P.O.V. Percy

Eu poderia dizer que estava extremamente lascado, mas ainda não seria o suficiente. Não foi fácil confirmar meus erros para Annabeth em cima do altar justamente no dia do nosso casamento. Agora, ela e todos ali presentes já sabiam a verdade: Eu só comecei a namorá-la por causa do dinheiro. Só que agora, eu estou mudado.

— Annabeth... – comecei calmamente – Isso é verdade, mas eu...

Não consegui terminar minha frase porque a Sabidinha desferiu um forte tapa no meu rosto, que ecoou. Acariciei minha bochecha e voltei a olhá-la. Aqueles olhos cinzentos pareciam uma verdadeira tempestade: Trovejavam raiva e choviam tristeza. Ela levantou a barra do vestido de noiva e começou a andar para fora da igreja e, sem pensar duas vezes, fui atrás dela.

— Por favor, Annabeth, me... – encostei no braço dela e ela se afastou de uma vez.

— NÃO! – ela gritou se virando para mim – Não chegue perto de mim! Percy... – fungou – Você é um monstro!

— Eu sabia que ele não era confiável! – acusou Quíron.

— Cala a boca! – falei alto com o velhote.

— Cala a boca você! – rebateu Annabeth.

— Não fale assim com ele!

Eu achei que a minha desgraça não iria piorar, mas a vida vive me surpreendendo. Victoria Rice apareceu. Não faço a menor ideia de como ela descobriu a data e o horário do meu casamento.

— Você! – exclamou Luke.

— Olá Luke! – ela ainda piscou para ele.

— Quem é essa? – interrogou Thalia.

— Foi a mulher que me beijou enquanto eu e  Annabeth namorávamos. – explicou Luke.

Annabeth olhou para Victoria, que estava com salto agulha vermelho, saia jeans clara, uma camisa estampada e uma bolsa pequena. Sabidinha perguntou a mim, sem me encarar:

— Você pediu para que ela beijasse o Luke, Percy?

— Sim. – respondi sentindo todos me encararem.

— E você teve... – o choro de Annabeth começou a se intensificar – Teve um caso com ela enquanto estava comigo?

— Sim, ele teve... – pronunciou Victoria.

— Não estou falando com você. – Annie falou de maneira rude – Percy?

— Sim, Annabeth. E estou arrependido...

— Não quero mais ouvir suas mentiras.

Ela passou pela Victoria enxugando as lágrimas e o Nico (que estava mais do que vermelho por terem descoberto que ele é gay) foi atrás dela com as chaves do carro. Todo mundo na igreja começou a me encarar.

E que comece a sessão de apedrejamento!

— Como pode fazer isso com a minha filha? – berrou Atena.

Anfitrite começou a rir alto e Poseidon a repreendeu.

— Você não passa de um moleque nojento! – disse Quíron – Eu não quero mais você na vida de Annabeth...

Vários começaram a me xingar, até a minha mãe. Saí correndo daquela igreja, não aguentando mais ouvir tudo aquilo.

P.O.V. Nico

Já estava de noite e eu ainda estava na residência dos Chase. Annabeth estava péssima e ficou trancada no quarto desde que chegou da igreja. Sua mãe e seus tios estavam fazendo de tudo para tirá-la do quarto. Eu estava sozinho na garagem, dando uma olhada no motor do carro, pensando na minha situação de hoje.

Agora, não tinha mais jeito. Todo mundo já sabe que eu sou gay. Entendam, eu não tenho vergonha disso. Eu tenho medo de sofrer por causa disso. Nunca namorei e Percy foi o primeiro rapaz que eu beijei. Eu senti sim atração por ele, mas respeitei a relação dele com a minha amiga (coisa que nem ele fez). Até tentei gostar de uma garota, mas... Esse não sou eu. Isso é orientação sexual e não “Opção Sexual”. Eu não escolhi ser homossexual.

— Licença. – Jimmy, primo de Annabeth e filho de Afrodite apareceu.

— Oi.

— Você poderia me dar um resumo do que aconteceu, já que eu não pude ir ao casamento porque fui acompanhar uma amiga no hospital e está todo mundo tenta arrombar o quarto da Annabeth.

Contei a ele tudo o que aconteceu, menos a parte em que eu estou envolvido.

— Que situação... – comentou.

— Pois é, eu achava que eles dois se amavam, mas... Parece que só ela o amava.

— E essa história de você e ele terem se beijado?

— Eu... Eu... Pensei que não soubesse de nada do que aconteceu hoje! – falei atrapalhado.

— Bom, essa parte eu escutei meu pai conversando com o meu cunhado, Charles.

