PDV Melody.

As manhãs de Sábado sempre são tranquilas em casa. Meu pai, Patrick, sai trabalhar cedo e só volta quando já está na hora do jantar, ele é médico. Minha mãe, Julianne, não faz o café-da-manhã, então fica por minha conta. Minhas duas irmãs gêmeas de 8 anos, Megan e Melissa, ficam assistindo desenho animado na TV e só param pra comer. Como o movimento é pouco eu tenho muito tempo livre, o que não é bom, já li todos os meus livros mais de 3 vezes e não tenho amigas para conversar, espero poder fazer amizade com os novos vizinhos.

Terminei de arrumar a mesa de café-da-manhã com tudo que todos nós gostamos, ficou digna de um filme! Lá havia chocolates de vários tipos, pão integral e branco, creme de amendoim, geleia de uva, morango, abacaxi e abóbora (a Megan gosta!), suco de laranja, panquecas com calda de chocolate, torradas com queijo e mais algumas coisas, mas eu duvido que consiga comer alguma coisa, as calorias de toda aquela mesa são mais da metade do meu peso!

Peguei o livro que eu estava lendo, Garotas de Vidro, e me sentei em uma das inúmeras poltronas que haviam em nossa cozinha, esperando pacientemente todos acordarem. Não fazia a menor ideia de quanto tempo demoraria, mas isso não me incomodava e era muito melhor, ninguém teria que me ver comendo (ou fingindo que eu estou comendo e me segurando para não correr e vomitar tudo de uma vez só para acabar com meu sofrimento.)

Uma tática perfeita para as pessoas pensarem que eu comi é cortar um pedaço de cada comida e o esmigalhar, depois disso espalhar as migalhas em um prato e está pronto! Todos vão pensar que eu comi quando na verdade nem cheguei perto! Sim, eu sei que comer seria a coisa certa a se fazer, mas as calorias presentes no café-da-manhã são tantas que assombram meus pesadelos, se eu engordar nunca conseguirei ser modelo!

Megan e Melissa acordam primeiro e fazem as mesmas perguntas irritantes, "Você já comeu?" " Isso é geleia de quê?" "Os desenhos já começaram?", sinceramente quando eu tinha 8 anos não era tão infantil assim! Mas essas perguntar bobas são melhores do que o questionário que a minha mãe me faz, felizmente eu já sou experiente em responder as perguntas sobre a comida e ela sempre acredita que eu comi, já faço isso há muitos meses e ela nunca descobre!

As meninas ligam a TV e vão comer, eu resolvo sair para respirar ar puro. Normalmente as pessoas que tem piscina vivem só na piscina, mas eu prefiro ficar no balanço que fica na frente de casa, papai o comprou pra mim quando eu tinha 5 anos e desde aquele ano eu sempre passei todas as tardes lá, o que mudou um pouco nos últimos 4 anos, mas sempre que eu quero pensar ou fugir de alguém eu vou para lá. Hoje, eu só quero ficar sozinha, é muito bom estar longe da escola, mas eu não posso me iludir já que Segunda será o primeiro dia de aulas, o que é muito triste.

Eu gosto das aulas, mas o problema são as pessoas, elas normalmente não gostam de mim e já me trancaram no meu armário no primeiro dia de aula, eu passei dois períodos lá sem ninguém sentir minha falta, só saí quando um menino que tinha o armário ao lado do meu ouviu meus pedidos de socorro, espero que neste ano as coisas mudem e eu faça um amigo. O menino novo, Dan, parece ser legal mas... eu não gostaria que as pessoas ficassem o incomodando por minha causa, não seria um bom jeito de começar as aulas em uma escola nova.

Como se meus pensamentos pudessem chamar uma pessoa, Dan Cahill apareceu na minha frente, sorrindo amigavelmente. Eu retribuí o sorriso. O fato é: O balanço fica fora dos altos muros de minha casa, então qualquer pessoa pode me ver lá.

– Oi Melody! - ele disse, ainda sorrindo.

– Oi Dan. - eu disse, fazendo sinal para que ele se sentasse, ele sentou. - Gostaram da torta?

– A melhor que eu já comi! - ele disse, pela animação dele eu presumi que era verdade. - Quem fez?

– Bem.... fui eu, normalmente eu cozinho em casa. - eu disse, o sorriso dele ficou ainda maior.

