Despertar escrita por Seto Scorpyos


Capítulo 8
Capítulo 8




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Ruki pareceu melhor no outro dia, mas ainda lançou alguns olhares estranhos para Uruha. Quando voltaram para o ônibus, Kai observou os amigos com cuidado e simplesmente deu ordem para seguirem.

Quando chegaram à cidade para o último show da turnê, Reita notou que Ruki e Aoi estavam conversando muito concentrados no assunto. Por um momento, pensou em interromper, mas não o fez. Por trás da aparente calma, sabia que ainda tinha alguns focos de incêndio e não queria ter que enfrentar mais nada.

Com um suspiro, simplesmente se jogou no sofá onde Uruha estava sentado, deitando-se no colo do guitarrista. O loiro ergueu uma sobrancelha, colocando de lado o notebook ante a invasão da cabeça do amigo.

 - Acho que está no colo errado. – comentou, calmo.

- Não enche! – o baixista rebateu, com os olhos fechados.

O loiro puxou a máscara de leve do rosto, rindo quando o amigo protestou.

- Só quero ver seu rosto! Acho que esqueci como você é. – respondeu, ainda rindo.

O som da risada de Uruha fez Reita o encarar, surpreso e aliviado. Fazia tempo que não via o outro tão leve.

- Não provoca. – rebateu, mais divertido do que irritado.

Uruha ergueu as mãos em rendição e se recostou, tentando conter o sorriso. Reita se ajeitou de novo e o encarou com os olhos estreitos.

- Nem sonha ou eu te tranco no banheiro. – ameaçou, sabendo perfeitamente que não faria nada daquilo.

O guitarrista não conseguiu se conter e riu ainda mais, divertido. Kai, que entrava no camarim, parou e encarou os dois, sorrindo aliviado.

- É bom ouvir risadas por aqui. – comentou, deixando sua bolsa sobre a mesa – O que é tão divertido?

- Eu só queria tirar a máscara dele um pouco, acho que esqueci como ele é, mas ele não deixou! – Uruha reclamou, exagerando no bico. – E me ameaçou! Acredita nisso?!?!

Reita lhe lançou um olhar mortífero e bufou, revirando os olhos. Kai sentou-se e olhou para os dois, sorrindo.

- É... acho que eu também esqueci. Que tal tirar a máscara um pouco, hein? – perguntou, piscando para o guitarrista.

Reita sentou-se e olhou de um para o outro, totalmente sério. Antes que pudesse falar alguma coisa, Ruki e Aoi entraram. Os dois estavam sérios e o guitarrista moreno, pálido. Kai perdeu o sorriso na hora, pensando em qual problema teria que enfrentar desta vez. Reita elevou uma sobrancelha e por reflexo, se aproximou de Uruha.

- Aconteceu alguma coisa? – Kai perguntou, sem definir se queria realmente saber se fosse o caso.

- Não. – Aoi respondeu, lacônico – Estou com um pouco de dor de cabeça.

Ruki sentou-se na cadeira e Aoi em outra, mais afastada. O moreno pegou a guitarra e começou a dedilhar, isolando-se dos outros músicos. Kai o observou por algum tempo, e suspirou.

- Acho que já tenho as letras... – o vocalista comentou, depois de alguns minutos de silêncio constrangido só interrompido pelo som guitarra – Quer dar uma olhada?

O pequeno estendeu as folhas para Reita, que se levantou do sofá e sentou-se a seu lado. Ambos começaram a analisar as letras e Uruha aproveitou para voltar ao computador para responder aos e-mails que recebeu das irmãs.

Kai observou os músicos em silêncio e tentou imaginar o que tinha causado aquele comportamento estranho do moreno. De repente, lembrou-se do que Uruha havia contado a ele e Ruki, dias antes. Seu olhar passou de Ruki para Aoi, totalmente absorto na música que estava tocando.

“Ele contou a Aoi o que Uruha disse.” pensou, surpreso e um pouco irritado.

Com preocupação estampada no olhar, encarou o moreno que ainda estava de cabeça baixa e lamentou a falta de noção do vocalista. Ruki nunca conseguia guardar as coisas e isso sempre era uma coisa ruim. Com o coração apertado, notou o olhar preocupado do pequeno sobre o amigo isolado no canto e confirmou suas suspeitas.

- Bem, vamos passar o som. – o líder se ergueu e falou alto, chamando a atenção dos amigos.

No fundo, não queria dar margem a outra briga ou mais ressentimentos. Quando estavam se posicionando no palco, não pode deixar de se aproximar do vocalista.

- Não devia ter feito isso, Ruki. – comentou, triste.

O vocalista olhou para ele surpreso e então, fechou a expressão.

- Ele não sonhava que Uruha tivesse se sentido tão mal. Está muito arrependido e acho que... – parou, sem encontrar as palavras – Acho que agora ele entende o que provocou.

- Se não parar de revirar o passado, como acha que eles conseguirão superar? – perguntou, encarando o amigo por alguns minutos.

Ruki não encontrou resposta e Kai o deixou sozinho, dirigindo-se para a bateria. Reita notou a conversa e não precisou muito para entender que o amante tinha feito algo desnecessário de novo.

A turnê finalmente terminou com sucesso e os músicos voltaram para casa de avião. Depois de uma reunião avaliativa dos erros e acertos, ficou definido que teriam duas semanas de férias, antes de começarem um novo trabalho.

- Certo. Por mais chato que seja, preciso saber onde vão estar, para qualquer eventualidade – o líder disse, encarando os amigos na sala da banda, no prédio da gravadora.

- Vou para casa ver minhas irmãs. – Uruha respondeu, fumando distraído.

- Eu também vou para casa, e Ruki vai comigo. – Reita comentou, sem sequer olhar o amante.

Era de conhecimento geral que o vocalista não se dava bem com a família e não teria para onde ir, durante a folga. Se não estivesse com o baixista, ficaria sozinho.

- E você Aoi? – Kai perguntou, depois de alguns minutos.

- Eu ainda não sei. Posso te ligar depois? – o moreno perguntou, hesitando de leve.

O guitarrista loiro encarou o outro com curiosidade e Reita achou que ele falaria alguma coisa, mas nada aconteceu.

- Tudo bem, mas tenta me ligar até amanhã, tá? Eu vou para casa, também.

- Manda um beijo para a kaa-san. – Uruha pediu, do outro lado da sala.

Kai olhou para ele e sorriu.

- Bem lembrado! – Reita acrescentou, com um meio sorriso – De repente, até aparecemos para saquear o udon.

Os músicos riram e o baterista se ergueu, dando o sinal para as despedidas. Os rapazes ainda fizeram comentários gerais sobre a folga e combinaram o dia e a hora para o reencontro.

- Coloquem na agenda, não vou ligar avisando ninguém! – Kai ameaçou, tentando parecer sério.

- Ok, mamãe. – Uruha concordou, pegando a guitarra.

Os músicos deixaram a sala e tomaram o elevador. Kai notou que Aoi ainda parecia meio distraído demais, mas não comentou nada. Nenhum motivo do mundo o faria reviver a tensão de antes.

No estacionamento, se despediram. Reita levou Ruki e Kai se dirigiu para o seu carro, estacionado afastado dos demais.

- Quer carona? – Uruha perguntou, atrás de Aoi.

O moreno se sobressaltou e arregalou levemente os olhos.

- Está muito distraído, Aoi. O que está acontecendo? – o guitarrista loiro perguntou, encarando o outro com atenção.

