Mantendo O Equilíbrio - Finale escrita por Alexis terminando a história


Capítulo 58
Capítulo 57


Notas iniciais do capítulo

Prometi e não cumpri: muito bonito de minha parte, né? Contratempos, contratempos...
Pois então, antes que as muriçocas me carreguem, eu carrego esses capítulos. SIIIIIIIM, VAI ROLAR COMBO!



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Como assim ela já foi embora?

Declaro eu, levantando um pouco a voz e mostrando minha indignação momentânea. Flávia só dá de ombros e fecha a porta de sua casa, me conduzindo para sua sala.

Indo, oras, hoje não tinha apresentação, mas tinha ensaio. Foi marcado de última, o que eu poderia fazer? Amarrar ela aqui?

Me jogo no sofá dela sem cerimônia. Na casa das amigas pode, principalmente depois de um dia cansativo.

Não sei, depende o quanto você queria saber do babado.

Ah, mas eu já sei. Ela passou a tarde aqui, me contou tudiiiiiiinho.

ISSO NINGUÉM ME CONTA!

Que injusto! Eu tava crente que ela ficaria aqui era agora! Quando deu 18h, eu tava era do lado do carro do Gui, ligando e ligando, pra ele sair logo. Tu sabe que ele odeia pressão, e eu assumi o risco por ela. Aí a lindinha me deixa.

Utilizando-se da clássica repreensão, Flávia alcança uma almofada e dá com ela na minha cara dessa vez de leve pelo menos enquanto se senta ao meu lado. Do jeito que me joguei, jogada e esparramada permaneço, já que não ouvi nenhum movimento pela casa. Acho que ela tava sozinha.

Sua coisa dramática! São quase 19h já. Vocês demoraram muito.

Isso porque ele cortou boa parte do engarrafamento. Tu que é essa sortuda que mora perto de tudo, quase nunca pega esses engarrafamentos pra saber a tristeza que é.

Até parece, Mi. Agora que desfruto dessa sorte.

Verdade, antes ela morava bem mais longe, mais que o bairro do Vinicius. Tipo, beeem mais longe. Bem do outro lado da cidade. Foi faz uns cinco anos mais ou menos que sua família se mudou pra cá, o que foi ótimo quando ela entrou na faculdade.

Imitando meu estado de morrida, ela pende a cabeça para o encosto do sofá e se esparrama também. A tv tava ligada, mas num volume bem baixo. Passava alguma novela, devia estar para acabar eu diria, por causa do horário. O netbook de minha amiga constava na mesinha central próxima a nós e vi que estava ligado.

Faz muito tempo que ela saiu?

Um pouco. O povo daqui ainda nem tinha saído. Claro que ficamos no meu quarto, né? Tava maior muvuca porque iam chegar atrasados no casamento de alguém.

Que milagre foi esse que tu num foi junto? Tu adora essas festas. Isso só pra ficar e saber do babado e me contar?

Ela faz cara de quem não faria esse tanto por mim. Sei.

Flávia faria e faria com gosto!

Com minha tia, eu não vou neeeeeeeeem se as lembrancinhas fossem em barras de ouro. Acho que até mamãe teve pena de mim e achou melhor eu não ir.

O caso era penoso mesmo, concordo.

Pensa pelo lado bom, as aulas estão para começar, então essa sua tia se manda daqui em breve.

Tínhamos apenas uma semana. Em uma semana estaremos a essa hora entrando novamente nas salas de aula e todo aquele desespero de período recomeça, desafiando nossos instintos. Ó vida.

Não acredito que as férias estão para ir embora, não quero ir pra aula.

Já tô é sem coragem de ir.

Mas minha tia, não sei se algum dia ela vai embora. Quando perguntamos sutilmente quando será, ela pergunta se estamos a expulsando, o que na verdade é o que muito queremos, mas mamãe vem com essa de ser conveniente, então sofremos todos calados, à espera dessa mulher ir embora. Até meu sobrinho já fez protesto.