Fiquei de frente para ele, em pé e sério.

— Eu sou gay. – admiti – Não quero esconder e mereço ser respeitado por isso.

— Eu também não gosto de esconder isso. – falou acariciando meu rosto. Automaticamente, arregalei meus olhos – É terrível ter que viver com medo por algo que só interfere nas nossas vidas e que não escolhemos.

Nossos rostos se aproximaram, juntamente com nossas bocas. Sem sombra de dúvidas, o melhor beijo da minha vida. Era calmo, cuidadoso e bem trabalhado. Abracei o seu tórax para que ficássemos ainda mais perto um do outro.

Por mim, eu passaria o resto da noite daquele jeito.

P.O.V. Luke

Olhei para o meu relógio de pulso. Quase dez horas da noite e eu organizando documentos na empresa do meu pai. Eu estava cansado e só. Depois do casamento de Percy e Annabeth (que não aconteceu), só tive tempo de ir para casa trocar de roupa e vir para a empresa. Sim, eu fiquei esse tempo todo sentado no meu escritório conversando com várias pessoas, assinando papéis e checando a entrega de produtos para o exterior do país.

O telefone fixo tocou e eu apertei o botão principal.

— Sr. Luke Castellan? – disse Sarah, nossa recepcionista, do outro lado da linha.

— Sim?

— Tem uma moça aqui na recepção que insiste em vê-lo, mesmo eu dizendo que ela não marcou hora nenhuma...

— Eu quero falar com o meu amigo, não fazer uma consulta com o meu clínico geral! – reconheci a voz de Thalia Grace perto de Sarah e comecei a rir – Passa esse telefone para cá! Luke, diz para essa criatura que eu posso ir até aí.

— Não se preocupe Sarah, Thalia pode subir. – falei.

— Eu avisei... – disse Thalia.

Depois de uns dois minutos, Thalia apareceu. Segurava uma sacola de papel bege. Suas pernas brancas se destacavam em meio as suas cotidianas vestimentas pretas. Ela ergueu a sacola e disse:

— Trouxe sanduíche para nós!

— Não sabe o quanto eu estou faminto, Grace! Acertou em cheio.

Sentamos em um sofá e degustamos daquele sanduíche. Ele estava mais que delicioso.

— Tem notícias da Annabeth? – perguntei.

— Pelo que a Sra. Atena me informou... Ela está trancada no quarto. Ninguém está conseguindo falar com ela direito.

— Acho que passarei lá amanhã.

Ela suspirou.

— Você sempre se preocupa tanto com ela. – comentou.

— Somos amigos. – dei de ombros.

— Ok... Bom, Luke... Se eu perguntasse algo, você se chatearia comigo?

— Não posso dizer sim ou não até saber do que se trata. – ela riu.

— Agora que Percy e Annabeth não estão mais juntos, você e ela vão... Voltar?

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Fiquei em pé.

— Eu simplesmente não te entendo, Thalia. – fui sincero – Uma hora, estamos nos beijando, depois agimos como se nada estivesse acontecendo entre nós. Hoje, você me beijou na frente de todos e depois se comportou como se fôssemos crianças que nunca tiveram nem o primeiro beijo. Agora, você está perguntando se eu ainda quero a Annabeth. Por favor, diga: O que você quer comigo?

Ela cruzou os braços e desviou o olhar.

— Eu não quero nada com você, Luke. Só te beijei hoje de manhã para que o Ethan saísse do seu pé. Era isso que você queria ouvir?

— Eu só quero ouvir a verdade, mas quero que olhe no fundo dos meus olhos quando responder.

Aqueles olhos azuis se encontraram com os meus. Céus, como eu amo aqueles olhos teimosos e birrentos. Eu não resisto...

— Eu não te quero, Luke. – respondeu com a voz fraca – Feliz agora?

Ela ficou de pé, com a cara emburrada.

— Eu te quero, Thalia. – falei – Eu, Luke Castellan, estou completamente apaixonado por você! Eu penso em você o dia todo, principalmente antes de dormir. Eu sou fascinado pelo seu jeito, seu sorriso, seus olhos... Eu sou fascinado por você! Não me importo se você acha que essa declaração é coisa de gente boba e estúpida, só sei que estou me esforçando ao máximo para te ter. Eu não quero Annabeth ou qualquer outra mulher. Eu farei de tudo que estiver ao meu alcance e até além para te fazer a mulher mais feliz do mundo, mas só poderei fazer se você deixar e me querer também...

Ela pulou no meu pescoço e me beijou. Abracei o seu corpo, puxando a para cima. Nosso beijo era apaixonado e intenso. Cheio de carinho e paixão.