- Não é nada. – o mais velho respondeu, amaldiçoando ter demonstrado tão claramente a sua própria confusão.

- Vem, eu te levo.

Sem esperar resposta, Uruha pegou o braço do moreno e o puxou para seu carro. Não temeu uma recusa, já que Aoi tinha a mania de deixar o dele em casa quando iam viajar, alegando não confiar muito em deixar o carro por tanto no estacionamento da gravadora.

O moreno respirou fundo e aceitou, em silêncio. Entrou no carro e depois de alguns minutos, riu baixinho, fazendo o loiro olhar para ele antes de dar a partida.

- O que é engraçado? – Uruha perguntou, curioso.

- Esse carro é bem diferente do de antes... – o mais velho respondeu, provocando.

Uruha levou um tempo para entender a brincadeira e sacudiu a cabeça.

- Não enche! Pelo menos ele nos levava onde queríamos ir sem quebrar. – respondeu, na defensiva.

Aoi riu, mais relaxado.

- É verdade, mas que era um carro estranho, isso era.

- Devia ter deixado vocês a pé. – o loiro comentou, baixo. Na verdade não tão irritado assim com o comentário debochado.

Para evitar o silêncio, Aoi comentou sobre as viagens e shows, além das novas perspectivas financeiras. Uruha riu abertamente.

- Deixa de ser mercenário! – instigou, ainda rindo.

- Eu não sou mercenário! – Aoi protestou com energia – Só acho legal que sejamos recompensados por tanto trabalho! Além do mais, não pode ter esquecido as dificuldades que passamos, não faz muito tempo.

- Verdade. – o outro concedeu, ainda com um sorriso – Obrigado por pagar comida para a gente.

Aoi perdeu o sorriso e virou-se no banco.

- Eu não quis dizer isso assim, Uru. Não estava jogando.... – tentou, desconcertado.

- Estava apenas agradecendo por ter sido tão gentil. – Uruha reafirmou, neutro.

O moreno encarou o outro e rolou os olhos ao finalmente notar o tom jocoso.

- Me deixa em paz! – pediu, mais aliviado.

Ambos riram, divertidos e o resto do caminho foi feito em silêncio.

Quando estacionaram, o moreno se virou e sentiu o coração acelerar ao ver o rosto bonito totalmente relaxado e antes que pudesse pensar, simplesmente puxou o outro pelo casaco e beijou-o. Por segundo terrível, Uruha não aceitou a ousadia e então, para alívio do mais velho, entreabriu os lábios. Aoi não esperou para aprofundar o beijo, excitado com o gosto da boca macia. Sua fantasia mais louca não chegou nem perto da realidade.

O beijo de Uruha não era só delicioso, era delicioso, possessivo e excitante. Ainda mais quando o moreno sentiu a mão do loiro em seu pescoço, segurando-o levemente. O toque foi sutil, mas fez o coração de Aoi disparar no peito e sem que pudesse prever ou evitar, gemeu baixinho.

Por mais que quisessem continuar, o ar faltou e ambos se separaram. Aoi quase protestou, mas não teve tempo. Uruha o puxou um pouco e ambos encostaram uma testa na outra, ofegantes. O moreno fechou os olhos por um minuto, tentando controlar o corpo traiçoeiro.

Não podia se lembrar quanto tempo fazia que não se entregava a alguém. Depois de Akaya, não teve tempo nem disposição para pensar em estabelecer qualquer tipo de relacionamento. E depois, Uruha. Os sentimentos pelo companheiro na banda e todos os problemas que vieram daí o absorveram totalmente, fazendo-o esquecer de qualquer necessidade pessoal que não tivesse a ver com o guitarrista loiro. É claro que sentia desejo pelo companheiro, e muito se for para ser sincero, mas isso não era o mais importante.

- É melhor você subir. – a voz baixa de Uruha o fez abrir os olhos e se afastar um pouco, encarando o outro com um pouco de decepção no olhar.

O loiro passou a língua pelos lábios marcados, atraindo o olhar do moreno. Apesar da frase sensata, o clima não se rompeu.

- Quero ir para a cama com você. – o moreno rebateu, cansado de precisar tanto.

Uruha o encarou e então, afastou-se um pouco, sem contudo tirar a mão do pescoço de Aoi. Dava para sentir através da pele a velocidade da pulsação do mais velho e apesar de mais controlado, o guitarrista loiro também estava por um fio.

- Aoi...

- Não. Não quero pensar, não quero me sentir culpado por ter perdido tanto tempo e nem quero mais te desejar como um tarado pervertido. – o moreno o interrompeu de pronto. O loiro o encarou, mas Aoi não desviou o olhar – Ainda te amo, Uruha. Sei que não mereço que se importe, mas é assim. Não mudou nem diminuiu, pelo contrário... foi se tornando maior e mais desesperador. – o mais velho mordeu o lábio, e então, chegou à conclusão que não tinha nada para perder. – Eu aceito qualquer coisa... qualquer tipo de sentimento que ainda tenha por mim... não precisa ser...

Aoi não continuou. O beijo de Uruha o interrompeu, tirando dele qualquer fio de pensamento, ou vontade de dizê-los. O primeiro beijo entre eles tinha sido voraz e faminto, mas dessa vez o loiro foi exigente. Exigente mas generoso. O moreno não conseguiu pensar em nada além do homem a seu lado e quando se separaram, Uruha não o deixou se afastar.

- Precisa, sim... – o coração de Aoi quase parou ao entender a frase sussurrada pelo mais novo – Eu preciso que seja.

O guitarrista moreno sentiu frio quando saiu dos braços do outro, mas não reclamou ao ver que Uruha estava saindo do carro e, apesar do medo que se insinuou em seu estômago, fez o mesmo. O caminho para o elevador foi feito em silêncio e depois, as pessoas que entraram não deixaram chance para qualquer tipo de conversa.

- Sabe de uma coisa? – Uruha perguntou, baixo.

O moreno se virou um pouco, notando o interesse do casal à frente deles.

- Hum?

 - Parece letra de música. Dá para imaginar algo assim... as lágrimas que derramei por minha perda acabaram por aumentá-la... como se provasse para mim que não vai desaparecer.

Aoi arregalou os olhos, encarando o músico recostado ao espelho do elevador. Uruha devolveu o olhar por um momento e então desviou, respirando fundo. O casal ao lado deles se entreolhou e a moça baixou a cabeça, corada.

- É. Temos que anotar. – Aoi comentou, engolindo seco o bolo que subiu por sua garganta – Ruki está trabalhando numa letra, talvez dê para encaixar. – o mais velho encolheu os ombros – Soou triste.

- É para ser triste, não existe outro modo. – Uruha sentenciou, baixo.

- Vai ser sempre assim? – o moreno perguntou para si mesmo, baixinho.

- Se o futuro for forte o suficiente, pode fazer o passado perder o poder. – o loiro respondeu, fazendo Aoi corar um pouco.

- Isso também pareceu uma letra triste. – o mais velho comentou, sabendo perfeitamente do que o outro estava falando.

O elevador parou e o casal desceu. Antes que as portas se fechassem, os músicos perceberam o olhar da moça.

- Eles devem ter estranhado. – o moreno comentou, um pouco constrangido.

- Não conhecem você? – o loiro perguntou, encarando o outro.

- Tento ser o mais discreto possível. – Aoi colocou as mãos nos bolsos, encarando os próprios pés – Aqui não é como no nosso prédio antigo, onde todo mundo se conhecia... Sinto falta de lá.

- Eu não.

