Mantendo O Equilíbrio - Finale escrita por Alexis terminando a história


Capítulo 62
Capítulo 61


Notas iniciais do capítulo

Não resisti ;)

Aproveitando o post: essa imagem Aline + Murilo https://www.facebook.com/ChanningTatumBr/photos/a.284333215014974.67619.284325858349043/689318554516436/?type=1&theater ♥♥♥♥



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A primeira coisa que faço ao pisarmos na entrada da festa, após o lindo (e demorado) casório, é empurrar dona Flavia para alguma mesa e direcioná-la a um ar-condicionado. Descobri que em circunstâncias de derretimento num lugar abafado, minha amiga se torna pedreira. Ela mal viu o noivo e se encantou toda.

Cobrimos todos quase uma fileira do banco, uma das penúltimas da igreja. Aline estava na ponta do corredor, Murilo ao lado, seguido por Vinícius, eu, Flávia e Gui. Toda vez que o ventilador de parede virava para nosso lado, eu me grudava na Flávia, que grudava no Gui e disputávamos atenção com o vento, porque lá dentro estava um forno. Eu sinceramente estava com pena dos garotos empacotados com ternos ali, mas também derretia e aquele papel com o hinário que ofereceram na entrada não tava salvando não.

Aos poucos a igreja foi lotando e assim, o calor aumentando. Vinícius, Murilo e Gui começaram a puxar seus ternos e gravatas logo no início da cerimônia, não tinha mesmo como aguentar o ar abafado do ambiente. Não só eles, fui perceber depois. Todos se levantaram quando um instrumental surgiu em volume baixo e foi crescendo pouco a pouco. Ainda bem que toda a atenção estava na nave da igreja, porque quando me dei por conta, os convidados estavam quase nus, com suas vestes afrouxadas.

À frente da comitiva de padrinhos e madrinhas veio ele... acompanhado de uma senhora que lhe dava o braço. Sim, o enfermeiro bonito. Lindo e maravilhoso.

Meu Deus, ele estava lindamente lindo. Não a toa um coro de suspiros o acompanharam por todo seu caminho no corredor da igreja. Logo depois que eles passaram por nós, Flávia abafou um.

Flávia.

Flávia se abanando rápido.

– Miiiiinha nossa se-nho-ra!

De imediato me virei para cobrir ela caso Gui tivesse ouvido, mas ele parecia tranquilo, sem prestar atenção na namorada, assistindo os padrinhos entrarem em seguida. Aproveitei a distração e a cutuquei, aos sussurros.

– Tá ficando doida?

Ela parecia deslumbrada, quase de boa aberta. Nem Sávio conseguiu arrancar suspiros tão altos e tão na cara. De qualquer jeito, estava uma graça. Flávia me segurou o braço e não conseguia desviar o olhar dele. Pobre de meu amigo se tivesse se tocado disso. Gui pode até se garantir na “lindeza”, mas, realmente, ali era outro patamar.

– Mi, o enfermeiro bonito!

– Sim, o que tem ele?

Não nego, a extrema beleza e o singelo andar de Diogo estavam me conquistando também. Como ele tinha maneiras! Era encantador demais. Nada como já tinha visto outras vezes, aquele uniforme de enfermeiro não poderia fazer tanto jus. Mas ali, de terno e nos parecendo o cara mais feliz do mundo, ah sim, ali era uma visão e tanto que confirmava a expressão de “tirar o fôlego”. Ainda bem que estava quente o suficiente para nós nos abanarmos a vontade sem sermos descobertas.

– Como o quê, oras! Ele por completo. Olha isso!

Revirei os olhos pra não me deixar abater e entrar para o time das moças que começavam a ficar descaradas. De todas as pessoas, imaginei que a Flávia fosse a menos provável a me fazer passar vergonha acesa daquele jeito. Espiei os meninos, todos tranquilos, e a abanei novamente, disfarçando, já que ela estava bem ao meu lado.

– Pensei que você já tivesse o visto.

– Só por fotos e tô vendo que nenhuma fez jus a ele. Ele é tão gato, caramba!

