O Coração da Rainha escrita por Ami


Capítulo 4
Não Sei Nada Sobre Você


Notas iniciais do capítulo

Obrigada por lerem!!



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Estava eu vendo as criadas pentearem minhas madeixas. Catherine, aquela bruxa, queria me ver pelas costas. Então eu também queria vê-la! Eu tinha que me guardar contra ela. Tinha, mais do que nunca, que me agarrar ao Francis.

Desci para o café da manhã muito bem humorada, cumprimentando a todos com belos sorrisos.

Fiquei de chameguinhos com Francis, contando piadinhas em seus ouvidos e rindo. Eu comia sopa de cebola pela primeira vez. Inesquecível. Em pouco tempo, estávamos colocando frutinhas na boca um do outro. Francis comia minhas uvas e eu comia seus morangos. Ah, o amor. Na cara da Catherine.

Ah... Eu me sinto tão glamurosa! Rainha do baile.

Eu estava vendo a hora de ela levantar para ir embora, mas quem fez isso foi Bash.

– Com vossa licença – ele falou, levantando-se e indo embora. Não foi rude, foi gentil em respeito a seu pai e sua mãe.

Continuei alegre com Francis, causando raiva em sua cobra-mãe. Já tinha ouvido boatos de sogras chatas, mas poxa vida! Eu sou adorável!

À noite chamei Francis para ver o campo dos vagalumes. Ficamos ali de mãos dadas aproveitando a vista maravilhosa.

– Eu aceito que continuemos noivando até seu pai decidir que devemos nos casar.

– Poxa, Mary, é verdade? - ele segurou minhas mãos – Isso significa tanto pra mim! É o que ele quer, ele é o rei, tenho que aceitar! Mas meu pai sabe dos meus sentimentos por você. E apesar de eu não ser nem de longe o filho favorito dele, ele deve se preocupar um pouco comigo... e conceder o que eu desejo.

– Seu pai quer uma aliança com um país forte. Talvez a Escócia não seja tão grandiosa para ele.

– Ele não vai querer uma aliança com um reino mais forte que o dele, que o manipule e sobrepuje suas ordens. Escócia é perfeita.

Nós nos beijamos novamente. Foi um momento mágico. Mas eu me sentia constantemente observada.

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Bash

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Lá estava eu no meu lugar de direito. Observando nas sombras. Aquele era o meu lugar. Observando de longe, olhando de longe. Longe da luz e da vista dos outros. Eu era como um criado, invisível. Mary estava feliz. Eu deveria ficar feliz também, mas por mais que eu lutasse contra essa dor no peito. Era inútil. Aqueles olhos lindos, sua boca perfeita, suas mãos mágicas. Como poderia esquecê-la? Desde pequeno, ela foi a única que se importou comigo, que não zombou. Ela sempre foi a rainha do meu coração, sempre foi do Francis. Mas eu achei que a tinha superado. Foi em vão.

Tantas mulheres me cortejam... Acho que é hora, finalmente, de me despedir de Mary e tirá-la do meu peito.

Eles se beijaram.

Que idiotice.

Fechei a janela do corredor, que dava para os campos. Minha mãe estava passando. Provavelmente indo aos aposentos do rei, quando me viu passar chateado.

– Onde pensa que vai, mocinho?

– Eu estou... indo roubar comida da cozinha.

– Você não devia estar dormindo? Seu pai não disse que ia levá-lo para a caça amanhã?

– Por que ele não leva o filhinho engomado dele? - fui rude com ela. Minha mãe sabia das coisas. Deu alguns passos para trás, até o lugar de onde ela me veio vindo. Foi até a janela e viu o que tinha que ver. Voltou a mim, puxou-me para o quarto e trancou-nos lá dentro.

– O que quer que esteja pensando e sentindo, esqueça.

– Mãe...

– Esqueça! - não gritou, mas foi absoluta – A única coisa que o manterá vivo quando seu pai morrer é o favor de seu irmão. Adore-o se for preciso.

– Entende que isso é uma humilhação?