Aoi quis se chutar ao perceber que havia feito Uruha se lembrar de Kovu, ainda que não tivesse a intenção. As portas se abriram de novo e o mais velho saiu na frente. Pelo que sabia, era a primeira vez que Uruha ia entrar em seu novo apartamento.

- Vem... – o mais velho chamou, depois que abriu a porta e passou, parando ao lado.

O loiro entrou e olhou em volta, com um meio sorriso.

- O que foi? Não gostou? – Aoi perguntou, fechando a porta.

- É a sua cara. – o mais novo respondeu, andando até o centro da sala.

O moreno o encarou, sem saber o que deduzir da resposta. Depois de alguns minutos, encolheu os ombros e colocou a bolsa sobre o sofá.

- Vou levar como um elogio. – decretou, fazendo o outro rir, divertido – Quer tomar alguma coisa?

- Eu estava elogiando. É sóbrio e tem estilo, como você.

Aoi se virou e encarou Uruha, surpreso e um pouco envergonhado. O loiro inclinou a cabeça, observando o mais velho com atenção.

- É melhor eu ir. – sentenciou, sério.

- Eu não vou mentir e dizer que não estou com medo. Ou nervoso. Estou sentindo as duas coisas e muito, para ser totalmente sincero... – o moreno comentou, demorando um pouco para conseguir encarar o guitarrista mais novo – Mas eu realmente quero passar um pouco mais de tempo com você... – hesitou, inseguro – Desculpe por te colocar contra a parede...

- Você não está pronto para mim. – Uruha comentou, suavemente.

A frase, clara e despretensiosa, fez Aoi corar.

- Não esperava mesmo que estivesse, apesar da minha ousadia. Desculpe por isso... eu não quero pretender... – parou, sem saber como terminar a frase.

Uruha o encarou por alguns minutos e então, respirou fundo.

- Estou arriscando muito aqui, Aoi. Faça valer a pena.

O mais velho retribuiu o olhar, um pouco confuso. O loiro passou a mão pelo cabelo, querendo se chutar por se expor daquele jeito, mas ouvir que Aoi acabou mexendo com ele, de uma forma que ele não supunha que fosse acontecer.

- Vamos comer alguma coisa. Tem algum filme legal?

Depois de alguns minutos processando o fato de Uruha estar disposto a aceitar sua aproximação, Aoi se forçou a relaxar.

- Não faço a menor idéia, mas podemos dar uma olhada. – respondeu, com um sorriso.

Acabaram por ter que pedir alguma coisa, já que com as semanas fora de casa, o apartamento de Aoi estava apenas limpo. O moreno ficou um pouco envergonhado por não ter nada para oferecer, mas Uruha não pareceu se importar.

Conversaram amenidades enquanto esperavam a comida e então, o moreno se lembrou de um detalhe.

- Porque não pega alguma roupa em seu carro? Pode tomar um banho e se trocar... vai ficar mais descansado. – ofereceu, preocupado.

O loiro o encarou, avaliativo e então, sacudiu de leve a cabeça.

- Não. Agradeço mas vou só comer e ir para casa. – diante do olhar do outro, encolheu os ombros – Quando eu disse que você não estava pronto para mim, falei sério. Mas podia ter acrescentado que ainda não estou pronto para você, do mesmo jeito.

Aoi não insistiu. Podia sentir uma certa tensão no ar e não era isso que queria. De qualquer forma, pelo menos deram o primeiro passo. A comida chegou e ambos começaram a comer, comentando sobre a turnê e sobre as músicas para o novo trabalho.

- Acho que esses dias vão ajudar Ruki. Ele está meio fora do ar... – Aoi comentou, mexendo a comida com o hashi.

- Ruki fala muito. – a voz de Uruha saiu baixa e sombria.

O moreno ergueu os olhos e não se surpreendeu com a sombra no olhar do loiro. Respirou fundo, sem ter como defender o vocalista.

- Ele tem noção própria do que seja ajudar. – explicou, baixo.

- Ele tem noção própria da importância da opinião dele, quer dizer. Ele acha que sempre sabe o que é melhor a se fazer, mas na maioria das vezes, está errado.

Aoi observou Uruha comer o sashimi, reparando nos dedos longos e na mão cheia de veias. Deu um sorriso de leve ao notar o quanto se pareciam com as suas.

- Verdade. Mas ele tem boa intenção... – arrematou, roubando um dos sashimis de Uruha.

- Ei! – o loiro reclamou, fazendo os dois rirem e Aoi quase engasgar.

O mais jovem encarou o outro, ainda com uma sombra de sorriso.

- Já ouviu dizer que a estrada para o inferno está pavimentada de boas intenções? – perguntou, erguendo uma sobrancelha.

Aoi parou com o hashi perto da boca e encarou o outro. Não estavam mais rindo.

- Ouvi você dizer isso algumas vezes e concordo, mas não podemos simplesmente esperar que um amigo não queira ajudar, ainda que tente de maneira errada. É isso o que amigos fazem.

Uruha sorriu de leve e segurou a mão de Aoi, levando-a até a própria boca. Com cuidado, pegou o sashimi e comeu, encolhendo os ombros ao notar o gosto de morango. O moreno riu da expressão do mais novo.

- Argh! – o guitarrista loiro reclamou do gosto agridoce.

Aoi acabou rindo, deixando passar a diplomacia de Uruha. Sabia que o loiro não concordava com o que tinha dito, mas sabia também que não brigariam mais por aquilo.

- Modernidade... – comentou, enquanto o outro dava um imenso gole de ramune*.

Uruha o encarou com a testa franzida, através da borda do copo.

- Isso tem um gosto muito estranho... – comentou, fazendo uma expressão trágica – Dói perto da orelha...

O moreno riu da desolação de Uruha, e este acabou rindo também. Com um cuidado exagerado, o loiro afastou os rejeitados sushis do seu lado da travessa, puxando mais para perto alguns dos sashimis do lado de Aoi, que riu mais, divertido.

- Enjoado! – acusou, olhando o outro com carinho.

- Nada disso, apenas tradicional.  – o outro prontamente rebateu, apontando o hashi para o mais velho.

- Tradicional, você? – o moreno arregalou os olhos, dramático.

- Já disse que te odeio hoje? – Uruha perguntou, encarando-o calmamente.

Ambos se olharam e caíram na risada. Terminaram de comer, ainda se provocando levemente. Uruha ajudou Aoi com a louça e então, o loiro encarou as costas do moreno, distraído em guardar os utensílios lavados. A mesma apreensão que sentiu no carro voltou, mas desta vez, menor. Antes que se arrependesse, abraçou Aoi por trás, puxando-o contra seu corpo.

O calor do moreno o envolveu e ele percebeu o exato momento em que o mais velho estremeceu, para então se recostar totalmente. O mais velho descansou as mãos sobre as de Uruha, concentrado em sentir o corpo firme contra o seu. Mas isso só por um momento.

Aoi se virou no abraço e teve que se segurar nos braços de Uruha, quando o loiro simplesmente capturou seus lábios.

O moreno não sentiu quando Uruha o imprensou na parede, mas sentiu quando foi apertado com força. Não o suficiente para machucar, mas o suficiente para fazê-lo gemer quando o fogo se alastrou por suas veias. Não sabia que um beijo podia ser tão... excitante.

E delicioso, e macio... quente...

Sem perceber, puxou Uruha contra si quando sentiu os beijos dele descerem por seu queixo, e a língua atrevida passear pelo pescoço, provando a pele clara. Gemeu, ofegante.

