Eles estavam se preparando para sair do que Audrey chamava de "Esconderijo de lunáticos", Lara ainda não entendia por quê. Eles tiveram um pensamento totalmente lógico e genial, apesar de que se isolar do mundo não é tão lógico e genial, mas é óbvio que se a população diminui, e só as grandes cidades estão ocupadas, atacar o interior era um pouco estúpido.

O carro ainda não estava pronto para andar novamente, Edward 1 ( o soldado), George e Juliete tinham ido buscar a bateria e em cerca de alguns minutos os três chegariam o dia tinha acabado de nascer e uma névoa fina ocupava as ruas. Papa Jon tagarelava animadamente sobre sua vida antes da guerra. Ele também já tinha perguntado várias vezes sobre a vida deles antes da guerra e Lara sempre mentia, inventando histórias ou davas respostas vagas que os forçavam a mudar de assunto. Mas uma coisa que ele insistia em saber era como eles se juntaram, onde estavam seus pais e, principalmente, como eles escaparam do exército, que treinava qualquer um que tinha idade para andar, a isso ela respondeu dizendo que eles estavam em uma viajem com a escola no dia que aconteceu um bombardeio no interior da Alemanha, que era onde os cinco falaram que viviam então eles se juntaram e começaram a fugir antes do exército chegar.

Lara já ouvia o barulho do carro se aproximando, mas ao olhar pela janela da sala percebeu a presença de três passageiros a mais do que deveria.

Juliete soltou um grito agudo, chamando Papa Jon, quando fechou a porta do motorista, se dirigindo a porta traseira. Jon apareceu na porta a tempo de ver George sair do carro com uma garota em seus braços, ele a segurava como se fosse feita de vidro e a olhava com um certo carinho, já a garota tinha os braços em volta do pescoço de George e observava tudo a sua volta completamente apavorada, com os olhos negros arregaladas e a cabeça aninhada no peito de George como se ele fosse o único que ela confiasse.

Os outros passageiros não perderam tempo em sair do carro e seguir George, eram um homem e uma mulher, avançavam tímidos e visivelmente preocupados. Papa Jon e Juliete estavam entretidos em uma discussão em voz baixa e, por mais que quisesse saber o que estavam falando, as atenções de Lara se desviaram quando George entrou em casa. A garota que ele carregava estava visivelmente ferida, provavelmente com a perna quebrada, pela expressão que fez quando sua perna atingiu a porta.

George a colocou no sofá com todo o cuidado possível, os outros dois pararam ao lado da porta observando toda a aglomeração de pessoas presente na sala e Edward 1 foi direto conversar com Audrey e Evy, a todo momento algum dos três apontavam discretamente para os desconhecidos.

Arya e Edward 2( irmão de George) chegaram a sala confusos e imediatamente os dois desconhecidos ficaram pasmos com a semelhança entre os gêmeos, Edward 2 foi até o irmão, que estava sentado no braço do sofá com a cabeça da garota apoiada em seu colo e Audrey se juntou ao outro grupo que conversava no canto da sala.
Lara analisou os dois estranhos, o homem devia ter cerca de vinte e três anos, cabelos curtos e loiros, pele levemente bronzeada e o que pareciam ser cicatrizes, nos pulsos, "ele já tentou se matar ou coisa assim?" pensou Lara. A mulher era um pouco mais alta, tinha longos cabelos ruivos que pingavam água e sua pele parecia ter um tom glauco e ela tinha cicatrizes no pescoço, acima da gola alta da blusa, " o que é isso? Suicidas Anônimos ".

— Algum de vocês sabe primeiros socorros?— Edward 2 perguntou passando os olhos pela sala.

— Eu sei algumas coisinhas. — Arya falou dando um passo a frente. — É a perna?

George assentiu e Arya se aproximou, quando ajoelhou para olhar a perna da garota, ela se encolheu o máximo que a perna permitia.

—Calma...— ela começou tentando tranquilizar a garota, mas assim que pôs os olhos em seu rosto, se afastou com um pulo.

