Green Eyes escrita por Kriss Black


Capítulo 2
O que ele tem?


Notas iniciais do capítulo

Olá pessoas,
Mas um capitulo, espero de coração que gostem.



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A semana passou de modo arrastado Julia ia pra aula mesmo sem se sentir bem, estava ficando gripada e por isso o baixo rendimento. No mesmo dia da crise ela pegou aquele chuvisco e dormiu a noite toda no ar condicionado no maximo, ela deveria mesmo estar querendo se matar e sem contar que teve que ouvir as reclamações dos pais pela irresponsabilidade e blá, blá, mas hoje já era sábado e o curso seria somente até o meio dia, ainda bem... Julia olhava para o relógio de cinco e cinco minutos, estava com frio e queria ir embora, alias nem deveria ter vindo, mas agora os dois amigos estavam de cama e ela precisava anotar tudo pra eles também. Pra completar a situação naquela manhã teve uma briga daquelas com seus pais, pois como segunda-feira era feriado eles iriam ao interior visitar sua avó e Julia insistiu que não poderia ir, pois teria que estudar, uma vez que as provas estavam chegando e ela não poderia se dar ao luxo de viajar com tudo tão próximo, depois de muita discussão eles aceitaram que ela ficasse, mas teria que ser na vila, ou seja, antes de vir pra aula teve que levar suas coisas para lá e ainda teria que comprar suprimentos para esses quatro dias. Pelo menos é bem mais perto daqui, cristo como necessito de um banho quente... Pensou cansada. Assim que foram liberados Julia quase correu para fora da sala e não ficou surpresa ao ver Eduardo na recepção do curso, na ultima semana ele vinha quase todos os dias ali pra falar com os alunos e fazia questão de atormentar sua vida sempre que a via, então Julia adotou a estratégia de fingir que ele não estava lá quando se esbarravam, mas hoje devido algum individuo fumante do lado de fora e com a crise de tosse horrível que se seguiu foi quase impossível passar despercebida e quando ela sentou pra tomar o fôlego um colega de turma foi ver como ela estava.

– Nossa Ju, você está ardendo de febre! – exclamou ele quando tocou na mão dela. – Vou chamar alguém da recepção. – disse levantando-se antes que Julia dissesse que não era necessário.

Logo Eva a recepcionista veio apressada e a levou até a sala pra sentar no sofá mais confortável, Julia ia começar a dizer que era só uma gripe e ia tomar algo quando chegasse em casa, mas Eva insistiu que ela ficasse um pouco ali e quando Eduardo saio do bate-papo com o aluno veio até ela.

– Ei marrenta. Como estás? – perguntou sentando ao seu e cruzando as pernas. Ele fazia o ato de cruzar as pernas parecer uma coreografia bem ensaiada e Julia não pode deixar de perceber que ele sabia ser classudo quando queria.

– Maravilhosamente bem. – respondeu fuzilando ele com o olhar. – Eva. Já estou indo, obrigada pela atenção. – disse Julia ao se levantar.

– Mas você esta com febre e pode passar mal no ônibus. – insistiu.

– Febre? – perguntou Eduardo ao mesmo tempo em que pegava o pulso de Julia pra verificar. – Verdade, você quer uma carona? – ele parecia aflito.

– Não é necessário irei pra um local a algumas quadras daqui. – falou Julia puxando o pulso das mãos dele.

– É necessário sim, por favor, Eduardo! Eu mesma iria, mas ainda tenho umas coisas pra resolver aqui. – comentou Eva.

– Marrentinha... – chamou abrindo a porta pra ela. – Me deixe levar essa mochila.

Julia estava com tanta vontade de chegar em casa que preferiu não discutir e entregou a mochila a ele, foi andando na frente rumo a casa de sua avó, percorreu todo o trajeto em silencio e reprimia com todas as forças a vontade louca que estava de tossir pra não dar a ele desculpas pra puxar assunto, assim que chegou em casa, virou-se pra Eduardo e pediu a mochila.

