Não deveria estar tão quente assim em Lima, afinal, era inverno. Por que o tempo estava estranho daquele jeito? Rachel só sabia de uma coisa: o nariz dela ardia de tanto calor que estava sentindo. O mais engraçado disso foi que ela quase agradeceu quando recebeu no rosto uma raspadinha de uva. Aquilo era sim uma agressão, mas estava tão quente na cidade que ela se sentiu aliviada ao sentir o gelo escorrer pelo seu rosto até a sua blusa social muito branca, e era raspadinha de uva, seu sabor preferido!

– Pronto. Você só precisa chegar em casa agora. – Soltou baixinho, recolhendo suas coisas e checando no espelho grande do banheiro a nova blusa que ela vestia. Só tinha mais uma aula e era a sua preferida, o Glee Club. Então ela só tinha que ir pra casa depois dali e tirar aquele doce do corpo, que estava impregnado mesmo que ela tivesse lavado na pia do banheiro feminino do Mckinley.

Rachel saiu do banheiro despreocupadamente; a essa hora os populares estavam ou no treino do futebol ou no treino das líderes, o que a deixava desfilar tranquilamente pelos corredores de seu colégio. Foi por isso que ela demorou tanto limpando sua blusa: pra passar o tempo. Seus passos eram curtos por conta de suas curtas pernas, mas eram apressados e logo chegou ao seu objetivo. Antes de entrar, parou sua mão na porta cor vinho da sala do coral e respirou fundo. Ela costumava se sentir nervosa antes de entrar ali, pois sabia que teria um solo ou qualquer coisa do tipo pra liderar - não que isso a transformasse em alguém com um ego maior que seu próprio tamanho.

– Bom dia, colegas! – Ela começou, ouvindo alguns murmúrios ao fundo da sala, mas ignorando e continuando. – Mr. Ryerson, eu tenho uma ideia brilhante pro meu solo nas regionais esse ano. O que o senhor acha de um solo meu cantando Barbra Streidsand e depois uma apresentação em grupo com a minha liderança? – Rachel o olhava com os olhos brilhando. Todos os dias era a mesma coisa, e passavam o dia conversando sobre o que Berry iria apresentar, e esse tipo de coisa. Claro, ela adorava ser o centro das atenções pelo menos dentro da sala do coral.

Não foi fácil esse título, ela teria que entregar o tutor, Ryerson, pro diretor da escola quando o viu tentando tocar um de seus meninos do coral, mas antes que pudesse fazê-lo, Ryerson disse que ela seria a nova estrela do Glee e isso era irrecusável, mesmo que ela tivesse que omitir aquele assunto. Mas só pra vocês saberem, ela o fez prometer que nunca mais iria tentar se aproveitar de seus alunos.

No final do Glee, Rachel passeou até o refeitório, onde encontraria Finn, o quaterback do time de futebol do Mckinley e seu então namorado. Mesmo que ela o namorasse, ela não era considerada popular e isso fazia com que Hudson ficasse distante dela e só se encontrassem no final do dia, fora do alcance dos amigos dele. Pra ela não importava muito, ela o amava, ou achava que amava. Contudo, antes que ela pudesse cruzar o corredor vazio ela o viu. Era uma daquelas criaturas das quais seus pais falavam horrores a maior parte do tempo. Ele não era mesmo vivo, mas ele parecia bem vivo – e lindo - pra ela quando começou a andar em sua direção. Os olhos azuis penetrantes dele pararam nos dela fixamente quando ele estava a alguns poucos metros da morena e seu dedo indicador esquerdo se levantou em um movimento robótico.

– Rachel Berry, a Noite escolheu você. Tua morte será teu nascimento... – Ele abaixou seu dedo e Berry pôde ver a marca de lua crescente em azul safira de seu rosto se mover quando a sobrancelha dele se levantou, dando um toque divertido ao seu rosto forte. – Blah, Blah, Blah Dramático, vamos pular essa parte, você foi marcada e Nyx te quer conosco em nosso lar, A Morada da Noite. – Ele disse com um sorriso divertido e deu as costas, mas logo girou nos pés e apontou pra garota. – Eu estou falando sério, eu estou apontando! – Concluiu o homem de forma dramática e abaixou seu dedo, voltou a tomar seu rumo, desfilando pelos corredores como um ator famoso, o que Rachel admirou pelo breve momento em que ela conseguiu observar.

Seu estado de choque a manteve quieta no seu lugar, até que ela sentiu sua testa formigar e arder e procurou o espelho em sua bolsa pra ver se era mesmo o que ela achava que era. Pegou o pequeno estojo de maquiagem e abriu a tampa, mostrando seu espelho e, por fim, ela levantou a franja em sua testa e encarou o seu reflexo, tendo a constatação. Ela acabara de ser marcada por um Rastreador e viraria uma aberração. – Como eu vou conseguir ser uma estrela da Broadway assim?! – Berry finalmente saiu do coque e surtou, começando a andar rapidamente pelo corredor, balançando demasiadamente seus braços.