6:30pm ou Quase Isso escrita por Karma


Capítulo 3
A Chuva


Notas iniciais do capítulo

Esse capítulo tem um pouco de Félix/Niko.



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Será que ainda está vendendo hot-dog? Perguntou-se Félix, parado feito um poste em frente a porta da casa de Márcia. Tinha batido sete vezes e nada da mulher aparecer... Na verdade, já era de se estranhar a porta estar fechada, o que significava que ela não estava em casa. Droga! Logo hoje que queria tanto vê-la. Márcia tem um dom sobrenatural de alegrá-lo, de fazer com que se esqueça das amarguras da vida. Hoje queria o seu ombro amigo, um consolo, queria desabafar sobre o que estava sentindo em relação ao carneirinho.

Talvez seja melhor ligar na próxima vez que quiser encontra-la... Bateu mais uma vez, quem sabe ela não estivesse dormindo? Embora dormir as seis e pouco da tarde de um dia útil não fosse algo do seu feitio.

Enquanto esperava uma resposta, perdeu-se novamente em seus pensamentos, nos demônios que afligiam seu pobre coração. Embora tenha hesitado a todas as investidas do dono do restaurante japonês, não conseguia mais esconder que sente algo por ele, e Márcia sempre soube muito bem disso. O problema é que agora Eron estava na jogada, dizendo-se arrependido e lançando aos quatro cantos os seus sentimentos por Niko. Maldita lacraia do olho azul! Se fosse outra pessoa, claro que Félix não precisaria se preocupar. Mas era o Niko... o cara com o melhor coração que ele já viu na vida. Até um tempo atrás, os dois, Niko e Eron, planejavam ter um filho, construir uma família. Tentaram fazer isso e o idiota do advogado pôs tudo a perder. Porém... Era inegável que o fato dele se dizer arrependido e falar que quer voltar de onde parou estava mexendo com o carneirinho. Eron parecia um adversário que Félix jamais conseguirá alcançar, a história dos dois é forte demais para que se deixe abalar por ele.

Sua divagação foi interrompida quando sentiu algo molhado cair em sua cabeça. Rapidamente levou a mão até seus cabelos, com pavor de que fosse titica de pombo ou algo do gênero, mas logo teve a resposta: chuva. A tímida gota de água que caiu do céu deu lugar a outra e mais outra e em alguns segundos uma porção delas. Félix, agoniado, desceu as escadas que davam acesso à casa de Márcia. A visita ficaria para outro dia.

– Eu devo ter entrado de clandestino na Arca de Noé! – Bradou enquanto descia, fechando a portão esverdeado no fim do trajeto.

Seu carro estava há poucos metros de distância, tudo que teria que fazer era correr um pouquinho. Quando se preparou para fazê-lo, porém, fora surpreendido com o terrível som que o perturbou por meses: um assobio.

– Mas será possível? O que vo... – Começou a falar, nervoso, engolindo a fala logo em seguida.

Virou-se, dando de cara com o mecânico Jucelino. Quis xingá-lo, ou dar-lhe uma de suas respostas típicas, porém um pensamento invadiu sua mente. Havia dias que não via aquele sujeito e, mesmo assim, ele ainda insistia em assediá-lo. Quando esteve hospedado na casa da Márcia, na pior, aquela criatura não deixou de assobiar um dia se quer para ele. No começo Félix pensou que era fogo de palha, que ele era assim com todo mundo e que logo cansaria, agora tinha que dar o braço a torcer, o rapaz realmente era obstinado naquilo que queria.

– Vai ficar na chuva? A oficina é espaçosa, não quer entrar? – Perguntou Jucelino, cheio de intenções.

Seus olhos percorreram o corpo do homem molhado, com a roupa colada e um pouco de graxa misturada com água escorrendo pela testa e braços. O sorriso estampado em seu rosto talvez fosse a coisa mais bonita que ele possuía, concluiu Félix que, pela primeira vez, reparava naquele sorriso. O olhar do mecânico era carregado de desejo, mas também falava outra coisa, algo que ele não conseguia decifrar.

Sem falar nada, Félix marchou até o sujeito. Era mais baixo que ele, o que deixava a coisa um tanto engraçada. Os olhos de ambos se encontraram e a expressão animada de Jucelino mudou, nunca Félix ficou tão próximo dele.

– O que foi? – Perguntou, preocupado. Esperava por outro empurrão.

– Shh! – Censurou Félix, levando seus dedos até a boca dele.

E então Félix se curvou, surpreendendo-o com um beijo. Os lábios do mecânico estavam rígidos, tensos, mas logo cederam para que suas línguas pudessem se encontrar. A surpresa de inicio, deu lugar a um caloroso jogo de braços. Félix sentiu uma das mãos do homem por trás de sua nuca e outra passando em volta de sua cintura, puxando seu corpo para mais perto do dele. Não sabia o que fazer com as suas mãos, aos poucos quis sair da situação, mas fora envolvido pelo que parecia o abraço de um polvo. Quando enfim conseguiu se livrar, ainda estava agarrado pelo sujeito, o que o fez sorrir. Estavam encharcados, mas aquilo não importava, não é? Afinal, o mecânico gostava de peixe.

Não soube o que lhe deu na cabeça, beijar um homem assim, no meio de todo mundo foi algo que nunca havia feito, ainda mais um cara como aquele. Carência? Insegurança? Vontade de retribuir o empenho dele? Talvez. Os braços de Jucelino logo afrouxaram, seus olhos, porém, permaneciam sobre ele. Sem falar nada, Félix se virou e marchou até o carro. O mecânico ficou em seu canto, estático. Félix ligou o automóvel e partiu, olhando pelo retrovisor a imagem do homem parado no meio da chuva.


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Notas finais do capítulo

Escrever sobre o Félix é difícil, é um personagem com muitas nuances (da comédia pastelão a algo mais sério). Espero que não tenha ficado muito bizarro. ;)



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