– Acho melhor você ir ao hospital, ficar gripada já não é bom e gripe em uma asmática é pior ainda! – falou segurando a mochila enquanto falava. – Diga a seus pais que está com febre e vá.

– Estou sozinha em casa, mas irei se achar necessário. – falou Julia puxando a mochila. – Obrigada por me acompanhar. – e entrou na casa.

Eduardo nada disse, apenas observou Julia entrar na casa e passar a chave na porta, aquela menina havia mexido com ele de uma maneira diferente, algo nela despertava coisas estranhas, como a vontade louca de bater naquela porta e oferecer companhia, mas ele sabia que Julia nunca aceitaria, já tinha percebido que ela tinha um gênio forte e se achava dona da razão ele convivera por anos com uma pessoa assim e bem sabia como era difícil fazê-la mudar de opinião, respirou fundo e começou a voltar pra pegar sua moto.

Julia nem conseguiu chegar ao quarto se jogou no sofá da sala e adormeceu quase que instantaneamente, todo seu corpo doía e até mesmo pra deixar os olhos abertos era difícil, definitivamente a gripe tinha nado um nocaute nela. Acordou com falta de ar e quase não conseguiu sentar pra pegar a bombinha na bolsa, olhou ao redor depois de tomar o remédio e percebeu que já tinha escurecido e que chovia forte do lado de fora, tentou ligar o abajur e viu que não tinha energia, ótimo, doente, sozinha, o mundo desabando do lado de fora e puf sem energia! Merda. Pensou voltando a deitar, não tinha animo nem pra procurar velas na cozinha, só queria dormir e dormir... Pouco depois se assustou com alguém esmurrando a porta e a muito custo foi caminhando devagar até lá, Julia não entendia o porquê de seu corpo parecer tão pesado, estava tão distante que nem se deu ao trabalho de olhar antes de abrir a porta, no momento que a abriu o vento frio da chuva pareceu cortar seu corpo fazendo-a cambalear, mas antes de cair sentiu braços quentes a segurar pela cintura e em seguida carrega-la, a pessoa que a pegou estava tão quente que ela involuntariamente se aconchegou mais, nem havia percebido como estava com frio.

– Onde fica o banheiro? – perguntou uma voz rouca e ela reconheceu na hora o dono dela.

– O que você está faz... – tentou levantar a cabeça mais a dor fez a frase morrer no meio.

– O banheiro Julia! – insistiu Eduardo com firmeza.

– Em cima. - murmurou

Eduardo tinha ficado inquieto desde o momento que a deixou em casa e tudo só piorou quando começou a chover, ele não sabia o numero dela ou de qualquer conhecido e quando não aguentava mais ficar em casa pegou o carro e foi até a casa dela, precisava saber se estava tudo bem toda aquela febre não era normal e ele se sentia responsável por tudo aquilo, afinal seu maldito vicio tinha desencadeado uma crise de asma na menina. Assim que chegou à vila percebeu que não tinha energia e tentava convencer o porteiro que precisa ver como a “amiga” estava, mas só conseguiu entrar quando outro morador intercedeu por ele afirmando que o resto da família dela estava fora da cidade, estacionou em frente à casa e correu para não se molhar, apertou a campainha diversas vezes até lembrar a falta de energia Idiota resmungou quando bateu na porta, depois de minutos sem resposta começou a ficar em pânico E se ela desmaiou ou coisa pior? Esmurrou a porta com mais força até que ouviu algo do outro lado, logo a porta foi aberta por uma Julia amassada e com uma cara horrível, um vento forte passou e Eduardo percebendo que ela ia cair a segurou pela cintura, mas quando tocou o tecido da roupa dela sentiu seu coração dar um solavanco devido à temperatura elevada, pegou-a no colo e seguiu por onde ela indicará que tinha um banheiro, a casa estava na escuridão total e somente depois de abrir a terceira porta que foi encontrar um banheiro com certa dificuldade sentou Julia no vaso sanitário e foi ligar o chuveiro, ele a ouviu resmungar alguma coisa, mas não conseguiu distinguir o que era, ela parecia estar delirando devido a febre e aquilo o deixou mais agitado.