– Flá!

Pior que segurar ela dizendo essas coisas era segurar a vontade de rir adoidado.

– Ele é, não nega não. Ai, e esse terno dele... ficou tão...

– Maravilhoso? Eu sei.

Eu ajudando ela no disfarce e o que ela faz comigo? Me bate, ainda que discreta, com o hinário no meu braço. Se eu não soubesse, diria que era a Dani do meu lado. Seria um comportamento tão dela admirar na cara de pau.

– Por que tu não nos apresentou antes?

– E adiantaria em alguma coisa?!

– Colírio para os olhos sim. Esse enfermeiro faz uma limpeza que olha...

– Nunca, sinceramente, te vi pedreira, Flá. Não descarada desse jeito.

– Tem uma primeira vez para tudo, não?

Prometi a mim mesma não apresentar o Wellington para ela quando ele estivesse fardado de militar. Apesar de Flávia o conhecer só de vista, da festa de aniversário do Vini, é outra coisa quando vemos um cara fardado. Não dá pra explicar, é só algo que aflora nossos sensos mais pedreiros acho.

Mas não importa o quão bestie sou para proteger a integridade de meus amigos, eles arranjam uma maneira de me sacanear. A conversa na festa se entrelaçava entre nosso grupo e alguns conhecidos, como Becca (sim, a fake ex-namorada do Vini), Alexandra e seu marido, Adam, já que Alexander e Michelle tinham sido padrinhos do casamento e estavam por aí tirando as mil fotos para o álbum. Basicamente só tinha os visto umas duas vezes na vida, quando houve aquele parto de Alexandra às pressas e o chá de bebê atrasado que Vini me levou. Como eles eram as poucas pessoas que conhecíamos, preferimos nos unir.

Ok, minto. Não haviam só desconhecidos ao nosso redor. Ou outros “conhecidos” eram os pais de Gui, que estavam metidos em algum lugar dali. O melhor mesmo era que eles mantivessem distância de nós. Preferia ter de dispensar meu pequeno plano de traquina a ter que topar com qualquer um desses seres. Até porque seria bem desrespeitoso ao ambiente. Eu não poderia fazer nada senão fritar a mãe do Gui com meus olhares em laser, porque chamá-la de a “vaca desgraceira” que era, não seria gentil de minha parte com os outros convidados.

Já quanto a Becca, Alexandra e Adam, nos deparamos com eles logo que o casamento começou e o celular de um deles tocou, o que fez um alvoroço ali atrás e assim nos reconhecemos, estávamos sentados perto. Após a cerimônia nos juntamos e arranjamos uma mesa para ficar, a festa era numa casa de festas fechada na quadra seguinte, nem precisava ir de carro, fomos todos andando e papeando. Os convidados chegavam devagar e uma boa música já rolava.

Nisso, estou ali na mesa, roubando um salgadinho de Murilo e deixando a Flá se deleitar no ar-condicionado quando Gui chama a atenção da mesa para fazer graça.

– Mi, seu celular tá tocando?

Trilha indicada/citada: One Republic – Life In Color

Há-há, muito engraçado. Só porque One Republic recepcionava os convidados que estavam se acomodando. E sim, eu já tinha usado aquela música como toque. Mas o que eles não sabiam era que eu tinha trocado de mp3 para toque. Estreito os olhos para a provocação de meu amigo e já ia jogar o guardanapo amassado nele quando lembro de meu plano. Ah, sim, meu plano traquina.

Acontece que tivemos uma pequena discussão dentro do carro a caminho da igreja. Nada demais, só jogando conversa fora e ele insistia em derrubar meu ponto. Pois eu iria prová-lo ainda essa noite, se o Vinícius contribuir. Tudo começou com a história da braguilha. Quer dizer, a história da braguilha ainda tava rendendo. Nem o momento suspeito com o pai da Flávia chegando de viagem e nos encontrando de saída tinha batido o assunto. Na verdade, acho que foi a forma que Gui achou de não lembrar daqueles dias difíceis que passou porque a Flá tinha terminado com ele. O pai dela não tinha o perdoado ainda – e provavelmente não iria, era pai afinal.