– Nem todos temos a sorte de nascer destinados à realeza. Precisamos ser mais sábios que eles, vivemos no palácio deles, temos que jogar o orgulho pela janela. Qualquer desavença pode te fazer perder a cabeça, meu filho. Seja sábio!

– Eu não quero viver assim, está bem? Prefiro viver como um camponês!

– É sua decisão, filho. Não posso interferir. Mas você é letrado, estudado e educado, não é justo que escolha uma vida dessas. Deixe-me procurar uma boa esposa.

– Uma velha caduca e rica que eu vou ter que satisfazer?

– Mulheres estão sujeitas a isso o tempo todo! Oh, Bash – ela me abraçou – Perdão por te trazer a um mundo assim tão triste e injusto. Eu te amo, meu filho.

Abracei minha mãe. Ela era a única a interceder por mim. Sua sabedoria foi a única coisa que me manteve vivo.

Ah o jogo de cintura que as mães têm que fazer nesses dias para dar ao filho o melhor.

– Tudo bem, mãe – suspirei – Faça o que tem que fazer. Preciso parar de pensar em mim e pensar em você também. Não quero que tenha vergonha de mim.

– Mary é proibida pra você, meu amor. Todas as outras são acessíveis. Ela, não.

– Já sei,mãe.

Fui para o meu quarto.

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Mary

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O dia da caça! Eu não gostava muito, mas era um dia de significado. No dia seguinte festejaríamos as colheitas. Comer animais caçados nas refeições desse dia trazia bons agouros. Enfim, homens gostam de caçar, de extravasar seus nervosismos, sua violência.

– Outro, Mary! - acertei um coelho com minha flecha. Bash estava pasmado. Ele estava chateado comigo o dia todo, foi a primeira frase que me dirigiu. Acho que ele ainda se sente violado por eu ter entrado no quarto dele sem prévio aviso. Mas era questão de segurança.

– Tome esse para você – falei enquanto o filho favorito do rei me estendia o corpo do animal – Que seja um presente em memória dos bons tempos.

Ele voltou ao seu cavalo. Já estava com dois coelhos. O primeiro eu não quis pegar e ele levou para si. O segundo era esse. Um presente. Ele não estava querendo papo comigo, mesmo. Talvez estivesse com problemas pessoais.

Guardei meu arco, já tinha feito muita coisa ali. Francis e o rei iam na frente, procurando grandes animais, grandes aventuras. Um alce, um javali da montanha. Bash sabia caçar muito bem. Ele atirava nos pássaros, o que era muito mais difícil.

– Formado em arquearia, hein? - tentei puxar um assunto. Ele não respondeu. Eu estava ficando magoada – O que é? Está chateado com a tarefa tediosa de ficar cuidando de mim? Você quer caçar um dinossauro? Vai lá! Adeus, Bash.

Virei meu cavalo e fui embora.

– Mary, não pode se afastar – gritou para mim. Francis nos ouviu e pediu a seu pai que parasse a marcha.

– O gato cuspiu sua língua, é? - falei para Bash. Eu ia atravessar a ponte, voltar para o castelo e reforçar a maquiagem. Mas tinha uma cobra na beira da ponte, eriçada e nervosa com minha égua, que empinou. Nós caímos da ponte, eu com as pernas presas nas rédeas da égua, afundando no rio turvo. Não conseguia me soltar, não conseguia gritar. Sem esperanças de respirar, o corpo enlouquece, o coração enlouquece, a mente se apaga. Tentei soltar meu pé das rédeas, desatei uma, mas não tinha cabeça para soltar a outra. Havia pedras, bolhas, uma égua nervosa.

Senti uma mão segurando minha perna agitada e cortando a rédea. Fui puxada para cima e sei que meu tórax foi pressionado. Cuspi litros de água, tossindo.

A carinha de Bash me olhando como se tivesse acabado de fazer meu dever de casa todo. Ele estava sentado sobre seus tornozelos, me olhando sem nenhum sobressalto. Apenas ternura.

– Você é maluca? Não se pode abandonar a hoste do rei.

– Eu sou uma rainha, seu energúmeno.

Francis chegou e me abraçou. Nós nos beijamos.

