Alfa se olhava no espelho novamente, o rosto não era mais tão estranho quanto da primeira vez que o vira, mas ainda era esquisito imaginar que era ele. Alto, levemente bronzeado, os cabelos quase negros e que já começavam à se embaraçar lhe passava uma impressão estranha, de que aquilo estava errado, deveriam ser mais curtos, a barba também estava maior do que deveria, se sentia estranho daquele jeito. Seus olhos, azuis como, como... (ele não conseguia se lembrar de uma boa palavra), tinham detalhes amarelos próximos à pupila, tinha uma pequena cicatriz abaixo do olho e usava uma roupa totalmente cinza, o que também era estranho para ele, mas os cientistas falaram que era sua roupa normal.

Tinha perdido a memória, segundo os cientistas, eles disseram que ele já vivia lá há muito tempo, mas no ultimo teste ocorreu um acidente, mas Alfa não se lembrava de nada, é como se faltasse uma parte da sua vida, algo que ninguém queria dizer. Ele ouviu um baque surdo vindo da ventilação.

—Aí.— alguém disse, estava sussurrando, mas Alfa conseguia ouvir com perfeição.

— Shhh!— outra pessoa disse, ele se apavorou e um calafrio percorreu todo seu corpo— É aqui?

—Aham. Ei! E se tiver câmeras?

— Eu pergunto antes de entrar.

— E se tiver alguém aí?

— Se não tiver ninguém que vai ser ruim, aí a gente vai ter que ficar plantada aqui até alguém aparecer.

A abertura para a ventilação no canto da sala se abriu e uma garota apareceu lá dentro, tinha a pele clara e os cabelos azuis e negros na raiz, um olho cinza e o outro coberto por um tapa-olho.

— Heyou...— a garota começou a falar, mas parou enquanto passava os olhos pelo quarto — Ninguém em casa, vamos ter que esperar.

— O seu...— Alfa começou a falar— Cabelo.

— Quem disse isso? — a garota fixou o olhar em Alfa e por um instante foi como se ela não tivesse o visto— Ah, você está aí, não tinha te visto. É, meu cabelo está horrível, só que esses dias eu não pude pintá-lo sabe? Tem câmeras aí?— ele fez que não com a cabeça— Que bom. Marina, vai pra trás, vem Dmitri, você vai ter que entrar de costas também, sabe, pra fechar a ventilação, mas na próxima curva a gente vira.

— Quem é você? — Alfa ficou parado confuso — E por que me chamou de Dmitri? Meu nome é Alfa, pelo menos por enquanto.

A garota piscou várias vezes antes de responder.

— Não. Você é Dmitri Tessalovski e você vai vir com a gente. Eu sou Robin Snow e a garota que está ali cheirando minha bunda é a Marina esqueci-o-sobrenome-da-garota e...

— Ei! — Marina falou de dentro da ventilação.

— Continuando: como assim "por enquanto"? Bem não importa. Entra agora!

— Eu nem te conheço.

— Conhece sim, só está sendo estúpido, vamos, nós temos que sair daqui.

— Não, talvez eu conheça vocês, mas no começo da semana teve um acidente no laboratório e eu perdi a memória, seja como for, vocês podem fugir sozinhas, eu não vou.

— Perdeu a memória? Laboratório? Querido eu não estou entendendo nada do que você está falando, e a gente só veio aqui pra te buscar e eu não vou embora sem você.

— Que bom pra você.— Marina falou — Mas eu já vou indo. Temos mais coisa pra fazer. — e ele ouviu o barulho da garota se afastando.

— Como assim? — Alfa falou — Vocês entraram aqui? Mas ninguém de fora deveria saber do projeto.

— Do que você está falando Dmitri? — Robin perguntou— Que projeto? Mas se você não se lembra, eu falo: tipo uma semana atrás, eu, você e a Ash fomos explodimos um prédio em Berlim, nós fomos capturados e estávamos vindo para cá, então eles me levaram para outra prisão e eu fugi, agora eu voltei pra resgatar o que sobrou do Dmitri Tessalovski.

— Então vão buscar esse tal de Dmitri!

—Você é esse tal de Dmitri. Provavelmente essas pessoas te fizeram perder a memória e por isso você não se lembra.

— Pode até ser...

— Mas talvez não seja, você tem muito cabelo e muita barba. É você Dmitri?

— Eu não sei!

— Tanto faz, qualquer tipo de, sei lá, "experiências" que faça alguém perder a memória não devia ser legal, então entra aí Dmitri.

— Ok então.

Robin se arrastou para trás até ele conseguir entrar, teve que entrar de costas, para conseguir fechar o duto de ventilação. Se arrastaram de ré por alguns minutos e então Robin quebrou o silêncio.

— Sabe, eu nunca tinha notado, mas você até que tem uma bela bunda.

— O que disse?

— Você tem uma boa bunda.

— Err... Obrigado? Você também deve ter uma boa bunda.

— Você não se lembra da minha bunda.— ela falou raivosa

— Por isso eu falei "deve".

— De todo jeito, eu realmente tenho uma bela bunda.

— Em primeiro, por que você começou a falar da minha bunda?

— Por que eu estou aqui, andando de ré num duto de ventilação e você está na minha frente, então eu tenho uma bela visão da sua bunda, e eu também estava tentando quebrar o gelo.

— Dá pra parar de ficar encarando a minha bunda?

— Ok.

— Onde está a outra menina?

Nesse momento eles chegaram em uma encruzilhada e Robin virou a direita, de modo que não estavam mais andando de ré.

— A Marina? Ela foi na frente, temos mais coisas à fazer, vamos eu sei o caminho.

— Sabe? É verdade.

— O que?

— Você realmente tem uma bela bunda.

— Obrigada, vamos! Não temos muito tempo.

— Pra quê? O que mais vocês vieram fazer aqui que você tem tanta pressa? Desarmar uma bomba?

— Quase isso.

— O que então?

— Impedir que meia centena de mísseis destruam o mundo.