Mantendo O Equilíbrio - Finale escrita por Alexis terminando a história


Capítulo 74
Capítulo 73


Notas iniciais do capítulo

Feliiiiiiiiiiiiiiiiz dia das Mães e sendo "uma" (afinal, MoE é minha cria, né?), tem capítulo SIM nesse domingão. Acho que falei no outro dia (tenho essa lembrança acho?) que andava ouvindo muito Britney Spears. Foi um vício de semaaaanas que começou nesse capítulo em especial ^.^

Enjoy!



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TANAN-TANAN-TANAN... Crazy! PANAN-PANAN-PANAN... Oh! PANAN-PANAN-PANAN... Oh!

Trilha citada/indicada: Britney Spears – (You Drive Me) Crazy

Desenterrava eu a Britney Spears enquanto terminava de confeitar os cupcakes que havia preparado para Djane pelo seu aniversário. Sozinha na cozinha, eu rodopiava animada e cantava, de repente sentindo saudades dessas músicas antigas. Na hora de ligar a playlist, nem me liguei de procurar muito, só deixei rolando e caiu numa seleção de intermináveis músicas da Britney. Aproveitei pra me distrair da matéria da professora Amália, a avaliação do dia.

Quando ouvi que o Murilo chegava, maneirei a empolgação, para que não me pegasse cantando a plenos pulmões – nem fazendo os passinhos que um dia já imitei (quem nunca?). Ao se deparar comigo toda sapeca já separando os cupcakes bonitinho para levar numa vasilha para a faculdade e ouvindo Britney nas alturas, meu irmão coloca a sacola de almoço comprado na ponta da mesa que não está suja e logo declara pra tirar o seu da reta, mesmo que de brincadeira:

– Hey, eu não fiz nada, nem vem com essa Britney pra cima de mim. Sou inocente.

– Seeeeei. Seu bobo.

Mal me volto para abaixar o volume pelo notebook aberto perto da pia e pego Murilo não só todo interesseiro, mas também se esgueirando malandro para surrupiar um bolinho. Como se eu não fosse notar! Chego a tempo de bater em sua mão e afastá-lo da mesa, que faz um bico enorme.

– Mas nem que a vaca tussa uma música inteira da Britney, Murilo!

– Aiiin, mana. É só um, poxa!

– Vou pensar no teu caso, mas só depois do almoço.

Dou um pequeno empurrão na peste, pegando a vasilha, fechando-a e colocando-o para longe dele, que rebate com graça e disparate. Ele não costuma contar, mas gostava das músicas adolescentes da Britney sim. Se duvidar, dançou nos tempos áureos.

Trilha indicada/citada: Britney Spears – Born To Make You Happy

(00:56)

– Até a Britney tá te dizendo pra me fazer feliz. E ficar com dois bolinhos me faria muito feliz, muito obrigado.

Tocava “Born to make you happy” (feita para te fazer feliz) e como se pudesse me enganar (de novo), já acrescentou mais um bolinho na parada. Sorrio por essa sua tamanha cara de pau enquanto colocava os utensílios sujos na pia para que esse bonitinho se divertisse depois.

– Tenho certeza que é coincidência. Melhor, você pegou super fora do contexto. O que me faz lembrar uma coisa... Adivinha quem andava cantando Avril Lavigne?

Como estava de costas para a peste, não notei outra presença no recinto, que, olha, chegou de mansinho. Se eu soubesse que teriam vindo juntos, nem teria perguntado. Vinícius me alerta tarde demais quando se mostra interessado na resposta.

– Quem?

Ele parecia bem animado para mais um dia e estragar isso quase me fazia morder a língua. Apesar de todos os avanços seus, quando se tratava de falar algo sobre Filipe, Vini costuma mudar de assunto. Desde que soube da possível mudança do pai para a casa do avô, ele tem oscilado. Ora se retrai, ora faz parecer que não é nada demais. Então, sim, eu o poupava o quanto podia. Mas dessa vez não tem jeito.

– Hãaa... Filipe. Descobri por acaso.

Não menciono como, embora lembre bem de Filipe, lá na empresa, todo desconcertado por algo que conversávamos. Foi no dia em que descobri que André tinha se desmatriculado do curso de Administração e eu tava a pessoa mais quicante e exultante daquela empresa. Sei que Filipe me disse que Iara andava ouvindo umas músicas pop que ele passava a gostar, até porque também grudava em sua cabeça e... Oh, falando nisso...