— Luke Castellan. – ela falou entre um beijo e outro – Sua declaração é muito boba, mas eu... Gosto dela, de verdade. – ela sorriu para mim – Eu sei que estou longe de ser uma pessoa romântica como você é e que sou meio grossa, na verdade muito grossa... Mas, enfim... Eu estou apaixonada por você também, só que eu tinha medo de você não gostar de mim do mesmo jeito... – ela falava muito rápido.

— Ei, calma. – acariciei seu rosto – O que importa é que estamos juntos agora e que eu vou te fazer a mulher mais feliz do mundo.

— E eu vou fazer você ser o homem mais feliz do mundo.

Beijei a mais uma vez, como se nada mais importasse.

P.O.V. Annabeth

Senti uma lágrima escorrer do canto o meu olho, passar pelo meu nariz e, em seguida, pingar na minha cama. Funguei apertando o travesseiro que eu abraçava. Tentei engolir o choro mais uma vez, mas falhei, miseravelmente.

Nunca imaginei que pudesse estar tão triste por causa de alguém que eu tanto amei. Eu amei Percy, intensamente, e foi isso que eu ganhei? Traição, mentiras e humilhação? Eu queria poder levantar da cama e superar isso tudo de uma vez. Queria mostrar para todos, inclusive o Percy, que eu não poderia estar melhor, mas me sentia fraca e desprotegida. Parecia que o mundo havia sumido por debaixo dos meus pés de uma vez.

— Filha, por favor, abra a porta! – suplicava Atena do lado de fora do meu quarto.

— Meu anjinho, nós não podemos te ajudar, se você não abrir a porta. – dizia tio Quíron.

Eu apenas apertei meu travesseiro com mais força, sentindo mais lágrimas encharcando meu rosto. Eu não queria que ninguém me visse daquele estado, principalmente o tio Quíron. Ele diria que avisou, que sabia que Percy não era flor que se cheirasse e por aí vai.

— O QUE? – gritou tio Quíron do lado de fora – O que aquele filho da puta quer?

— Só disse que quer conversar com a Annabeth. – explicou tia Ártemis – E já mandou aviar que vai encher o saco até falar com ela.

Pulei para fora da cama e fui em direção a porta. Abri a e perguntei:

— Percy está aqui?

— Está em frente a nossa casa, quase derrubando a porta. – respondeu Silena.

— Irei vê-lo. – garanti, enxugando meu rosto, já saindo do meu quarto.

— O que? Eu não acredito que mesmo depois de tudo que aquele canalha fez, você ainda vai dar ouvidos a ele... – resmungou tio Quíron.

Não dei ouvidos a ninguém. Desci rapidamente as escadas e corri até a porta. Quando abri a mesma, tive o corpo de Percy sendo arremessado contra mim, jogando nós dois contra o chão. Gemi com a dor.

— AMOR! – gritou Percy – DESCULPA!

— Não me chame de amor e saia de cima de mim AGORA! – falei empurrando o. Levantei-me.

— Eu estava tentando derrubar a porta, não queria te machucar.

— Você já tem praticamente pós-graduação em me machucar. – rebati – Vamos conversar lá fora.

Fomos para frente da minha casa. Respirei fundo e mantive uma distância de dois passos dele.

— O que você quer? – interroguei com desdém.

— Quero que me escute. – ele suspirou – Annabeth, eu sei que você está irada comigo e com tudo que aconteceu hoje, mas precisa acreditar em mim. Eu mudei. No começo, eu era um idiota que só pensava em colocar a mão na tua grana e pouco me lixava para ti. Quando começamos a namorar, eu continuei pensando no seu dinheiro, mas quando eu te conheci melhor e passei a conviver com você... – ele se aproximou – Eu descobri o amor... – ele tentou encostar no meu rosto e eu afastei a sua mão.

— Não toque em mim. – bufei – Percy, você acha mesmo que eu acredito em você? Você mentiu para mim esse tempo todo e ainda me traiu com aquela mulher! Seja sincero: Você acha que eu vou suportar isso? – comecei a piscar de maneira mais frequente, sentindo o choro começar de novo.

— Você não sabe o quanto estou arrependido...

— CHEGA! ESTOU FARTA DE SUAS MENTIRAS!

— Não é...

— CALA A BOCA! Só saia da minha vida! Eu não quero mais falar com você, nem te ver! Nunca mais me procure!

— Eu te amo!

— Mas, eu te odeio!

— Você me ama, Annabeth. Não tente negar isso.

— VÁ EMBORA! Você está morto para mim!

Virei-me e fui para dentro de casa, seguindo diretamente para o meu quarto.