Abrindo os Olhos de Mário Calderón escrita por Wanda Filocreao


Capítulo 11
Capítulo 11


Notas iniciais do capítulo

Ola pessoal estou postando o capítulo 11 da fanfic. Espero que gostem e se possível comentem.



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Mario olha as horas no seu relógio de pulso, são precisamente 19 horas.

“Bem está na hora de sair. – pensa ansioso -Não quero chegar atrasado ao me encontro com o Geraldo em sua casa.”

Pega a chave do automóvel que estava sobre a mesa e a sacolinha com o livro e sai de seu apartamento.

Ao chegar a portaria encontra Wagner, o porteiro, como sempre atento a tudo e a todos os que passam por lá.

–Boa noite seu Mario! Vai sair agora à noite? – pergunta o bisbilhoteiro porteiro.

–Boa noite seu Wagner! – cumprimenta-o Mario e sem perder a linha acrescenta - Vou sim, por que não posso? O senhor se incomoda?

Seu Wagner fica todo sem graça,engolindo em seco, mas logo se recupera e lhe diz:

–Que é isso seu Mario! Claro que pode! Eu não tenho nada que me incomodar! Apenas gosto de saber tudo o que acontece por aqui. Pois creio que esta é a minha função, ou não é?

– Sim. Eu sei muito bem qual é a sua função. – fala Mario achando a resposta dele muito petulante - Bem em todo caso passar bem, tenho que ir.

– Aproveite bem a sua noite seu Mario. Vai voltar com alguma daquelas gatas que sempre traz aqui no seu apartamento? – pergunta sorrindo o atrevido porteiro.

–Vou sim seu Wagner. – fala Mario inconformado com a sua audácia - E vou trazer uma gata bem selvagem para arrancar fora esta sua grande língua de fofoqueiro. - acrescenta furioso.

E antes que o porteiro fale mais algum impropério, Mario sai rapidamente deixando-o de boca aberta.

“Mas que homem inoportuno! Quer saber de tudo da minha vida! Que atrevido!”- segue nervoso até chegar ao seu veículo.

“Bem Mario vamos ao que é mais importante. O encontro de hoje a noite. – reflete tentando se acalmar depois de presenciar a displicência de seu Wagner – Deixe-me verificar o endereço – pega o cartão em sua carteira e lê atentamente: Rua dos Girassóis. Hum... parece que conheço esta rua. Mas claro! Ela fica perto do prédio onde mora Armando Mendoza! Mais esta agora! Nunca vou ficar livre deste martírio? Tomara que não o veja pelo caminho. Ia ser demais da conta encontrá-lo! Iria estragar a minha noite!”

Dirige o carro até o endereço e em quinze minutos já está no local.

Para o carro defronte a um lindo e sofisticado sobrado azul com janelas brancas.

Repara que todas as luzes da casa estão acesas.

“ Devem estar esperando por mim.”- pensa, sentindo um friozinho na barriga.

Olha novamente no relógio de pulso. São 19h30. Bem no horário que haviam combinado.

Mario desce do carro, se dirige até o portão da casa e decidido aperta o botão da campainha.

Ao escutar o suave "ding-dong" da campainha, outros sons se juntam a esse: um cão latindo e o barulho da porta se abrindo.

Logo vê um garotinho loirinho de cabelos encaracolados e de olhos azuis correndo em sua direção.

– O senhor é o seu Mario? – pergunta-lhe o menino, ofegante com o esforço feito pela corrida.

– Sou eu sim. – responde-lhe Mario.

Não houve tempo de Mario falar mais nada, pois o garotinho começa a gritar a plenos pulmões, olhando em direção à casa:

–Papai! Papai o seu amigo já chegou!

Mario fica sem ação e ao mesmo tempo achando graça daquela manifestação de entusiasmo.

Logo em seguida chega Geraldo ao portão com o seu fiel cão guia, o Homero.

–Boa noite Mario. - fala o deficiente gentil e sorridente, abrindo-lhe o portão e estendendo-lhe a mão em cumprimento - Vamos entrando, por favor. Vejo que já conheceu o meu filho.

