Existia uma pequena televisão no quarto do guarda Tompson, eu abria a porta todo sábado, me sentando ao seu lado para ver o começo dos The Jogos Ellen. Não sabia como, mas nós dois não ligávamos para os gritos de medo e dor que preenchiam o lado de fora do quarto. Aonde pessoas eram maltratadas e mortas enquanto nos divertíamos vendo um programa de entretenimento ridículo.

— Delirío Insignificante, Pauline Morris ( Jordan Packson ).

— Acabou para os Stobyl’s. — Lucius jogou o capacete em algum canto. — Não podemos entrar lá só com um dominador! Isso é contras regras, e mesmo se deixassem, eu não conseguiria acabar com a aquela desgraçada e suas irmãs! — mexe com sua mão direita, direcionando á três garotas brigando por um lugar centralizado na câmera de algum jornal local.

O grupo estava na sala de espera, olhando para o telão da TV e vendo a propaganda dos TJE enquanto discutiam, tentando achar dois dominadores que excluíam o elemento “água” de suas dominações.

Selene mexeu no cardaço do All Star vermelho e franziu o cenho.

— Dois? Mas e a Laila?

— Ela não pode participar pelo simples fato das regras proibirem dois dominadores do mesmo elemento. — Charlie Steven coloca um chiclete de melancia na boca enquanto falava: — Sou do elemento terra, mas acho que não podem aceitar guardas do navio.

— O que ele está fazendo aqui? — Laila pergunta raivosa.

— Ow, pessoal. Lembra que eu não sou do elemento água. Dá para pararem de me excluir? — Kalyn começa a passar a mão em uma das mechas que saltaram do seu coque mal-feito.

— Você já está dentro, Kalyn. — Lucius franzi a testa. — Temos que achar só mais um.

— Uma não-dominadora? Sério? — Charlie ri com desdém. — Não sabia que estaríamos tão desesperados assim.

— Vou quebrar a tua cara, seu idiota. — Kalyn diz, mesmo assim, não se mexeu.

— Eu consigo lutar, pelo menos uns 30 minutos. Não é o que precisamos para entrar nos jogos? — Oliver pergunta.

Selene queria gritar com ele, dizendo para se enxergar. Oh, por favor, a metade da sua cara está enfaixada e queimada, o mesmo reclama a todo momento que está com dor e ela o mandava calar a boca enquanto fazia outro curativo, e agora, ele quer lutar? Patético.

— Tentar, você quer dizer, não é? — Charlie fala. — Por que com uma não-dominadora, você com a sua cara queimada e aquele rebelde sem causa ali. — aponta para Lucius. — Será difícil vocês vencerem.

— Eu ainda não entendi o porque dele estar aqui. — Laila diz nervosa.

— Apostei 500 dracmas que ganharíamos, então, vocês tem que vencer, se não... estarei falido. — responde o guarda.

Lucius bate sua mão uma na outra, conseguindo a atenção de todos.

— Estamos nos jogos agora?

...

— Tente não morrer, de novo. — Selene desentorta a armadura do amigo. — Tenho um saco de amendoins na minha nova bolsa vermelha.

Os olhos de Oliver brilham

— Volte vivo. No salão principal, procure sua recompensa quando voltar. — a amiga beija a bochecha sem curativo e olha para seu All Star, abaixando sua cabeça até ouvir Chelsea Parker gritar na pequena caixinha de som em cima da porta.

— Começaremos com os grupos Stobyl’s e Nobiwl’s. Nossos espectadores e eu, claro, estamos super animados para essa grande batalha!— diz ansiosa.

— É um pouco estranho você sair por aí beijando a minha bochecha enquanto banca a preocupada.

— Idiota.

— Acho que já me disse isso hoje. — sorri.

Selene abriu um pouco sua boca, assustada.

— Como você...?

— Meu corpo estava morto, não a minha mente.

— Hãn, sem querer interromper, mesmo interrompendo. — a garota das tulipas aparece na brecha da porta, corada pelo momento intimo dos amigos que acabara de atrapalhar. — Lucius está nos chamando.

