– Lena?!

Entrei em choque e retirei a venda rapidamente para confirmar minhas suspeitas. Essa não!

– Bom dia, Damon. – respondi por instinto, ainda sim medindo minhas palavras.

– O que faz aqui? Vendada, ainda por cima! – Damon perguntou enquanto se aproximava para selar nossos lábios, sem pensar duas vezes virei o rosto, fazendo com que sua boca fosse de encontro a minha bochecha.

– Eu vou... Eu vou me mudar para cá. – tentei falar normalmente, mas foi impossível.

– E porque não me avisou? Que noticia boa! – se animou.

– Por que ela não sabia, tio. E você estragou toda a surpresa. – minha filha, infelizmente, se pronunciou.

– E quem é essa gatinha? – meu amante perguntou de uma maneira doce ao se agachar. Apertei a mão de minha filha como que num pedido para que se calasse. Em vão.

– Meu nome é Mariah, tio. – olhei para os meus pés, não estava aguentando aquela tortura. Contava os segundos para que alguém descobrisse algo e eu saísse sem um nem outro.

– E o meu é Damon, mas pode me chamar de tio mesmo.

Mariah se agitou ao meu lado e soltou de minha mão, levantei o rosto pela primeira vez para ver aonde minha filha iria.

– Papai, papai! Desculpa, mas a mamãe espiou porque o tio veio falar com ela!

O meu pesadelo se tornou real. Ver Mariah, Damon e Matt no mesmo espaço foi como um choque de realidade. O choque de realidade que eu precisava para sair do mundo da lua e tentar salvar o relacionamento que me restara. Afinal, seria óbvio que a partir desse momento Damon me odiaria para sempre.

Mirei meus olhos em meu marido, porém minha visão periférica me permitia ver a confusão estampada na face de Damon.

– Tudo bem meu amor, quem é esse tio? – Matt perguntou ao pegar nossa filha no colo.

– Tio Damon, pai.

– Prazer, Damon. Sou Matt Donovan, marido da Elena. De onde se conhecem? – meu marido perguntou simpatico sem imaginar que seria aquele seu substituto sexual.

– Ele trabalha comigo. – respondi rapidamente. Não podia dar a chance de Damon dizer mais que o necessário.

– É... Isso. – meu moreno sussurrou concordando comigo. Se existe inferno, eu já estou nele.

– Infelizmente, Damon, você estragou nossa surpresa, mas não tem problema, não é filha? – Matt perguntou bem humorado e Mariah assentiu – Estamos no 603, passa lá qualquer hora para um café, tudo bem? Foi um prazer, até mais.

– Até.

Eu não podia acreditar que tal diálogo acabara de acontecer, não podia! Meu semblante estava calmo, mas por dentro cada célula minha gritava, berrava, esperneava. “Sua burra, tonta!” “Cedo ou tarde aconteceria” “Foi melhor assim” eram algumas das frases que meu inconsciente dizia para mim.

Matt tagarelava sobre o condomínio e suas vantagens, sobre a vizinhança e como já estava tudo milimetricamente organizado para nossa chegada. Eu apenas emitia sons de aprovação quando necessário.

Ao chegar no apartamento pude notar, acima do nosso teto estava o apartamento de Damon. Cada segundo que se passava, cada informação nova, era um pedaço a mais do meu coração que se quebrava.

Damon! Meu Damon! Tão carinhoso, solicito e companheiro. Nunca irei me perdoar caso ele me odeie para sempre!

– Elena? Você gostou?

Matt perguntou quando já havíamos terminado o tour pelo apartamento. Nos encontrávamos de pé no nosso quarto, que se situava no mesmo cômodo que o quarto de Damon.

– Eu não tenho palavras, Matt. – foi o que consegui sussurrar.

– Você amou! – meu marido afirmou – Não sabe o quanto fico feliz de saber isso. – suspirou aliviado.

– Estou muito surpresa – era a verdade, porém não em relação ao apartamento – será que posso ter alguns minutos a sós para admirar nosso novo lar? – pedi inventando a primeira desculpa que passou pela minha cabeça.

