My life escrita por Clarisse Garret


Capítulo 3
Irritados




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Não sei por que fiquei decepcionada. Talvez eu quisesse ser o motivo, mas é claro eu não era. Por que Atena sempre conseguia atenção? O que aquela nojenta tinha de especial? Ela era só mais uma das várias filhas de Zeus.

–Não sei se você notou, mas antes da nossa briga -Poseidon continuou a falar. –eu estava indo muito ao Olimpo. Zeus achou que eu estava atrás de Atena e é claro que ele não deixaria ninguém ter a sua queridinha. Eu estava indo atrás de Afrodite quando ele me parou. No começo eu não entendi o motivo, mas depois ficou claro que ele não me queria mais no mesmo lugar que Atena então eu não fui mais para lá. Meu assunto com Afrodite está pendente até hoje.

–Você estava lá por Atena? Ela é mulher que você falou que ama?

–Não, Hera. Ela não é a mulher que eu amo. –Ele falou olhando em meus olhos. –A mulher que eu amo não tem nada a ver com Atena. Ela não é esnobe, não é querida por Zeus. Ela é apenas ela mesma.

–Então por que ia tanto ao Olimpo? Por que procurava por Afrodite? –senti que estava forçando demais, mas já era tarde para retirar minhas palavras.

–Eu ia ao Olimpo porque essa mulher mora lá e procurava por Afrodite porque ela era sempre a única que me ouvia e podia saber o nome da mulher. Eu confiei tudo que sentia a Afrodite e ela nunca me decepcionou.

–O que você sente deve ser muito forte, pois só assim Afrodite te respeitaria. –Falei voltando a encarar o céu.

–Afrodite não é nenhuma vadia como todos dizem. Ela realmente ama Ares. Há muito tempo ela parou de se comportar como uma vadia só que ninguém notou, apenas eu. Ela só não se separa de Hefesto porque gosta dele. Ele também não a odeia mais. Eles se tornaram grandes amigos.

–Como você que nem mora lá percebeu tudo isso e eu não? Será que sou tão incompetente quanto falam? O que as pessoas falam de mim, Poseidon?

–Eu sempre ficava olhando os movimentos enquanto você estava ocupada com seus assuntos de rainha. As pessoas do Olimpo, até mesmo as ninfas, têm pena de você, por você ter que sustentar suas tarefas e as do seu marido incompetente.

Fiquei surpresa pelas pessoas terem pena de mim. Sempre achei que elas pensassem as piores coisas de mim. Sempre os vi sussurrando em minha presença, porém eu achava que estavam falando mal me mim.

–Hera posso te fazer uma pergunta bem particular? –Poseidon perguntou. Eu assenti. –Você ama alguém?

Eu não sabia a resposta. Fiquei pensando sobre isso. Pensei em todas as pessoas que conhecia, eu amava algum deles? Nunca me deixei sentir nada por causa de minha ocupação. Só que então depois de sair do Olimpo eu liberei meus sentimentos para única pessoa que me deu atenção. Liberei meus sentimentos pelo homem errado. Eu jamais poderia ficar com meu cunhado.

–Sim, eu amo alguém. Alguém que não deveria. Eu jamais deveria me deixar amar você! –Quando eu percebi o que disse e vi-o me olhando assustado me desesperei. Eu jamais deveria ter falado aquilo.

Sai correndo de perto dele. Não olhei para trás, não me importei se tinha mortais vendo eu apenas me transformei em pó e fui parar na frente do hotel. Entrei correndo, o segurança se assustou, mas me reconheceu e me deixou passar. Entrei no elevador e subi para meu quarto. O cartão devia ter caído no mar então eu apenas conjurei outro e entrei no quarto.

Joguei o primeiro vaso que vi na parede. Como eu pude ser tão burra para falar aquilo para ele. Deuses como eu fui burra. Me joguei na cama e comecei a chorar. Como eu pude falar que amava um homem que tinha acabado de falar que amava outra? Como eu pude falar que amava meu cunhado? Deuses... Ele tinha uma mulher esperando por ele em seu quarto. Ele pode não amá-la, mas isso não muda o fato de que ela estará lá na cama deles quando ele voltar. Eu jamais deveria ter saído do Olimpo, lá pelo menos eu não senti nada por ninguém, nem amor, nem ódio e muito menos pena. Eu era mais ou menos o que os humanos chamam de autômato, mas pelo menos meu sofrimento não era explicito.