...

Oliver entrou na arena, com formato geométrico do hexágono metade azul – aonde eles estavam- e amarelo. Do outro lado, havia as três garotas que brigavam pela câmera horas atrás. Elas sorriam, mas não o tipo de sorriso doce, que alivia suas costas. Oh não, era um sorriso cruel, Oliver nem ao menos sabia como descreve-lo. Só sabia que não era um sinal muito bom, não mesmo.

— Não consigo bater em mulheres. — ele vira para Lucius, espremendo seus lábios um no outro. — Sério, cara. Eu não consigo.

O garoto loiro ri.

— Então elas bateram em você, amigo. Claro, e eu também. — diz ameaçador. — Se nós perdemos, eu acabo com você. Tem que escolher. Você bate, ou é abatido.

— Mas...

— Feche os olhos, imagine que aquelas garotas são homens que querem matar você e a Selene, lute. — Lucius fala.

— Se eu fechar os olhos, não vou poder ver absolutamente nada. — Oliver teve que gritar, já que a plateia nas arquibancadas muito longe deles começaram a bater palmas e incentivar com berros.

O gongo foi ouvido.

— Já disse, você escolhe. — Lucius correu em direção a primeira, mexendo suas mãos para cima, jogando a garota para o seu lado esquerdo, batendo o braço direito fortemente no chão.

Oliver ouviu um estalo.

“Ele acabou de quebrar o braço de uma mulher. Que merda”, pensa enquanto vê a segunda garota correr em sua direção. Ele olha para os pés dela, com uma bota de couro que preencheu-se até sua canela. “Você é um homem que quer matar a minha amiga”, abaixou-se e escorregou sua perna no chão, dando uma rasteira na garota antes dela jogar umas dezenas de pequenos pedaços de pedras perto do lado amarelo da arena.

— Muito bom, Oliver. — Kalyn sorri para ele, virando sua cabeça para olhar a garota que agarrava suas costas. Colocou suas duas mãos para trás, agarrando o cabelo castanho da oponente e jogando sua cabeça em direção ao chão.

“Não fazer brincadeiras com a Kalyn. Anotado”, pensa.

Sentiu dores na barriga, colocou sua mão nela e viu sangue jorrando. A garota que ele deixou no chão, já estava em pé, com o mesmo sorriso cruel sem descrição. Ela colocou suas duas mãos em seu pescoço e sussurrou:

— Quais são suas últimas palavras, docinho?

Não soube responder.

Ele piscou várias vezes, olhando para um dos holofotes atrás da garota e fechou os olhos. O aperto foi falecendo, e ele conseguiu respirar um pouco melhor depois disso. Ouviu um grito fino, mas não abriu os olhos. Foi aí que foi derrubado no chão, e tudo se apagou por completo.

...

Quando abriu – com certa dificuldade – seus olhos negros, Oliver viu um All Star azul e outro cinza, seu corpo doía e sua bochecha estava colada no chão frio da arena. Não ouvia mais o grito, ouvia muitos gritos. Além do caos nos ouvidos, a voz doce – que teve certeza que era de Kalyn – sussurrou:

— Normal? Um raio sair por um holofote é normal? — bufa. — Acorde, Lucius!

— Ele não pode ter algo com Zeus, Kalyn. Isso é fisicamente impossível.

— Numa Era de Ouro, aonde deuses vivem mais próximos dos humanos, e você ainda acredita que é impossível? Veja com seus próprios olhos. — diz. — Ele está acordando.

Levantou um pouco sua cabeça, olhando para os dois meio-irmãos que indiferentes, mandavam olhares estranhos para ele.

— O que aconteceu? — sussurra fracamente.

— Não pode ser... — Lucius resmunga.

Kalyn ajoelha-se perto dele, colocando uma de suas mãos em seu ombro. Ela para de o olhar sereno, e em seus lábios, um sorriso gentil nasceu.

— O que não pode ser?

— Você é um semideus, Oliver.