Harry Potter - A nova geração escrita por Júlia França


Capítulo 7
A verdade - parte 2 -


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem...



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_ Sim. Eu sou portadora do vírus HIV.

_ Eu... – Alvo tentou começar a falar, mas ele não sabia o que dizer. Provavelmente estava procurando uma forma educada de se afastar, correr para o banheiro e lavar a mão que acidentalmente eu tinha tocado na sorveteria.

_ Não precisa dizer nada. Pode ir embora se você quiser. – As palavras saíam arranhando a minha garganta, e a minha boca estava seca demais. – Tudo o que eu disse foi porque eu gosto de você. A última coisa que eu quero é que você me chame de mentirosa e diga que eu não tentei te avisar. – Minha cabeça estava baixa, como se mostrasse que eu era um ser inferior.

_ Eu não quero ir embora. – Ele disse simplesmente, me abraçando em seguida. Tudo estava acontecendo ao contrário do que eu imaginava. Meus braços estavam petrificados do lado do meu corpo e por mais que eu quisesse meche-los para corresponder ao abraço, eles não estavam mais sobre o meu comando. A verdade era que até eu tinha um pouco de nojo de mim. Meu sangue era venenoso e podia contaminar qualquer pessoa que estivesse em contato com ele. Mas Alvo me entendeu, como ninguém tinha feito antes, como nem eu me entendia. Sem nojo e sem medo de me abraçar.

_ Porque não? – Só então eu percebi que eu chorava compulsivamente. Algumas pessoas mal informadas poderiam pensar que por ser um líquido que escorria de dentro de mim, as lágrimas poderiam ser transmissoras do vírus. Fiquei ainda mias surpresa quando ele as limpou com os dedos, sem se importar em ter a proteção da manga da camisa para me secar.

_ Porque eu gosto de você. E eu não vou deixar isso atrapalhar.

_ Você não tem medo de mim?

_ Claro que medo é normal. Mas você é inofensiva... não escolheu ser assim. – Dessa vez eu consegui abraça-lo, e eu tive certeza que ele não me negaria.

_ Obrigada. – Eu disse, ainda presa aos seus braços que correspondiam prontamente ao abraço.

_ Obrigada?

_ Você e a família do Scorpius são as únicas pessoas que me aceitam. – A gente caminhava silenciosamente pela praça de mãos dadas. – E isso porque eu sou uma espécie de testes científicos para o senhor Malfoy. Ele acha muito interessante o corpo de alguém como eu, por ser medibruxo.

_ E porque você contou para eles também?

_ Porque eu meio que moro com o Scorpius nas férias.

_ Por quê?

_ Minha mãe era a única que sabia. Ela me dava remédios dizendo que eram anticoncepcionais, mas quando eu fiz quatorze anos, eu fui ler a bula e eu descobri que eram para fortalecer o sistema imunológico em casos de AIDS. E então eu descobri. Quando meu pai ficou sabendo ele mandou esterilizar toda a casa para que ele não pegasse e depois me expulsou. Scorpius me deixou morar na casa dele.

_ Nossa. Eu não... sabia. Você tem contato com a sua família?

_ O contato se tornou bem menor depois que eles descobriram que eu era uma bruxa, uma espécie de aberração. Mas agora é quase zero. Por isso eu não espero que alguém entenda. Nem minha família me entendeu.

_ Ju...

_ Oi?

_ Você quer ir ao baile de final de ano comigo? Você sabe... o Ministério sempre faz um baile de Natal e nós vamos estar de férias. Você poderia ficar na minha casa.

_ Eu não acho que seja uma boa ideia. - O sorriso de Alvo murchou.

_ Digo, ficar na sua casa. Eu quero muito ir com você no baile. Na verdade o Scorpius vai com a família dele também. A gente pode se encontrar lá. – Alvo voltou a sorrir.

_ Eu disse para os outros que viria encontrar com você e eles já voltaram para o castelo. As garotas resolveram ficar para procurar os vestidos do baile. Se você quiser ir com elas...

_ Ia ser legal. Eu te encontro no jardim no final do dia?

_ Vou estar te esperando. – Alvo disse, dando um beijo no meu rosto e saindo. Encontrei as meninas esperando por mim na porta de uma loja. Nós já éramos muito amigas.

O baile seria de gala, e nas festas do ministério, ninguém usava vestidos curtos então teríamos que escolher alguma coisa longa.