Foi na mesma semana que peguei o Sávio ouvindo Backstreet Boys lá na faculdade, na monitoria que participamos! Coincidência? Desconfio.

– Ah. Que estranho. E que cheirinho bom.

Viu como ele muda de assunto?

Pra dispersar mais, Murilo ajuda. Ou melhor, quer intimidar meu namorado.

– Nem pensa, se ela não quer me dar um bolinho, muito menos tu que vai conseguir.

Vini desvia dele com graça e vem todo cheio de amor me dar um beijo rápido. Pra sacanear a criatura, replico:

– Quem disse isso, Murilo?

Aquele bico? Sim, tava lá de novo, bem desenhado. Meu irmão fingia fechar a cara e até cruza os braços, só pra enfatizar mais sua falsa chateação. Termino revirando os olhos e entregando minha surpresa.

– Seu chato, deixei a sobra da batedeira pra ti. Pra DEPOIS do almoço, claro.

– Hum. Comigo é assim, só nas sobras.

Ê coisa que resmunga!

– Se não quiser, tem quem queira.

E aí, sem aviso algum, ele solta a pérola mais perolástica perolada que sua já antiga pérola, só pra não dividir com ninguém a massa batida. Tanto eu quanto Vini quase nos engasgamos pelo riso súbito e surpresa que explodiu na gente.

– Mas nem que a Britney tussa uma vaca inteira qu...

– É o quê, MANO?

Meu Deus, Murilo desconcertado. Ao perceber a genialidade que declarava, ele mesmo se interrompe, com cara de quem foi pego e não sabe pra onde olhar, o que fazer, e provavelmente não terminaria tal sentença – embora eu muito quisesse! As gargalhadas minhas e do namorado enchem a cozinha e quase cobrem a Britney lá na pia. Mais sem graça, Murilo acha melhor se retirar. Antes, aponta para a batedeira, que finalmente avistou, perto de onde estava meu notebook tocando.

– Deixa pra lá. Mas as sobras são minhas!

Eu e Vini assentíamos, ainda aos risos. Quando fui enxugar os olhos, resistindo a gargalhar mais, pego o namorado me observando, curioso, com resquícios de riso no rosto. Na verdade, ele tinha uma linha de riso diferente estampando seu rosto.

– O quê, que foi? Tem cobertura no meu rosto?

– Não, não, só... gosto de te ver assim.

– Assim como? Liiiinda?

Cínica eu? Naaaaaada.

Eu devia era estar um desastre. Estava um pouco suada, o cabelo preso todo doido, que pregava no meu pescoço, de avental, como uma boa trabalhadora da cozinha que é explorada pelo irm... que quer fazer bolinhos para sua sogrinha. Era melhor tomar rumo do meu banho, até porque mais uns minutinhos enrolando iria render uns bons atrasos. Vinícius, por outro lado, já estava engomadinho para o trabalho e cheiroso todo.

Chegando-se mais para perto, ele tira uma mecha do meu cabelo que ficava toda hora caindo aos meus olhos, me observa com mais intensidade... e malícia.

– Assiiiim... Suja de massa de bolo, aprontando, mas no fundo sendo... boa.

– Obrigada pela parte que me toca.

– De nada, amor.

Ele belisca delicadamente meu queixo e me deixa achando que me daria um super beijo apaixonado. Bom, daquele jeito que me olhava... dava na cara. Estava ansiando por um, mas não, ele prefere ser sacana, sai de perto para buscar os pratos na prateleira acima de mim.

Jogo perigoso, Vinícius Menezes Garra, jogo perigoso... Tem sabor de fruta fresca, o toque dos teus lábios não sai da minha cabeça, esse beijo com que sonho quando a brisa me refr... Mas o que é isso? Salto os olhos na mesma hora que noto que é Br’oz tocando, seguindo a playlist em ordem alfabética após a Britney e... Deus! Isso não era pra tocar não!

Trilha citada/indicada: Br’oz – Prometida

Como uma louca, corro para chegar até o notebook e parar aquela música. Consigo pausá-la, porém, quando me volto para o Vini, ele está estático, com o braço ao ar segurando os pratos e de boca aberta se preparando para rir novamente. Os olhos dele praticamente brilham!

– Então... É essa a sensação de achar... OUROS?

Fico que nem um peixe, abrindo e fechando a boca, ao tentar achar uma resposta de prontidão e Vinícius sorri vitorioso, com aquela carinha de “peguei, e peguei bonito”. Quando finalmente recobro um argumento, meio que já era.