– Que incrível! Eu não sei cozinhar absolutamente nada! - ele riu e eu também. - Nem a minha irmã mais velha, mas a nossa au pair Nellie cozinha muito bem, ela sempre fica falando aqueles nomes de ingredientes exóticos tipo sementes de cardamomo e essas coisas.

– Sementes do quê? - perguntei.

– Eu também não sei! - ele disse. - Mas ela falou que quer a receita da sua torta.

– Ok! - eu sorri. - Onde você morava antes?

Ele pareceu pensar sobre a pergunta antes de responder.

– Bem... eu e a minha irmã Amy morávamos em um apartamento em Boston antes de virarmos milionários, herdamos a herança de nossa avó. - o sorriso dele desapareceu. - Moramos lá por um tempo até... até eu terminar com a minha ex-namorada, Natalie Kabra.

– Ah, sinto muito... - eu disse, mordendo o lábio. - Gostaria de dizer que sei como você se sente, mas estaria mentindo.

– Você tem namorado? - ele perguntou.

Neguei com a cabeça.

– Posso dizer que as pessoas não gostam muito de mim. - eu sorri tristemente. - Mas eu aprendi a ignorar, de qualquer jeito eu nunca nem cheguei perto de namorar.

A boca dele virou um 'O' perfeito.

– Ahn... o que você está lendo? - ele perguntou, eu me movi para pegar o livro e ele fez o mesmo, nossas mãos se tocaram e nós levantamos o rosto ao mesmo tempo, ele sorriu e eu sorri de volta. Meu estômago deu uma cambalhota, mas dessa vez não era de fome, ele enrubesceu. - Garotas de Vidro... é sobre o quê?

– O preço a se pagar... - eu murmurei. - Para seguir seu sonho...

Ele pareceu confuso.

PDV Dan.

Eu estou confuso! Primeiro eu vejo a Melody sentada em um balanço e sinto um impulso muito forte de ir falar com ela, depois ela fala que foi ela que fez a torta, depois que nunca namorou e que as pessoas não gostam dela, depois quando eu vou ver o livro que ela estava lendo nossas mãos se tocam, nós dois sorrimos e o meu estômago parece estranho. O QUE ESTÁ ACONTECENDO COMIGO?

Exatamente o que aconteceu com a Natalie... Não pode ser! Eu não vou gostar de alguém de novo! Mesmo a Melody sendo a menina mais legal que eu já conheci!

Eu percebi que ela falara sobre um "preço a se pagar", eu não entendi.

– Como assim? - perguntei.

– Não comer, Dan, para ser modelo ou simplesmente bonita. - ela disse, o rosto dela expressava que ela sabia do que falava.

– Como você sabe? - perguntei, de repente assustado, observei que ela era magra, mas não muito, ela era perfeita e eu não acredito que acabei de pensar isso!

Ela pareceu sem-graça.

– Ah... eu já vi um documentário sobre isso.. na TV! - ela disse, mas parecia meio receosa, como se estivesse mentindo... resolvi mudar de assunto para não deixá-la desconfortável.

– E a escola, é legal? - perguntei.

– Escolas nunca são legais. - ela sorriu, me fazendo rir. - Os professores são ótimos, mas se os alunos não gostarem de você será horrível, eles nunca te deixarão em paz, assim como fazem comigo...

Eu me assustei. Passara tempo o suficiente com Melody Henley para saber que ela era uma garota incrível e linda! Como as pessoas não gostavam dela? Eu queria dizer à ela o que pensava, mas o que realmente disse foi:

– O quê? Por quê?

Ela deu de ombros.

– Não faço a mínima ideia, mas infelizmente é a realidade.

Eu queria continuar conversando com ela, mas realmente precisava voltar para casa antes que Amy acordasse.

– Tenho que ir agora, até mais Mel! - eu disse. - Ah, posso te chamar de Mel?

Ela acenou positivamente com a cabeça e correu para sua casa, eu fiz o mesmo, quando entrei Amy já estava acordada e... NELLIE TAMBÉM!

– Waaaaaaaaaaaaaa bem quando eu acordo cedo o Dan não está, isso sempre acontece? - Nellie perguntou, me olhando com cara de exorcista.

– Não. - disse Amy, um sorriso brincou em seus lábios. - Onde estava, Dan?

– Ééé... euestavacomaMelody. - disse, muito rápido.

Amy gargalhou.

– Nossa Dan, você superou a Natalie muito rápido! - ela disse, eu revirei os olhos.

– Fica quieta, sua palerma! - eu gargalhei e ela me deu um cascudo.