– Vamos Julia me ajude! – pediu levando ela pra debaixo da água.

Assim que Julia sentiu a água fria bater em seu corpo gritou de susto, ela estava com tanto frio que pensou que desmaiaria, começou a se debater pra sair da água, mas Eduardo era forte e a segurou firme. Pouco depois ela começou a se sentir mais atenta e teve a plena consciência que um estranho estava dando um banho gelado nela, depois de uns minutos ele colocou-a com cuidado sentada no vaso sanitário e saiu, voltando com duas toalhas secas.

– Se enxugue e me espera aqui. Sabe onde encontro velas? – perguntou num tom autoritário.

– Na primeira gaveta do armário da cozinha. – respondeu Julia automaticamente.

Ela o viu sair pela porta e ficou ali segurando as toalhas, no mínimo aquela situação era bissara... Com dificuldade foi andando até o quarto e trocou de roupa, ali a luz da noite entrava e estava bem mais iluminado que o banheiro, secou os cabelos o maximo que conseguiu e os penteou. Tentava absorver a ideia de um cara quase estranho estar na sua casa naquele momento.

– Julia? – chamou Eduardo

– Estou aqui. – respondeu sentando na poltrona do outro lado do quarto. – Mas a pergunta é: o que você faz aqui? – quis saber quando ele entrou no quarto trazendo duas velas consigo.

– Um obrigado, já seria de bom grado. – reclamou colocando as velas na prateleira mais alta para iluminar o quarto todo. – Fiquei preocupado com você depois que começou a chover e parece que fiz bem em voltar aqui, sabe Deus o que poderia ter te acontecido aqui sozinha e doente! – ele caminhou até ela e levantou seu braço com cuidado pra colocar um termômetro, que por sorte havia encontrado no banheiro, pra verificar se a temperatura havia baixado. – Nunca brinque com sua saúde, estavas delirando de febre e o próximo estagio poderia ser uma convulsão e sabe o que isso poderia fazer com uma asmática? – Eduardo olhou fundo nos olhos dela e não obtendo resposta completou. – Deverias me agradecer e ponto!

Julia olhou pra ele com um misto de raiva e agradecimento, não gostava de receber lição de moral de um estranho e ela não tinha negligenciado sua saúde apenas não tinha percebido a gravidade da situação, claro que ela não pretendia fazer nada que a prejudicasse, simplesmente aconteceu, o termômetro apitou e ele o tirou.

– 38º graus ainda estas com febre, vou até meu carro pegar um antitérmico e já volto. – disse Eduardo saindo pela porta.

Julia ficou no mesmo lugar ainda um pouco atônita por tudo que estava acontecendo ela sempre fora autossuficiente em tudo e ver alguém cuidando dela dessa maneira era diferente, ainda mais sendo uma pessoa que não tinha a obrigação de fazer isso. Eduardo voltou pouco depois com um pouco de água e o comprimido pra ela tomar.

– Agora deite um pouco. – pediu estendendo a mão pra ela.

Segurou a mão estendida dele, tentando ignorar o arrepio que passou por seu corpo no instante que ele tocou sua mão e deixou-se conduzir até a cama, ele a embrulhou com o edredom que estava ao pé da cama e sentou no chão pra eles ficarem da mesma altura, Julia não sabia explicar o que estava sentindo ali diante daqueles olhos verdes tão expressivos, algo naquele homem fazia ela se sentir segura, protegida, sabia que enquanto ele estivesse ali nada aconteceria, era estranho se sentir assim, pois nunca ninguém despertou tal conforto nela e ele parecia fazer tudo com tanta naturalidade. Ele é medico, deve ser por isso que me sinto assim, eles são treinados pra passar conforto! Pensou Julia deixando-se vagar pela imensidão verde daqueles olhos.