Ninguém da família de Flávia soube o que fato aconteceu para que terminassem, nem o que os levou a voltar. O cunhado dela até que me inquiriu várias vezes sobre assunto, ele se preocupava de verdade, e algumas vezes olhou feio pro Gui. Era controlado ao menos. Já o pai dela só fazia medo mesmo. Falou curto e grosso com meu amigo e dessa vez parou para conversar com a gente. Melhor dizendo, olhou direto no olho de Aguinaldo e o avaliou antes de perguntar para onde íamos tão arrumados daquele jeito. Flávia interviu antes de rolar uma ceninha mais complicada.

– Vamos a um casamento, pai, lembra?

O tio, que retirava a mala do carro, direcionou-se pro Gui, um pouco intimidador:

– E esse aí vai te trazer no horário, né?

– Pai! É um casamento, só isso. Tenho a chave, não precisa ninguém me esperar.

– É melhor que ele cuide de ti. Senão eu dou meu jeito de cuidar dele.

E assim entrou, após me cumprimentar. Ficou uns bons segundos a gente olhando um pra cara do outro, desconfortável. Flávia pelo comportamento do pai, Aguinaldo por ter perdido a confiança do sogrão, e eu por ter sido a testemunha – e que sabia mais do que dizia a seus familiares.

Aí Gui cortou o momento nos elogiando e mal deu um beijo na namorada, eu, como não boa amiga, empurrei Flávia pro banco de trás, porque, apesar de ter passado por esse momento estranho com o tio e eles precisarem de um compensação e por eles serem esse casal mais fofo do mundo, eu não ia ficar de vela praticamente com eles se pegando se ela se sentasse ao lado dele. Mas neeeeeem que a vaca tossisse uma música inteira. Cortei o romance mesmo! Eles que se pegassem na festa, oras.

Nisso, Flávia trouxe à tona a história sobre a braguilha pra criticar o Gui, por ele não ter sido “cortês” com o moço da palestra. Acontece que num dos dias que estivemos de monitoria, teve um palestrante que antes de assumir uma mesa redonda, foi ao banheiro e quando voltou, estava de braguilha aberta. Quem notou foi a Ananda, o cara tava sozinho no pátio revistando umas anotações, aí ela apontou – discreta, claro – e jogou pra a gente avisar o cara. É o mais indicado a se fazer, óbvio, só que ninguém queria e a gente resolveu tirar na sorte.

Aí que ficou entre o Gui e o Sávio, ambos se recusando a ir, e Gui ainda pilhado porque não tava gostando da companhia do outro nos rondando no evento. Aguinaldo foi o azarado a ficar com a incumbência, mas de última hora amarelou. E aí eu resolvi ir. Tomei uma cara de pau e fui lá comunicar o cara antes que ele subisse ao palco. Ninguém merecia aquele mico – ok, eu posso pensar em duas ou três pessoas que mereciam/merecem, mas isso são outras histórias. O moço ficou tão agradecido que me deu chocolate. Que o Gui ficou mendigando depois.

Aí a Flávia brigou com ele:

– Aguinaldo Guilherme Villaça! Isso não tem algum código masculino, sei lá?

Depois que deixei vazar a informação sobre Filipe chamar Gui de Guilherme, a gente meio que adotou. Se ditar o nome completo é sinal de raiva, ditar o nome quase completo e o falso juntos é sinal de zoeira.

– O código masculino diz que só pode avisar se for pessoa próxima. Vai saber se o cara é um assassino, um pilantra, um... vocês entenderam.

Flá então rebate:

– Isso é etiqueta, sabia? É mais que educado, é quase um dever público. Como quando a porta de um carro está aberta quando o veículo está em movimento, a pessoa sensata tem que avisar o motorista.

– Ah, mas isso é diferente. Não é nem que é certo ou dever público. É segurança pública. O cara não tava correndo nenhum risco. Não de vida pelo menos.

Revirei os olhos.