O loiro ergueu a cabeça e os olhares se encontraram, ardentes. Por alguns minutos, não houve palavras.

- Desc...

Uruha foi imediatamente interrompido por Aoi, que o abraçou forte.

- Não quero ouvir desculpas... – as palavras saíram com dificuldade.

Aoi sustentou o olhar de Uruha, que se desviou para os lábios marcados.

- Não sei se devíamos... – o loiro parou, tentando controlar a própria respiração – Não devia ter dito que...

- Que eu quero que me ame? – Aoi completou, com um sorriso leve – Ou que quero fazer amor com você?

- Não é como se... – Uruha parou, soltando-se do moreno – Não sou uma mulher, Aoi. Sou mais alto que você e tão forte quanto...

- É tudo o que quero.

A frase, dita simplesmente, fez com que se encarassem. O moreno não deixou que Uruha se afastasse mais e segurou-o com as duas mãos.

- Meu coração está batendo na garganta... – sorriu, um pouco assustado – E parece que tem lava nas minhas veias...

O loiro sorriu, um pouco constrangido e Aoi fechou os olhos por alguns minutos.

- Eu pensei que pudesse ser bom, mas nunca imaginei... – ele abriu os olhos negros brilhantes e Uruha sentiu um vácuo no estômago – É sempre assim?

O guitarrista loiro não conseguiu se proteger e erguer seus muros diante da imagem de Aoi, excitado e com aquele sorriso maravilhado no rosto. Não teve tempo para se esconder naquele lugar só dele, de onde podia observar os sentimentos sem ser envolvido por eles e sentiu que nunca deveria ter aceitado o primeiro beijo. 

Não estava perdido agora, perdeu-se quando aceitou o beijo no estacionamento.

Se forçou a esquecer, a enterrar tão fundo que não pudesse mais ameaçá-lo. Por um longo tempo, achou que tinha conseguido. Não mentiu quando disse que amou Kovu. Amou muito e de uma forma calma e segura. Nada daquele sentimento desenfreado que o tinha consumido anos antes, fazendo-o perder o controle e sofrer como nunca se achou capaz.

Não queria aquele sentimento louco de volta. Era intenso demais para o seu bem e se pudesse escolher, queria o que tinha com Kovu. Excitação, sim. Tesão, prazer e muito, muito companheirismo.

Não aceitaria nada que fosse menor do que o que tinha conhecido com o amante perdido. Era seu direito, depois de tudo.

- Uruha?

A voz de Aoi o trouxe de volta, fazendo-o piscar. Com um suspiro resignado, soube que nunca conseguiria fugir ou recusar.

- Deixa a porta aberta para mim? – pediu, afastando ainda mais.

O moreno o encarou, confuso. Uruha desistiu de tentar escapar.

- Vou pegar uma roupa.

Sem explicar mais, virou-se e deixou a cozinha. Aoi o observou sair do apartamento e se perguntou se ele estava tão afetado quanto se sentia. Um pouco desanimado, recostou-se no balcão e passou a mão pelo cabelo, despenteando-o.

Amou o beijo e seu coração se acelerou ao se lembrar das carícias. Ainda podia sentir a língua de Uruha e, sem que se desse conta, passou a mão pelo de leve pelo pescoço.

- Se com um beijo me senti assim... – murmurou, surpreso e assustado.

Respirou fundo e saiu da cozinha. Deixou a porta só encostada e atravessou a sala e o corredor. O quarto de hóspedes estava em ordem e então, o moreno tirou o casaco e entrou no próprio quarto. Olhou em volta, um pouco perdido.

- Espero por ele ou não? – se perguntou, baixinho e depois, riu de si mesmo – Aoi meu velho, está agindo como uma garota no primeiro encontro.

Riu baixinho e resolveu tomar um banho. Pegou algumas peças e se encaminhou para o banheiro, tentando não pensar no que Uruha estava fazendo ou pensando.

- Aoi?

O moreno ergueu a cabeça, tirando o cabelo molhado do rosto.

- Banho! – gritou, esperando ser ouvido pelo loiro.

Um pouco arrependido por não ter esperado, colocou a cabeça de novo embaixo do jato d´água, resolvido a tirar logo o sabonete líquido e sair. Quando ergueu os braços para fechar o registro, sentiu-se ser abraçado e seguro.

- Posso te acompanhar? – Uruha perguntou ao lado do ouvido do moreno, sentindo-o se arrepiar.

Totalmente constrangido, Aoi se virou e encarou os olhos escuros de Uruha, sem saber como podia ser. Sentiu o corpo nu do outro encostado ao seu e o sangue esquentar seu rosto.

- Envergonhado? Porquê?- o tom levemente jocoso de Uruha fez Aoi corar ainda mais.

Divertido, o loiro simplesmente empurrou mais o moreno para debaixo da ducha, fazendo a água cair sobre os dois.

- Já se ensaboou? – perguntou, olhando para baixo.

- Ei!!! – Aoi reclamou, totalmente sem graça.

- Belo corpo.

O mais velho sentiu-se ainda mais envergonhado. Uruha segurou seu rosto de forma a fazê-lo não desviar o olhar.

- Você é um belo homem, Aoi. Devia se orgulhar...  – o loiro sorriu, provocativo – Na verdade, quando faz aquelas coisas no palco, nem parece que pode se envergonhar tanto.

- Você não fica atrás. Lembra dos shortinhos? Aqueles pedaços de pano obscenos? – o moreno rebateu, sentindo-se mais à vontade.

Uruha elevou uma sobrancelha.

- Ordens do figurinista. – o mais novo se defendeu – Eu não tive nada a ver com isso.

Pego de surpresa com a resposta espirituosa, Aoi começou a rir. Uruha o encarou um pouco e então riu junto. O moreno encarou o outro, ainda com a sombra do riso no olhar.

- Obrigado.

O guitarrista loiro sacudiu a cabeça, nem um pouco surpreso por perceber que o mais velho percebeu sua intenção de acabar com o constrangimento. Com cuidado, afastou-se um pouco, controlando a própria vergonha. Aoi acompanhou com os olhos o movimento do mais novo, notando a pele clara e os músculos definidos.

O olhar do moreno desceu e com surpresa e um pouco de constrangimento, notou o corpo bonito de Uruha. Tão igual ao seu e no entanto, tão diferente. Ergueu a mão e passou de leve no peito molhado, sentindo a textura da pele.

O guitarrista mais novo não disse nada, embora estremecesse de leve com a carícia tímida. Sabia que não era muito fácil passar por aquela fase. A fase de descobrir o outro e encarar a própria vergonha. Respirou fundo e tentou acalmar o próprio coração, deixando o mais velho ter acesso a seu corpo e se acostumar com as igualdades.

Aoi tomou coragem e se aproximou, descendo as mãos pelo corpo firme. Apesar de tentar se controlar, Uruha não conseguiu não reagir e por um momento, temeu assustar o mais velho.

- Posso passar o sabonete em você? – o moreno perguntou, baixinho.

- Claro. – o mais jovem respondeu, engolindo seco diante da mera suposição.

O guitarrista moreno colocou sabonete na esponja e começou lentamente a passar no corpo já totalmente molhado de Uruha. Depois de apenas alguns segundos, resolveu que não era assim que queria e deixou a esponja no suporte. Colocou o sabonete na mão e então, voltou a passar no corpo firme. O loiro respirou fundo e mordeu o lábio inferior levemente.

Aoi não pareceu notar, inteiramente focado nas carícias.

