Mantendo O Equilíbrio - Finale escrita por Alexis terminando a história


Capítulo 49
Capítulo 48


Notas iniciais do capítulo

Eta que tô boazinha essa semana! XDDDDD
A Milena também... Não que o Vini ache taaaaanto depois desse capítulo rs

Enjoy!

P.S.: Querendo desvendar mais de MoE e da trilha sonora, só dar uma olhada nas notas finais o/



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– Nem pensa que hoje tu escapa, viu, bonitinha. Eu só vou estacionar ali no posto pra ir no Banco e quando voltar, quero tudo na ponta da língua.

Declarou Vinícius logo que me buscou na casa de Flávia, ele com aquela expressão categórica, como se EU tivesse aprontado, como se EU soubesse de alguma coisa. Só porque eu geralmeeeeeeente tenho conhecimento de algumas coisas, não quer dizer que sempre tô por dentro do babado. Bom, eu não tava sabendo mesmo, só tinha lá minhas teorias, o que não adiantava muito. Vinícius detinha um semblante de que ia arrancar até o último fiapo, ou a força de presença de que iria puxar tudo, e nada, nem minhas sinceras desculpas, iam o impedir.

Tá, ele estava assim por causa de todo um dia que ele tentou e tentou, e mal conseguimos nos falar. Primeiro, ele me ligou de manhã cedo, tipo beeeeeeeeem cedo, muito cedo, tão cedo que... Ok, eu não me orgulho disso. Eu atendi e dormi de novo. Com ele na ligação. Ele bem que tava no seu direito de ficar com raiva, isso eu posso entender completamente, foi muito injusto. Eu só sei que era algo relacionado à Djane, que ele tava um pouco agitado e tal. Sua mãe fez algo, sabe-se lá o quê, Vini não entrou em detalhes nas sms que mandou. Foram poucas e nem por uma sequer mencionou do que se tratava! Ele também tava me enrolando.

Ou não, porque toda vez que ele me ligava, eu não podia atender e vice-versa. Acho que na cabeça dele eu já tinha sacado tudo e ele testava território.

Eu podia ter perguntado para a própria, mas, de verdade, eu não sabia por onde começar. Quer dizer, vai que não era pra ela saber? Vinícius não me cedeu pistas suficientes pra entender o que era aquilo, não sou adivinha. E como Djane em nada falou por durante o dia, presumi que não estava ao seu alcance direto. Não devia ser nada. Certo?

Pois bem, eu também quero saber o que desencadeou esse alvoroço todo. Assim que o namorado volta do Banco, pois até o caminho do posto ele nada falou, muito centrado no trânsito, ele senta, me olha sobre o ombro todo misterioso, suspeito talvez. Que raio de suspense!

– Eu não sei nem do que se trata, viu

– Ah, sabe sim. Não pensa que me engana não. Sabe da missa toda e deve ter cumprimentado até o padre. Não ia passar o dia todo me enrolando por menos.

Ri gostosamente pela referência absurda, vou adotar, cogitei. O que Djane teria feito pra ter resultado nisso? Eu tava doida já, querendo imaginar e ao mesmo tempo não, pra não dizer que eu tava sendo paranoica. Mas o Vinícius não ajudava com esse seu porte todo “me conta tudo e não me enrola”. Isso era bullying contra minha pessoa. Juro que não sabia mesmo do que se tratava, tava mais perdida que a vez que peguei o ônibus errado e fui parar em um bairro desconhecido. Dali era só esperar outro ônibus e pedir informação, já com Vinícius, ele tava naquela de pegar tudo o que eu falava como se fosse enrolação e fazer um interrogatório em cima.

Eu juro que não tava enrolando!

Não o tinha por mal por achar que eu fazia isso, mas, poxa, ele podia interpretar melhor as coisas. Como a minha cara não deslavada de inocência nesse cartório. O que me faria cumprimentar o padre afinal? Era coisa boa? E se era coisa boa, por que ele tá tão agitado dessa maneira?

Vinícius já tinha tomado tudo como conspiração – e ele quem diz não ser imaginativo. Eu bem que tenho minhas justificativas pra todo caso. Não falei com ele de manhã cedo, porque, justamente, dormi sem querer. Sabe quando te acordam numa hora de alta produção onírica? Eu tava sonhando e num momento muito “não sei em que mundo estou”, então posso ter só pegado o celular e enfiado no travesseiro pra se calar, já que tocava, tocava, tocava, e não era hora pra atender o Ryan ou sua Life in Color, era compreensível. Lembro-me vagamente de atender, depois de muita insistência dele, com um “quê, que foi?” e ele respondeu um “a minha mãe”. A ligação não tava boa, lembro de ter ouvido só um “acho que ela dormiu...” e aí que não entendi mais e, bom, voltei a dormir.

Ele poderia ter esclarecido tudo em sms. Mas ele quis me dar esse gostinho? Nãaaaaao, ele queria fazer o teatro. E o teatro estava rolando novamente em seu carro.

– Tá, não vou discutir sobre isso. Agora desembucha essa história.

– Desembucha você, Lena! Eu quem quero entender o que tá acontecendo! E para de rir!

Eu tava rindo e me segurando tanto, tanto, tanto para não rir demais, porque aí pareceria que eu tava me entregando e eu realmente tava fora das órbitas desse babado. Droga, pior que quanto mais ele discute a respeito, mais eu quero rir, mais eu quero que não pareça que eu sei, até porque não sei nada. Mesmo. Era uma droga de situação impagável.

– Mas Vini, olha, eu... Juro, juro, juro, que não sei do que você tá falando. Pode, por favor, me ambientar da situação?