_ Aquela não é a Parkinson? – Mary perguntou assim que entramos na loja. Ela estava provando um vestido curto e que mostrava muito mais que o necessário.

_ Vamos para outra loja. Eu não gosto dela. – Rose afirmou, já saindo de perto das araras.

_ A gente sabe o motivo. – Mary disse brincalhona, mas não terminou de falar porque Ashley pisou no seu pé, mandando-a parar. Mas acho que eu também já tinha uma vaga ideia de qual seria o motivo.

_ Qual? – Ela perguntou com os olhos fulminando. Provavelmente esperando o momento certo de lançar uma maldição imperdoável em Mary.

_ Nada. – Ela respondeu simplesmente. – Mas eu gostei dos vestidos daqui. Não vou parar de olhar só porque aquela megera entrou na loja.

_ Eu também não. – Ashley concordou. Rose suspirou, mas teve que aceitar, e então começou a remexer nos vestidos, enquanto eu olhava do outro lado da arara.

_ Olha o que eu achei. – Mary mostrou um vestido bem claro com uma transparência nos ombros e nas costas.

_ Acho que combina com você. – Eu disse enquanto olhava para a pedraria do cinto.

_ Pode ser. Vou separar este. – Ela disse, colocando em cima de uma mesinha.

Mary acabou comprando o tal vestido, mas não achamos nada prá gente e Rose já estava impaciente de ter que ficar com a Parkinson no mesmo recinto então, para procurar mais, e não causar nenhuma catástrofe mundial resolvemos olhar em outra loja.

_ Qual o seu problema com a Parkinson hein? Eu sei que ela é chata, mas nunca te fez nada. Eu acho. – Ashley perguntou.

_ Você ainda pergunta. – Ok. Agora é oficial. Mary quer morrer hoje.

_ Porque ela é chata, se acha, fica se fazendo de melhor e se você me permite, ela mostra tanto o corpo dela naqueles vestidinhos micro que eu aposto que vai ser uma prostituta de esquina enquanto eu vou ser uma medibruxa bem graduada. Além de ela ser da Sonserina, é claro. Sem ofensas Ju.

_ Tudo bem, não ofendeu não. – Respondi, tentando não rir da explicação dela.

_ Acabei de decidir que eu nunca vou ser inimiga da Rose. Vai que ela me mete em uma esquina junto com a Parkinson. – Ashley brincou e até a Rose riu.

_ É melhor a gente ir prá loja logo. É a ultima visita à Hogsmeade antes do baile e a gente precisa comprar esses vestidos. – Mary propôs. Fomos até as lojas e Mary nos ajudou a escolher os vestidos. Ainda deu tempo de passar na sorveteria mais uma vez, porque elas ainda não tinham tomado sorvete e depois voltamos às pressas para Hogwarts com medo que Filch trancasse os portões de entrada antes que chegássemos.

_ Nossa. Achei que a gente ficaria de fora dessa vez. – Eu disse, indo para o jardim, como tinha combinado com Alvo. – As meninas se despediram quando o avistamos e foram direto para a Grifinória, exceto Ashley, que disse que iria se encontrar com James.

_ Oi. – Eu disse meio envergonhada. Essa coisa de ter um quase namorado ainda era novidade para mim.

_ Oi. – Ele cumprimentou do mesmo jeito, vindo me abraçar logo em seguida. Agora, sem o medo e a surpresa eu pude perceber melhor como era o seu abraço. Se mostrava acolhedor e forte ao mesmo tempo, me apertando e transmitindo saudade. O seu perfume não era enjoativo, era meio amadeirado e viciante, pelo menos para mim. Seu nariz roçava no meu pescoço sem querer e eu podia sentir os seus músculos bem modelados mas não em exagero. Sua pele era quente e macia e eu podia sentir que Alvo me inspecionava assim como eu estava fazendo com ele. Era o abraço perfeito prá mim: acolhedor, me fazendo sentir protegida no meio de toda aquela bagunça que a minha vida tinha virado, como um escudo.

_ Comprou o seu vestido? – Ele perguntou, provavelmente por não ter nada para falar. Concordei com a cabeça, lamentando pelo fim da abraço, mas ficando feliz porque de alguma forma eu sabia que viriam mais em seguida. – Como ele é?

_ Como as surpresas costumam ser. Se parece com um segredo. – Eu brinquei e ele sorriu mais ainda.

_ Acontece que eu sou muito curioso. – Me arrepiei.