– Obrigada. – murmurou um pouco antes de adormecer.

Eduardo sorriu ao ouvir o agradecimento e ficou ali olhando ela adormecer lentamente, mas precisou reprimir o impulso de afagar o rosto dela a cada crise de tosse que presenciou. Desde o momento que a viu naquele pátio algo no jeito daquela menina o deixou sem chão, o modo como ela falava tão segura de si ou o jeito que ela colocava os cabelos castanhos atrás da orelha, talvez a energia que soltava naqueles olhos cor de mel, ele não sabia o que ao certo, mas sabia que aquela menina que adormecia na sua frente mudou algo dentro dele... Depois que a viu pela primeira vez ficou louco pra encontrá-la de novo e foi por isso que se ofereceu pra orientar os vestibulandos de medicina, pois sabia que a veria todos os dias, sabia que era doentia essa ideia, afinal eles não tinham se dado bem no primeiro contato e com toda certeza Julia não havia deixado brecha para uma futura amizade, claro imaginou que seria difícil se aproximar dela devido ao incidente com o cigarro, mas foi bem pior e com toda certeza ele não queria encontrá-la como a encontrou hoje, frágil e necessitando de cuidados médicos vê-la dessa maneira foi terrível, seu coração batia dolorosamente lento a cada crise durante a noite e ficava ali olhando o subir e levantar de seu peito e tocava seu pulso vez ou outra pra ter certeza que ela estava viva, muitas vezes durante a noite ela parava de repirar e voltava com uma crise de tosse e em pensar que só queria ter uma oportunidade de conhecê-la melhor e descobrir o porquê de ficado tão fascinado por essa baixinha marrenta.

Julia acordou com o sol queimando seu rosto e com um calor infernal, chutou as cobertas de cima do seu corpo e tentou mexer a cabeça pra ver se ainda doía sentiu uma pontada sutil, mas não era nada comparado ao dia anterior, sentou com cautela e depois de um tempo levantou pra lavar o rosto no banheiro, levou um susto ao ver sua imagem refletida no espelho, os cabelos estavam um ninho de rato, o rosto amassado e olheiras medonhas, tentou melhorar um pouco a aparência antes de descer pra preparar algo pra comer, mas ela tinha a nítida impressão que estava esquecendo-se de algo. Assim que chegou a cozinha soltou um grito ao ver um homem remexendo nos armários.

– Meu Deus mulher quer me matar? – perguntou Eduardo dando um salto. – O que aconteceu?

– O que você está fazendo aqui? – perguntou Julia assustada e como num estalo ela se lembrou da noite anterior e tudo que Eduardo tinha feito por ela e como ele havia a salvado. – Então não foi um sonho?! – murmurou.

– Humm... Andas sonhando comigo, é? – gabou-se.

– Claro que não. – apressou-se em negar. – Só estava confusa.

– Ok, senhora confusa. Sente-se que vou fazer algo pra gente comer. – disse Eduardo voltando a olhar os armários. – Assim que encontrar onde estoca comida.

– Não vai encontrar nada ai. E para de me dar ordens!

– Já vi que estas bem melhor. – falou se afastando.

– Não tem comida nessa casa, ia sair hoje cedo pra comprar umas coisas, minha avó não mora aqui á uns meses. – comentou Julia. – Vou trocar de roupa pra ir ao supermercado.

– Negativo, não vai sair daqui. Ontem estava ardendo em febre. – falou Eduardo ficando na frente dela. – Vá tomar um banho e eu saio pra comprar comida.

– Para de me dar ordens. – disse entre dentes. – E não tem cabimento você fazer isso.

– Claro que tem, aceite minha ajuda como modo de me redimir por aquela manhã no pátio. – pediu olhando pra ela com cara de cachorro pidão.

– Já pagou sua divida me ajudando ontem, então pode ir viver a sua vida e me deixe em paz! – falou Julia, mas ao ver a cara de desapontamento dele quase se arrependeu. – O que foi? Vai me dizer que não tem nada mais importante pra fazer?