- Sua pele é macia... – comentou, baixinho – E fina... dá para sentir seu coração batendo forte.

Uruha segurou uma das mãos do mais velho e o empurrou levemente para debaixo d´água, com um meio sorriso.

- Acho que igual a sua. Japoneses, lembra?

O moreno riu, puxando o loiro com ele. O beijo foi mais diversão do que excitação e mesmo um pouco constrangidos, aproveitaram para se descobrirem. Uruha provocou Aoi de leve, divertido com a vergonha do outro.

O que Uruha não esperava e não contava, foi que se lembrasse. Assim que saíram do box, rindo e tentando se secar, caíram na cama e o peso de Aoi em cima dele desenterrou lembranças ruins. O moreno não percebeu a súbita tensão no corpo embaixo dele e retomou os beijos sensuais. O loiro, apesar de saber que a situação era diferente, totalmente diferente, não conseguiu passar por cima.

Depois de alguns minutos, o guitarrista moreno percebeu a tensão do outro e parou as carícias, erguendo o corpo. Nos olhos escuros do loiro, viu medo.

- Uruha... – começou, um pouco alarmado.

- Desculpe por isso... – o mais jovem pediu, respirando fundo.

- Eu fiz alguma coisa errada? – o moreno perguntou, preocupado.

- Lembranças ruins. – apesar de saber que podia estragar tudo, Uruha não cogitou em esconder o que estava sentindo.

Já tinha feito o suficiente por uma vida inteira.

Aoi se ergueu, sentando-se sobre o guitarrista loiro, que estreitou os olhos. A única coisa entre eles era uma toalha, que ficou presa quando caíram sobre a cama. O mais velho, preocupado, não pareceu ter notado a situação, mas Uruha notou e sorriu, sacudindo a cabeça. Nem mesmo naquela situação podia dizer que o outro não o afetava.

O guitarrista moreno abriu a boca para perguntar alguma coisa, mas então a fechou e se encolheu ao se lembrar.

- É por causa do que eu fiz? – perguntou enfim, baixinho.

- Sei que é diferente, mas é difícil não lembrar...

O tom saiu baixinho, e ambos se encararam.

- Desculpe... eu sinto muito por ter te machucado.... – Aoi começou, sem saber ao certo o que fazer.

Uruha desceu o olhar pelo corpo firme sentado sobre si. A toalha não estava escondendo nada e a excitação era visível. Com um impulso, o loiro se sentou e segurou o moreno para que não caísse sobre a cama. Aoi ofegou ao ter a boca tomada por um beijo exigente e correspondeu, apesar de um pouco perdido.

- Uruha... – tentou parar o outro, sem sucesso.

O mais velho sentiu um arrepio percorrer seu corpo e despertá-lo inteiramente. A língua ávida do loiro já estava no fim do pescoço, descendo perigosamente.

- Espera... eu não... – ainda fez uma última tentativa, antes que perdesse totalmente o controle.

- Sei que não vai me machucar de novo, Aoi. – Uruha respondeu, ofegante – Quero fazer outras lembranças, melhores. Vai colaborar ou vai ficar falando?

- Tem o direito de tornar a minha primeira vez tão difícil quanto a sua. – rebateu, com um pouco de medo apesar do sorriso envergonhado.

O loiro o encarou por um momento e então, sacudiu a cabeça.

- Você fala demais.

Sem esperar, beijou-o de novo. A nova posição ajudou um pouco a refrear o medo e Uruha se concentrou em Aoi. Depois de descartar a toalha, beijou e lambeu cada pedaço do corpo do moreno, fazendo-o se remexer e gemer, excitado. O mais velho, a princípio, sentiu o rosto esquentar com as carícias cada vez mais ousadas de Uruha, mas não conseguiu se controlar diante de tanto desejo. O loiro despertou sensações que não conhecia e com tal intensidade, que por um momento duvidou que pudesse ser, ainda mais quando sentiu a boca macia e quente em seu corpo, a língua faminta deixando rastros molhados e ferventes em sua pele. Mas nada o havia preparado para a onda intensa de prazer quando Uruha o tomou na boca.

Aoi tentou afastá-lo, num reflexo envergonhado e um pouco desesperado, mas o mais novo o manteve firme com o peso do próprio corpo. O moreno se arqueou, gemendo descontroladamente e então, segurou o cabelo do amante, arquejante.

Uruha usou a boca e a língua para descontrolar e excitar Aoi até o limite que sabia que podia chegar sem que o outro explodisse. Não antes que pudesse realmente afastar todas as más lembranças e enterrar o passado de vez. Com calma, afastou-se do moreno e passou a língua nos lábios, tão excitado e faminto quanto o amante jogado na cama.

O mais velho não reagiu de imediato ao frio que sentiu sem as mãos de Uruha em seu corpo, mas puxou-o para cima de si e abriu as pernas, sem perceber. O loiro ficou surpreso por Aoi exigir um beijo, mas notou que ele não estava pensando, só sentindo. Com relutância, encerrou o beijo e mordeu levemente o lábio inferior do moreno, puxando-o de leve. Quando achou que o outro já podia ouvi-lo, riu baixinho e respirou fundo.

- Sua vez.

Por um segundo, Aoi não entendeu Uruha e então, quando o loiro já estava pensando em como se fazer entender, o moreno rolou sobre ele.

- Não vou te machucar. Amo você.

A frase, sussurrada no ouvido pela voz ofegante, fez o coração do jovem dar um salto e começar a bater mais rápido. Aoi não deixou Uruha se afastar nem responder, beijando com paixão. Ainda que um tanto desajeitadamente, repetiu as carícias que recebeu e com satisfação e alívio, ouviu o amante gemer de prazer, a voz baixa e rouca fazendo-o se arrepiar.

Experimentou a pele macia, guiando-se pelos gemidos e ofegos de Uruha. Não queria fazer nada que pudesse trazer a tensão de volta, mas nem reparou quando deixou de se preocupar, concentrado demais no calor e no gosto do corpo bonito. As pernas do loiro se revelaram realmente uma tentação deliciosa. Coxas grossas para um japonês, firmes e macias, como sempre imaginou que fossem. O short curto deixava boa parte à mostra, mas vê-las e tocá-las eram outra coisa.

Aoi encarou o corpo à sua frente, incerto pela primeira vez e como se tivesse antecipado, Uruha se mexeu e tentou se sentar.

- Não precisa... – murmurou, sem ar.

Antes que o jovem pudesse fazer alguma coisa, o moreno simplesmente se inclinou sobre ele, tomando-o na boca. Uruha sentiu o ar sumir dos pulmões e se segurou nos ombros do amante, estremecendo quando o prazer se espalhou por seu corpo.

- Aoi... – murmurou, sem querer cravando as unhas nas costas do mais velho – Pára...

O guitarrista moreno não respondeu e nem queria. Sentiu-se estranho no começo, mas tentou repetir Uruha o mais fielmente que podia. Não conseguiu respirar direito com o loiro na boca, e então, deixou-o escorregar e lambeu, segurando-o pela base.

Não podia fingir que não sentiu um certo desconforto, um constrangimento no início, mas os gemidos quase descontrolados do loiro não o deixaram se afastar e em vez de deixar as dúvidas e a vergonha atrapalharem, Aoi afundou Uruha na boca, apertando-o com a língua.

O loiro gemeu alto e se deixou cair sobre a cama, ofegante. Com um último pensamento coerente, sabia que precisava afastar o moreno. Tentou falar, mas não conseguiu.