Eu tava acompanhando uma cena da novela de um garotinho que entregava uma cartinha pra amiguinha na escola, e era fofo. Mas claro, ouço o que Flávia diz e tenho a reação que acho que ela arquitetara que eu tivesse:

Ela não quer é achar o rumo del... Espera, que sobrinho?

Minha irmã tá gravida!

Eu dou um pulo do sofá e ataco minha amiga num abraço sufocante.

Ai meu Deus, ai meu Deus, ai meu Deus! Que lindo! Meus parabéns, titia! Quando vocês descobriram?

Ontem. Ela tava se sentindo desconfortável faz uns dias, aí ontem já correu pra Emergência, porque tava piorando. Ela não tinha febre, pelo menos. Ouviu falar do surto de dengue que tá dando? A gente ficou preocupado, aí foi melhor ela ir pro hospital, tirar a limpo isso. Quando cheguei da pizzaria que me contaram.

Como tá o cunhado? Surtou?

Ele tá a coisa mais apaixonante, isso sim. Quero eu ter um marido desses um dia. E não termina por aí, os safados estavam planejando se mudar. Na verdade, já se mudaram. Bem debaixo de nossos narizes! E agora vão ter que replanejar tudo, porque não esperavam que ela iria engravidar.

A gente acredita tão mais no amor quando vê uma coisa dessas, não? Mas o Gui é bom moço, viu. Um partidão. Um dia vocês casam. Mas aposto que ele surta, só que de um jeito fofo. Até lá, ainda tem muito chão entre vocês.

Ô se tem, casamento nem é palavra em nosso vocabulário ainda. Só aqueles que a gente tem que ir, claro. Mas, ok, senhorita vidente, já esperei uns bons minutos aqui e você nada de falar, então vou arrancar. O que foi aquele climão ontem com o Vinícius na pizzaria? Vocês tavam brigando mesmo?

Mas tu é muito esperta, bonitinha. Eu é que reivindico meu direito de saber dos babados primeiro! A injustiçada aqui sou eu. Conta da Dani que eu conto depois do Vini.

Flávia só revira os olhos.

É sério que vamos ter que tirar no par ou ímpar isso?

É sério que você vai me negar um pedaço desse rolo da Dani?

Até o Gui tava curioso, só não pôde ficar porque seu primo pediu para o encontrar urgente em casa, que eles tinham um lance sério pra resolver. Acho que algo sobre o apartamento, o tal primo não deu detalhes. Gui mal vê a hora de poder se mudar.

Falando em pedaço, tem bolo. Tem lasanha também.

Então vamos comer e depois tirar no par ou ímpar. Se eu perder, não quero ter de falar com fome. Aí sim eu seria mais que injustiçada.

Ela levanta, com mais coragem do que eu. Meu drama era indiretamente proporcional a minha vontade de levantar sequer a mão. Uma vez esparramada no sofá, era duro se por de pé novamente.

Injustiçada sou eu que tenho que esperar tu comer pra começar a falar. Mas levanta, que eu não vou trazer aqui não.

Era um preço alto a se pagar e que pago. Se eu bem conhecia aquela lasanha, ela valia todo o esforço. E de plus, teria toda essa novela das nossas vidas.

~;~

Lembro que ela comentou algo sobre a família dela umas poucas vezes. Que seus avós morreram e não os conheceu, que eles tinham muita implicância com os pais dela. Mas ressurgir um tio-avô do nada, imagino que ela ficaria feliz mesmo.

Por todo nosso jantar, não conversamos nem sobre a Dani, nem sobre o Vinícius. Por quê? Porque a mãe de Flávia ligou para saber se tinha trancado isso e aquilo, se desligou isso e aquilo, coisas de quem saiu tão batida de casa e não tinha certeza de ter deixado tudo seguro. Aí depois a tia-vaca entrou no viva-voz esticando história, a irmã de Flávia tava para estrangular a mulher, foi um rolo daqueles.

