Verdadeiro Merle Dixon escrita por roosivandro


Capítulo 3
A fagulha


Notas iniciais do capítulo

Estou tão tenso, tão frágil com as duas notícias que recebi, que qualquer mais outra coisa que altere meu humor me deixará a ponto de explodir.



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Parece um pesadelo que eu não consigo acordar. Escutar isso foi uma apunhalada no meu estômago já machucado pelos outros acontecimentos.

Nunca tive um diálogo com meu pai, quando ele falava comigo era pra dar broncas. Eu tinha medo dele, e ainda estava mal pela morte de minha mãe, por isso não o questionei.

O que eu faço agora? Estou enlouquecendo. Primeiro minha mãe é agredida, não aguenta e morre no parto, deixa uma criança para que cuidemos e no fim meu pai diz que não quer esse filho. Preciso me acalmar e colocar a cabeça no lugar, preciso pensar no que farei.

Sento-me no assento mais próximo, coloco minha cabeça para trás e penso. Penso em tudo, todas as possibilidades, tudo ao meu alcance. Minha família não vai poder me ajudar, avós mortos, tios que me negarão ajuda, pois com a pouca renda que possuem, meu irmão será mais um fardo enorme para eles. Penso no doutor, no que ele poderia me ajudar, então tenho a ideia de que ele possa levar meu irmão para morar com ele, pelo menos por um tempo, sei que isso é complicado, nem o conheço direito, mas preciso fazer isso, não tenho outra escolha. Levanto-me e saio correndo pelo hospital em busca do doutor.

Vou à recepção perguntar pelo doutor e vejo meu pai indo em direção a porta de saída.

"Como assim ele já está indo embora?" Digo para mim mesmo.

Eu já não aguentava mais ele me fazer sofrer, estava cansado, e isso foi a fagulha que precisava para acender o fogo da raiva em mim.

Lembro do que ele fez a minha mãe, do que ele está fazendo para mim e para Phil e me enfureço mais ainda de raiva. Sei que não questiono meu pai para nada, mas dessa vez eu estava com uma coragem de fogo.

Corro na sua direção e me coloco na frente dele, bloqueando o caminho.

"Aonde está indo?" Começo.

"Saia da minha frente! Não quero discutir na frente de todos." Diz ele me empurrando para o lado e liberado caminho para a porta.

"Você não pode ir e deixar Phill aqui?" Digo olhando ele se distanciando de mim.

"Posso e vou. E você vai não me impedir." Diz ele, chegando e colocando a mão na maçaneta da porta.

"Talvez eu não possa te impedir, mas eu não vou deixar meu irmão aqui." Digo com raiva e elevo o tom de voz a ponto de todos nos olharem espantados.

"Por que está fazendo tudo isso? Bateu na minha mãe e causou a morte dela. Negou um filho que não tem consciência de nada, não tem culpa de nada. Você é pai dele. Meu deus! Só quero saber por que disso tudo"? Extrapolo furioso.

Ele fica surpreso com a minha reação, mas logo responde.

"Sei que você tem todos os motivos para ficar com raiva de mim, sei que não temos uma boa relação de pai e filho, mas não posso ficar com aquele menino." Diz ele olhando para o chão e quase chorando.

"Cala a boca! Cala a sua porcaria de boca! Não chora, você não tem motivos para isso, eu tenho, você não." Digo com aquela minha raiva aumentando.

"Alice morreu por causa daquele moleque." Diz ele ficando com raiva e aumentando o tom da voz.

Todas as pessoas que estavam na recepção nos olham mais curiosos e espantados ainda, até o doutor Oliver que eu estava procurando está nos olhando.

"O que? Como assim? O que você tem na cabeça? Que merda que passa por essa coisa que você chama de cérebro?" Digo eu gritando e com raiva. "Você matou a mamãe. Você bateu nela. Você é o causador de tudo isso e está culpando uma criança de sei lá quantas horas de vida. Você é um assassino. Um louco. Um psicopata." Digo com tanta que nunca tive em toda a minha vida.

Ele fica com muita raiva e vem em minha direção pronto para me bater até sangrar.

Oliver sai correndo de onde está. Quando meu pai está quase ao meu alcance, Oliver pula nele e os dois vão ao chão.

Meu pai senta sobre ele e começa a bate-lo.

"Aah, de novo não." Oliver grita segurando os braços de meu pai.

Oliver inclina a cabeça para trás e levanta com tudo direto na cabeça de meu pai.

Meu pai fica desorientado, então Oliver que nem parecia mais ser um doutor o pega pela gola da blusa e o arrasta até a porta de saída e o joga no chão.

"Acho melhor você ir para casa e esfriar a cabeça. Vá embora, agora!." Oliver ordena gritando.

Meu pai me olha ainda tonto e depois se vira e vai embora.

Oliver se vira e ver que estou chutando e socando a parede que estava mais próxima de mim com toda a força que tinha.

Não tem espaço para nada em minha cabeça, só o puro ódio que estou sentindo de meu pai. Minha mão começa a sangra, mas não sinto dor alguma, só mais vontade de socar com toda a minha força aquela parede que agora parece ser meu maior inimigo.

Me canso. Paro de socar a parede por um instante. O ódio que estava ali, agora é angustia, medo e saudades de minha mãe, então começo a chorar. Dou uma cabeçada na parede e escorrego até o chão, fico de joelhos e apoio minha cabeça na parede olhando para o chão.

Oliver senta do meu lado e demora a falar.

"Sei que você está passando por uma fase difícil. Nenhuma pessoa merece passar por isso, ainda mais com a sua idade. Você precisa descansar e se acalmar. Já está anoitecendo, vamos procurar um quarto para você dormir? Amanhã com calma eu lhe ajudo a por tudo em ordem." Diz Oliver.

Continuo ali na mesma posição por um tempo até começar a sentir pontadas de dor em minha mão, então me levanto e sigo ele até uma sala com uma cama, um armário e um banheiro. Era pequeno, mas aconchegante.

"Ali está. Se precisar de alguma coisa e só pedir." Diz Oliver.

Vou no banheiro e olho um espelho do teto ao chão, me encaro no espelho e vejo um menino tão diferente de mim. Estou cheio de olheiras que meu olho parece estar tão fundo, meu rosto sujo, camisa suja com o sangue da minha mãe, um short velho e pés descalços.

Tiro minha roupa e vou para baixo do chuveiro. Vejo aquele sangue todo escorrendo pelo ralo e nesse momento me sinto inerte. Fico ali debaixo do chuveiro um bom tempo. Saio do banho e vou me vestir, abro o armário e vejo várias roupas, pego uma, visto e vou me deitar. Estou tão cansando que não demora muito para que eu durma em um sono profundo.


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Notas finais do capítulo

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