–Hera você não irá mais àquela maldita praia e nem falará mais com Poseidon. –Prometi a mim mesma. –Amanhã voltará ao Olimpo e fingirá que nada aconteceu.

Essas foram ultimas palavras antes de cair no sono em um travesseiro úmido com as lágrimas. Sonhei com aquela maldita praia e com ninguém menos que Poseidon. Eu sabia que não era apenas um sonho, sabia que ele estava entrando em meus sonhos para poder falar comigo. O problema era que por mais que fosse estupidez eu não queria sair daquele sonho. Gostei de vê-lo ali de novo olhando para o mar.

–O que quer com meus sonhos, Poseidon? Não posso mais ter paz. –Falei friamente. –Não quero falar com você.

–Se não quisesse não estaria mais aqui. Pergunte a si mesma o que quero com seus sonhos. –Ele me olhou sabendo que eu sabia o que ele queria.

–Poseidon me deixe em paz, por favor. Não estou com forças para lutar contra você. Por favor, apenas me deixe ir. –Lágrimas insistiam em espaçar dos meus olhos. –Paz é tudo que eu vou lhe pedir.

–Não chore minha querida. –Ouvir aquilo me fez chorar ainda mais. –Eu juro que não era paz que eu queria que você me pedisse, mas se é isso que você quer eu lhe deixarei em paz.

Olhei para ele e percebi que ele também chorava aquilo me doeu. Em seus olhos não era possível ver nada além de tristeza por trás das lágrimas. Eu queria abraçá-lo, queria que ele me abraçasse, mas a única coisa que ele fez foi se levantar e falar:

–Vá minha querida. Não irei atrás de você, não participarei mais de sua vida. –Ele entrou no mar e se foi.

Eu fiquei ali olhando aquele mar e algumas horas atrás me transmitia paz, esperei ver paz ali. Tudo que ele me transmitiu foi tristeza, uma tristeza que está se abrigando em mim. Uma tristeza aconchegante. Sem pensar corri para o mar na esperanças de alcançar Poseidon, mas tudo que consegui foi fazer com que o sonho acabasse. Não sonhei com mais nada no resto da noite.

Acordei decidida a abandonar aquela cidade e voltar para o Olimpo. Me limpei e me troquei com poder. Peguei minhas sacolas de compras, os dois cartões e sai, porém não sei antes olhar no espelho e ver meus olhos inchados e vermelhos. Não me importei com isso, sai do quarto e apertei o botão do elevador que chegou rápido. Desci e fui para recepção, o recepcionista me olhou e com certeza, pela cara que fez, notou meu estado depressivo.

–Tudo bem, senhora? Precisa de alguma coisa. –Ele perguntou preocupado.

–Vim pagar tudo. Preciso voltar para casa com urgência. Sou June Adams.

–Vou ver aqui. –Ele mexeu no computador e depois olhou para mim. –A senhora agendou para uma semana.

–Vou ter que voltar para casa por causa de problemas familiares. Quem me dera pudesse ficar aqui até o fim da minha semana. –Lamentei. Fui sincera. Coloquei o cartão do quarto e o débito em cima do balcão.

Ele pegou os cartões passou o de débito nas maquina e me entregou para que eu pudesse digitar a senha. Digitei e ele me deu cartão junto com um papelzinho e disse que estava tudo resolvido. Saí do hotel fui até uma parte vazia do estacionamento e me transformei em pó e fui para o Olimpo.

Cheguei à sala dos tronos que para minha sorte estava vazia. Fui até meu quarto por um caminho que eu sabia que ninguém costumava usar ele era mais demorado, porém era tranqüilo. Cheguei ao meu quarto abri a porta devagar para ver se ouvi alguma coisa e como não ouvi entrei. Coloquei minhas sacolas perto do armário e me joguei em minha cama. Uma exaustão surgiu do além me atingiu, eu estava quase dormindo quando ouvi a porta ser aberta. Minha exaustão sumiu e foi substituída por um nervosismo. Levantei-me rapidamente da cama, fiquei ao seu lado e encarei um Zeus pasmo.

