Era muito velha para brincar... escrita por Carolina Trindade


Capítulo 6
Capítulo 6


Notas iniciais do capítulo

Após 2 anos sem postar a continuação da história, estou de volta com a continuação dessa história "assustadora"...



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/456570/chapter/6

Dois dias se passaram desde que Rachel levara Natalie para morar em sua casa, mesmo que por pouco tempo. Na casa havia um quarto de hóspedes que nunca foi usado por uma alma viva, onde seu falecido marido guardava várias de suas tralhas.
  Arrumou o quarto para receber a menina, encontrou alguma brinquedos de quando era criança no sótão e os pôs em cima da cama.
   Natalie era uma menina muito tímida, quase não falava com ela, apenas alguns balanços de cabeça para dizer sim ou não.
   A menina pouco comia, dormia por um bom tempo e brincava com as bonecas em seu novo quarto temporário.
    Rachel aproveitou e pensou sobre o caso da menina. Desde o dia em que encontrara Natalie e seu pai na beira da rodovia com alguns machucados após o acidente e agora, John morto por algum serial killer psicopata e Natalie órfã. Rachel se lembrou de uma coisa: em ambos os casos John e Natalie citavam uma boneca-demoníaca como a causa dos incidentes. Uma boneca, por que não? Talvez porque bonecas fossem apenas bonecas. Simples brinquedos de meninas com vestidinhos cor-de-rosa e cabelos encaracolados. Talvez o pai e a menina sofressem de algum distúrbio mental ou algo do tipo, ela pensava.
  De qualquer modo, ela estava na investigação do caso, resolveu tentar extrair alguma informação da menina e foi falar com ela.
     - Olá, Natalie. Como está se sentindo hoje?- ela se ajoelhou ao lado da menina.
      Natalie nada disse, olhou para Rachel por um breve momento e voltou sua atenção para a Barbie de vestido vermelho no seu colo.
     - Bem, estava pensando que talvez pudessemos dar um passeio. No parque, talvez?- sugeriu para a menina.
     - Gosto dos cavalos do carrossel. - disse a menina ainda focada na boneca.
     - Podemos ir depois do almoço então, está quase pronto, você gosta de batata-frita?
     A menina balançou a cabeça positivamente, Rachel se levantou.
    -Ótimo! Vou verificar o arroz, já te chamo.

