto pra mim, se não eu te pegava.

– Comovida. - Dei um beijo na bochecha dele.

– Qualquer coisa me liga.

– Não vou demorar. - Saí da casa do Brendon, peguei o carro e fui até a casa do Ethan. Chegando lá, a mãe dele abriu a porta sorridente. Até me analisar.

– O que aconteceu com você, meu bem? - Ela perguntou.

– Nada demais. - Respondi com um meio sorriso. - O Ethan tá aí?

– Ele tá se arrumando pra ir pra confeitaria. Pode entrar. Segunda porta à esquerda. - Ela me deu passagem e eu sorri.

– Obrigada. - Andei até lá. Bati na porta, que estava fechada, e em poucos segundos foi aberta.

– O que é isso no seu rosto? - Ele perguntou e levou a mão até lá, acariciando o local. Mas abaixou o braço rapidamente. Adentrei o quarto.

– Desculpa por hoje. - Falei sem olhar pra ele.

– Você não tem culpa.

– Você tava na minha casa, Ethan. Eu tenho culpa. - Sentei-me na cama.

– Para de se culpar pelo erro dos outros! Isso me irrita! Não é você quem tem que se desculpar. Não é culpa sua tudo que acontece.

– Eu sai de casa. - Ele arrumou a postura ficando tenso.

– Não foi por minha causa, né?

– Não. Foi um acumulo de coisas. - Apoiei meus cotovelos nos joelhos e coloquei meu rosto nas mãos. - Ela me xingou. - Senti a cama afundar do meu lado e o braço do Ethan passar pela minha cintura. Mas logo depois subiu, fazendo carinho nos meus cabelos. - Eu vou me virar sozinha daqui pra frente.

– Onde você tá ficando agora?

– Na casa do Brendon. Vou ficar lá até conseguir algo pra mim.

– O que você pensa em fazer agora?

– Eu vou começar a procurar um trabalho pra mim. - Ethan bem que tentou disfarçar, mas eu percebi seu olhar de surpresa.

– Posso perguntar pro dono da confeitaria se ele sabe de algum lugar que precisa. - Sorri canto e ele também.

– Obrigada. - Ethan alargou o sorriso.

– E como você tá?

– Bem... - Murmurei.

– Anne... - Comecei a chorar de novo. Tudo bem que a Margo era como se fosse minha mãe, mas ela continuava não sendo. Eu sentia falta de um pai e uma mãe que se preocupassem comigo. Eu sempre tive que me virar sozinha e sempre senti falta de alguém ali do meu lado me dando apoio.

Depois de um tempo eu me recompus.

– Desculpa te atrasar. - Falei e ele olhou no relógio.

– Não to atrasado, já que você vai me dar carona. - Ri baixo. Levantei.

– Onde tem um banheiro?

– No fim do corredor. - Fui até lá e lavei o rosto. Quando voltei, ele me puxou. Ethan olhou pra mim e sorriu. Senti um rubor nas minhas bochechas. Ele me beijou de novo. E claro, óbvio, sem dúvidas que eu não fiz nada pra parar. Só... Retribui.

(...)

Parei o carro na frente do condomínio do Brian. Saí e fui até a portaria. Pedi pro porteiro falar pra ele vir até aqui fora. Alguns minutos depois, ele saiu do condomínio.

– Oi. - Ele disse. Continuei encostada na lateral do carro.

– Oi. - Falei. - Brian... - Comecei a falar, mas ele me cortou.

– Olha, eu sei que ficamos distantes essa semana, mas nada mudou entre a gente. E...

– Mudou sim. - O interrompei dessa vez. - Eu não quero mais.

– Que?!

– É, Brian, eu não quero mais. Chega. Acabou a palhaçada. Não rola mais.

– Eu não entendo. O que eu fiz de errado? - TUDO! Mentira. Não vou falar isso pra ele.

– Olha só, eu mudei, você mudou... Eu não quero mais.

– Eu pensei que você me amasse.

– Um dia o sentimento diminui. E eu amo o Brian do começo do nosso namoro. Não o de agora. Desculpa, mas não dá mais.

– Anne, eu só peço que você vá pra casa, esfria a cabeça. Depois eu passo lá pra gente conversar.

– Eu não to nervosa! - Falei cansada. - E eu saí de casa. Eu não aguento mais isso! Eu quero mudar minha vida, Brian.

– E pra isso eu preciso sair dela?

– Eu não quero mais! - Ele não falou nada. - Vou embora. - Dei a volta no carro. - Tchau, Brian.

– Vá se foder.

– Obrigada. Você também. - Entrei no carro e dirigi até a casa do Brendon. Eu to cansada. Não fisicamente. Mas meu emocional tá destruído.