Em poucos segundos ele não estava mais pasmo e sim com raiva. Ele me olhou com um olhar penetrante. Nesse momento eu senti que podia me transformar em pó, em água, em uma simples molécula. Eu nunca, em toda minha imortalidade, jamais desafiei Zeus, nem mesmo quando ele não era meu marido. Eu sempre o tomei como meu superior, como alguém na qual eu deveria idolatrar. E agora estou aqui com ele me encarando depois de eu ficar mais de 24 horas fora do Olimpo sem sua permissão depois de pegá-lo com outra mulher. Me recompus.

–Zeus há quanto tempo. –Falei ironicamente.

–Onde estava, sua vadia? –Ele veio para cima de mim. –Quem você pensa que é para sair do Olimpo e abandonar suas tarefas? Você está aqui para seguir minhas ordens.

Nessa hora ele segurou o meu braço e me jogou no chão com força. Cai em cima de meu braço e bati a cabeça. Pessoas poderiam falar que isso não era nada, mas quando um deus bate em outro dói, demais. Eu continuei em silêncio assustada.

–Responde vadia. –Zeus gritou e trovões estremeceram o Olimpo. –Onde você estava sua bastarda?

–Eu não te devo satisfação, Zeus. –Gritei levantando-me e o encarando. -E mais você não tem o direito de me chamar de vadia. Você é um desgraçado desleal, Zeus. Depois daquele dia eu deixei de dever qualquer coisa para você.

–Você me pertence desgraça. –Ele gritou mais alto que eu. –Me pertence e tem que fazer o que eu quiser.

–Eu te pertenço? –Eu ri ironicamente e olhei para sua cara séria. –Você não estava fazendo uma piada? Desculpa.

–Como. Ousa. Me. Desrespeitar. Depois. De. Tudo. Que. Fiz? Como pode? –Gritou me prensando na parede.

–Tudo o que fez? –Perguntei o empurrando e segurando seu pescoço. –O que você fez para mim além de me trair? Tente pensar em algo porque eu não consigo.

–Eu te dei um trono e uma coroa. –Ele arrancou minha mão de seu pescoço e me deu um tapa no rosto

–Posso saber o que diabos está... –Afrodite entrou no quarto gritando, porém parou quando me viu. –Já entendi o que está acontecendo. Zeus saia desse quarto imediatamente.

–Quem você pensa que é para me expulsar de meu próprio quarto?

–Sou Afrodite agora saia daqui agora. –O olhar de Afrodite era mortal. Ela indicou a porta a Zeus que hesitou, mas depois saiu.

Me joguei na cama e toda força que estava usando contra Zeus se esvaiu, o medo me invadiu e eu comecei a chorar. Não me importei com a presença de Afrodite, não me importei em demonstrar minha fraqueza eu só precisava chorar. Eu sabia que só uma pessoa poderia me ajudar. Poseidon, sim ele com certeza me ajudaria e muito.

–Vá atrás dele, Hera. –Afrodite falou me olhando. Virei-me e tentei enxergá-la sem sucesso, pois as lágrimas não permitiram. –Você está certa. Ele pode te ajudar. Ele fez mais bem à você em duas noites do que Zeus fez em uma vida inteira.

–Eu não posso fazer isso. –Falei entre soluços.

–Por que não pode? Me diga, Hera, o que te impede? -Falou sentando-se ao meu lado.

–Você sabe muito bem o porquê de eu não poder. Eu sei que você sabe. –Falei limpando minhas lágrimas tentando controlar o choro.

–Sim eu sei o motivo, mas eu quero que você fale em voz alta. Admita a si mesmo o motivo de não ir, Hera. Isso te ajudará.

–Eu não posso ir porque me apaixonei por ele, porque em duas noites ele foi capaz de me fazer amá-lo. Eu não posso amá-lo... Não posso. –perdi o controle do meu choro. –Meu amor por ele pode prejudicá-lo se for descoberto e eu não deixarei que isso aconteça. Eu não sou tão egoísta ao ponto de ir atrás dele.

–O amor por si só é egoísta, Hera. São suas atitudes que decidem o nível do egoísmo.

–Então minhas meu egoísmo permanecerá o mesmo, pois eu não irei até ele. Você viu do que o meu marido é capaz, ele poderia facilmente ter me matado se você não tivesse chegado. Eu não quero que ele faça nada contra Poseidon.

