Tourette escrita por B Mar
Cap 2
Katniss PDV:
A grande vantagem de viajar com Peter era o fato de que o carro nunca ficaria em silêncio.
Talvez por alguns três ou quatro minutos, mas ele sempre soltava palavras e sons, que brincávamos de tentar adivinhar o que ele havia dito ou “imitado”.
– Era um cachorro?
– Mãe, você sempre diz que é um cachorro. – Reclamou.
– Bom... Sempre me parece um cachorro.
Ele riu.
– Ei ei ei. – Ele bateu com sua mão na testa seguidas vezes.
Às vezes ele dizia Tourette.
(...)
– Katniss. – Gale me chamou e cocei os olhos. – Você dormiu.
– Desculpe.
Meu marido sorriu.
– Olhe só pra ele. – Apontou para Peter. – Sempre que ele dorme, os tiques somem.
– Bom, o cérebro dele relaxa. – Expliquei olhando para trás. – Vamos acordá-lo?
– Eu posso carregá-lo. – Ele estacionou. – Você pode fazer o check-in?
Havíamos decidido ficar num hotel enquanto a casa era arrumada. Sempre que resolvíamos algum assunto, deixávamos claro o assunto da Tourette de Peter, para não causar problemas.
– Katniss Everdeen Hawthorne, Gale Hawthorne e Peter Everdeen Hawthorne. – Entreguei as identidades.
Pegamos o quarto que mais se “parecia” com um apartamento. Uma sala, um banheiro, suíte, quarto e cozinha.
Gale abraçou minha cintura e beijou minha bochecha.
– Como está sobre a matrícula do Peter?
– Eu já conversei com a diretora e ele começa na segunda-feira.
Ele encostou a cabeça em meu ombro.
– Acha que ele vai se dar bem lá? Eu sei que você estudou lá pela vida toda, mas... Sabe?
– Eu tinha um amigo na escola cujo pai tinha Tourette. – Contei. – Nós perdemos contato, mas eu nunca me esqueci de uma coisa que aconteceu.
– O que?
– Eles tentaram colocá-lo para fora. – Continuei. – E eles foram processados. E se adequaram.
Gale ficou um pouco mais em silêncio.
– Acha que com um aluno será diferente?
Lhe olhei e dei de ombros.
– Acho que será melhor. E Prim é advogada familiar, eu posso processá-los em poucos minutos.
Ele riu.
– Você é bem prática.
Dei de ombros e me distanciei um pouco.
– Está ficando tarde. – Olhei pela janela.
– 22h. – Ele olhou no relógio e beijou meu pescoço. – Quer brincar?
– Gale, o Peter. – Resmunguei.
– Peter está em outro quarto. – Lembrou.
Revirei os olhos e ele acariciou meu braço.
– Catnip... – Sussurrou novamente.
– Hum?
– Vem brincar.
(...)
– Está linda. – Gale olhou em volta. – Você está de parabéns.
Sorri timidamente enquanto observava a sala da nossa nova casa.
Havíamos terminado a mudança e Peter começaria na escola no dia seguinte, ele estava no quarto, vendo se havia gostado de como as coisas estavam.
– Papai. Papai. Papai. – Ouvi e nos viramos com pressa. – Eu mal posso acreditar, obrigado.
Ele abraçou Gale e meu marido riu.
– O que eu perdi?
– Ele me deu o melhor presente do mundo. – Meu filho afirmou.
– O melhor presente do mundo?
– O melhor. – Enfatizou, seguido de um tique.
– É a nova versão livro que o meu pai me deu quando eu era criança. É apenas uma enciclopédia.
– Não é só uma enciclopédia. É A enciclopédia. - Peter veio para meu lado. – Era o que eu mais queria.
Sorri surpresa. Era um presente tão simples.
– Quando eu estava no orfanato, eles tinham uma enciclopédia menor que essa, mas só os meninos grandes podiam pegar.
– Bom, agora você tem uma só pra você. – Gale bagunçou seu cabelo.
– Obrigado, pai. – Se lançou contra Gale.
Meu marido o abraçou de volta e acariciei seu rosto.
Peter era brilhante.
Gale PDV:
– Aqui estamos nós. – Parei no estacionamento. – Ansioso?
– Eu deveria? – Deu de ombros.
– Sua mãe estudou aqui, sabia? Por toda a vida dela. Alguns professores ainda estão aí. – Respirei fundo e peguei sua mochila.- Vamos?
– Papai, eu já sou grande. – Ele protestou. – Eu posso ir para a sala sem o senhor.
– É mesmo? – Arqueei uma das sobrancelhas. – Bom, pode ir.
Ele me olhou com surpresa.
– Não vai pedir para ir comigo?
– Eu deveria?
Peter provavelmente esperava que eu protestasse e dissesse que iria com ele.
– Bom, você provavelmente gostaria de me levar até a sala, porque eu sou seu único filho e hoje é meu primeiro dia. É uma convenção.
Franzi os olhos para ele.
– Bom, então eu vou com você.
– Tudo bem, então.
Ele saiu do carro e segui, um pouco confuso, atrás.
Corri um pouco e tomei sua mão.
A sala já estava fechada e cheia, e os alunos não estavam nos corredores.
Bati à porta e a professora, uma mulher de 22 ou 23 anos, olhou em minha direção e veio abrir a porta.
– Peter Everdeen Hawthorne. – Avisei.
– Irmão?
– Pai. – Corrigi e meu filho acenou para mim.
– Tchau pai.
Acenei para meu filho e a professora fechou a porta, pondo-o na frente da turma.
Não pude ouvir, mas tenho certeza que ela o fez se apresentar para a classe. E que ele estava tendo tiques.
Sorri e saí, me batendo com alguém no meio do caminho para a saída.
– Desculpe. – Me abaixei para pegar o livro.
– Está tudo bem.
Eu conheço essa voz.
– Peeta? Peeta Mellark?
– Gale Hawthorne. – Meu amigo se surpreendeu.
– O que está fazendo aqui?
– O que você está fazendo aqui. – Rebateu.
– Eu vim trazer o meu filho.
Peeta abriu a boca em surpresa.
– Não...
– Pois é. Casei, cara. – Apontei a aliança. - Tô amarradão.
– É a morena que você me falou?
– Essa mesma. 6 anos e meio, e caminhando.
Ele sorriu.
– Minha nossa. – Riu. – Gale, cara... Nossa.
Peeta e eu nos conhecemos no meio da guerra do Iraque, e viramos melhores amigos pelos anos seguintes. Alguns anos atrás eu me mudei com Katniss, então nos distanciamos um pouco, mas Peeta continuava sendo como um irmão pra mim.
– É um garoto? – Perguntou.
– Sim. Olhos claros, cabelo escuro... É alto para a idade, confesso. Te apresento quando puder.
Peguei seu número de telefone e dei o meu.
– Onde está trabalhando? – Indaguei.
– Aqui mesmo. Professor de história da galera mais velha. E você?
– Bombeiro. – Sorri.
– Vai lá, homem de fogo, minha turma está me esperando.
Nos abraçamos e ele correu, mancando, até o outro corredor.
Corri para a saída e entrei no carro. Meu novo turno era em 10 minutos.
Continua...
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