– Pra falar a verdade não tenho, prefiro ficar aqui e me certificar de que ficará bem! – insistiu.

– Desisto! – gritou Julia subindo as escadas rumo ao banheiro.

Julia não conseguia entender essa fixação de Eduardo querer fazer companhia a ela, afinal já estava bem melhor, eles mal se conheciam e o pouco que falaram na ultima semana foi pura cortesia, claro que ela ficava extremamente incomodado quando ele ficava encarando-a com aquelas duas esmeraldas que pareciam ler o mais intimo segredo que ela guardava, algo nele dava uma agonia sem fundamento nos sentidos de Julia e ela com toda certeza não gostava de não ter a situação sobre controle, sem contar que era quase impossível não se sentir intimidada por um homem daqueles que ainda por cima tinha personalidade forte o suficiente pra não se abalar pelas grosserias dela. O que será que ele quer?Será que devo ligar pra alguém? A policia talvez, afinal ele pode ser um psicopata! Deixa de ser ridícula Julia, ele só está tentando limpar a consciência. Pensava enquanto penteava os cabelos se olhando no espelho do banheiro, só agora pode ver que tinha perdido peso naquela semana os ossos do seu rosto estavam evidente e os olhos fundos, nunca tinha sido uma pessoa muito encorpada, mas havia ganhado bastante corpo depois que começou a fazer corridas regulares por indicação médica, o certo seria natação, porem não tinha uma piscina à disposição e preferiu correr ao redor do Bosque Rodrigues Álvares que ficava a três quadras de sua casa era um ambiente agradável, um bosque preservado no meio da cidade e as margens de uma das maiores avenidas de Belém, era bem incomum, mas agradabilíssimo para pessoas que necessitavam fugir da poluição, pois as árvores conseguiam deixar o ar com uma leveza incrível. Julia suspirou e foi vestir uma roupa antes que Eduardo chegasse e a pegasse só de toalha, vestiu uma calça de tecido fino e uma camiseta qualquer, ao se olhar no espelho viu que parecia bem melhor depois do banho, a pele morena tinha perdido um pouco da palidez, os cabelos curtos e castanhos não pareciam mais ninho de rato e vestida nem parecia tão abatida. Porque estou me preocupando tanto com minha aparência? Que coisa! Balançou a cabeça e desceu pra esperar pela comida na sala, pegou um livro na mochila que estava no chão e começou a caçar seus óculos pela sala os encontrou debaixo da mesa de centro rindo sozinha foi se aconchegar no sofá pra ler, não era uma leitura para o vestibular dessa vez e sim o quinto volume da sua série de fantasia favorita, Harry Potter, ela amava livros de fantasia, pois eles narravam um novo mundo, com novos conflitos, coisas que a faziam fugir da realidade quando embarcava na leitura, era como sair no mundo real mesmo que por alguns momentos, era fascinante e viciante.

– Porque você está chorando? – perguntou Eduardo deixando umas sacolas no chão e correndo pra perto dela.

Julia assustou-se ao ouvir a voz dele e somente diante da pergunta que pareceu perceber as lágrimas que manchavam seu rosto, ela o olhou com a visão embaçada pelas lagrimas e somente levantou o livro como se aquilo fosse explicar tudo. Ele balançou a cabeça e foi levar as coisas pra cozinha, voltou pouco depois com um copo de suco e um sanduiche deixando-os na mesa de centro pra ela se servir.

– Sério mesmo que estava chorando por causa de um livro? – quis saber depois de sentar pra comer.

– Um dos meus personagens favoritos morreu. – disse dando de ombros.

– Pessoas morrem.

– Mas personagens não deviam morrer, afinal lemos isso pra fugir da realidade e se quisesse ser confrontada com a verdade do mundo saia na rua e não ficaria lendo um livro! – argumentou chateada, sabia que iria mudar de opinião depois que o luto passasse, mas por hora ficaria revoltada com a autora.

