Simon

É assustadora a ideia de ter uma vida completamente falsa. De ser algo que nunca fui. Eu matei o meu pai. Eu matei ele... Ou será que isso é uma farsa também? Eu matei a minha mãe com um carro. Ou será que foi uma ilusão?

Eu sou um clone. Um clone que foi desenvolvido para liderar e ser comandado pela S.H.I.E.L.D. Está claro. É óbvio.

A S.H.I.E.L.D me enganou todo esse tempo. Enganou a todos nós. Nos fez de idiotas. E por causa dela estamos aqui. Ela desenvolveu isso. Ela articulou cada peça para que nos tornássemos heróis, seus escravos que limpariam a maior parte da sujeira e poderiam ser descartáveis depois.

Sinto a raiva me consumir durante o trajeto até o subterrâneo. Guardar todas as amarguras... Tudo. Eu matei o meu pai. Eu matei o meu pai. Por causa dessa droga de poder.

Eu matei o meu pai... E a minha mãe também...

— Simon — Sophia coloca a mão sobre meu ombro, despertando-me de meus pensamentos. — Você não vai?

A passagem para o subterrâneo está diante dos meus olhos. Stella havia retirado à placa de metal que a encobria.

Passo o corpo de Ashley para Zack, que já se encontra lá embaixo e pulo em seguida. Minha mente dói por tantas informações a serem assimiladas e reflexões que eu faço. Sophia pula logo depois de mim, com um ar esperançoso.

— Podemos conseguir Simon — Ela morde o lábio inferior inocentemente, segurando minha mão.

Tento seguir o seu espírito harmonioso, mas não consigo. Tudo isso me dá vontade de vomitar. Ela consegue aceitar todas as mentiras? Consegue aceitar que foi considerada morta e tirada de sua família original? Consegue aceitar que a avó dela é uma bruxa que possivelmente articulou todas as desgraças de sua vida?

A imagem dos meus pais vem à minha mente. O espírito de liderança vem logo em seguida. Estou no comando do grupo. Não posso desapontá-los... Mas e se eu não quiser mais continuar com isso?

Escapar da nave significa aceitar o meu destino para sempre. Significa que estou pronto para fazer o que for preciso em nome do grupo... E não sei se é o que quero.

— Zack, hora de você controlar a eletricidade — diz Sophia, segurando o ombro do loiro de maneira a incentivá-lo.

Vejo o Oliver usar seu poder. A energia presente no lugar é contida com sucesso. O subterrâneo é frio, quase como uma cova prestes a nos enterrar.

Dylan algumas vezes olha para trás, como se esperasse a saída dos Wayne. Ele é um dos que deveria estar mais irritado com tudo isso. Sua garota está lutando contra um lunático, enquanto ele está aqui, tendo de ajudar na saída da nave. Além de tudo, seus pais desapareceram por conta da S.H.I.E.L.D. E depois de tudo, ele ainda está aqui?

E Stella? Por que ainda luta? Ela é um clone do Magneto, assim como Aurora teve o gene do Sr.Fantástico implantado nela. Mas a Clarkson está... Morta. E Stella? Como consegue persistir?

— Como vocês conseguem? — questiono, e os olhares de Dylan, Sophia, Stella e Zack se direcionam para mim. — Nossas vidas foram controladas pela S.H.I.E.L.D. Todas as tragédias que aconteceram, todos os medos e dúvidas que tivemos foram articuladas por ela. Como ainda conseguem lutar e ajudar a salvar o mundo?

— Essa é uma luta nossa, Simon — responde Sophia, em tom de consolo. — Se tornou algo nosso. Inúmeras famílias estão morrendo e sofrendo agora por causa de vilões sádicos.

— EU SEI! — berro, fechando os olhos na tentativa de conter as lágrimas. — Mas vocês não percebem? Perdemos tudo! Escola, família, pessoas que amávamos! Estamos no meio de uma guerra que está nos destruindo!

Dylan cerra os punhos, suspirando em seguida.

— Eu entendo Simon. Sua raiva. Mas isso não adianta agora. Os culpados foram os vilões. São eles que temos de culpar.

— E os seus pais? Foi a S.H.I.E.L.D que acabou com eles...

