The A Team escrita por Pam


Capítulo 1
A primeira classe




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O silêncio mórbido quebrado pelas ocasionais ondas do mar a faziam se sentir ainda mais solitária.

"Por que não?" algo disse em sua mente.

Ela havia caminhado de seu pequeno e sujo aparamento até lá, o frio era cortante, mas, de alguma forma, ela não sentia. Como se sua pele estivesse anestesiada.

Flocos de neve caíam ocasionalmente em seu rosto, e ela não vestia nada exceto um casaco fino e calças de pijama, sua mente era uma neblina.

A mão fria se fechou contra o pequeno rolo em seu bolso, e no isqueiro.

Com destreza, sua mão puxou um dos rolinhos e o acendeu, a fumaça ocre e densa se formou ao seu redor enquanto ela tragava lentamente e a fumaça parecia entrar em seus pensamentos, tornando tudo confuso.

"Por que não?" as palavras voltaram a deslizar pela sua mente, a cabeça pesada.

A ideia não lhe parecia mais tão assustadora.

O que ela havia tido até agora? Uma vida de sofrimentos, perdas, sensações prazerosas ocasionais.

A vida era uma droga.

Dores, momentos como esse em que tudo parecia mais fácil de suportar.

Uma verdadeira droga.

Ela não havia notado que se deixara cair na areia, mas ela podia sentir os grão finos nos braços e entrando pelos cabelos enquanto o vento batia em seu rosto e flocos de neve caíam ao seu redor.

"Não há alguém para sentir sua falta" as palavras em sua mente haviam um tom acusatório, sofrido.

Com algum esforço ela levantou o tronco e voltou a se sentar na areia úmida. Lambeu os lábios rachados e roídos com a língua seca e tragou mais um pouco da droga que havia ficado no chão ao seu lado.

Ela apoiou a testa nos joelhos e respirou fundo.

"Por que não?" as palavras soavam vazias em sua mente, agora. Eram apenas palavras, era como lê-las em um papel branco, ou em um outdoor.

Parou para pensar no que tinha.

Um apartamento pequeno em um lugar nada seguro, algumas poucas roupas e alguns livros. Um trabalho não honrável que a levava a se deitar com homens desconhecidos, por vezes com um odor pungente, por vezes bêbados, agressivos.

Mas por vezes eles apenas conversavam e reclamavam de suas vidas.

"Se eles ao menos soubessem" ela costumava pensar enquanto eles disparavam torrentes de reclamações.

O que é o sofrimento.

Retirou os sapatos e os colocou de lado na areia.

Gostava da sensação de grãos entre seus dedos.

Retirou o casaco e a calça de pijama.

Ela estava semi-nua na areia da praia. Se algum policial a visse poderia ser presa.

"Foda-se"

Notou o quanto sua pele pálida parecia brilhar como alabastro ao luar enquanto se encaminhava em direção ao mar.

Como um flash, pensou nos frascos de comprimidos caídos em sua cama. Talvez eles fossem o motivo de não estar sentindo nada.

Parou quase no limite de onde as ondas se quebravam para pensar sobre como a água deveria estar fria a essa época do ano, virou de costas para a água e observou as luzes que brilhavam mais além.

As pessoas deviam estar comemorando o Natal, ela pensou enquanto voltava a se virar para a água.

Deu um passo e sentiu o frio na ponta dos pés, mas essa percepção não causou nenhuma reação em seu corpo anestesiado.

O velho celular tocou lá atrás, dentro do bolso do casaco, e a fez se lembrar das milhares de ligações que recebera durante a noite.

"Ela é classe A" eles costumavam dizer, como se fosse um elogio.

Continuou andando.

Quando a água passava da sua cintura, ouviu um grito lá atrás.

Continuou andando.

Uma onda pesada a acertou enquanto continuavam gritando, era a voz de um homem, reconheceu.

Sentiu seu corpo sendo arrastado pela água, seus pés perdendo o apoio do chão e seus pulmões sendo espremidos por rochas.

O mar parecia brincar com ela, carregando-a de um lado à outro, como crianças costumam fazer com bonecas de pano. Seus olhos estavam abertos, mas ela só via a escuridão e seus fios de cabelos vermelhos.

A sensação não era confortável, mas ela não sentia dor.Ela não sentia nada.

Ela não era mais capaz de sentir.

E quando ela não podia mais se manter lúcida - ou semi-lúcida - pontos pretos começaram a surgir no cinza do mar.

"As piores coisas na vida vem de graça para nós" pensou, enquanto afundava na escuridão completa.

E no dia seguinte, era possível ler nos jornais, espremido bem ao canto:

"Mulher encontrada ao mar."


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Notas finais do capítulo

Bem, é isso. Fiquei imaginando vários possíveis finais, e até uma continuação, fica pela imaginação de você o que aconteceu com ela.
(Podem me dizer nos comentários, amarei saber o que pensaram)
Talvez eu escreva uma continuação.



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