– Claro! – Matt sorriu abertamente – Vou ver se nossa princesinha gostou do quarto novo e depois pedir comida chinesa. O que acha?

Concordei com a cabeça apenas para que Matt fosse logo embora. Ao me ver sozinha me permiti chorar. Chorei por ter sido burra há seis anos, chorei por ter repetido o erro há três semanas e chorei por estar me sentindo mal por Damon. Chorei mais ao perceber o grande problema: eu estava triste na minha casa com o meu marido sabendo que só seria feliz caso o homem que fosse dormir ao meu lado essa noite se chamasse Damon Salvatore.

Saber que meu querido amado estava, neste exato momento, acima de mim, provavelmente se lamentando e me amaldiçoando para o resto da vida despedaçava meu coração. Eu precisava saber como ele estava. Precisava de uma confirmação de que ele não me odiaria para sempre! Mais que isso, precisava que Damon Salvatore me perdoasse.

Já sabia o que fazer, enxuguei minhas lágrimas decidida a consertar o meu erro. Alcancei meu celular que estava na cabeceira da cama e digitei com as mãos tremulas uma mensagem para Damon.

“Se você quiser ouvir alguma explicação posso passar ai mais tarde. Me desculpe, eu não queria que você soubesse dessa maneira”

Essas duas frases não deixavam nem um pouco evidente meu arrependimento, muito menos minha dor. Mas não era necessário, Damon entenderia ao olhar em meus olhos e ver como estarei sendo sincera em cada palavra do meu pedido de desculpas.

Não demorou muito para que meu celular vibrasse informando uma nova mensagem. Meu coração disparou acelerado, senti uma gota de suor escorrer pela minha tempora. Analisei o aparelho por alguns segundos até que sentisse a coragem necessária para ler o conteúdo daquela mensagem de texto.

“Não precisa, Lena. Está tudo bem! Nos falamos segunda na empresa, bom fim de semana.”

Re-li inúmeras vezes as palavras ali escritas. Não conseguia decifrá-las de modo algum. Damon estava agindo... indiferente. Se alguém lesse essa mensagem provavelmente imaginaria que se tratava de um jantar cancelado em cima da hora o algo parecido, mas nunca que o amante descobriu a família secreta da namorada.

Eu estava confusa. Preferi não responder pelo simples motivo de não saber o que diria. Levantei da cama, me certificando que bloqueei o celular com senha, e fui para o banho. Informações e emoções demais para apenas um dia. Teria que lidar com Damon na segunda feira, enquanto isso fingiria estar tudo bem para minha família e rezaria para não esbarrar com meu vizinho na recepção.

Após um banho longo e relaxante, consegui afastar os pensamentos que incluíam Damon de minha cabeça. Coloquei uma roupa confortável e fui até minha nova sala, onde encontrei apenas minha filha.

– Bebê, onde está seu pai? – perguntei para Mariah, utilizando o apelido que ela mais odiava apenas para ver a carinha fofa dela quando fica brava.

– Mãe! – Mariah me repreendeu e eu abafei minha risada com a mão – Papai saiu, ele deixou isso aqui pra você.

Minha filha me entregou um papel dobrado. Percebi ser um bilhete de Matt.

Queria esposa,

Recebi uma ligação do restaurante, parece que recebemos uma reserva para hoje a noite no nome de um crítico muito importante. Mesmo sendo minha noite de folga não posso abandonar meu posto num momento como esse. Fui ao quarto te avisar, mas você estava no banho, não quis atrapalhar.

Espero que não fique com raiva. O seu almoço está na geladeira e deixei dinheiro para que vocês peçam comida a noite também, afinal ainda não fomos ao mercado.

Desculpe, de novo, meu amor.

Tenham um dia incrível, amo vocês.

Suspirei aliviada ao fim do bilhete, era sábado, dia que o restaurante funcionava até mais tarde, logo não precisaria lidar, nem mentir, com Matt hoje.

Após pegar minha comida e esquentá-la no microondas, me juntei a minha filha, que via televisão, e permanecemos assim, aconchegadas, pelo restante da tarde.