– Não adianta, Flá, se nem perdendo no palito ele foi lá, não vai ser você que vai convencê-lo. Quem teve que ir fui eu, porque ele, Sávio e Ananda eram covardes demais.

– Epa, covarde não! Só era constrangedor.

– Te salvei a pele e tu ainda reclama. Foi péssimo, mas fui. Aposto que se tu tivesse um dia com a braguilha aberta, tu iria querer que alguém te avisasse.

Gui só meneou a cabeça, sem tirar os olhos do trânsito.

– Alguém próximo, sim.

Já Flávia se mostrou imaginativa tanto quanto eu, que iria perguntar a mesma coisa. Mas Gui insistiu em se esquivar e eu a me meter também.

– E se tu tiver em um lugar ou evento em que não conhece ninguém?

– Por que eu estaria num lugar desses pra começo de conversa?

– Eu não sei, a vida é estranha, te soca nas situações mais diversas. Tem que considerar as opções. Se não considerar, tu te ferra porque é pego de surpresa.

Parando em um semáforo, Gui se vira para nós duas:

– Eu não ando de braguilha aberta, ok?

Mas ele não entendia a dimensão real da questão, então eu a apontei e a própria namorada dele resolveu apostar contra. Aí foi crença dela, não minha!

– Nunca se sabe quando um zíper pode falhar... Quer dizer, não é algo que você possa ficar checando toda hora sem... sem parecer estranho.

– Quer apostar quanto que agora ele vai ficar checando?

Gui enfatizou uma repreensão ao olhar para trás. Eu já começava a rir da discussão quando minha amiga inventou de me apontar. Só me dão as péssimas credibilidades esses ingratos.

– Flávia!

– O quê? Ela que começou.

– Hey, não olhem pra mim. A Flávia pensa sozinha, apesar de loira.

Aí ela quem me repreendeu. E Gui tomou o partido dela, se aproveitando da fraqueza de nossa parceria por eu ter feito uma, umazinha, piada de loira. Eu mereço esses dois.

– Milena!

– Viu, amor, ela só quer fazer intriga.

Apesar de estar sozinha, aparentemente, nessa discussão, fiquei de cabeça erguida.

– Se for boa intriga, eu faço mesmo.

Voltando a mover o carro pela avenida, meu amigo só retrucou.

– A tua sorte, Milena, é que não tenho nada aqui pra jogar em cima de ti.

E eu, eu já começava a escrever certa sms...

– Não. A tua sorte, Gui, é que tu tá dirigindo.

Ah, eu mal podia esperar.

– Impressão minha ou tá saindo faíscas dos olhos da Milena?

O comentário de Aline me faz voltar à Terra, à festa, à mesa. Sorrio e posso dizer que é um sorrido maldoso de quem vai aprontar. Antes que eu possa responder algo, meu Vini ao menos tenta amenizar a impressão que fica. Até porque havia outras pessoas na mesa que não conhecia meu histórico, muito menos o meu com o Gui.

– Liga não, esses dois vivem pra se matar. Só não se matam porque aí não teriam com quem implicar.

Eu só assinto. E roubo outro salgadinho de Murilo, quem já se empanturrava com uma travessa deles só pra ele.

– Hey!

Esse casamento ainda daria muito o que falar...

~;~

Ver um relacionamento dar certo inspira outros a darem mais certo ainda, não é?

Sei lá, acho que dá uma certeza inspiradora. Algo como “se foi possível para eles, por que não seria possível para mim?”. Isso era visível perante os convidados saudando e comemorando aquela união, mesmo os solteiros pareciam de bem com suas situações. Chegariam suas vezes, estavam tranquilos, então enquanto isso aproveitavam. Ah, aproveitavam muito!

Mas nada como “elementos” que poderiam guardar reservas para desestruturar um relacionamento se mostrando inofensivos para dar uma certeza maior. Vi isso no olhar sincero de Murilo quando reconheceu a figura que apareceu em nossa mesa e mostrou que não encararia de forma negativa.