Já de volta ao sofá e à tv em volume baixo, Flávia retornou à limpeza de seu netbook coisa que eu devia fazer com meu note, pois, depois de uns tantos períodos, acumula muito arquivo de besteira nas pastas gerais e de vez em quando é bom fazer um raspa. Eu, por outro lado, estava tão sem coragem ainda que fiquei esparramada no sofá novamente, ouvindo Flávia contar sobre Dani. Não acredito que ganhei no par ou ímpar!

Ela tá muito animada mesmo, não para de falar dele. Acho que é Bráulio o nome. Acho bonito ela se reconectar assim com ele, ou ele com a família.

Pelo que Dani falou, esse tio-avô ficou na intocada por anos a fio, distante da família, e aí, sem razão aparente, não que se saiba, voltou. Lembrei-me muito da história da irmã da Aline, como ela ainda lutava para ser reaceita na família. Não era nem que eles eram ruins, é só que rolou muita mágoa e aí ficou todo mundo dividido. Murilo me contou que tem um tio de Aline que pegou muito no pé dele, mas depois se desculpou.

Às vezes a gente acha que nossas famílias por si são normais quando se vê umas trágicas, outras vezes a gente acha que as nossas são complicadas demais quando outras mais parecem ser normais. A verdade é que sempre tem algo que desanda nelas, só não queremos admitir.

Mas o caso sobre Dani virar cantora nas horas vagas foi outro rolo. Diz que esse seu tio-avô chegou num desses domingos familiares com um convidado, assistente seu o senhorzinho tem um restaurante. Esse tal assistente que reconheceu a Dani! Ele já a tinha ouvido cantar algumas vezes dentro do ônibus. Toda serelepe, nossa amiga contou suas histórias de cantorias, sobre quando subiu ao palco numa pizzaria uma vez e em outra, também a reconheceram num bar e pediram que ela assumisse o microfone. Aí seu tio-avô disse que ela poderia dar uma investida nisso e que ele sabia de uma vaga. Conhecia o dono da pizzaria, que fora seu colega de escola, e hoje em dia o encontra em eventos de culinária e administração de empresas.

Em um desses encontros recente, esse colega dono da pizzaria, a pizzaria que fizemos o níver de Flávia, comentou que estava precisando de ideias novas para incrementar mais seu negócio, até porque a banda estava quase para se desfazer, por a vocalista ter entrado pra outra, e aí não acharam nenhuma substituta. Foi a chance de Dani! Ela fez o teste e todo mundo lembrava dela. Não tinha mesmo como não morrer com uma notícia dessas! Eu tinha uma amiga cantora!

Aí ela passou uns bons dias nos ensaios, fez segredo e tudo. Quando foi o noivo da aniversariante reservar a pizzaria e conversar com a banda sobre o estilo das músicas, ela se empenhou mais e resolveu fazer da festividade a sua surpresa. De besta ela não tem é nada!

Lado a lado comigo no sofá, Flávia ri enquanto reorganiza seus arquivos.

Ela tá literalmente elétrica com isso, Mi. Acho que nunca a vi tão feliz! Nem quando o Bruno parou de frescura e assumiu o que sentia.

Bom, diante das circunstâncias, quem não tá feliz com uma história dessas, não é?

Verdade. Já o Vini...

Não estávamos brigando, Flá. Era... outra coisa. Sobre o pai dele.

É, isso explica um pouco da tensão que a gente viu.

Vocês acharam mesmo que a gente tava discutindo?

Eu gostaria mesmo saber qual era a imagem que estávamos passando.

Não diria discutindo, mas vocês tinham umas expressões que preocuparam logo. Daí do nada o Vini simplesmente sai dali. Aí o Gui tava imaginando que você tava contando sobre o Sávio e aquele rolo todo da monitoria, sendo que vocês tinham combinado de deixar pra depois... Enfim, o pai dele fez algo?