– Bom argumento. Que livro é? – Eduardo pegou o livro e caiu na gargalhada.

– O que foi?

– Você é um enigma pra mim, gosta de Harry Potter? – mais gargalhadas. – Faz questão de ser marrenta, mas chora lendo um livro. Não gosta de ajuda, mas me agradeceu depois de um aperto. Tem um dom de argumentação, mas não vai cursar Direito. Vive com o rosto fechado, mas tem um sorriso lindo. – ele se reencostou na poltrona e ficou olhando-a com curiosidade. – Uma garota que faz tanta questão de se esconder do mundo, é com toda certeza um enigma.

Julia ficou sem fala por alguns minutos, como ele havia lido suas principais características em tão pouco tempo? Logo ela que fazia questão de esconder suas fraquezas, preferia ficar na dela a ter que viver naquele frenesi adolescente. Quem era aquele cara que estava ali na sua frente? E porque ela parecia gostar cada vez mais da presença dele?

– Acertei na mosca, não foi? – gabou-se.

– Claro que não, só estou admirada da tua pretensão. – ela não admitiria o que ele provocou com aquelas palavras. – Me conhece há quanto tempo? Alias pra conhecer alguém precisa de certo convívio e nós dois nos encontramos poucas vezes esses dias! Então meu caro, você acha que me conhece, mas está errado!

– Veremos. – sorriu bebendo um pouco de suco.

– Não veremos nada porque estas indo embora. Quanto estou te devendo pelas compras? – indagou pegando a carteira na bolsa.

– Não seja ridícula, não vou te cobrar nada. – Eduardo pareceu ofendido e segurou a mão dela pra impedir que pegasse o dinheiro. Ele sentiu novamente como se um choque elétrico tivesse passado por seu corpo ao tocar a pele morena de Julia, mas não retirou a não do pulso dela como seus instintos gritavam. – E tão pouco vou embora. Você não vai ficar sozinha.

Julia puxou o braço do aperto dele e ia começar a falar, mas como ele voltou a se reencostar na poltrona desistiu de gastar saliva. Terminou de comer e tentou ignorar a presença dele, mas sempre seus olhos procuravam pelos dele como se fossem imãs Julia Neves você está ficando maluca, como pode permitir que ele te trate assim? Respirou resignada e foi levar a louça suja pra pia. A febre deve ter fritado meu cérebro ou algo assim. Vou fazer ele ir embora, é isso!

– Meu namorado não vai gostar de te ver aqui! – falou Julia voltando pra sala.

– Não tens namorado.

– Claro que tenho. – afirmou.

– Tens nada, eu sei! – ele se levantou e ficou a poucos metros dela. – Sei que não gosta de perder tempo com essas coisas antes do vestibular, sei que usa todo tempo livre pra estudar e poucas vezes como agora pouco faz algo que não tenha a ver com estudos. Também sei que tem poucos amigos próximos, mas todos parecem te venerar naquele cursinho, os professores comentam muito sobre você e que vem pra essa casa porque prefere ficar sozinha a ouvir seus pais brigando o tempo todo e também sei que tua cor preferida é verde! – sorriu vitorioso.

– Tudo bem, agora ficou provado. – falou dando uns passos pra trás. – Você é um psicopata!

– Claro que não, apenas tenho uma boa lábia e você fala dormindo! – gargalhou.

– Você ficou me ouvindo falar a noite toda e ainda investigou minha vida no cursinho? – esbravejou Julia quebrando o espaço entre eles e o cutucando no peito com toda força. – E porque cargas d’água você faria isso?

– Essas são boas perguntas. Mas não sei responder! – disse Eduardo coçando o queixo. – Apenas fiquei curioso, sempre consigo ler as pessoas na primeira vez que as vejo, mas com você não foi assim e isso me deixou intrigado, então uma coisa levou a outra e quando vi já tinha feito.