– Boa noite Geraldo. – retribui Mario ao cumprimento -Já tive o prazer de conhecê-lo,sim meu amigo. Só falta saber o seu nome meu rapaz. - fala Mario dando a mão agora ao garotinho para cumprimentá-lo.

– O meu nome é Geraldinho - fala o esperto garotinho apertando-lhe a mão - mas pode me chamar de Dinho, como todos meus amigos me chamam.

–Bem apresentações feitas, vamos entrando, Mario, seja muito bem vindo ao meu lar. - diz Geraldo com simpatia.

Mario já se sentiu feliz ao ser acolhido com aquela alegre recepção.

Assim que entra na sala uma mulher vem cumprimentá-lo toda sorridente.

Geraldo faz as apresentações:

–Mario esta é a Simone, a minha esposa.

–Muito prazer, Mario Calderón.- fala estendendo sua mão a mulher.

–Muito prazer sou Simone, a feliz esposa do Geraldo – responde ela olhando para o esposo com carinho, depois notando a carinha de ansiedade de seu filho acrescenta- Ah! E também a mãe mais feliz do mundo de Dinho este garotinho aqui, muito sapeca.

Todos riem e Mario repara naquela mulher.

Não era uma daquelas 60, 90,60 que ele e Armando Mendoza estavam acostumados a lidar diariamente. Pelo contrário Simone era bem gordinha, vamos dizer sinceramente, acima do peso. Tinha os mesmos belos olhos azuis de seu filho, era loira com os cabelos encaracolados que iam até sobre seus ombros. Ela era muito bonita e Mario ficou encantado também com a simpatia e o carinho de Simone o que a tornava uma mulher muito interessante.

–Meu amor, sirva algo para o Mario enquanto eu termino de arrumar a mesa. – fala Simone carinhosamente ao marido e depois olhando para Mario lhe diz com um lindo e simpático sorriso:

–Creio que não terá que esperar muito. O jantar será logo servido. Fique a vontade. Com licença -e acrescenta ao garoto- Venha Dinho venha me ajudar com os talheres.

Dinho segue a sua mãe feliz pois se sente importante em poder ajudá-la.

–Bem Mario o que você deseja tomar? – pergunta-lhe Geraldo – Temos aqui uísque, vinho e vodka.

–Aceito um copo de uísque com gelo, por favor. – diz Mario curioso em saber como Geraldo vai realizar esta tarefa.

Geraldo levanta-se naturalmente e vai até o barzinho com as bebidas. Pega dois copos, e em cada um coloca duas pedras de gelo, que pega em um pequeno balde de gelo que está do lado das bebidas, faz tudo com presteza, mostrando seu conhecimento exato sobre a localização dos objetos, em seguida tateia algumas garrafas de bebidas e com precisão pega a garrafa de uísque e coloca algumas doses nos copos.

Depois vira-se com um dos copos e o estende para Mario, que pega-o e logo Geraldo apanha seu copo e se senta no sofá ao lado do amigo que já está lá instalado observando-o admirado.

–Nossa! Como você consegue fazer tudo isso? Sem enxergar? – Pergunta-lhe Mario.

Geraldo lhe sorri com simpatia, bebe um pouco do uísque e lhe fala calmamente:

–É o hábito, a prática meu amigo. Já sei onde as coisas estão posicionadas e para mim se torna uma tarefa fácil.

–Puxa, mas eu fiquei surpreso! Outro dia em minha casa fechei os olhos e tentei andar pela sala. Foi um estrago só! Bati em todos os móveis, derrubei a cadeira e tropecei no sofá. Foi hilário! - fala Mario rindo ao lembrar-se daquela proeza.

Geraldo também ri de seu relato e lhe diz:

–Logo que perdi a visão, ainda menino, tropeçava e esbarrava em tudo que tinha pela frente, mas aos poucos fui notando que tinha que parar para ouvir mais e tatear os objetos e tudo o que estava em meu caminho. Fui aprendendo a contorná-los e mais que tudo, aprendendo a ter calma. E com isso fui memorizando, me dando conta de tudo ao meu redor. É uma questão de querer aprender e ter muita paciência.

Mario balança a cabeça concordando:

– Tem toda razão, só obtemos sucesso se tivermos boa disposição em aprender e perseverança.

Logo chega Simone e Dinho anunciando que o jantar estava na mesa.