Gui e suas tramoias.

Não, não. É só que o papo foi levando uma coisa à outra, e outra e outra, e chegamos no ponto sobre o pai dele e... Sabe, tem hora que o Vini realmente acha que vou brigar com ele pelo modo com que se comporta quando se trata do Filipe, porque, bem, eu já briguei, mas não era por ele expressar suas opiniões, era por ele ser agressivo e, bem, eu não gostava disso. Então quando Filipe surge como assunto, já tento fazer só que ele fale e desabafe, tirar essa impressão ruim. Ele até que tem falado bastante e, de verdade, noto que ele alivia com isso. Mas tem coisas que são realmente delicadas.

Como tocar na história de meu sumiço e fazer Vinícius ter que encarar o próprio pai. Como esse encontro foi um pouco desastroso, e se não fosse por mim, ou mesmo pelo Murilo, Vinícius provavelmente não iria por os pés naquele apartamento novamente. Mas era eu. E como ele disse, eu no meio daquela história bizarra. Não havia tempo para pensar, só agir. Foi também um grande baque para Filipe, bem lembro. Foi quando ele me confessou que tinha encontrado a família de Vini.

Depois daquele pequeno surto do namorado no salão da pizzaria, nós não voltamos para lá. Quer dizer, só para pagar nosso consumo e nos despedimos rápido da galera. Nem deu para falar com Dani, só acenamos e ela de volta, como se pudesse compreender a situação.

Ainda ficamos um tempo no estacionamento, Vinícius quieto. Com carinho e cuidados, estive lá por ele, pelo que quisesse falar ou não falar. Já no carro, não conversamos muito. Na porta de minha casa que ele se mostrava já não tão quieto. Sei que basicamente fomos o caminho todo só ouvindo umas músicas mais amenas, e uma dessas tocava tornando todo aquele momento um pouco mais tenso que já era.

Trilha citada/indicada: Finger Eleven Thousand Mile Wish

(00:56)

So can you stay until we close our eyes

Til your dreams hold mine

Just stay until we know we tried one more time

Então você pode ficar até a gente fechar os olhos

Até que seus sonhos segurem os meus

Apenas fique até que saibamos que a gente tentou mais uma vez

No que está pensando?

Em como ainda escondo coisas de você. Não sei se por meu bem ou o seu.

Eu olhava para a rua, silenciosa, quieta, um pouco iluminada, através do vidro de minha janela. Por outro lado, meu coração se apertava um pouco. Sentia que eu estava a ponto de explodir e... no último segundo, eu desarmava. Inspirei e desconversei.

Nada em especial.

Cause laughing lovers can overcome their closest demons

And they'll go on and they won't let go

They saw something that they know

Has never come so close

Can it stay here for us, for now?

Porque namorados risonhos podem se sobrepor aos seus problemas

E eles seguem em frente, mas não deixam pra trás

Eles veem algo que eles sabem

Que nunca chegou tão próximo

Pode ficar aqui por nós, por agora?

Vinícius desligou o motor do carro e eu já fui tirando logo o cinto de segurança, muito alheia do que eram até meus próprios pensamentos. Sentia que isso sobre seu pai, a investigação, isso estava tão perto, que eu de fato temia o que tal descoberta faria com ele. Era algo tão fácil de submergir, estava sob a minha pele... na ponta de minha língua.

Mas não era o momento apropriado. Sei que é difícil ter um momento assim, e por mais que se batalhe para ele, a questão também não é só o Vinícius, tem o Filipe. O que me leva a só esperar, esperar que algum dia isso não seja tão desastroso quanto experiências passadas.

Can it stay until we know ourselves?

I'm torn as I tell

You're the story that I know and fell from

I'm so far into your story I don't know why

We think we're in control

When we lie between the lines

Pode ficar até conhecermos a nós mesmos?