– Louco! – esbravejou Julia. – Vá embora, por favor! – pediu com toda boa educação que conseguiu empregar na voz. – Estou bem e sei me cuidar sozinha.

– Olha, Julia...

– Por favor. – pediu outra vez.

Eduardo levantou as mãos se rendendo e foi caminhando até a porta, mas antes tirou uma caneta do bolso e pegou a mão de Julia pra escrever seu numero nela.

– Se sentir qualquer coisa me liga, por favor! – ele a olhou por alguns segundos. – Desculpa por parecer que queria invadir seu espaço, mas... Deixa pra lá! Tome outro antitérmico as 12h30min e outro em oito horas ou a febre vai voltar.

– Tudo bem.

– Desc... – começou a falar, mas Julia fechou a porta antes que ele dissesse algo coerente.

Uma vez sozinha tentou não pensar em quão estranho era um cara pesquisar sua vida, foi até a cozinha arrumar as coisas que ele havia trago, viu pela quantidade de coisa saudáveis que ele realmente estava com boas intenções, sentiu um aperto no peito, mas ignorou o sentimento. Foi até a sala pra pegar seu material e estudar um pouco, mas assim que se sentou à mesa e abriu o livro percebeu que não iria conseguir estudar, sua cabeça trabalhava a mil por horas tentando encaixar os últimos acontecimentos, foi tudo muito estranho e inesperado do nada o homem apareceu no seu caminho e fez um caos total. Julia se sentia exposta perto dele como se toda muralha que demorou anos pra construir ao seu redor caísse por terra quando ele a olhava, seu coração batia em um ritmo diferente perto dele, tinha vontade de brigar e conversar ao mesmo tempo. Mas que merda é que está acontecendo comigo? Colocou a cabeça entre as mãos pra tentar espantar todas aquelas duvidas, não tinha cabimento essa confusão mental, ele era só um cara comum, incrivelmente intrometido e lindo... Meu Deus que olhos... Pare já com isso Julia! Ela sorriu diante dos próprios pensamentos e voltou para a cama uma vez que não conseguiria estudar, iria ao menos tentar descansar dessa gripe medonha ao deitar lembrou-se claramente da noite anterior e como Eduardo tinha ficado velando seu sono. Bufou indignada consigo mesmo por não conseguir tirar ele da mente.

Eduardo andava de um lado pra outro em seu quarto, estava com raiva de si mesmo por se deixar envolver tanto com uma garota que ele mal conhecia afinal de contas o que ele estava pensando ao fazer tudo aquilo? O que ele queria afinal? Jogou um dardo no alvo que ficava atrás de sua porta e ficou ali olhando pra aquele alvo como se ele fosse o verdadeiro culpado por tudo que estava acontecendo. As respostas gritavam no fundo de sua mente, mas ele as ignorava com toda força, pois elas eram ridículas demais e impossíveis de acontecer com ele... Logo ele, estaria apaixonado por uma garota marrenta, metida, egocêntrica, estúpida e extremamente linda! Pensou contrariando qualquer tipo de argumentação anterior... Era impossível, eles mal se conheciam e essa coisa de amor a primeira vista não existia era pura balela de gente melosa e ele não tinha nada de meloso, pelo contrario ele detestava pessoas melosas, bobas que ficavam suspirando pelos cantos e ele com toda certeza não seria uma dessas pessoas. Pronto estava resolvido, ele daria um tempo, ficaria uns dias sem encontrá-la, ou melhor, sem forçar encontros e veria o que acontecia. As coisas nunca foram fáceis pra ele e não seria agora que elas mudariam, essa possibilidade de estar apaixonado por Julia era a prova viva que ele sempre procurava pelas coisas mais complicadas da vida.


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Notas finais do capítulo

E ai mereço um review?
Amei escrever está estória e queria muito saber o estão achando, lembre-se que são vocês que movem essa autora aqui! hahahaha
Me digam o que acham da Julia e do Eduardo, eu particularmente estou amando escrever eles, agora é com vocês!
Bjinhos



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