– Mary, que bom que está bem – virou-se para Bash – Obrigado por tudo, irmão. Isso é tudo, pode voltar a caçar. Vou levar Mary de volta ao castelo.

Bash assentiu.

– Você está bem, Mary?

– Obrigada – sorri para ele, apertando o braço de Francis.

Ele assentiu de novo e voltou para perto de seu pai. Bash salvou minha vida. Ele era meu heroi agora. Estava em dívida com ele e precisava colocar essa dívida em dia.

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Francis me trouxe ao castelo. Eu estava muito assustada. Quem gosta de achar que vai morrer?

– Mary, se aqueça que vou mandar chamar um médico, tudo bem? - Francis falou, beijando minha testa. Ele era um amor de pessoa.

Troquei as roupas, bebi café bem quente e tremi em frente à lareira. De repente, chegou uma mulher chorando na cozinha, conseguiu enganar os guardas e chegar até mim, sozinha ali.

– Quem é você? - perguntei. Os guardas logo vieram apartá-la.

– Por favor me ajude – ela pediu. Logo foi alcançada pelos guardas e paralisada.

– Francis me conhece! - ela foi sendo levada embora, enquanto os guardas se desculparam por não a tratarem como devia por ser mulher.

– Espere! - levantei-me, deixando o cobertor cair no chão – De onde Francis te conhece?

Ela olhou-me de cima a baixo.

– Quem é você? - ela perguntou.

– Eu sou Mary, a rainha da Escócia – olhei-a com superioridade.

– A noiva do Francis – ela suspirou, como se estivesse esperando alguém diferente – Tudo bem, podem me levar embora.

– Espere! Eu te fiz uma pergunta.

– Olívia! - Francis apareceu com o médico, correndo até Olívia e a abraçando, rodopiaram numa valsa saudosa. Havia química entre eles e sorriso em seus olhos. Isso comparado ao aperto de mão fosco que ele me deu quando cheguei foi totalmente radiante.

– Quem é ela? - Francis me viu ali. Perguntei já batendo o pé.

– É uma amiga minha – Francis disse, recompondo-se e pondo-a no chão – Mary, aquele é seu médico. Você se importa se eu conversar com Olívia um pouco enquanto você é atendida?

– Na verdade, eu... - calei-me. Eu sou a rainha, quem era aquela tripa seca com cabelos de milho? Tenho meu autocontrole e minha integridade. Sou orgulhosa e segura de mim – Não me importo, faça o que bem entender.

Sentei-me no divã, com os cobertores e o médico fez seus exames. Enquanto isso, Francis andava pelo reino com sua nova antiga amiga.

– Você está bem, é muito resistente – disse o médico. Então espirrei – Vou receitar uma dieta para essa gripe.

– Tudo bem – ele escreveu algumas coisas num papel e o entregou na cozinha. Despediu-se de mim. Nada de Francis.

Kenna veio até mim com pressa.

– Kenna, me ajude a descobrir onde está Francis.

– Isso é o que eu vim te dizer, amiga – ela estava triste.

– Que cara é essa, Kenna? Ele morreu?

Fui levada por Kenna até um quarto velho e antigo, entrei lá e comecei a espirrar mais ainda. Meu nariz estava vermelho. Eu deveria estar me aquecendo.

– O que estou fazendo aqui?

– Venha – Kenna me fez subir numa mesa e afastou um quadro. Tinha dois buraquinhos para colocar os olhos.

– Tem um quadro no quarto de Francis com dois olhos furados. Ele nunca ia imaginar.

– Kenna, está espiando meu noivo desde quando?

– Olhe logo, Mary!

Francis estava de mãos dadas com Olívia, conversando. Fazendo um pouco de leitura labial, dava para acompanhar um pouco o que diziam.

– Você é muito importante para mim, Olívia.

Já fiquei irritada. Conversaram por mais vinte minutos sem desfazer o contato visual. Eu já estava chorando. Fiquei mais chorosa ainda quando ELE a beijou. E foi muito bem recebido.

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Notas finais do capítulo

Gostaram? Comentem!
Bjsss



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