Choro enquanto peço

Você é a história que eu conheço e sinto que

Estou tão longe da sua história que eu nem sei por quê

Por que achamos que estamos sob controle

Quando mentimos por trás das linhas

Acho que notando o quanto eu queria disfarçar, Vini também tirou cinto, e veio para meu lado. Estava mais calmo, felizmente. Me tocou no queixo para que virasse para ele.

Hey, não gosto quando fica caladinha assim.

Baixei os olhos quando veio a lembrança de que no outro dia ele havia reclamado sobre isso. Sobre eu tomar um tempo e me manter numa quietude quando se tratava de algo relacionado a ele ou a seu pai. Acho que era involuntário então.

Só... achei que você queria um tempo... Pra pensar.

Eu sei, Mi. E eu tenho muito mesmo para pensar a respeito.

Sondando-me, ele buscou meus olhos de maneira que me fizesse levantá-los novamente.

We'll find a line to follow

It's got to show real soon

Or we'll never reach this high

A gente encontrará uma linha pra seguir

Deve aparecer uma dessas logo

Ou nunca chegaremos a um ponto alto

Obrigado por me apoiar. Obrigado mesmo.

Mesmo à penumbra do carro, era possível ver que seu rostinho permanecia com aquela tristeza e resistência de sentir o que devia se permitir, até nisso Vinícius era hesitante. Ele não se entregava aos próprios medos por receio do que acharia lá. Como o pesar e até a compaixão que sentira quando encarou encontrar Filipe e ter que dividir espaço com ele em momentos difíceis.


We climb a little further

Cause there's nothing we can't get around together

So we stay until the ground
That we can't come down from splits us away
Maybe stars know why we fall
I just wish they were thinking out loud
Oh, I could wish all night

A gente escala um pouco mais alto

Porque não há nada que a gente não possa resolver juntos

Quanto mais alto, fica mais frio, até que nada seja tudo o que vemos ao redor

Então fiquemos até o chão

Que daí não podemos cair nem nos separar

Talvez as estrelas saibam por que caímos

Só gostaria que elas pudessem pensar mais alto

Ah, eu poderia desejar isso por toda uma noite

Eu o entendia, não tanto quanto ele queria, mas esse pouco me era suficiente, até para alimentar meus próprios temores. O que eu não devia, claro, mesmo que fosse quase impossível não seguir esse caminho fácil de encarar as coisas. Só... era bem complicado saber tanto e de uma coisa assim crucial e não puder mencionar nada.

Para minha surpresa, com a outra mão Vinícius segurou a minha, apertou-a e logo me beijou, calmo. A música, eu não sabia a letra, mas seu ritmo estava se reenquadrando e achando seu momento durante esse beijo. E Vini parecia estar precisando disso, de um contato, de uma confiança. Tão logo me abraçou e assim ficamos um tempinho. Eu só sentindo-o me comprimir e como isso era acolhedor de alguma forma.

A gente ia dar um jeito nisso tudo, eu confiava.

Mas aí, com essa nova confiança e com ambos vulneráveis, veio uma decisão.

Vini?

Hum?

Ele afrouxou um pouco o aperto, mas de modo que não ficássemos cara a cara. Assim me desvencilhei um pouco mais dele, queria poder dizer olho no olho se possível. Eu arrumava coragem para tal, pois também precisava de um alívio pessoal. Meu coração me dando taquicardia que exigia.

Eu fiz uma coisa... Por você.

Vi que sua cabeça procurava pistas ou respostas mais através de seus olhos que então me observavam inquietos e surpresos.

O que quer dizer?

Eu fiz e não posso dizer. Quer dizer, não compete a mim.

Já havia roubado outros momentos e explicações, já lhe disse verdades que não eram para sair de mim, e tive que esclarecer pontos que eu mesma mal sabia. Foi naquele primeiro surto, quando Vini descobriu que Filipe era seu pai e, embora eu detivesse tantas respostas para suas eventuais perguntas, não cabia a mim ter que respondê-las. E fiz. Mas não dessa vez. Essa responsabilidade não é minha, além de que tenho que respeitar os anseios dos outros.