Respirou fundo, surpreso. O mais velho provavelmente não tinha nenhuma noção do que estava fazendo, mas com certeza tinha potencial. Com um sorriso malicioso, Uruha reuniu o resto de forças e empurrou Aoi de leve, mordendo o lábio para se concentrar e se controlar.

- Chega, Aoi... pára... – pediu, tentando afastá-lo.

O moreno realmente o fez e levantou a cabeça, fazendo Uruha quase gritar de frustração. Estava com os cabelos bagunçados, ofegante e com os lábios marcados. Deliciosamente pecaminoso, se pudesse definir.

- Vem... – com esforço, o loiro tentou pensar direito – Preciso que me prepare...

Um lampejo passou pelos olhos negros e Uruha se ergueu um pouco, sem forças para reclamar muito.

- Deixa para reclamar depois, tá? – pediu, baixo – Não acredito que tenha lubrificante, não é?

- Lubrificante? – Aoi perguntou, perdido.

Uruha riu baixo e se deixou cair, exausto.

- Sabia que era pedir demais... – comentou, respirando fundo.

Assim que o moreno processou a conversa, sentiu o rosto esquentar de vergonha e desviou, totalmente constrangido. Tentou pensar em alguma coisa, mas o corpo começou a formigar, exigindo atenção.

- Desculpe, eu... – começou, sentindo-se um idiota.

- Me dá sua mão. – o loiro pediu, estendendo a sua.

Aoi, confuso, se aproximou do loiro e acabou por se deitar sobre ele, fazendo os corpos se tocarem, Ambos gemeram e Uruha segurou-se nos braços do amante, puxando o ar.

- Covardia... – o jovem reclamou, baixinho.

- Desculpe. – o mais velho pediu, tão afetado quanto ele.

Uruha o encarou.

- Se me pedir desculpas outra vez, saio daqui e te deixo assim. – ameaçou, sabendo que nunca teria forças para cumprir a ameaça.

O moreno não respondeu e engoliu seco, mas riu quando percebeu a brincadeira.

- Não faz isso... – pediu, a voz rouca ainda mais baixa.

O mais jovem se deitou e puxou a mão do moreno, lambendo dois dedos de uma maneira lenta e torturante. Aoi gemeu ao ver a cena. Provocativo, Uruha o encarou e lentamente, passou a língua molhada pelos dedos longos.

O guitarrista mais velho se contraiu, abrindo a boca para respirar, mas não tirou os olhos do amante. Uruha percebeu que o calor do corpo do moreno, em cima do seu, aumentou e sorriu ao sentir a extensão do desejo do outro, apertado contra si. Deixou os dedos do guitarrista bem molhados e forçou-se a relaxar.

Sabia que não ia ser fácil porque além de Aoi ser grande, não sabia como se mexer. Por experiência própria, sabia que as duas coisas juntas podiam causar uma dor infernal.

- Agora me penetra com um dedo primeiro. – pediu, arfando ao afastar as pernas e sentir totalmente o corpo de Aoi sobre o seu.

O moreno o encarou e então, ajoelhou-se entre as pernas de Uruha. O coração estava batendo na cabeça, fazendo-se se sentir um pouco zonzo e a própria excitação já estava começando a doer. Sentiu-se corar ao penetrar Uruha com um dedo, como ele pediu. O gemido doloroso o fez parar um pouco, preocupado. Assustado, ergueu a cabeça e encarou o outro, com o cenho franzido.

- Te machuquei? - perguntou, alarmado.

- Nem começou. – Uruha rebateu, irritado por ter que ter paciência.

Com cuidado excessivo, o moreno introduziu o dedo, mexendo-o de leve dentro do loiro. Uruha arfou e ele parou, tentando se lembrar de deixá-lo se acostumar à invasão antes de tentar o segundo.

O jovem pareceu mais relaxado e Aoi tirou totalmente a mão, mordendo o lábio ao tentar colocar os dois dedos juntos dentro do amante. Foi rápido demais e Uruha gemeu alto de dor. Assustado, Aoi ergueu a cabeça e abriu a boca para se desculpar de novo, quando percebeu que o loiro não iria ouvi-lo. A expressão de dor do jovem fez seu coração se contrair.

- Está doendo tanto... – murmurou, penalizado.

Uruha realmente não o ouviu, já que tentava relaxar o máximo para fazer a dor ceder. Desde Kovu não teve outro amante, e sabia que ia ser difícil.

Aoi o encarou, disposto a deixar de lado aquela tentativa e então, olhou para o corpo à sua frente. Com cuidado, deixou os dedos dentro do amante e se inclinou mais, lambendo Uruha e o acariciando com a outra mão. Tomou-o na boca, repetindo inconscientemente as carícias que gostou de receber. O loiro gemeu alto e segurou os lençóis com força, totalmente sem ar. Aoi recomeçou os movimentos e o fez ofegar. O corpo de Uruha reagiu ao estímulo e cedeu, faminto.

- Já chega... está bom... – o loiro franziu a testa quando sentiu os dedos do amante deixarem-no.

O mais velho o encarou, arfante e Uruha tentou esconder o medo.

- Entra devagar em mim... devagar, Aoi. – orientou e pediu, sabendo perfeitamente que não conseguiria controlar o mais velho, a partir dali.

Foi um segundo de pânico e tensão para o moreno, que mordeu o lábio. Ele se aproximou e se segurou, começando a penetrar o outro lentamente. Tentando controlar o próprio medo, concentrou-se em ser o mais lento possível, mas não contou com o calor apertado de Uruha.

Não sabia que podia se desesperar tanto. Seu lado faminto queria se enterrar no jovem e saciar seu desejo o mais rápido possível, mas seu lado apaixonado queria se segurar, para não machucar o amante. Dividido tão brutalmente, Aoi gemeu, desesperado.

Uruha não podia ajudar, perdido na dor ao sentir-se penetrado. O mais velho estava sendo o quão cuidadoso podia ser, mas não o bastante. Doeu, e muito. O jovem mordeu o lábio para não gemer ainda mais e quis que terminasse logo. Sempre achou aquela parte a pior e se perguntou se algum dia isso mudaria.

Com um gemido, Aoi sentiu-se totalmente envolvido pela carne macia do amante e ficou parado, recorrendo ao último pensamento que repetiu sem parar como um mantra. “Não posso machucá-lo de novo.” Cuidadoso, apoiou as coxas de Uruha nas próprias e colocou os braços ao lado dele.

- Uruha... – chamou, baixinho.

O loiro abriu os olhos e se segurou nos braços firmes, respirando fundo.

- Se mexe com cuidado... – pediu, encarando os olhos negros cheios de desejo e preocupação.

Aoi se inclinou e beijou Uruha, testando movimentos leves. O calor do jovem o envolveu e o apertou e quase com assombro, percebeu o próprio corpo reagir ainda mais, esquentando e endurecendo.

- É macio... – murmurou, fechando os olhos e descansando a testa no queixo do loiro – E quente...

Com cuidado, experimentando cada sensação nova, o moreno se mexeu dentro do amante. Uruha gemeu baixo e abriu um pouco mais as pernas, passando os braços pelos ombros de Aoi. O mais velho, em reflexo, segurou uma das coxas do loiro, erguendo-a.

O jovem arqueou o corpo quando Aoi se mexeu de um modo mais intenso, atingindo aquele ponto de nervos que fez luzes explodirem por trás de seus olhos. Uruha gemeu de prazer, apertando o amante ainda mais, esquecido da dor.