– N-não! Eu não gosto deles.

– Seeeeeei.

– Alguém deixou essa música no meu notebook.

– Ahaaaaam, alguém. Alguém simplesmente baixou Prometida do Br’oz e deixou aí, para sua bela apreciação.

– Algué... espera aí. Como VOCÊ sabe que a música é Prometida, Vinícius?

Oh-oh. Nesse belo momento que Vini vira estátua e olha além da mesa, desconfiado, posso dizer que viro o jogo. Isso porque nem perguntei como ele sabia que era o Br’oz, grupinho pop que se desfizera há um bom tempo. Apesar de ter sido uma música bem famosa nos anos de 2003 ou 2004, sei lá, pra ele lembrar com tamanho afinco e apenas por um trechinho que tocou inicialmente, é porque ele bem conhecia.

Se ele disser que foi a Wanessa, sua vizinha, fica sem bolinho!

– Errrr... ela tocou muito na época de lançamento.

Interessante, interessante, penso eu redesenhando minha expressão. Passo ao seu lado e distribuo os pratos à mesa, já que ele tá todo embaraçado de repente. Doce vitória.

– Seeeeeeei, Vinícius, seeeeeei.

Ele tenta arrumar, mas também já era.

– É música chiclete, tocava em todas as rádios.

– E você ouvia em todas, né?

Adorava saber sobre seu obscuro passado. Mas para não constrangê-lo mais, porque sou muito boa pessoa e muito boa namorada, mudo de assunto, enquanto pegava os utensílios com ele para o almoço.

– E como tá a aniversariante?

– Sentimental e carente. Mal pôde se conter pra abrir meu presente. Como se eu não desse presentes a ela!

– Um mimo de vez em quando é bom.

– Fala a namorada que quase não aceitava um cordão meu.

Justo.

– Vai dar um pra Djane pra ver se ela nega, vai.

– Se duvidar, ela já selecionou a loja e o modelo. Já tem reservado.

– Viu, pra quê te explorar, quando eu poss...

– Um mimo de vez em quando é bom, só isso.

Ah, safado, ainda rouba minha fala!

Meu irmão volta nesse instante e nos pega nessa pequena competição de argumentos. Olha de mim para o outro e vice-versa, desconfiado. Mais um para nosso grupinho de constrangimentos.

– Hum. Devo perguntar?

– Não sei. Ele deve perguntar, Vinícius?

Com seus resquícios de encabulado, Vini nega veemente. Murilo continua desconfiado, mas também com cara de que não sabia se gostaria de saber de verdade.

– Não queira saber, cara. Juro, não queira saber.

– Hum. Okay.

Rápido, desligo meu notebook, dou um beijinho estalado no Vini e saio anunciando (por garantia, claro):

– Eu vou tomar meu banho que já tô atrasada. Acho melhor os bolinhos estarem intactos quando eu voltar, viu, Vinícius? Toma de conta senão esse aí faz tu pagar o pato.

Murilo sabe que seus créditos não são exatamente bons, e ainda assim arrisca uma tentativa de “eu ouvi isso”. O drama, ele é inerente nessa criatura.

E em mim também.

– No que consta, estou no recinto, viu.

– Por isso mesmo digo alto e claro, maninho. E se não estiverem intactos, ai de vocês, ai de vocês!

~;~

Ao sair da prova de Contabilidade Gerencial um pouco tensa, me dirijo para uma mesa da lanchonete assim que vejo Bruno por lá. Algumas pessoas da minha turma já haviam descido, mas dos meus amigos, ninguém.

– A Dani tá na xerox, não deve demorar.

– Ah, tudo bem. O Vini me passou uma mensagem dizendo que vem me buscar, então tá liberado um tempo pra vocês. Hoje não vou ser vela!

– Vela de quem, se vocês só me fazem de motorista?

– Seu bobo. Acha que te seduzimos só pela gasolina? Está completamente certo!

– Eu bem que desconfio do plano de vocês. A prova tava ruim?

– Não tenho muitos parâmetros pra dizer se fui bem, na verdade. Ruim ruim não estava, mas boa boa, também não. Passar de raspão é uma esperança. E você?

– Mais ou menos a mesma coisa.

– Bru, posso te perguntar uma coisa?

Ok, essa saiu um pouco de supetão. Como meu amigo não tinha acesso à maquinaria que era a minha cabeça ou como ela tava trabalhando no momento, ele é pego de surpresa com essa tamanha direta.