Estávamos todos curtindo um bom papo na mesa e aproveitando pra se apresentar melhor. Alexandra tinha no seu celular aquela foto minha com seu filho e Vini, dizia que fazíamos parte da grande história que foi aquele nascimento, assim ela guardava cada detalhe e por sorte estava na galeria de memória. Todas as meninas da mesa se derreteram ante a foto, já Gui e Murilo ficaram olhando feio pro Vini dizendo que não tava na nossa hora. De ter filhos, quer dizer, por mais que estivéssemos lindos na foto. Por favor, como se fosse algo a se preocupar! Éramos cuidadosos e elevar a relação a tal ponto não estava em nossos próximos planos. Aproveitei e peguei uma cópia, sabe-se lá quando eu iria vê-los ou ter acesso à foto novamente.

Quando os noivinhos entraram no recinto, foi um alvoroço que fez todos os convidados se levantarem e todos os flashes baterem quase ao mesmo segundo. Se eu já tava vendo estrelinhas, eles já deviam estar cegos. E não foi só lindo porque estavam maravilhosos e com a felicidade topando no céu, mas também por a música de entrada ter sido outra do One Republic, e sim eu chorei quando reconheci. Era na verdade um instrumental remixado com uma batida estranha. Acho que os outros não perceberam, até porque rolou maior gritaria com parabenizações enquanto os noivos caminhavam até o centro do local. Eu queria até agradecer o dj depois, se possível. Tava tudo muito show!

Trilha citada/indicada: One Republic – Secrets (Dubstep)

Nisso, rolou a primeira dança do casal e dos familiares. Ao fim, ditaram que todos se divertissem e que ali começava a festa de verdade. Foi assim que a enfermeira Mônica apareceu na nossa mesa. O Murilo demorou a sacar, mas eu reconheci de primeira, mesmo que ela estivesse toda produzida. Foi a ela quem ele cantou no hospital! Ela que deu o número errado a ele! E então nos entregava uma porção de apetrechos para curtir a festa. As madrinhas estavam fazendo isso de mesa em mesa, e de todas as cinco madrinhas de Ádria, logo a Mônica caiu na nossa.

Enrolada em um boá laranja-vivo e com uma tiara de princesa – eu disse que não queria de rainha porque rainha tem muitas responsabilidades e essa noite eu queria curtir adoidado – brinquei com todos na mesa com os apetrechos. Vini estava com uma cartola colorida, enquanto Gui preferiu os óculos de brilho no escuro e Murilo, por óbvio, quis a coroa de rei. Rei da bagaça, isso sim. Aline também curtiu um boá, azul para combinar com seu vestido e à cabeça tinha uma tiara alienígena. Já Flávia optou por umas luvas roxas de cano longo e luxuosas, também combinado com umas plumas brancas para destacar. Sim ou com certeza nosso cão de guarda – vulgo Aguinaldo – estava todo em alerta?

Nem Murilo, que é Murilo, estava assim. Na verdade ele prometeu se comportar.

E não é que ele tava quieto? Até me elogiou quando cheguei na igreja.

Ao chegar ao local, eu havia deixado o casal love love para trás no estacionamento e saí à procura de Vini e Murilo pela entrada da igreja, que estava pomposa e amontoada de pessoas. Como havíamos previsto, o casamento atrasava. Consegui avistar meu irmão na portaria com Aline, mas a calçada de pedregulhos não combinava bem com meu salto para eu os alcançar mais rápido. Meu passo a passo foi praticamente sendo calculado pra não chegar mortificada à entrada por causa de algum mico. Desulivre! Tinha muita gente pra assistir essa queda. Ainda bem que meu salto não era tão alto assim, nem tão fino também.

Quando finalmente me aproximei, Murilo deu uma boa checada em mim. De um modo meigo e orgulhoso, claro, pois do contrário, eu pagaria mico de bater nele com minha bolsa de mão. Ele parecia emocionado com algo, algo que vi também nos olhos enigmáticos de sua namorada, que estava abraçada a ele. Será que estar em um casamento os fazia pensar coisas? Não perguntei. Sei lá, parecia íntimo, só permiti que meu mano me desse um beijo de cumprimento à testa. Murilo me afagou o rosto e disse:

– Minha pequena e linda irmã.

