Sophia

Lar doce lar.

A porta range logo que a abro, empurrando-a com certo receio do que vou encontrar. O silêncio impregna o lugar conforme avanço passo ante passo, meu uniforme não sendo suficiente para aplacar o frio.

Então meus olhos fixam-se na sala de estar, onde uma figura está cuidadosamente aprumada no sofá tragando um cigarro e mantendo as pernas cruzadas.

Ao contrário das roupas folgadas e o cabelo esbranquiçado, ela conserva cabelos loiros em channel, um vestido preto com meia-calça e saltos.

— Pensei que não viesse — diz minha avó (ou a mulher que me fez acreditar nisso durante os anos). — Mas os porquinhos sempre voltam ao matadouro...

— Por quê? — questiono com a voz fraca sentindo minhas mãos cada vez mais frias. — Por que me enganou por todo esse tempo? Eu acreditei que você fizesse parte da minha vida! Eu nem sei quem você é de verdade!

As lágrimas ameaçam rolar por minhas bochechas, mas consigo segurá-las. Não vou chorar na frente dela.

— Por que não se senta? — Ela expele a fumaça do cigarro pelo canto da boca. Exibe um sorriso carregado de pretensões, contudo, acabo aceitando sua oferta e me sento em frente a ela. O desejo de saber a verdade é~maior que qualquer coisa. — Meu nome verdadeiro é Emmeline Vaunce. Sou parte de um clã antigo de bruxas que perdura por séculos, entretanto estando à beira da extinção nos dias de hoje.

“Meu objetivo desde o princípio foi trazer a raça ao topo. Os seres humanos não compreendem o que não veem e isso se torna extremamente frustrante. Era necessário que alguém fizesse algo.

— Então você começou a ressuscitar os vilões? — pergunto completamente trêmula.

Emmeline ri, meneando a cabeça em negativa.

— Não. A morte não aceita um corpo envelhecido. E para concluir a magia eu precisava de três corpos femininos jovens que contivessem um sentimento de pura raiva. Articulei um bom plano com o conhecimento que tinha e localizei as almas que seriam capazes de hospedar tal poder — Ela traga mais um pouco de seu cigarro. — E minha surpresa ao encontrar as três almas ainda dentro do ventre de suas mães... Roubá-las seria fácil.

Minhas mãos começam a suar diante do rumo da história. Emmeline não parece nem um pouco abalada.

— A primeira foi Lexi Riddle no começo daquele ano. Ela nasceu antes de sua mãe ser morta pelo próprio pai da criança, tsc tsc. Batman foi cruel.

Meus olhos se arregalam diante das palavras dela. Lexi filha do Batman? Lexi envolvida nisso?

— A outra foi Clarissa Wayne, no final daquele ano — Ela expele mais fumaça, balançando sua perna. — No mesmo dia em que a mãe da Lexi morreu e Batman foi bancar o herói... Selina Kile parecia sozinha com a bolsa estourada. Eu apareci. Tirei os dois filhos de dentro dela e praticamente joguei Charlie na porta da casa do Alfred como um ato de vingança aos Wayne. Certamente pensei que Bruce tinha morrido e que Selina fugiria. Levei a bebê Clarissa até um orfanato onde ela sofrera muito e desenvolveria os sentimentos ruins necessários.

Emmeline para por um segundo, fitando-me.

— E a terceira foi você. Antes mesmo da Clarissa nascer. Me infiltrei no hospital e fiz o seu parto. Fiz todos os médicos adormecerem e levei você. Para qualquer entendedor você nasceu morta — diz a bruxa friamente.

— E depois? O que fez? — questiono ansiosa.

— Criei você e fiz o treinamento em Lexi durante a infância dela. O ódio era evidente nela desde cedo e ajudou-a a desenvolver poderes extraordinários. Clarissa foi um caso bem sucedido. Um furacão carregado de raiva e amargura disposta a destruir qualquer um em seu caminho. Agora você — um tom de decepção percorreu suas palavras. — Você não desenvolveu o ódio. Você simplesmente desenvolveu a tristeza. Nem mesmo com a doença de uma avó e o tratamento terrível da escola fez você sentir ódio.

Reflito suas palavras.

— Isso significa que seus planos foram afetados — digo com firmeza.

A bruxa se levanta, alisando a barra de seu vestido.

— Não exatamente. Lexi recebeu a morte por completo e está no controle da situação — Emmeline sorri. — Agora você irá se render juntamente da Clarissa. Não existe vitória para vocês duas.

Semicerro os olhos medindo a situação cuidadosamente.

— Nos rendermos? — pergunto com um sorriso surgindo em meus lábios. — Você tem medo que a Clarissa e eu ativemos nossos poderes que você implantou. Tem medo que nos voltemos contra Lexi.

Emmeline gargalha abertamente.

— Vocês? Ativarem seus poderes? Não me preocuparia com essa besteira. Vocês estão como ratos em um labirinto buscando alguma saída. Mas não vão conseguir — Ela cruza os braços sorrindo.

Um urro do lado de fora me sobressalta de imediato.

— Ahhh... O bichinho quer matar — a bruxa fala com falso carinho.

Esse urro pertence ao... A parede desaba e um vulto verde surge diante de meus olhos. Crio um escudo, mas com a rapidez do ataque o murro do Hulk me acerta em cheio, fazendo meu corpo atravessar a janela.

Uma mistura de dor, vidro quebrado e poeira cobrem meus sentidos antes que eu me choque com o barro dos jardins.

Hulk urra mais uma vez, deixando a casa que estremece com toda sua brutalidade. Ele me vê e tenho cerca de meio segundo para me tornar invisível. Sua face exibe total confusão diante do meu súbito desaparecimento.

Consigo escapar de seu poder de ataque tentando ser o mais silenciosa possível. Hulk urra novamente, perdido em sua raiva. Um mero boneco nas mãos de Emmeline, como Clarissa, Lexi e eu.

O barulho atrai minha atenção conforme me distancio do Hulk perdida em lágrimas. Uma picape 4x4 tocando algum heavy metal cruza a estrada sem dificuldade, se aproximando cada vez mais...

E no comando está Clary, com Simon no banco de carona, e Zack e Stella atrás. É impossível não sorrir ao vê-los.