Toquei-lhe no rosto, carinhosa. Imaginava que meus olhos, de repente cheios dágua, transparecessem um brilho diferente.

Só lembre... que eu fiz... por você.

Quebrando um pouco o clima, Vini comentou:

Parece coisa de filme.

Mas lá no fundo ele sentia minha preocupação. Talvez até meus medos.

Eu sei que sentia.

É sério então.

Não foi uma pergunta.

Ele me fitou mais uns segundos, como se pudesse ver mais daquelas respostas que tanto buscava e evitava de ele mesmo vacilar ante essa minha declaração.

Não sabia bem o que esperar, minha respiração num estado bem irregular até, uma ansiedade me sobrepondo e...

Ok.

OK?????

Se fez por mim, agradeço. E se isso te tranquiliza, amor, ok.

Vinícius assentiu. E num singelo sorriso agradecido, me deu outro modesto beijo. Disse que me amava, e ao som de, imagino que sim, Brandon Flowers, Only The Young, todos os seus beijos foram desenvolvendo novas linguagens e contando-me com calma como ele apreciava esse nosso momento, a sinceridade, os temores, o temor de um pelo outro, a preocupação, o amor, e o zelo, ah, o zelo.

Miiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii!

Flávia buzina no meu ouvido e sou transportada de volta ao seu sofá. Disfarço.

Eu tava te ouvindo, tá?

Sei. E o que eu disse sobre as notas de rodapé desse artigo que entregamos?

Ela aponta para a tela do netbook e me pergunto seriamente quando foi que evoluímos na conversa a esse ponto. Flávia deve notar bem.

Viu! Eu tava falando era sobre aquela noite que o Vinícius resolveu abrir o jogo com a gente, lá no dia que ficamos no barzinho de praça.

Tu é muito bicha má, eu aqui pensando no Vini e tu me assusta com um negócio desses.

Ela bate um ombro no meu, se fazendo de zangada por tê-la deixado falando sozinha.

Pensando não, bonitinha, viajando total!

É o Vini, Flá, o que acha que eu estaria fazendo?

Tá, eu compreendo. Mas só me diz uma coisa.

O quê?

Você fez alguma coisa? Porque você tá com aquela cara de novo.

Me endireito no sofá, suspeita de mim própria.

Que cara?

Aquela de que fez algo e não sabe se se arrepende.

Se você sabe que fiz, por que pergunta se fiz?

Miiiiii! Para de me enrolar.

Táaaa. Eu fiz uma coisa, mas não chega nem perto do que o Murilo fez, ou mesmo Filipe. Realmente, não sei se eu deveria fazer mais ou não me meter.

É por uma boa causa?

Depende do ponto de vista. A maioria das pessoas acha que sim. Quer dizer, todo mundo achava que sim, até mesmo Djane, que tinha nos dado total apoio. Mas saber o que Vinícius acharia... era uma difícil incógnita para decifrar.

Errr... é.

Ou é ou não é, Lena.

Flávia tava me botando na parede ou era impressão minha?

Me sinto desarmar, de qualquer maneira.

É que é muito complicado. Fico um tantinho... insegura.

Então está indo bem.

Ah, agora ela relaxa!

Como poderia estar indo bem?

Ora, indo. Melhor ficar nas dúvidas do que confiar cegamente que está fazendo o certo, não?

De fato, era melhor. Até que isso estoure eu não tenho outra opção melhor senão a acreditar. Só espero que nesse meio tempo Vinícius alcance alguma consciência que sedimente mais meu pedido. Que ele se lembre que fiz por ele.


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Notas finais do capítulo

Essa música do Finger Eleven e o Vini ♥ ♥ ♥ ♥



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