Edward 2 se aproximou e falou alguma coisa em voz baixa para Arya, que assentiu com a cabeça e se aproximou novamente da garota. Lara resolveu assistir a discussão de Papa Jon e Juliete, que ainda não tinham parado de falar, os dois debatiam insistentemente, mas poucos minutos depois entraram novamente.
Papa Jon dirigiu-se logo aos dois que observavam tudo da porta da sala.

—Olá. — ele começou — Desculpe-nos pela falta de hospitalidade, mas estamos em uma situação meio complicada aqui. Eu sou Papa Jon, esta é minha esposa Juliete, e meus filhos, Edward e George.— disse ele enquanto apontava para cada um — Os meninos aqui estão chamando ele de Edward 2, porque aquele outro menino também se chama Edward. — ele olhou em volta e percebeu pela primeira vez, assim como Lara, que Edward, Evy e Audrey, não se encontravam mais na sala— Cadê aquele garoto Edward? Bom deve estar lá para dentro, aquela é Lara. — disse apontando na direção de Lara — E vocês?

— Eu sou Ómicron, — disse a garota— este é Teta e aquela ali é Sigma, prazer em conhecê-los e desculpe-nos pelo inconveniente.

— Que nada! Foi minha esposa desastrada que atropelou a amiga de vocês, são bem-vindos para ficar aqui o tempo que precisarem. E Ómicron? Que nome é esse? É grego ou algo assim?

— É sim. — disse Sigma, para a surpresa de todos— É uma letra do alfabeto grego, assim como Sigma e Teta.

— Interessante, como você está?

— Eu acho que ela quebrou uma perna. — Arya respondeu por ela — Vou precisar de imobilizar a perna, mas ela tem que ir ao hospital do mesmo jeito.

— Não! — disseram metade das pessoas na sala em um uníssono.

— Ok, então me tragam qualquer coisa que impeça que ela mexa a perna e um pedaço de pano ou umas gazes... Lara, você pode me ajudar?

— Claro,— Lara falou se aproximando.

Enquanto Lara segurava a perna da garota com todo o cuidado para que Arya pudesse imobiliza-la, ela percebeu como a pele da garota era fria e pálida, era como se ela já estivesse morta.

— Ela está gelada. — Lara sussurrou para a colega.

— Eu sei, — Arya respondeu, também sussurrando — pelo que eu entendi, ela é tipo um experimento criado em laboratório. Então ela é assim mesmo.

Lara olhou para o rosto da menina, que estava fixo nos movimento de Arya, seus olhos eram totalmente negros, nenhuma parte branca e era possível perceber, que por baixo do capuz que cobria sua cabeça ela era totalmente careca.

— A gente precisa contar isso para o Olho...— Lara murmurou.

— Eu sei. — foi a única coisa que Arya respondeu..
***

Resolveram ficar mais um dia, apesar de todas as queixas de Audrey, nesse ponto, todos já sabiam razoavelmente o que eram os novos hóspedes. Experimentos de laboratório, resultados de experiências genéticas, viveram toda a vida presos num centro de pesquisas, ocultos dos olhos de todos.

Lara descobrira que o que ela pensou que eram cicatrizes nos pulsos de Teta na verdade eram o final das escamas, parecidas com as de lagarto, que cobriam quase seu corpo todo.

As marcas no pescoço de Ómicron eram guelras, sim, guelras, elas se abriam ou fechavam de acordo com a necessidade, ela também tinha uma barbatana dorsal e membranas entre os dedos, que se retraiam ao sair da água.

E o cabelo de Sigma, na verdade tinha sido um incidente, a dosagem do soro que a deram foi errada e ela perdeu o cabelo, se isso não tivesse acontecido, não seria careca. Ela ainda era muito tímida, passou o dia atrás de George, do qual adquiriu uma estranha confiança ou ao lado dos outros dois experimentos.

Quando chegou a noite e todos estavam prontos para dormir, um ruído de motor os alertou da presença de outras pessoas do lado de fora. Papa Jon espiou pela janela o que acontecia e voltou apavorado.

— Vocês vão para o sótão!— ele falou em um tom baixo — Juliete! Leve todos para o sótão. Eu subo daqui a pouco.