O Porquê escrita por John Scott Collins


Capítulo 1
O Porquê - Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura, espero que gostem.



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Costumávamos sentar naquele velho banco branco de uma praça qualquer perdida por entre as ruelas da cidade. Eu chegava primeiro, por considerar o tempo um bem valioso. Você chegava dez minutos atrasada. Eu me irritava. Discutíamos por incontáveis horas sobre o tempo corrido. Você não via o porquê de se apressar.

Costumávamos falar sobre política, assim como os adultos, apesar da pouca idade. Eu só queria justiça e você, liberdade. Eu defendia os trabalhadores e você, a natureza. Discutíamos por um bom tempo sobre o futuro da sociedade. Mal sabíamos que nós éramos o futuro. Eu tentava te avisar, você não entendia o porquê de tanta preocupação.

Costumávamos brigar um pouco, como bons amigos. Você não se preocupava com a vida corriqueira, queria apenas observar os pequenos detalhes que nos passam despercebidos. O canto dos pássaros, o vôo das bolhas de sabão, as cores do arco-íris e o vento que, à noite, adentrava por sua janela, fazendo-a sorrir. Eu prezava o justo e você, a felicidade. Você não via o porquê de tanto protesto.

Costumávamos, ainda assim, passar pela padaria e pedir um reconfortante café expresso. Você ria sozinha para a xícara, enquanto eu reclamava do preço da bebida. Eu não entendia seus atos. Eu não entendia o motivo pelo qual você fazia certas coisas. Costumávamos, então, ter uma conversa um pouco mais amigável. Você contando sobre sua semana e eu, sobre a minha. Mesmo assim, não trocávamos palavras carinhosas. Sentíamos o severo jeito da conversa. Sem muito afeto. Você imaginava o porquê do meu jeito.

Éramos amigos e vizinhos de infância. Naquela época, com dezessete anos, não íamos à mesma escola e nem pensávamos em entrar para a mesma universidade. Eu faria direito e você, biologia. Eu não era o maior amante dos estudos, enquanto você gostava de aprender algo novo a cada dia. Via o mundo com outros olhos, onde ninguém sabia de tudo e sempre havia algum mistério para se desvendar. Eu apenas estudava e filosofava contigo. Você não queria saber o porquê de tantos pensamentos.

Mas isso era quando você estava aqui. Só agora percebo que devíamos ter sorrido mais, nos abraçado mais, brincado mais, ter jogado mais conversas fora a troco de risos bobos e inocentes. Devíamos ter explorado mais, ter visto novas coisas, conhecido novas pessoas e às vezes, apenas mais abraços. Pensado menos, reclamado menos, discutido menos e nos afastado menos. Eu não devia ter ficado tanto tempo longe, eu só te via nos finais de semana. Nós podíamos ter nos amado, assim como amo agora. Mas eu apenas me perguntava o porquê daquela amizade.

Hoje, treze anos depois de sua morte, decidi acabar com todas as dúvidas. Esclarecer todos os porquês. Fazer todas as coisas que não fizemos. Percebi que sem você, minhas reflexões me matarão. Eu sou fraco sem você. Eu preciso de você. Sinto falta de você. Mas hoje, tudo isso acaba. Não sei se você sabe, mas eu me mataria por você e é isso que estou prestes a fazer.

Até breve,

o seu porquê.


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Notas finais do capítulo

Gostaram? Esperando por comentários.