Till the world end escrita por Júlia Lerman


Capítulo 3
Capítulo 2


Notas iniciais do capítulo

Peço desculpas pela demora. Tive alguns contratempos com a saúde.

Senpai, feliz aniversário! (novamente e atrasado) Dedico esse capítulo inteiramente à você! (que não é grandes coisas) Aproveitando pra te agradecer por sempre revisar os capítulos que eu preciso e também por ser uma das únicas pessoas que me aguentam o dia inteiro. Por mais que nossa amizade não seja das mais convencionais, eu guardo muito carinho por ti. Adoro quando você fala demais, assim nosso assunto nunca acaba! E também amo quando você me vicia em algumas bandas... COF COF. Enfim, você é uma das pessoas mais admiráveis que eu conheço; sempre diz as coisas certas na horas em que lhe convém, sabe me ouvir, mas também sabe ser franca. Você tem um bom coração, além de ser gentil e muuuuuuito fofa! Divertida. Às vezes me faz rir tanto, porém quase sempre inventa de matar algum personagem com essa criatividade além das alturas... Criatividade que sempre me salva nas horas (quase sempre) em que eu não tenho nenhuma.
Amo você. Continue sendo essa tagarela e viciada em criar rp's.



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Acordo com um barulho horrível vindo do lado de fora de casa. Aquela típica música de vinil arranhado, com qual acordo todas as manhãs. Uma antiga cantiga de gemidos e passos arrastados, e então lembro-me: O apocalipse já começou.

O dia mal clareou e eu já estou de pé, com o típico frio de setembro fazendo-me vestir uma blusa a mais. Quase pareço um pacote pesado descendo as escadas; mesmo dentro de casa, com tudo trancado o frio é intenso.

Chego à cozinha estranhamente silenciosa. Este cômodo, a esta hora da manhã, não costumava ser tão quieto. Embora agora os grunhidos estejam mais altos, não me referi a este tipo de barulho. Mas sim de pessoas como eu, e não essas coisas nojentas que pessoas como eu se tornaram.

Logicamente, esse bando de mordedores percebeu minha movimentação na casa e agora estão se aproximando. Não me preocupo, afinal, eles não conseguem destrancar as portas; não têm tamanha inteligência para algo antes considerado tão simples. As camadas a mais que eu mesma coloquei de tábua nas portas e nas janelas da casa impedirão que eles as quebrem. Estou segura. Mas por quanto tempo?

– Oi mãe, pai, Louis – digo em meio a um suspiro. Olho para a mesa vazia e caminho até a dispensa, onde pego o resto de um cereal achocolatado e a última caixinha de leite que há muito tempo está ali.

Sento-me à mesa deserta, em minha casa fantasma, e como meu café-da-manhã regrado. Vez ou outra solto um suspiro, querendo gritar para que esses defuntos andantes parem de gemer. Ainda com fome, pego um radinho velho que meu avô costumava escutar suas músicas velhas, mas ele não tem sinal algum, de modo que bato algumas vezes com força nele, porém nada além de um chiado sai dessa caixinha podre.

No início de toda essa chacina, os aparelhos eletrônicos funcionavam, mesmo que muito mal. Havia alguns noticiários na TV, contudo a situação foi se agravando e os noticiários já não passavam com tanta frequência. Uma das coisas que eles sempre frisavam nas reportagens era o centro de refugiados, e os perigos de ficarmos trancados em casa.

Contrariando todos os avisos e precauções dos caras da TV, eu sequer procurei um centro e me trancafiei em casa, recusando-me a sair até muito longe. Mas me permiti ir até a padaria e farmácia mais próximas. Vendo que meus estoques estavam acabando, eu realmente precisei ir; não queria invadir a casa dos meus vizinhos e descobrir um novo casal de moribundos ambulantes.

