You Changed Everything

''-Não sei se você notou que chama atenção de qualquer jeito.''

Tenho certeza que devo ter ruborizado com esse comentário de Dale.

Parece que ele faz de tudo para me deixar envergonhada. Porque ele continua aqui? Eu não o mandei ir embora?

Ele tinha um pequeno sorriso no rosto enquanto lia o livro.

Será que ele é realmente diferente?
Não alimente esperanças, Alexia!

–Porque você continua aqui? -Perguntei baixinho.

–Ahn?

–Porque você não se afastou?

–Porque eu não quero, e eu sei que no fundo, você também não quer.

–Não confio em você.

–Eu sei. Mas eu vou fazer você confiar.

–Duvido muito.

–Já eu tenho certeza.

Uma bolinha de papel voou da frente da sala e bateu em minha mesa.
Eu apenas suspirei. Já estava acostumada com isso.

Dale pegou a bolinha, abriu-a e viu um desenho muito mal feito de mim em uma forca, logo abaixo estava escrito:
''Eu não irei repetir então lembre-se bem. Afaste-se dele. Ou vai sobrar para você. ''

–Quem foi? -Ele me perguntou.

–Não sei. - Menti.

–Não minta, ninguém vai fazer nada com você se você me contar.

Apenas balancei a cabeça negativamente.

–Alexia... -Ele começou mas o sinal tocou, anunciando o fim da aula.

Sai rápido, o deixando pra trás.

–Alexia! Alexia! Me espera! - Ouvi ele chamando por mim mas não virei para olhar.

Fui o mais rápido que meus pés conseguiam caminhar pelo percurso até minha casa.

Assim que cheguei fui correndo pro meu quarto.

Coloquei a mochila no chão e me joguei na cama.
Esperei as lágrimas costumeiras aparecerem mas não senti vontade de chorar.
Estava deprimida demais para chorar. Comprimi o travesseiro no rosto e gritei com toda a força que eu tinha.

–Alexia? Chegou? -Ouvi meu pai chegando.

Me levantei e fui até a escada.

–Sou eu, pai.

–Como estava a escola? -Ele perguntou.

–Boa. -Menti.

–Vou trabalhar até mais tarde hoje, se importa de ficar sozinha?

–Não, tudo bem. -Respondi.

–Se quiser pode pedir pizza. -Ele falou com um sorriso.

–Não precisa, não quero que gaste mais dinheiro comigo do que já gasta, aliás, eu gosto de cozinhar.

– Mas eu não gasto quase nada com você.

–Sério pai, não precisa. -Falei.

–Tudo bem mas se mudar de ideia...O dinheiro vai estar em cima da mesa. -Ele falou.

–O senhor já vai agora? -Perguntei.

–Sim, tenho umas emergências para resolver. Eu só volto amanhã de manhã, provavelmente você já vai estar na escola.

–Tudo bem, deixarei o café da manhã pronto. -Falei.

–Tchau. -Ele falou sorrindo e então foi embora.

–Tchau. -Falei depois que ele já havia ido.

Subi pro meu quarto, tomei banho e coloquei um pijama qualquer, em seguida me deitei em minha cama.

Eu não comeria. Quase sempre estou sem fome mesmo.

Fechei os olhos, tentando pensar com mais clareza, já que meus pensamentos eram uma névoa desnorteada.

Porque?

Era a unica coisa que eu conseguia entender.

Porque eu sou assim?

Porque ele quer falar comigo?

Porque eles não me deixam em paz?

O que eu fiz de errado?

Porque eu sou tão errada?

Corri para o banheiro, peguei a lamina em baixo da pia e cortei meu pulso esquerdo, fazendo um corte não muito fundo, afinal, eu não estava preparada para morrer.