- Isso... assim... – murmurou, se mexendo embaixo do moreno – Mais...

Aoi ergueu a cabeça e o encarou, sorrindo de leve ao ver a expressão prazerosa do outro. Não sabia como fazer direito, mas cuidadosamente, se mexeu, entrando mais e então, quase saindo do amante.

Não esperava que fosse assim, tão quente e tão intenso. Não esperava mesmo. O moreno gemeu ao sentir o corpo se incendiar ainda mais e por um segundo, teve medo. Não sabia que tudo podia ser tão único.

Uruha gemeu baixo, mexendo o corpo de forma sensual embaixo do moreno. A dor felizmente cedeu e o loiro se deixou tomar de prazer. Quando abriu os olhos, ficou preso na imagem de Aoi sobre ele. Imagens do passado passaram em sua mente como um flash, mas foram apagadas quando o mais velho se inclinou e tomou seus lábios, faminto.

Os movimentos aumentaram de velocidade, variando num ritmo enlouquecedor. O loiro encerrou o beijo e segurou-se com força no amante, gemendo um pouco mais alto e Aoi descobriu que podia se excitar ainda mais. Os gemidos de Uruha eram enlouquecedores. Ora baixos e roucos, ora um pouco mais descontrolados.

Viciantes de se ouvir e deliciosos de se provocar.

Com os olhos negros presos no rosto delicado, Aoi sorriu ao se mexer provocantemente, erguendo o corpo de Uruha um pouco mais e apoiando-o nas pernas. Num efeito imediato, entrou mais fundo no amante e o fez gemer ainda mais. O moreno sorriu, ofegante.

- Você geme gostoso... – murmurou, perto do ouvido de Uruha.

O loiro até tentou responder, mas Aoi se movimentou um pouco mais bruscamente, fazendo-o se agarrar com mais força. 

Apertado dentro de Uruha e envolvido por seu calor, o mais velho aumentou os movimentos, insistindo sem perceber,  naquele ponto que deu tanto prazer ao loiro. Os corpos, cobertos por uma camada fina de suor, arrepiados e no limite de si mesmos, exigiram satisfação.

O orgasmo atingiu primeiro Uruha, totalmente entregue ao amante faminto, e depois Aoi, preso em seus braços. O moreno abriu a boca em busca de ar, perdido no meio de um prazer quase violento, que se espalhou por seu corpo com força. Surpreso e assustado, não teve noção exata até que se rendeu.

Por momentos, apenas o som das respirações entrecortadas e ofegantes pode ser ouvido. Os movimentos foram se tornando mais lentos, até que pararam por completo. Aoi não conseguiu segurar o peso do próprio corpo e desabou em cima de Uruha, que simplesmente gemeu baixo.

Alguns minutos se passaram, até que o moreno se mexeu preguiçosamente, arrancando mais gemidos do loiro. Com cuidado, se ergueu de entre as pernas do loiro e saiu dele delicadamente.

Uruha se mexeu também, abrindo os olhos escuros. Nem mesmo em suas mais loucas fantasias, podia imaginar o prazer de fazer amor com Aoi. O corpo, exausto, ainda estava arrepiado e levemente trêmulo, suado e marcado pelo ato intenso.

- Uruha... – a voz rouca e baixa de Aoi o tirou dos pensamentos, fazendo-o virar a cabeça e encarar o amante acima de si. O olhar do moreno não podia ser explicado – Você está bem?... Te machuquei?

- Não... – murmurou, respirando fundo.

O loiro simplesmente puxou o outro para perto. Aoi não recusou o abraço e acariciou o rosto macio, notando as marcas na pele clara do peito.

- Também te marquei, Aoi... – o jovem argumentou, notando o olhar do guitarrista mais velho.

Antes que pudesse dizer qualquer outra coisa, o moreno se inclinou e beijou o amante. Uruha correspondeu, erguendo a mão e segurando uma mecha de cabelo do outro. Quando o ar faltou, separaram-se e se encararam. Carinhosamente, Aoi descansou a testa na do loiro.

Ficaram assim, por alguns minutos e então, Uruha se mexeu.

- Precisamos de um banho. – o loiro comentou, preguiçoso.

Aoi ergueu a cabeça e o encarou, confuso.

- Não tem a menor condição de dormir assim. – o jovem explicou, erguendo um pouco o corpo e fazendo o moreno se erguer também.

O olhar do mais velho caiu sobre o corpo do loiro e mesmo distraído pelas formas, notou que além das marcas escuras, Uruha estava sujo do próprio prazer. Ambos estavam e fora isso, descabelados e suados. O loiro não se importou em mostrar toda a sua nudez e com um gemido baixo, levantou-se. O jovem testou o corpo e franziu a testa, duvidando realmente que pudesse ficar muito mais tempo de pé. Andou lentamente e quando se aproximou da porta do banheiro, olhou para trás e elevou uma sobrancelha.

Aoi sentiu-se corar diante do olhar do outro, ainda mais quando os olhos escuros se desviaram para seu corpo nu e descoberto.

- Vem. – o jovem chamou, estendendo a mão.

Sabendo perfeitamente que estava vermelho, o moreno se levantou, mas não conseguiu olhar para o guitarrista loiro, que sorriu de leve e o puxou para um novo banho.

Aoi ficou ainda mais constrangido com a risada divertida de Uruha, mas o loiro não deixou que a vergonha do amante aumentasse. Pela primeira vez em muito tempo, se divertiu e provocou o moreno, aproveitando quando o outro insistiu em lavá-lo. Foi ótimo ser cuidado por Aoi.

O mais velho, apesar de muito envergonhado e visivelmente exausto, passou sabonete nos dois, usando a esponja macia para fazer muita espuma. Por algum tempo depois das brincadeiras, apenas o som da água foi ouvido, mas o silêncio entre os amantes não foi desconfortável.

- Está doendo? – o moreno perguntou baixinho, observando as marcas no peito de Uruha.

- Não muito... – o guitarrista loiro respondeu, distraído com a espuma no pescoço de Aoi. Os dedos longos brincaram, numa carícia leve.

- Está falando das marcas ou... – parou, incerto em como continuar a frase.

Uruha o encarou, com uma expressão indecifrável.

- Sempre vai doer um pouco no começo, e um pouco mais no fim. – respondeu, sem desviar os olhos do amante – E eu não queria que fosse diferente, afinal... – encolheu os ombros – acho que fácil e indolor só deve acontecer com garotos de programa. – inclinou de leve a cabeça – Ainda assim eu duvido que possa acontecer sempre.

O moreno corou, constrangido.

- Isso é muito esquisito, para alguém da sua idade. – o jovem provocou, afastando-se um pouco para tirar a espuma do corpo.

Aoi estreitou os olhos e então, simplesmente imprensou Uruha contra a parede de mármore frio. O loiro gemeu, tanto pelo choque térmico quanto pelo corpo quente atrás de si.

- Muito velho, é? – o moreno perguntou, aproveitando a água para roçar o corpo sugestivamente no do outro.

- Eu estava falando de corar... – Uruha tentou se defender, fingindo alarme – Eu não disse nada quanto à sua capacidade de...

O jovem foi interrompido quando Aoi o apertou ainda mais, puxando-o contra si. As mãos do moreno desceram perigosamente, tirando o resto da espuma.

- Golpe baixo! – o loiro reclamou, recostando-se no mais velho.

- No amor e na guerra vale tudo. – o guitarrista moreno filosofou, interessado no caminho da água no corpo em seus braços.