Pra quebrar o gelo, também pra evitar um sentimentalismo maior, consertei:

– Pequena não, estou alta hoje.

Estava do tamanho dele praticamente. Tinha ele que espichar tanto na altura?

Como bobo que é, ele só nos admirou. Eu já tinha visto o vestido de Aline, assim como ela ao meu e de Flávia, já que experimentamos e compramos todas juntas. Mas produzidas, era outra coisa. Aline clareou seus cabelos e ao pescoço trazia um colar diferencial. Era um ponto de luz daqueles tradicionais, a diferença era que ela havia adicionado aquele anel que o Murilo havia lhe dado, reconheci de longe. Com o vestido longo, ela parecia bem mais alta que era e nem precisava se preocupar com o vento que batia, o vestido não era tão leve assim para levantar (http://bit.ly/1rDapMs).

Já o meu é um pouco plissado e rodado, justo ao corpo, nem muito longo, nem curto, na medida certa (http://bit.ly/1E5LDxa). Acho que foi bom não ter posto o colar que Murilo tinha me presenteado. Como Flávia enfatizou mais cedo, ele ficaria bestinha. Mais bestinha do que já estava. Eu já cogitava usar no evento de vovó dali uns tempos, que estaria mais apropriado. Afinal, seria um encontro de família mesmo.

Murilo tinha esse sorrisão ao rosto que eu não queria apagar. Me fazia feliz vê-lo desse jeito, isso sim. Tudo o que precisou foi bater nele no hospital, conseguir as filmagens e um contato ademais com certo enfermeiro. Meu irmão devia era me agradecer. No outro dia chequei as visualizações do vídeo e descobri que havia muitos acessos ultimamente por usuários da Coreia. Não lembro se na do Sul, se na do Norte. Ele era um sucesso anônimo e, mesmo que eu tenha postado pelos motivos errados e egoístas, eu merecia meu reconhecimento, oras.

Mas não àquela hora. Queria ver mais desse sorriso bobo e admirável dele.

– Vocês estão magníficas.

Fiz um floreio e agradeci. Murilo também não estava de se jogar fora (http://bit.ly/1wInY2z) e talvez por isso Aline não largava dele. Uma garota tem que garantir seu território, tá certa. Eles combinavam até nos sorrisos sem graça. Será que eu tinha interrompido algum momento deles?

– Cadê o Vini? Mandei mensagem e ele não me respondeu até agora.

– Tá mais atrasado que a noiva.

Checamos nossos celulares novamente e nada de sinal de fumaça. Eu já ia dizer algo quando um grupo de pessoas entrou na igreja e dois rapazes deram uma checada em mim e na Aline, com sorrisos marotos. Para nossa surpresa, Murilo não se comportou como um bruto. Ele meneou a cabeça e só resmungou entre dentes que ia olhar feio pra muito cara a noite toda. Fiquei na dúvida de fazer piada ou não sobre isso, mas fui interrompida. Quando achava que ninguém mais ia “murilar”, Gui apareceu na hora exata para cumprir esse papel.

– Cara, é porque tu ainda não viu esse vestido da Flávia.

E sim, nós meninas, foi quem olhamos feio para ele. A namorada dele até se desvencilhou, tomando meu lado e de Aline. Melhor dizendo, tomou nosso partido. Rá!

– O que tem o meu vestido, Aguinaldo?

– Ele tá perfeito demais, amor. Vocês todas estão lindas demais. Esse é o problema.

Se Gui viesse com aquele argumento de minhas garotas de novo, eu puxaria as meninas dali para deixá-lo no vácuo, isso sim, planejei. Imagina se estivéssemos de biquíni ou algo assim. Ah, mas ele ia ver... Pra cada “murilada-aguinada” dele, eu iria aprontar uma, me comprometi silenciosamente. E antes que qualquer um de nós pudesse dizer algum “ai” de resposta, meu Vini finalmente chegou, distraindo-nos da polêmica.

– E eu pensando que ia chegar já no “você aceita?” do padre e... Wow, vocês estão deslumbrantes.