_ Então vai ter que se controlar até o baile. Não tente me convencer. Não perca o seu tempo.

_ Ok. – Ele disse um pouco mais tristonho. Pode pelo menos me dizer se é longo ou curto, claro ou escuro?

_ É longo e claro. – Respondi.

_ Então tá. Vamos logo. Parece que o seu pai está na torre querendo falar com você. – Ele me disse e eu empalideci.

_ Meu pai?

_ É. Parece que ele também foi convocado para a reunião e por incrível que pareça ele resolveu aparecer.

_ Tudo bem. – Suspirei. Ele provavelmente quer só deixar claro que não quer ter mais nada a ver com a minha vida. Fui andando lentamente até onde ele estava tentando pensar em alguma maneira de revidar o que meu pai diria.

_ Pai? – Chamei assim que vi a sua silhueta no escuro. Acendi as luzes com um feitiço, como era feito normalmente.

_ Ah! Julie. – Ele chamou, se aproximando, mas o seu medo de chegar mais perto era meio óbvio. Ele estendeu a mão como se pedisse que eu a apertasse. Parabéns papai. É uma forma muito carinhosa de dizer oi depois de mais de dois anos sem ver a filha. De qualquer forma eu a apertei, só para vê-lo limpando as mãos no tecido da caça depois. Eu sabia que dveria ignorar esse ato, mas mesmo assim me senti triste.

_ O que faz aqui? – Perguntei mais seca do que provavelmente eu teria sido se não tivesse visto limpando a mão.

_ Vim dizer oi.

_ Oi. – Eu respondi. Esperando o próximo tópico da lista. Ele não viria até mim só para dizer oi.

_ Você deve saber que a agência estava quase falindo quando você resolveu ir embora e...

_ Resolvi? – Perguntei erguendo a sobrancelha. O assunto deveria ser muito sério mesmo porque ele não me chamou de mal educada como sempre fazia e simplesmente ignorou o comentário anterior.

_ ... eu consegui um novo emprego, depois que ela fechou. – Ele disse cheio de si.

_ Meus parabéns. – Murmurei, agora sem ironia. Por incrível que pareça eu ainda me importava.

_ Obrigado. – Ele respondeu, mas por etiqueta do que porque realmente se importava de ser educado. - Acontece que o meu novo patrão descobriu que eu tenho uma filha. – O filha saiu com um tom de ressentimento, porém resolvi não comentar. – Eu disse que você estava estudando em um internato fora da cidade. Por incrível que pareça ele insistiu em ter um jantar com toda a família, o que inclui você.

_ Faço parte de família agora que te interessa? – Perguntei com raiva, agora entendendo o verdadeiro motivo da sua visita. Ele queria me usar, para nossa “família” aparentar ser normal e feliz. – Aposto que você não comentou com o seu chefe sobre a AIDS, comentou? – Fui direta. Depois de um tempo você acaba se acostumando com determinados termos.

_ Não. Eu não comentei sobre a sua deficiência. – A ultima palavra saiu carregada de nojo.

_ Não se preocupe. Eu não vou nesse jantar. Não vai precisar sentir nojo durante toda a refeição. – Agora eu já estava quase explodindo.

_ Você não se importa com a sua família?

_ Claro que eu me importo. Só não me importo com certas pessoas dela. – Isso não era verdade, mas as palavras saiam da minha boca como feitiços mortais, prontos para matar. – Ou você se esqueceu que quem não se importou comigo foi você? – Ele estava vermelho. Provavelmente teria me dado um tapa na boca, mas tinha nojo demais para encostar em mim de novo.

_ Se você não quer ajudar, passar bem! – Ele disse, descendo as escadas rápido, indo direito para fora do castelo. Não sei como ele voltaria para casa, mas isso não me importava nem um pouco no memento. Eu caí sentada nos degraus, sem força prá chegar na minha cama e começar a chorar.

Depois de passar muito tempo sem chorar, eu encontrei a paz, calma, e sem vontade nenhuma de me levantar. Por mim eu dormiria ali mesmo, mas Alvo percebeu o meu pai indo embora e não me viu saindo da torre. Ele subiu e me encontrou naquele estado deplorável. Se sentou do meu lado e encostou minha cabeça no seu peito. Comecei a chorar, percebendo que alguém no mundo me apoiava.

Depois de um tempo eu parei e ele me abraçou forte. Nosso primeiro beijo foi assim... molhado pelas minhas lágrimas.


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Notas finais do capítulo

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