Mario e Geraldo se levantam e o cão guia também.

Chegam até a sala de jantar que é conjugada à sala de estar.

Mario repara que tudo na casa foi decorado com muito bom gosto.

A mesa está posta pra quatro pessoas. Geraldo gentilmente indica um lugar ao seu lado direito para que Mario sente e depois senta-se a cabeceira da mesa, Dinho senta-se do seu lado esquerdo e Simone em frente ao marido e Homero se contenta em se deitar no chão ao lado do amigo.

Reparando nos pratos sobre a mesa Mario pensa todo feliz:

“Quanta coisa gostosa! Tem tudo de que mais gosto!”

Sobre a mesa havia uma linda torta de frango com legumes, uma salada de alface e tomates cereja, arroz branco, feijão e uma enorme jarra com suco de amora, o preferido de Geraldo.

–Pode se servir Mario. – fala Simone gentilmente.

Mario agradece e se serve com tudo o que tinha na mesa. Estava mesmo morrendo de fome e aquela comida tinha um cheirinho muito bom!

Depois Simone serve o marido, o filho e por fim faz o seu prato.

Quando todos estão servidos, antes de começarem a comer, Simone fala ao marido:

–Querido, vamos agradecer a Deus pela refeição?

Geraldo concorda imediatamente:

–Vamos sim meu amor.

–Mario – diz Geraldo aqui em casa estamos acostumados a fazer um agradecimento a Deus pelo alimento, você se importa? Gostaria de participar conosco?

Mario balança a cabeça afirmativamente e lhe diz:

–Claro, meu amigo, tudo bem eu participo com vocês.

Geraldo sorri e começa a oração:

–Senhor Nosso Deus, agradecemos por ter nos abençoado neste dia e pedimos que abençoe este alimento que Tu preparaste para nós. Que nunca falte o alimento em nossa mesa e que também nunca falte a fé em nossos corações que é o nosso alimento espiritual. Abençoe a todos nós e ao nosso mais novo amigo, o Mario. Que o abençoe sempre. Amém.

Todos selam esta pequena oração com um Amém.

Mario fica maravilhado. Nunca tinha presenciado uma oração tão bonita e feita com tanta sinceridade.

Gostou também da ordem e da harmonia que podia perceber em todos ali.

O pequeno Dinho ficou o tempo todo com os olhinhos fechados e a cabecinha abaixada, como pode observar de esguelha.

“Achei muito bonita a união desta família!” – reflete enquanto pega um pedaço de torta e começa a mastigar.

“Hum! Que delícia! A esposa de Geraldo cozinha muito bem mesmo! E olha o Dinho! Como come bem este garoto! Não liga se são verduras ou legumes! Por isso é tão coradinho como a mãe!”- observa Mario atento a tudo.

Todos à mesa conversam de assuntos agradáveis: Geraldo fala do seu trabalho no escritório de advocacia, Simone também fala do seu trabalho e Dinho fala sobre o seu dia no colégio.

–Mario sabia que a minha Simone trabalha em casa? Adivinha o que ela faz, e o faz muito bem?

Mario fica em dúvida, mas logo vem uma ideia em sua mente e diz:

–Ela cozinha? Faz pratos sob encomenda?

–Acertou em cheio! – fala o deficiente- Minha esposa cozinha muito bem, como pode notar, e sempre tem encomendas de doces e salgados, para festas de aniversário, recepções, casamentos. Ela está sempre atarefada, fazendo quitutes deliciosos.- e acrescenta pegando na mão de sua Simone:

–E eu sou muito grato a Deus por tê-la colocado em meu caminho.

Simone logo fica corada e embaraçada.

–E como foi que vocês se conheceram? – pergunta Mario curioso.

Geraldo sorri e como se voltasse ao passado começa o seu relato:

–Eu ia sempre a uma lanchonete no centro de Bogotá, após as aulas na faculdade. Ia sempre com uma turma de amigos, todos alegres e brincalhões. – recorda-se Geraldo, voltando a alguns anos atrás – Certo dia um colega querendo fazer uma brincadeira, cochichou em meu ouvido que tinha uma garçonete que não parava de me olhar, e achava que ela estava apaixonada por mim.