O fato era que desde que contei as paradas para Dani e que ela repassou para o Bruno, venho notado uma coisa. Até então não estive sozinha com ele para perguntar e ficava na dúvida de abordar com outros de nossos amigos por perto. Principalmente quando era a Dani.

Hoje antes da aula, por exemplo, eu consegui chegar mais cedo e logo fui entregar o presente de Djane na sua sala, porque andar com aquele pacotão de um lado para o outro, hein, não dava certo. Mal pude dar um beijo, um abraço e as felicitações à sogrinha, se ela já iria entrar numa reunião com os coordenadores. Quando saí, vi na entrada quem chegava. Dentre os alunos, estavam Sávio e Dani. Detalhe para uma Dani orgulhosa de nem querer lhe dirigir um olhar, imagina encostar nele.

Ela se aproximou da mesa onde eu tinha deixado minhas pastas e, sabendo que eu tinha assistido tanto sua entrada quanto a de Sávio, lançou essa, tirando os fones de seu ouvido:

– Dá pra odiar uma banda só porque a pessoa de quem você não gosta é fã dela?

Nem me dei ao trabalho de responder, só dei de ombros pra evitar treta.

(Mas sim, se desse, eu faria o André odiar One Republic. Meu Ryan não é digno daquele ser.)

– Argh, eu fico ouvindo a banda e só me lembra de quem não devemos mencionar.

– Lord Voldemort?

– Mi!

Nisso, Bruno veio logo mais atrás e percebeu que a namorada estava um pouco enfezada. Quando ela explicou, dizendo que iria apagar não só as músicas da banda Bush, mas todas as músicas já indicadas por certa pessoa, Bruno só disse algo como “ok, se você se sentir melhor”. Fiquei um pouco intrigada. Se não fosse a prova que enfrentaria mais tarde, teria pensado mais a respeito. Mas já que não deu, bom, fazer a pergunta diretamente à fonte não faria mal, imagino.

– Claro, manda aí.

Com bastante cautela, começo:

– De todos da galera, você foi o único que menos disse algo a respeito de, você sabe... Sobre Sávio. Algum motivo em especial?

Opa, as sobrancelhas dele se levantam e é como se estivesse sendo pego por algo.

Mas pelo quê?

– Ah. Er... Não diria em especial...

– Mas tem algo? Eu queria saber se a gente tá de boa mesmo.

Bruno coça um pouco a cabeça, que se estende para o pescoço e as costas, até que ele se recosta no espaldar de sua cadeira. Era como se estivesse pensando na melhor maneira de me responder.

– Não, errr... a gente tá de boa. Mas entendo que é sua vida, Lena, suas decisões e... Ok, eu teria dado um bom soco nas fuças dele... Mas...

– Mas...?

– É só que... acho que eu não tenho direito de falar coisa alguma.

Ao notar um total desentendimento de minha parte, ele continua, de repente envergonhado:

– Repensei o que rolou na viagem. Lembro que no final você ficou diferente mesmo, a Dani até comentou algo, mas acho que todo mundo presumiu que tinha sido aquele mal estar que você teve ou algo do tipo. Quanto ao Sávio, eu não sei bem se poderia falar ou o que poderia, se... se na própria viagem eu não fiz muito diferente. Levei um tapa seu por isso, lembra?

Oh.

Oh.

OH.

Acho que em meio a tudo isso eu tinha me esquecido desse fato. Bruno pode não ter conseguido chegar às vias de fato de um beijo, mas foi desrespeitoso o suficiente em tentar forçar um. Foi uma atitude muito baixa considerar que Dani devia beijá-lo só porque ele sabia que ela gostava dele. Não é assim que as coisas funcionam, não se abusa das pessoas conforme suas necessidades. Isso sem falar da vez que ele a beijou de surpresa e sem propriamente seu consentimento. O caso nem era bem o climão que ficara, era que era errado mesmo.

De fato, julgar o Sávio seria julgar a si mesmo. As situações tinham sido muito parecidas, afinal. Envolvia bebida, música e dança. Seria apenas desejo, não sentimento. Foi o que Dani me afirmou ao me contar o que tinha desencadeado aquele furacão de brigas entre os dois.

A lembrança de alguma maneira me atinge, pois me cede novos cliques. Quando eu soube de verdade o que ele tinha feito, nossa, eu fiquei fula. Tão raivosa e revoltada que fui atrás dele e bati sem remorso. Fiz o mínimo que podia se, em paralelo, eu mal podia fazer o mesmo por mim, como uma leoa que protege seu bando. Por essa então, penso de repente, seria Dani a protetora da vez?