Quase pude dar língua para meu amigo, porém preferi só atirar-lhe lasers com o olhar e abraçar meu Vini no processo, que explicava o seu atraso. Algo sobre seu celular ter se espatifado num posto de gasolina, ter pegado uma blitz e trânsito lento, não deu pra ouvir a história direito porque os padrinhos e alguns familiares estavam chamando os convidados para entrarem, que logo começaria. Em nenhum momento Murilo deixou esse seu sorriso besta ou deslumbrado. Meu mano estava genuinamente feliz e isso porque nem era festa de pessoas por nós muito próximas. Posso quase apostar que ele vai chorar no evento de vovó. Bom, acho que eu vou.

De qualquer forma, evitei mencionar qualquer coisa na mesa sobre o caso Murilo-Mônica, até porque a Aline estava presente e eles tinham um compromisso, um que estava ali cravado ao seu colar e Murilo não largava dela também, vendo que muitos caras ora e outra dava novas checadas na gente. Logo após umas fotos e dancinhas com a galera da mesa, alguns de nós nos retiramos para nos servir do jantar e outros – mais precisamente Becca, Alexandra e Adam – foram passear pela festa, cumprimentar outros convidados.

Como Murilo era o esfomeado, ele furou na minha frente na fila do buffet. Dizia que ele era rei e quase puxei aquela coroa dele.

– Você viu que aquela madrinha era a...?

– A enfermeira que você deu em cima? Aquela que te passou o número errado?

Eu vinha segurando essa informação e não tinha jeito senão mencionar essas exatas referências. Servindo-se da lasanha, Murilo mal vira pra mim, muito atento em verificar quais eram os outros pratos à mesa de jantar.

– Caramba, que às vezes tu é o raio pra lembrar das coisas. Fiquei tempos tentando descobrir de onde reconhecia o rosto dela. Ainda bem que fiquei na minha, não é legal ex e atual se encontrarem.

Isso o deixava inseguro? Porque não me pareceu isso à mesa. Bato meu cotovelo de leve no braço dele pra ralhar com ele porque sim. Mônica não era ex dele nem ali, nem na China. Nem nas duas Coreias!

– Como se tu tivesse ficado com ela, Murilo!

– Ah, tu entendeu. Tá de boa com a presença da Becca mesmo?

Eu não me sentia ameaçada pela Becca, de modo algum. Desde que tudo se esclareceu com Vinícius, eu via o que realmente eles eram. Estranhos. Eram aqueles amigos distantes que se cumprimentam vez e outra quando se encontram, mas, mais que isso não existia. E ela sempre foi essa incrível pessoa, mesmo quando era para eu odiá-la. Na verdade, eu cheguei a odiar o Vini por isso, achando que ele era algum mau-caráter por ignorar o relacionamento deles. Me odiei também por ter que ficar segurando meus reais sentimentos. Masssss... Águas passadas. Reencontrá-la sempre é sinal de boas vibrações. A última vez que a vi acho que foi no níver dele.

Além do mais, EU me garantia.

– Tô. Ela não representa nada de ruim pra mim.

Analisando-me de rabo de olho, Murilo avalia-me por uns três segundos e dá de ombros por fim. Não parecia muito preocupado com isso, acho que estava só se certificando mesmo. Me pergunto o que diria se minha resposta fosse outra e no mesmo segundo penso que ele iria achar um jeito de contornar e me confortar, pois acredita muito no Vinícius para achar que ele poderia me trair ou algo assim. É uma nova forma de me proteger, desconfio, e não vejo de má forma.

– Hum. Que bom então, tava só na dúvida... Acha que a enfermeira me reconheceu?

Andamos pela fila e vou enchendo o prato junto com ele. Diferente da figura, aquilo não era tudo pra mim não. Continuamos de papo sem nos importar que poderiam nos ouvir, pois rolava um som alto ali perto do buffet, não acho que teria como as pessoas nos entenderem, não além de nós mesmos que estávamos lado a lado. Normalmente tocavam bandas em festas assim, a escolha de um DJ foi boa. As músicas em geral ali eu não conhecia, mas tava curtindo bem. Eu e todo mundo da festa ao que parecia.