- Vai ficar me secando até quando? – Uruha perguntou, de repente.

O moreno fechou os olhos ao sentir o rosto esquentar e o loiro rir, divertido.

- Eu te odeio. – comentou, resignado.

Uruha riu ainda mais e ambos terminaram finalmente o banho. Saíram do box e Aoi pegou mais toalhas e se ocupou em secar o cabelo do loiro, após secar o próprio corpo rapidamente. Pegou o robe já usado e ofereceu outro ao amante.

- Você pode vestir alguma coisa minha. – o moreno ofereceu, preocupado.

- Eu peguei minha mochila, deve ter alguma coisa que ainda posso usar. – o outro respondeu, franzindo de leve a testa ao sentir o cansaço e o desconforto ao vestir o robe.

- Está cansado. – Aoi comentou, notando a expressão.

- Você também está e... – Uruha respondeu, desistindo de tentar forçar mais o corpo – Aceito suas roupas.

O mais velho o guiou para fora do banheiro e indicou uma porta ao lado, no corredor.

- O armário é aqui. Pode pegar o que quiser. – o moreno disse, ele mesmo entrando no pequeno espaço.

- Uau! Tem realmente tempo para usar isso tudo? – o jovem perguntou, surpreso com a quantidade de roupas cuidadosamente penduradas ou dobradas.

Aoi encarou o espaço com um olhar crítico.

- Já usei tudo o que está aí, mas acho que deve ter coisas que realmente não uso mais. – encolheu os ombros – Falta tempo para separar.

- Onde acho lençóis?

- O quê? – a pergunta pegou o moreno de surpresa.

Uruha saiu do meio dos cabides, encarando o outro com surpresa no olhar.

- Quer mesmo dormir nos lençóis que estão na cama? – perguntou, com um início de sorriso.

- Porque não? – o outro perguntou, perdido.

- Porque estão sujos e amassados, e suados? – o loiro ergueu as mãos, num gesto de descrença.

Por um momento, Aoi não entendeu do que ele estava falando e então, sentiu o sangue subir para seu rosto, de novo. Uruha se recostou à parede e o encarou, fazendo-o corar ainda mais.

- É sério, eu realmente te odeio. – o moreno murmurou, se virando.

A risada divertida soou atrás dele e ele acabou rindo também. O moreno pegou novos lençóis e Uruha se adiantou.

- Se veste, eu faço isso. – disse, sem esperar resposta.

O loiro voltou para o quarto e Aoi aproveitou para se vestir. Colocou rápido uma calça de tecido fino e uma regata, confortável. Pegou o robe e voltou para o quarto, observando Uruha terminar de arrumar a cama.

- Agora é comigo, vai se vestir. – o moreno hesitou e então, desviou os olhos – Tem roupa íntima na gaveta do meio... sinto muito mas acho que não tenho nada na embalagem. – parou, sentindo-se corar de novo – Se quiser, é claro.

Uruha o encarou e então, deu a volta na cama e passou por ele.

- Sempre pensei que eu fosse o mais envergonhado da banda. – comentou, distraído.

Aoi rolou os olhos, exasperado, mas não respondeu. Assim que Uruha entrou no closet, o moreno aproveitou para atravessar o quarto e pegar os lençóis usados que estavam no chão. Encarou-os por um momento e então, juntou as toalhas e levou tudo para a pequena área de serviço, fazendo uma careta quando o corpo reclamou do esforço.

Ao voltar, passou pela cozinha e pegou dois refrigerantes e um pequeno guardanapo. Quando entrou no quarto, Uruha saía do banheiro. O loiro escolheu uma calça antiga e uma camiseta larga, uma das últimas que Aoi ainda conservava. Com o cabelo ainda meio bagunçado, estava parecendo um adolescente.

- Arrumei o banheiro. – ele explicou, olhando para as garrafas.

- Eu estava com sede e trouxe para você também. – o mais velho explicou, estendendo o refrigerante.

Uruha pegou a garrafa e abriu. O moreno fez o mesmo, mas parou ao ver o movimento do pescoço do loiro.

- Está me secando de novo... – o jovem comentou, passando a língua de leve no lábio.

Aoi abriu a boca para se desculpar mas parou, simplesmente erguendo uma sobrancelha. Uruha riu, divertido.

- Está aprendendo. – constatou, entregando a garrafa agora vazia ao moreno.

O loiro subiu na cama, sem reparar no olhar faminto do amante sobre seu corpo. O moreno o observou se ajeitar na cama e o olhar de volta, com um ar inocente. Com um sorriso malicioso, o mais velho simplesmente deixou as garrafas sobre o criado e se deitou a seu lado.

- E sua terrível mania de arrumação e ordem? – o loiro perguntou, sendo literalmente puxado para os braços de Aoi.

- Amanhã eu penso nisso. Quero sentir você. – o outro respondeu, escondendo o rosto no cabelo ainda meio úmido do loiro.

Uruha se deixou abraçar e deitou a cabeça no peito do mais velho, sentindo o coração dele bater forte.

- É sempre assim? – o moreno perguntou, baixinho.

- Você me pergunta muito isso. – Uruha provocou, tentando ganhar tempo para responder algo que não sabia e na verdade, tinha medo de saber.

- Sério? – o mais velho perguntou, surpreso – Talvez seja mesmo... mas ainda assim....

- Não sei... – o loiro o interrompeu e respondeu, brincando de leve com o tecido da regata do mais velho.

- Eu quero que seja.

O guitarrista mais jovem fechou os olhos, tentando não pensar no quanto esperou e desejou aquelas palavras. Não queria pensar no quanto de desespero e dor que sentiu ao ser dispensando, e depois em todo o resto.

- Uruha?

- Eu queria realmente prometer, mas... – parou, sem saber como explicar o simples fato de não acreditar muito que aconteceria.

Era muita bagagem, muita coisa para simplesmente esquecer.

- Então não prometa. – o mais velho disse, apertando-o de leve – Só fique aqui comigo.

Uruha respirou fundo, sentindo o queixo do mais velho no alto da cabeça e as carícias leves nas costas.

- Vou ficar.

Aoi ouviu a afirmação do amante em seus braços e não pode deixar de pensar que era pouco. Queria mais. Na verdade, queria tudo de Uruha. Queria que ele prometesse ficar, que ele voltasse a dizer que o amava e que podia perdoá-lo por tudo. Sabia que não ouviria, pelo menos por enquanto e não podia fazer nada para mudar esse fato. Por ora, tinha tudo o que podia ter do outro.

Continuou acariciando o loiro, até sentir que ele pesou em seu peito e a respiração ficou mais compassada. Também estava cansado, na verdade exausto, mas não conseguia dormir.

Em sua mente, reviu tudo o que aconteceu, sentindo o coração acelerar com a lembrança dos beijos, das carícias. Não era inexperiente, mas o que sentiu com Uruha ultrapassou tudo o que conhecia como amor e sexo.

Até mesmo com Akaya, a mulher com quem chegou a achar que se casaria. Perto do que sentiu com Uruha, e por ele, podia quase lamentar a palidez do sentimento pela moça. Com um suspiro, ajeitou o loiro sobre si, sequer considerando o desconforto e o apertou um pouco mais, fazendo-o gemer baixinho.

Aoi olhou para baixo, prendendo a respiração por pensar que o tinha acordado. Depois de alguns minutos, Uruha relaxou de novo e Aoi sorriu, aliviado. O cabelo do jovem fez cócegas no rosto do moreno e ele o tirou, cuidadosamente. 


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