Allen fica em silêncio por um segundo. Solto uma risada irônica.

— Somos bonequinhos. Levados pelos outros. É inútil! Aurora e James pagaram o preço, e agora Clarissa está lá em cima lutando em uma causa perdida! E Ashley está prestes a morrer!

— Ela não vai morrer! — Zack grita, e seus poderes vacilam por um segundo. A energia do ambiente queima minha pele, e as crianças mutantes gritam assustadas. — Desculpem! Está tudo bem!

Firmo Ashley em meu ombro, impedindo-a de cair.

— Você está confuso, Simon — Sophia diz docemente. — Mas tudo vai ficar bem. Estamos prestes a sair daqui...

— VOCÊ NÃO ENTENDE? NADA VAI FICAR BEM! NUNCA! — berro, chocando-a. Meu coração se aperta por me descontrolar justamente com ela, mas parece impossível conter toda a dor que sinto por mais tempo. — Desculpe... Mas... Eu matei os meus pais por causa dessa droga de poderes. E a S.H.I.E.L.D sempre soube. Sempre! Perseguiu-nos e criou nossos passos. Quando pensávamos que estávamos seguindo nosso próprio caminho, seguíamos o caminho deles! Para acabar aqui...

Stella morde o lábio inferior, pensativa. Dylan permanece em silêncio. Sophia respira fundo.

— No que você acredita? — pergunta ela, determinada.

Franzo o cenho.

— No que eu...

— É! No que você acredita ser verdade Simon?

Penso por um momento.

— Eu acredito... Na nossa amizade. No grupo que formamos. Eu... Acredito no meu amor por você — Ela sorri quando digo isso. — Acredito em vocês.

— Então se firme nisso — diz Sophia, gentilmente passando sua mão delicada por meu rosto. — Se firme no que acredita. Deixe as mentiras para trás. Não permita que elas interfiram em quem você é.

Meneio a cabeça positivamente, conseguindo afastar os pensamentos ruins pouco a pouco. É incrível como a Sophia tem esse poder sobre mim.

— É cara. Não adianta ficar deprimido — Zack fala com certo esforço enquanto ainda usa seu poder para nos proteger. — Eu não conheço meu pai direito e a garota que gosto está em algum tipo de coma. Acho que tenho mais motivos que você para ficar triste.

— A saída — Sue fala com um sorriso para nós.

Posso ver uma parede fechada ao final do túnel. Os painéis e fusíveis de energia se acumulam ali perto.

— Sophia, proteja o pessoal agora. Aqui as coisas vão ficar mais intensas — diz Zack, e a loira assente criando um campo de força sobre nós.

O Coisa toma a frente do grupo e começa a esmurrar a parede à frente, quebrando-a aos poucos.

— Temos cinco minutos — diz o Sr.Fantástico, em tom preocupado.

Passo Ashley para Dylan, que a pega no colo e coloca sobre o próprio ombro. Sigo até a parede, e descarrego minha raiva contra o concreto, quebrando-o facilmente soco após soco. O Coisa se empenha também, e em poucos segundos com muita poeira ao redor, derrubamos a barreira.

Zack continua controlando a energia com Sophia nos cobrindo com seu campo de força.

Wolverine ajuda as crianças mutantes a passarem pelo buraco. Elas começam a sair, pouco a pouco, rapidamente. Logo Wolverine sai atrás. Sue e Reed passam. Em seguida Dylan carregando Ashley. Stella passa com a ajuda do Tocha Humana, ainda enfraquecida pela descarga de poder contra os zumbis. Encaro Sophia, que segura minha mão.

Passo pela brecha na parede, e a levo comigo. Zack deixa de usar os poderes e sai para a liberdade. O ar frio nos golpeia, e sinto um cheiro de queimado misturado à poeira. Uma fumaça densa segue até o céu, vinda de Vegas.

— Droga... — diz Stella, semicerrando os olhos.

A cidade deveria estar um caos àquela altura.

— Será que os Wayne estão vindo? — pergunta o Coisa, observando a passagem.

— Não podemos esperar aqui — o Sr.Fantástico alerta. — Vamos. Logo tudo isso vai pelos ares.

Dylan hesita antes de nos seguir. Saímos de perto da extensa nave para um morro distante.