–Ele já está fazendo algo contra Poseidon, Hera. –Olhei para ela com cara de interrogação e ela prosseguiu. –Ele obrigou Poseidon se afastar daqui, isso é um dos piores sofrimentos de Poseidon.

–Zeus não pode banir nenhum deus sem autorização dos demais. Poseidon não voltou porque não quis.

–Ele não voltou porque não quis ser egoísta assim como você. Se ele continuasse a vir aqui não só a mulher que ele ama sofreria. Eu e Atena seríamos punidas também. Eu por atraí-lo para cá e ela por Zeus achar que Poseidon queria desonrar sua queridinha. –Ela falou a última palavra com uma voz tão nojenta que me fez rir.

–Acho que estamos presos pelo ato de egoísmo que não queremos cometer, mas eu tenho um motivo a mais. –Ela levantou uma sobrancelha para mim. –Ele ama outra pessoa.

–A ignorância nem sempre é uma benção, Hera, comece a prestar atenção nas coisas que acontecem ao seu redor. –Afrodite levantou foi até a porta, piscou pra mim e saiu.

Fiquei tentando entender o que ela quis dizer com aquelas palavras, mas tudo que entendi foi que ela estava contradizendo uma frase muito dita pelos mortais “A ignorância é uma benção”. Desistindo resolvi ir caminhar nos jardins. Os jardins do Olimpo sempre foram lindos, mas quando se está acabada como eu estava ele ficava magnífico. Sentei-me em frente ao lago e fiquei observando o sol que já estava quase se pondo.

–Eu fico lindo nesse horário. –Assustei-me e coloquei a mão no peito respirando rapidamente. –Desculpa não queria te assustar.

–Você nunca quer me assustar, não é mesmo? –Levantei-me e o abracei. –Senti sua falta, Apolo. Quando você voltou?

–Também senti sua falta, Hera. Voltei ontem. Posso saber onde a mocinha estava?

–Não antes de o senhor me contar o que fez nesses anos em que sumiu. Eu fiquei preocupada mesmo depois de receber sua mensagem. Nunca mais faça isso.

–Se quer saber minha história e eu a sua acho melhor nós nos sentarmos. –Nos sentamos e ele começou a falar. –Como eu disse na carta eu fui atrás de uma mortal que infelizmente engravidou de mim, mas quando eu a encontrei ela estava muito doente e tinha perdido a criança. Eu cuidei dela até ela morrer.

–Ela não tinha marido, filhos ou algo do tipo?-Perguntei. Eu não sabia nada sobre a saída além de que ele tinha ido encontrá-la.

–Tinha uma filha que queria ela morta e um marido que a largou depois que descobriu a traição. Eu arruinei a vida daquela mulher, Hera. Tudo o que aconteceu foi minha culpa.

–Não espere que eu fale que você não é culpado porque você é. Com tantas mortais lindas e solteiras na Terra você escolheu uma casada. Você tem um sério problema com mulheres de aliança. –Falei rindo da cara que ele estava fazendo.

–É de fato tenho sérios problemas com mulheres de aliança. –Ele falou olhando em meus olhos, isso com certeza foi estranho. –Agora você, me conta porque fugiu.

–Eu peguei Zeus com outra mulher. –Ele me olhou com cara de “isso não é novidade”. –Só que dessa vez foi no nosso quarto, na nossa cama. Eu simplesmente resolvi ir embora então fui para Miami. Na primeira noite eu dormi na praia você tem noção disso? Eu, Hera, dormindo na areia da praia?

–Eu realmente não consigo imaginar. –Ele falou rindo. –Ficou lá sozinha? Conheceu alguém?

–Eu jantei uma noite com o Michael e na primeira e segunda noite passei boa parte do tempo conversando com Poseidon.

–Poseidon? Você e Poseidon? Não acredito. –Falo sério eu não mereço isso, deuses. Eu tenho a capacidade de deixar todos os homens que eu converso irritados.

–Que foi? Qual o motivo dessa irritação súbita?

–Nada não. Tenho que ir tenha uma boa noite Hera. –Ele beijou minha testa e me deixou sentada sozinha.


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Notas finais do capítulo

Obrigada por ler até aqui. Se leu diga o que achou, sim?



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