Enquanto lidávamos as duas com a situação daquela boate, recobro também que fiz diversos paralelos, comparando a sua com a minha, e agora, novamente pega, repenso naqueles dias. Naqueles confusos dias.

– Mesmo pela besteira que fiz, você me deu uma segunda chance. Eu poderia ter perdido a Dani. Entendo que Sávio pode perder a Iara. Não concordo com o que ele fez, mas também não posso apenas chegar de voadeira nele. Além do mais, apesar das inúmeras vezes que senti ciúme dele, o Sávio me ajudou. Ele soube da merda que fiz e não ficou um ensandecido como o Gui. Ele conversou comigo e, naquele jeitão dele, cara, ele me deu uns bons conselhos. Aí que agora o jogo virou. Que tipo de pessoa eu seria se desse as costas?

É um bom ponto, penso.

Há sempre mais em jogo do que a gente realmente pensa. Eu, por exemplo, não tinha conhecimento dessa sua amizade com Sávio. Sabia dos ciúmes e achei que Bruno o teria aceitado só depois de se provar que Sávio nada queria com a Dani, ou ela com ele. Isso... Isso me surpreende.

– Agora, não sei se a galera sabe bem o que fiz. E se não sabem, melhor deixar pra lá. Porque, já pensou? Já pensou se a coisa toda tivesse se espalhado? E se eu tivesse perdido mesmo a Dani? Não gosto nem de pensar.

Bruno passa a mão pelo rosto, pelo cabelo, de repente apreensivo. Não julgo, se tivesse mesmo vazado aquela discussão feia dele com a Dani, quem sabe o que seria de nós hoje? Bruno não é uma pessoa ruim, mas também não fez uma coisa pequena.

– A Flávia sabe, já o Gui, não tenho certeza para afirmar. Acho que ele estouraria se soubesse agora.

Tocar no nome do Gui faz o Bruno bufar de repente, meneando a cabeça.

– Queria ver o dia em que o Gui fizesse uma tamanha merda, pra ver pra quem que ele iria correr. Pra quem ele ia pedir ajuda e quem é que iria dar uma segunda chance pra ele.

– Daquela vez que a Flá terminou com ele, todo mundo fez o que pôde para dar uma força. O Sávio, inclusive.

– Sim, mas ela terminou não por algo que ele fez, isso foi por causa da família dele.

Suspiro. Gui não estava nos seus melhores momentos ultimamente e pelas circunstâncias, não tem como não o entender. Concordar é que é outra história.

– No outro dia conversamos e ele disse que acha ser o único com a cabeça no lugar.

– Se eu não soubesse o que sei, se eu não tivesse passado por algo parecido, provavelmente teria a cabeça como a dele. E é isso, ele não tá vendo a coisa toda. Claro que também não estou ok com essa de o Sávio ter te beijado. Mas e aí, não se trata só disso. Tem muito mais coisas que acho que ninguém sabe. Talvez nem mesmo você, Lena.

Eu, que girava o celular na mesa entre nós distraída, de repente paro e encaro meu amigo. Bruno fala isso sério e é isso que me pega.

– O que quer dizer? Que coisas?

– O Sávio já livrou a cara de todo mundo aqui, por assim dizer. Não vou entrar em detalhes, mas tem coisa aí. Coisas que o André se aproveitava dele para forçá-lo a participar. Eu sabia que ele tinha uma dívida, só não o quê exatamente.

Ele... sabia?

Ao notar meu espanto, Bruno se explica. Para isso observa bem quem passa por nós, se debruça na mesa para chegar mais perto de mim, verifica se dá pra falar, e quando o faz, faz baixinho. Claramente não era algo a se discutir de modo leviano.

– Sei porque já tinha ouvido uns papos aí na minha turma. Não é algo como as fofocas da Keila, sobre isso não se fala diretamente, só sabe quem tá dentro. Não tenho uma ideia precisa sobre o que ele já teve que fazer, mas até pelo Gui, o Sávio já deu o cara a tapa. O que eu ouvi foi sobre alguém da turma de vocês, e pela maneira com que falaram, presumo que seja o Gui.

Mal pisco. Evito qualquer reação exagerada para não chamar atenção e devolvo seu tom baixo.

– Isso é muito sério, cara.