Corro para a frestinha da janela, e observo a atual situação da minha rua. Vendo daqui, parece que não tem muitos zumbis por perto, mas não quero arriscar a audácia de sair lá fora. Semicerro os olhos e penso onde foi que eu coloquei minhas lentes de contado de grau, quando sou surpreendida por um zumbi, este que apareceu bem onde está a frestinha.

Com o susto, cambaleio para trás, mas algo me surpreende. Ele não está se debatendo contra a madeira, muito menos grunhindo e, vendo daqui, ele até parece estar com um semblante curioso. Aproximo-me do moribundo e por um segundo nosso olhar se fixa. Os olhos brilhantes e sem vida me encaram e eu retribuo, com meus olhos míopes e castanhos. A boca babando e as bochechas fundas de cor acinzentada me fazem estremecer, até que, num gesto aparentemente normal, ele se vira e sai se arrastando para longe.

Subo para meu quarto, tremendo e com medo. Olho a minha volta e tudo parece estar tão escuro, tão frio e mórbido, como se não fosse eu que estivesse ali. Talvez tudo isso fosse apenas um pesadelo ruim e a verdadeira eu está no parque de diversões do terror com Brad e Amy, onde todo o medo não passa de uma brincadeira.

Enfio-me debaixo das cobertas, porém, não consigo parar de tremer. Quero encontrar Amy, meus pais e meu irmão. Estou tremendo de ansiedade, de saudade. Tanto que não consigo me mover. É como se algo me obrigasse a ficar, mesmo com toda essa vontade de sair correndo, procurando e gritando o nome deles. Algo além da força centrípeta, obrigando-me a cair em meio à poeira de caos, afundar em meus pensamentos negativos e me fazer acreditar que não vale mais apena viver. Não há mais nada para se fazer agora, eu estou desistindo, me afogando.

O mundo se apagou. Não tem mais luz, não tem mais vida. Está tomado pelo brilho da morte. O corredor escuro das almas clama meu nome. Ela me encara. Mas eu recuso. Meus pensamentos estão confusos, minha cabeça dói, a voz que grita dentro dela é forte. Ela diz: Agora é hora de construir do fundo do poço até o topo.

Se para chegar ao paraíso precisa-se passar pelo inferno, eu escolho arriscar esse caminho. A dor já se fora, a voz deixou sua cicatriz e nela, a minha vontade.

Levanto-me. Não sinto mais frio. O medo já não existe mais. Estou acordada para a vida agora, sem medo do escuro poço de poeira negativa, pois sei que não vou me afogar nele. Percebo que o Sol ainda não se apagou. Existe vida lá fora, esperando para ser redescoberta. Sinto isso em meus ossos, vai além do sistema, percorre cada centímetro da minha alma, faz minha espinha doer e meus pêlos arrepiarem. Mas eu estou acordada agora. O brilho intenso de um olhar sem vida já não me assusta.

Não há nada que me faça voltar atrás. Arrumo minhas coisas. Minha mochila está carregada de água e barras de cereal – tudo o que me sobrara – e assim eu caminho até a sala de estar, onde larguei a espingarda. Vê-la ali, jogada, faz-me voltar à morte de meu amigo moribundo, desfigurado e fedendo. Meu estômago imediatamente se embrulha e um gosto de metal quente invade minha boca. Percebo que o gosto trata-se de sangue. Estou mordendo minha bochecha interna para não vomitar.

Engulo em seco, pego a espingarda e posiciono-me em frente à porta dos fundos. Penso uma última vez o caminho que percorrerei até a casa de Brad, que por sorte não fica longe, enfio a chave na fechadura e destranco-a. Pego na maçaneta gelada e a giro.

...

O vento frio encontra-se com o carbono que sai dos meus pulmões quentes, formando uma fumaça. Olho por todos os lados, procurando algum sinal de aglomeração zumbi, mas não vejo nada. Talvez eles ainda sintam frio e estejam por aí, arrastando-se a procura de algum lugar quente.