Passava das oito da noite quando Mariah reclamou de fome. Fui até o meu quarto para buscar o celular para fazer o pedido, afinal ainda não tínhamos instalado o telefone fixo, quando vi duas novas mensagens de Caroline. Fiz o pedido de uma pizza pepperoni e então li minhas novas mensagens.

“Meu irmão estar trancado no quarto sem querer falar com ninguém tem a ver com a conversa que tiveram?” e “Elena?! Por favor responda, estou preocupada com meu irmão.”

A última mensagem havia sido enviada a menos de dez minutos, decidi não mentir mais.

“Tem a ver com eu e minha família estarmos morando no 603.”

“Precisamos conversar agora, Elena Gilbert!” foi sua resposta.

“Pode vir aqui? Não posso sair e deixar Mariah sozinha.”

Esperei por uma resposta ou mais perguntas, mas ao invés disso ouvi apenas a campainha tocando. Mariah foi mais rápida que eu e abriu a porta.

– Ahm... Oi. Acho que estou no apartamento errado. – Caroline comentou confusa ao ver minha pequena.

– Oi Car... – chamei sua atenção ao aparecer na sala.

– Elena?!

Fiz um gesto para que Caroline se calasse e aguardasse alguns segundos e me dirigi até minha filha.

– Meu amor, você pode terminar de ver seu desenho lá no quarto? Daqui a pouco a pizza chega.

– Tá bom, mamãe.

Mariah correu para seu quarto e pude ouvir a televisão sendo ligada. Antes de me virar para encarar Caroline fechei a porta que dava acesso ao corredor para nos dar mais privacidade.

– Ok, que diabos está acontecendo aqui Elena? – Caroline perguntou brava.

– Por favor, Car, vamos falar baixo. – implorei.

– Por que se não sua filha pode escutar? – sussurrou a palavra “filha” – Elena, quantas coisas mais você não contou? E não para mim, somos amigas, porém não me deve satisfações. Me refiro a Damon.

– Como ele está? – perguntei ignorando sua questão anterior.

– Não sei. – admitiu se sentando no sofá – Ele não saiu do quarto desde quando cheguei em casa... E quando o chamei para jantar ele apenas me mandou ir embora! Por isso mandei aquelas mensagens desesperadas. Vocês conversaram?

– Não, nós não conversamos. – respondi segurando as lágrimas.

– Então o que aconteceu?!

– Ele me viu, Car... Quando eu cheguei ao prédio. Para deixar claro, eu não sabia que me mudaria para cá, foi uma surpresa de Matt. Estávamos lá em baixo e Damon descobriu tudo. Conheceu Matt e Mariah...

– Eu não acredito... – Caroline sussurrou abismada.

– Eu tentei falar com ele, mandei uma mensagem pedindo para conversarmos, mas...

– Mas o que?!

– Ele foi totalmente vago. – abri a mensagem e mostrei para minha amiga. – Eu não sei o que pensar.

Um silêncio perturbador encheu a sala.

– Elena... Isso foi longe demais! Não posso ver meu irmão assim. Ele se fazendo de forte pra você, mas arrasado por dentro! - Caroline se controlava para não gritar - Ele vai ficar no quarto trancado até quando? Até você decidir que não quer mais ser casada? Falando nisso o seu marido acha que o Damon é o que? – Caroline perguntava brava.

– Um colega de trabalho. – sussurrei.

– Eu não posso deixar isso acontecer! – a loira me pegou de surpresa – Eu não vou deixar você machucar mais o Damon, Elena. Eu te adoro, e eu amo essa amizade que estava começando a nascer, mas não posso suportar ver ele assim. Eu espero que você se decida quanto a o que nós conversamos naquele outro dia, caso você prefira ficar como está eu espero que você se afaste do meu irmão!

Caroline deu seu recado, levantou e saiu da minha casa sem falar mais nada. Eu estava imóvel, apenas processando o que acabara de acontecer. Ouvi a campainha e levantei rapidamente torcendo para que fosse Damon ou até mesmo Carol, mas não, era apenas o entregador.

Enquanto pagava pela pizza eu tomei uma decisão: eu teria Damon de volta, nem que seja a última coisa que eu faça!