Mario olha para Simone, que continua calada, mas com um sorriso nos lábios, escutando o relato do marido. Dinho que já conhecia esta história sorri também.

–Eu fiquei admirado mas ao mesmo tempo incrédulo, pois sabia que eles deviam estar de gozação comigo. - continua Geraldo - Então eles chamaram a garçonete como se fossem fazer um pedido. Assim que ela chegou me cochicharam novamente ao ouvido: “Ela chegou, fale com ela.” Fiquei super acanhado, mas não queria demonstrar isso perante eles e perguntei a moça meio sem jeito: “ Aqui tem torta de maçã?”- Foi uma algazarra só! Meus amigos não paravam de rir, pois pensavam que eu ia fazer uma pergunta pessoal a ela, tipo assim:”Qual é o seu nome?” ou então “A que horas você sai do trabalho?”

– E o que aconteceu então? – pergunta Mario com um sorriso nos lábios.

–Ela a princípio ficou sem nada entender o motivo deles rirem sem parar, mas disse que tinha e trouxe um pedaço de torta de maçã para mim. - continua Geraldo.

–E o que aconteceu depois? – quer saber Mario já curiosíssimo.

– Bem eu comi a torta que estava uma delícia. E fiquei sabendo que era ela quem havia feito a torta, era uma receita que ela aprendera com sua avó. E toda vez que eu entrava na lanchonete ela vinha me atender e me perguntar se eu queria torta de maçã. E foi assim que eu e a Simone nos conhecemos em meio a vários pedaços de torta de maçã. - fala Geraldo rindo, acompanhado por Simone.

– E adivinha a sobremesa preferida nossa?- pergunta Simone a Mario.

–Torta de maçã! – fala Mario sem pestanejar.

–E por falar nisso vou buscar a sobremesa, que é....

E os três homens à mesa completam:

–Torta de maçã!

Foi uma risada geral.

E Mario pode comprovar que era mesmo deliciosa, a tal torta de maçã.

Depois que todos terminam a refeição, Dinho pergunta ao pai:

–Papai, você perguntou ao Mario se ele trouxe o livro que você comprou para mim?

–É mesmo! – fala Mario- eu trouxe sim, preciso pegar lá no carro.Você quer vir comigo? – pergunta ao garotinho.

–Posso papai? – pergunta o menino olhando ao seu pai.

–Claro que sim Dinho. Pode ir com o Mario buscar o livro. - diz o deficiente.

Assim que Mario e Dinho saem, Geraldo fala a esposa:

–Querida, assim que eles voltarem você poderia ir com o Dinho até o quarto e ler a história para ele? Pois preciso conversar a sós com o Mario.

Simone toca carinhosamente o braço do marido e o beija, concordando imediatamente:

–Claro que sim meu amor. Só vou acabar de tirar a mesa e subo logo em seguida com o Dinho.

Assim que Mario retorna com o garoto, Simone fala:

–Dinho dê boa noite ao Mario que a mamãe vai subir para o seu quarto e ler a história para você.

Dinho curioso em saber a história tão comentada naquele dia obedece imediatamente e se despede do convidado.

–Boa noite Mario! E obrigado por ter trazido o livro do “Pinochio”- fala o garoto estendendo a sua mãozinha a ele em cumprimento.

Mario retribui ao cumprimento encantado com a sua educação.

Simone também se despede de Mario e lhe diz com simpatia:

–Boa Noite Mario, foi um prazer recebê-lo aqui em nossa casa. Sempre que quiser vir, será muito bem vindo.

–Obrigado a você Simone e a você Geraldo por me receberem tão bem. Sou muito grato.

–Vem mamãe! Mal posso esperar para que você me leia a história do menino de madeira narigudo. - fala Dinho ingenuamente.

Todos riem achando graça do que o garoto disse.

Assim que Simone e Dinho sobem, Geraldo senta-se no sofá da sala e diz ao seu amigo:

–Mario sente-se aqui do meu lado. Creio que você gostaria de conversar comigo sobre a sua vida.

Mario meio sem jeito obedece e senta-se do lado do amigo.

Não sabe por onde começar a relatar o seu passado.

E um silencio sepulcral apodera-se do ambiente.


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Notas finais do capítulo

Aguardem os próximos capítulos.



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