– Acha que não sei? Desde essa de o André ter voltado e esperado pelo Sávio, até eu tô preocupado. Sabe-se lá o que aquele filho da mãe tá metido! O Sávio não me diz muito, ele é bem discreto com essas coisas.

– Você pergunta para ele diretamente?

– Pergunto. Pode parecer estranho, eu sei, eu não gostava dele antes, mas, sei lá, as coisas mudam. Desde a vez que ele veio falar comigo, ainda lá na viagem, não o achei um cara tão mal assim.

Mano, agora nem eu sei o que pensar. Sobre isso o Sávio não me disse. Quer dizer, disse, só não quis entrar em detalhes. Mencionara serviços, favores, coisas assim. Estaria ligado a coisas perigosas? O que André teria o forçado esse tempo todo? O que o teria feito voltar e vir atrás de Sávio?

Mais uma vez ele só me disse a versão segura. Só que agora que descubro que o Bruno sabia, fico a me perguntar: quem mais também não sabe?

Mas Bruno interrompe meu pensamento quando traz de volta o ponto sobre seus motivos de acreditar no cara.

– É vergonhoso admitir que fiz aquilo, mas eu fiz. Feri os sentimentos de quem eu gostava porque não aceitava que gostava. Ao ver a merda, tratei de me acertar. E é isso que o Sávio tem tentado desde então, não? Do jeito estranho dele, claro. Agora, se ele souber que te falei essas coisas, acho que não vai gostar.

– E por que você tá me falando?

– Porque pra você vale a pena. Quando a Dani veio me falar as paradas, eu fiquei meio assim, na dúvida de conversar com você a respeito. Pra ela muita coisa pode não fazer sentido, já pra mim... Agora que você tocou no assunto, pensei “por que não?”. Sávio faria isso por mim. E sabe-se lá se já não fez mesmo pra me livrar de alguma encrenca. Além disso, quem mais acreditaria se eu falasse sobre isso?

Resmungo sem muito propósito; ele, com algum.

– Quando eu achei que o mistério todo tinha ido...

– A Dani não quer nem vê-lo encrustado de diamantes, imagina discutir o assunto. Ela não entenderia, Lena. E ela vai ficar com raiva por um bom tempo. Ela, o Gui, a Flávia, o Vini.

Eles vão, não tem jeito.

– Confio no seu senso, Mi. E confio ainda mais por ver esse outro lado.

– Isso significa muito, Bru.

Não minto, isso restaura algo em mim. Eu não era somente uma nessa, embora ninguém mais soubesse. E nem precisaria gritar aos sete ventos que havia mais um insano adepto dessa ideia, só essas palavras de meu amigo são o suficiente para me fazer mais confiante.

– O seu voto de confiança em mim também significou. Posso dizer que ele está em boas mãos. Boas e... pesadas mãos.

Ele bate na minha mão que está em cima da mesa e rimos um pouco sem muita expressão. Pelo jeito com que fala, Bruno quer encerrar o papo, até porque tem mais gente chegando pelo pátio. Assim, brinco de volta para amenizar o climão.

– Uma garota tem que se garantir. Principalmente após ter perdido o chaveiro de canivete que a Dani me deu.

– Isso eu posso providenciar.

Nessa hora, Dani chega por trás de mim e joga suas coisas na mesa, me afastando das conspirações com seu namorado.

– Providenciar o quê?

– A Lena perdeu aquele chaveiro que você deu pra ela, amor.

– Foi, caiu da minha bolsa.

– Tô aqui dizendo que vou arranjar um novo. Você sabe, uma garota espivitada como ela precisa de algo pra se assegurar.

Enquanto a namorada dele relata lugares onde achar uns bons chaveiros desses e como a sala da xerox estava um forno e lotada, como foi engraçado dada hora que um dos alunos deixou uma bolsa de moedas cair na saleta e foi um deus-nos-acuda sair daquela bagunça, troco um olhar com Bruno.

O que eu queria poder declarar era que já tendo ele pra me assegurar, eu ficava bem mais tranquila. Mas já que não dava, um bom olhar conspiratório fazia o serviço para mim.


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Notas finais do capítulo

Wooooooooooooooow, tem mais conspiração! Adoro!

Olha, acho que vou resgatar mais uma vez as músicas da Britney haha fui revisar o capítulo e inevitavelmente tô cantando. Mas tem mto mais músicas que ando resgatando ultimamente e não é só da Britney não. Digamos que esteja preparando umas surpresinhas.

Espero em breve disponibilizá-las por aqui.

Bjos,

Alexis.



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