Após alguns minutos de caminhada, bem ao longe, vejo apenas um zumbi. Escondo-me atrás de uma caçamba grande de lixo, observando-o com sua cara débil e babenta. Não quero gastar munição desnecessariamente, muito menos atrair mais deles, portanto, tudo o que faço é correr e me esconder. À medida que aumento a velocidade, sinto meu corpo se esquentar e o frio torna-se algo menos preocupante no momento. Viro a esquina. A casa de Brad é a última da rua, e eu só preciso passar pelos seis zumbis que rastejam nela.

Suspiro. Encaro um por um. Duas mulheres, três homens e uma criança. São vizinhos do Brad, obviamente, mas só consigo reconhecer a criança, que está menos desfigurada. O garoto gorducho sempre andava de bicicleta pelo quarteirão quando eu voltava da escola com Brad e Amy, ele sorria e acenava para meu amigo, que sempre fora muito gentil e educado, e sorria de volta.

Mas está mais do que certo, o garoto não se lembra de mim. Sei disso porque ele é o primeiro a avançar, mordendo o ar, as mandíbulas tremendo, boca babando e aquele terrível olhar brilhante focado em mim. As duas mulheres com roupas elegantes esfiapadas, a qual uma lhe falta um braço, os três homens engravatados e a criança correm debilmente a meu encontro. Respiro e inspiro profundamente, tenho que lutar contra a voz que soa novamente em minha cabeça. Mandando-me fugir, dizendo-me que não há mais luz. Fecho meu punho tão forte que as unhas perfuram minha pele, e com a dor, a voz some, deixando-me a só com os moribundos a poucos metros em minha frente.

Rapidamente miro a espingarda na mulher sem braço e atiro. O tiro pega-lhe no pescoço, jorrando sangue e pedaços de carne para os ares. Meu estômago se revira com a cena, porém ainda não acabou. Ela ainda consegue andar, de modo que miro na cabeça e atiro novamente. O segundo tiro é certeiro e a zumbi cai, com o crânio rachado e um pouco de massa encefálica sai da rachadura. Viro-me para o lado esquerdo e aperto várias vezes o gatilho, numa sequência perfeita de tiros, acertando em cheio o cérebro da outra mulher e dos homens. Ofego e percebo que a criança ainda não se foi.

Procuro por ele pelo meu lado direito, embora não veja nada, meus dedos apertam firmemente a arma. No momento em que viro-me para a esquerda, vejo um vulto e em seguida uma dor latejante na cabeça. A cena seguinte é turva. O gorducho está em cima de mim. Ele abre a boca sobrenaturalmente e ataca, mas antes que ele enterre suas presas em mim, lhe dou um chute e tento mirar em sua testa, porém o tiro acerta seu ombro. Levanto-me rapidamente, com a mão trêmula aperto o gatilho e vejo mais um zumbi caído com o crânio quebrado.

Correr. Tenho que correr, pois o anoitecer está próximo e mais deles virão em consequência das várias balas que gastei hoje. Posso ouvi-los e pela altura dos passos arrastados, toda concentração de zumbis da cidade está vindo justamente para esta rua. Ainda com dor, tento abrir a porta da frente, mas ela está trancada. Desesperada, tento abri-la chutando-a, não adianta muito. Olho para o final da rua e meu queixo cai. Esta diante de meus olhos a maior tropa de mortos-vivos que eu já vira na vida. Inesperadamente, a porta se abre, sem que eu tenha feito um único movimento. Talvez meus olhos estejam me enganando novamente. A pessoa que abre a porta é Louis, meu irmão.

– Jen? - Ouço sua voz e minha visão escurece. Não sinto o chão, mas sinto seus braços. – Jenna, por favor, não desmaie agora... – Sorrio. A dor é forte e meu irmão está aqui para cuidar de mim. Está tudo bem agora.


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Notas finais do capítulo

Queridos leitores fantasmas, preciso saber o que vocês estão achando! Comentem :D



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