    Durante o almoço Rachel encarou a menina enquanto cutucava algumas batatas-fritas e as punha na boca timidamente. Resolveu tentar algo:
    - Então Natalie, como você e seu pai chegaram na rodovia aquele dia? Estavam passeando?
     - Fugindo. - sussurrou a menina.
     - Fugindo? De quem? - perguntou Rachel.
     - Mary-Lynette, a boneca. -respondeu Natalie.
     - A mesma que estava no hospital?
     Natalie balançou a cabeça confirmando.
     - Como ela era? - perguntou Rachel, talvez chegasse em algo com essas perguntas.
     - Ela era como eu, um pouco menor, ela me contava histórias e fazia biscoitos. - lembrou a menina.
      - Você gosta de histórias? Posso contar algumas, se quiser. - sugeriu Rachel. - Que tipo de histórias ela contava?
      - Ela me disse que morava em Londres, que seu pai era um rei, ela era uma princesa e tinha muitos vestidos bonitos. - respondeu Natalie.
      - Uma princesa? Que legal! Como ela chegou até você?
      - Tia Marie me deu como presente e fomos brincar de esconde-esconde.
      - Hm, sua tia? Onde ela está? Os policiais disseram que você não tinha familiares para contatar, talvez pudéssemos te levar até ela. - Rachel estava bem confusa com aquilo tudo, mas preferiu continuar.
     - Tia Marie... Morreu.- disse a menina em tom melancólico.
     - Oh, meus pêsames, querida. - lamentou-se.
     - Ela era legal, me deu bolinhos de chocolate.
       A conversa estava desviando do foco, Rachel voltou a perguntar sobre a boneca. Natalie disse algumas coisas, ela disse que era seu brinquedo favorito, mas estava chateada com a boneca pelo que fez a seu pai.
      Rachel achou aquilo tudo estranho, quase chegava a acreditar na história, mas se lembrou que se tratava de uma boneca psicopata, então voltou a si. Rachel perguntou a Natalie sobre sua vida na fazenda, a menina respondeu algumas perguntas no mesmo tom triste desde que saíra do hospital. Passou por muita coisa naquelas últimas semana, a morte da tia, um acidente de carro, e agora, órfã.
     Foram ao parque como havia prometido à menina. Foram no carrossel e ao lago alimentar os patos que ali havia. Voltaram para casa no final da tarde. Rachel ligou a TV no canal de notícias. O mesmo de sempre: acidentes de carro, gangues locais, tráficos e assassinatos. Mudou de canal à procura de programas infantis para a pequena Natalie. Por fim, encontro o Discovery Kids e lá deixou. A menina encarava a tela brilhante da televisão com a mesma expressão que tinha desde que chegou. Uma expressão quase vazia, na verdade. Talvez triste. Rachel não sabia o que se passava na cabeça da menina, afinal.
        Por volta das oito horas da noite, Natalie já estava adormecida no sofá. Rachel se levantou para levar a menina para a cama. A TV começou a chiar, Rachel a desligou pelo controle remoto. Pegou a menina no colo e se pôs a caminho do quarto.
      Colocou a menina na cama cuidadosamente e a cobriu. Desligou as luzes e fechou a porta. No corredor ouviu mais chiados vindos da TV. Jurava ter desligado. Pegou o controle e apertou o botão vermelho, a tela ficou preta. Começou a andar em direção à cozinha, mais chiados.
   - Deve estar com problemas, maldita Toshiba.- xingou a televisão antiga e a desligou pela tomada. Foi até a cozinha e pegou um copo de água. Mais chiados. Voltou à sala, a tela estava acesa sem sinal, mas o cabo de força não estava ligado à tomada. Rachel se assustou.
     - O que diabos é isso? - se perguntou.
    Ouviu batidas na porta. Foi até lá e olhou pelo olho-mágico, mas não havia ninguém. Conferiu as trancas e foi para seu quarto. Ouviu mais batidas na porta.
   - Devo estar imaginando coisas, nada que uma bom banho quente não resolva.
    Despiu-se já no banheiro, ligou o chuveiro e mergulhou na água morna que caía como cascata. Por um breve momento pensou ter visto algo no espelho.
     -Não é nada.- pensou.
   Havia fumaça da água quente do chuveiro por todo o banheiro, abriu a porta para que a fumaça saísse. Virou-se paro espelho e se espantou. Havia algo escrito na liquefação da fumaça: Você é muito velha para brincar. Rachel saiu do banheiro sem saber em que pensar. Se vestiu às pressas e foi até a cozinha procurar um remédio para a enxaqueca. Antes de chegar lá copos caíram e se quebraram.
    - Natalie! - foi correndo até o quarto da menina. Entrou e trancou a porta atrás de si.
     A menina ainda dormia, tinha um sono pesado pelo visto, ou as coisas a acontecer eram fruto da imaginação de Rachel.
     Após alguns minutos, Rachel continuava lá sentada. De repente, ouviu passos no corredor.
    - Não é nada, se acalme. - disse para si mesma.
    Mais passos.
    Estavam vindo em direção ao quarto.
    - Quem está aí? - gritou Rachel para a porta.
    Ninguém respondeu. Por sorte, Natalie não acordou com o grito.
      Os passos pararam. Rachel pensou ter ouvido a respiração de alguém por trás da porta.
    Com cuidado, tirou a chave da porta e olhou pelo buraco da fechadura. Não havia nada, só escuridão no corredor.
    Quase caiu para trás quando algo bateu na porta. E então começou a bater freneticamente. Rachel então pôde ouvir o que quer que fosse atrás da porta dizer:
     - ABRA A PORTA! ME DEVOLVA A MINHA MENINA! VOCÊ É MUITO VELHA PARA BRINCAR!!
     Num surto de adrenalina e medo Rachel acordou Natalie e procurou por coisas afiadas pelo quarto. Encontrou uma garrafa de vidro e a quebrou de modo que pudesse perfurar o que estava por trás da porta.
      A menina se encolheu no canto da cama em silêncio. Tudo ficou em silêncio. Sem batidas. Sem vozes. Rachel só ouvia o som de sua respiração e a de Natalie. A porta se abriu...
      No parapeito viu a silhueta de uma criança que deu um passo para dentro do quarto e então Rachel pode ver a verdade com a ajuda da luz do quarto.
     O rosto de cerâmica da boneca chegava a brilhar com o reflexo da luz. Seus olhos encaravam Rachel de forma assustadora. E então tudo ficou confuso.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Era muito velha para brincar..." morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.