Trilha indicada: Calvis Harris Feat. Florence Welch – Sweet Nothing

– Não. Ela deve ser muito cantada, já pensou? Você só foi uma estatística.

Murilo se calou e eu imaginei que foi por ter que seguirmos de volta para a mesa. Como a nossa estava mais perto da porta e do bar, tínhamos que dar uma super cortada pelo salão e passar por muitas mesas, mesas essas que estavam muito próximas e mal dava espaço para passagem, isso sem falar de todo um povo de pé e amontoado. É no meio do caminho que a criatura simplesmente para na minha frente de repente e quase faz meu prato voar:

– Acha que sou mais uma estatística pra Aline?

Sério que ele poderia imaginar uma coisa dessas? Me espanto momentaneamente com o fato de que ele estava sério e realmente considerava aquilo. Não tinha eu ideia de que Murilo poderia ser esse inseguro ainda em relação à Aline. Quer dizer, nenhum casal pode ser tão 100%, mas quanto a eles eu via claramente.

Se bem que alguns momentos em que ela foi sincera comigo ou deixara algo escapar ele não estava presente. Isso, contudo, não poderia significar que não teriam momentos entre eles para bem ilustrar esse argumento. Então só inspiro e dou minha resposta verdadeira, sem rodeios. Se era isso o que meu mano precisava, se era isso que estava disposto a me oferecer, minutos atrás, mais umas certezas, eu iria cedê-las a ele. Sorrio até. E dou um toque a mais, pra não dizer que tô sentimental demais.

– Você nunca vai ser uma estatística pra ela. Nem tuas burrices conseguem a afastar. Ela realmente te ama, mano. Não estraga isso.

Mais confiante, Murilo inspira e inspira fundo, sem jeito. Até se apoia no espaldar de uma cadeira vazia. Embora pareça um tanto hesitante, sei que na verdade está é mais seguro de si dessa maneira. Acho que ele se realizava de algum jeito.

– Pode ter certeza que isso não está em meus planos.

Meu pequeno sorriso se alarga.

– Então você tem planos!

– Quando se encontra alguém assim, acho que é inevitável fazer planos.

Besta que é e com uma felicidade repentina do tamanho do mundo, ele mal me responde antes de virar e retomar seu caminho. Como a boa curiosa que sou, não perco o passo também. Culpa da Flávia, me passou essa mania!

Palhaça, revido essa atitude de querer me deixar falando sozinha. Faço a voz mais meiga possível e quase posso pular nas costas dele. Infelizmente, eu tinha um prato nas mãos.

– Awn, Mumuzinho.

Ah, ele para?

– Porra, Milena. Mumuzinho não. Mumuzinho é demais!

Gargalho e passo na frente dele, alcançando nossa mesa e encerrando o assunto, já que lá havia muitas testemunhas de volta para ouvir coisas demais. Dividindo meu prato com Vini, que ficou à mesa tentando dar um jeito no seu celular que havia levado um tombo daqueles, pisquei pro meu irmão e nos metemos no papo da galera. Quando estávamos terminando nossos pratos, a conversa indo a todo vapor, muita gente dançando ali perto, o dj mandando bala, um dos padrinhos – Alexander, mais precisamente, o irmão de Alexandra, que também tava gaaaaaato – surge e faz um convite inusitado aos meninos.

– Rapazes, preciso de uma força moral urgente! Vão lá pra portaria que explico melhor, precisamos de todos os caras da festa se possível!

Ele detinha uma expressão muito malandra. Muito.

Eu mal sabia o que poderia esperar.


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Notas finais do capítulo

Vou guardar o melhor pro ano que vem sim E com certeza hahaha ♥♥♥♥♥

FELIZ ANO NOVO, VEJO VCS EM 2015!
Essa galerinha ainda tem umas e outras pra aprontar :)
https://www.facebook.com/ChanningTatumBr/photos/a.284333215014974.67619.284325858349043/711889152259376/?type=1&theater



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