Desconfiado, meu Vini parece titubear, balança a cabeça, avalia a situação e, pelo jeito, meu comportamento. Isso a partir de olhadelas que ele dava, se dividindo entre mim e o trânsito. Eu queria poder jogar bolinhas de papel nele só por essa arrumação toda. Contudo, contava que ele teria que me dar umas belas desculpas e mimos, só por não ter acreditado em mim. Internamente já ria em pensar sobre isso e em como eu poderia me aproveitar.

Sou uma ótema pessoa.

– Jura mesmo?

– Se eu souber qualquer coisa, eu falo. Me dá esse crédito, vai.

Com jeito de quem tá em dúvida de ceder, Vinícius mantém sua desconfiança. Não uma que me fere, mas que me diverte muito.

– Então... eu tava saindo hoje de manhã para o trabalho e estranhei o fato de minha mãe não ter levantado. Às vezes ela aparece logo depois de mim, e dessa vez nada. Ok, né, pensei que a mulher estivesse descansando mais, ela vive ocupada agora, mesmo em período de férias para os alunos e... enfim, não liguei pra isso, achei bom até. Dona Ana também não comentou nada, só saiu para o mercado logo que tomei meu café da manhã.

Como uma perfeita ouvinte, fico lá no banco, só ouvindo o relato, ora balançando a cabeça, em concordância sobre a carga de trabalho de Djane, ora só acompanhando o que era a situação. Apesar de calmo, Vinícius permanecia com uns traços de agitação. Eram visíveis pelo modo que gesticulava perante o volante e como manejava o carro por completo.

– Aí tá, beleza, na hora que eu tava tirando o carro da garagem, eu vi.

– Viu o quê?

– O carro do Renato tava lá na calçada estacionado.

– Eu lembro de ter visto quando cheguei em casa ontem. Tava cansado e com sono, mas vi. E vi hoje de manhã cedo. No mesmo lugar. Isso só podia significar uma coisa.

De fato.

Mas antes de confirmar minhas desconfianças também, embromo:

– Que ele tem um lugar favorito pra estacionar?

– Não, Milena! É claro que ele não moveu o carro. E não moveu porque não saiu. E se não saiu... é porque dormiu lá em casa!

É, isso faz muito sentido. E sim, pensei o mesmo. E já sacava onde Vinícius queria chegar. Quer dizer, onde ele tinha chegado e pirado por todo o dia.

– Mas Vini, isso não quer dizer que... que eles dormiram juntos.

– Eu chequei, Milena. Depois de tirar meu carro, eu voltei, fui lá no quarto de hóspedes. Não havia ninguém e nem traços de que alguém tinha usado o quarto. E se ele não tava lá... só podia estar em um lugar. E não, não era na cozinha, Milena!

Vinícius previu até meu comentário – embora eu tivesse pensado na dispensa ou, quem sabe, no banheiro; tinha o quintal também e até o telhado. Mas eu diria isso ao namorado surtado? Nãaaaaao, eu não botaria mais pilha do que ele próprio. Não dava pra encarar aquilo senão da mesma maneira como ele sugere. Era isso mesmo e ponto.

A questão mesmo era outra.

Mesmo entendendo qual era do surto de Vinícius, tenho de levantá-la, como uma devida precaução, porque se não houver alguém para intervir, não duvido que ele iria até o fim com isso, doido como está. Dizia pra mim mesma para ir com cuidado, que aquela “fera” não ia ver ou aceitar fácil essa tal questão.

Respira e vai, Milena, respira e vai.

Ele não vai gostar disso.

Muito calma, começo:

– Tá, e daí?

Vinícius parece nem acreditar que realmente cheguei a perguntar isso. Fica tão incrédulo que falta pular de seu banco de motorista. Ainda faltava uns bons quilômetros até chegarmos em sua casa e então ele parar o carro, assim eu vigiava o trânsito, preocupada de qualquer coisa dita o distrair. Pior que não tinha como fazer a história morrer até estacionarmos, eu conheço bem a peça pra ter certeza de que ele iria esticar e instigar até que eu falasse.

Como assim, e daí? E daí que ele dormiu com minha mãe! Renato tava com a minha mãe!

– Sim, isso eu já entendi. Agora explica por que você tá agindo maluco desse jeito.

– Não me venha com essa, Lena, já te saquei. Você até podia não saber desse rolo, tudo bem, e pode até ter dormido no telefone quando liguei cedo, eu não reclamo, tuuuudo bem, mas concordar que isso não é motivo de... de... de você-sabe-o-quê, não me enrola não.

Ô coitado, o namorado não conseguia nem dizer o que era, letra por letra. Eu realmente amassava um lábio no outro e me segurava, oh céus, como eu me segurava pra não dizer nada para que ele surtasse mais ainda. Novamente eu me afirmava sobre tomar cuidado, ir com jeitinho, que Vini ia tomar jeito de voltar a ter a cabeça no lugar.

Bom, eu esperava, né.

– Vini, você sabe que eles estão em um relacionamento, não sabe? E que você mesmo os abençoou por isso.

– Isso não quer dizer, Lena, que...

– Espera. Me deixa terminar primeiro, ok?

Inquieto e cheio de verdades pra jogar, Vini bate o polegar no volante continuamente enquanto o segura, sinal de nervosismo, e, um tantinho estressado, vira o rosto tentando se controlar. Eu acreditava que ele não queria tomar aquilo daquele jeito, só foi um pequeno golpe descobrir assim. Era zelo sim, exagerado talvez, já ciúme nem tanto. Aos poucos ele tem se comprometido de não se deixar levar e era hora de focar nisso. É aí que eu entro.

– Djane é uma mulher segura e já foi casada.

– Mas...

– MAS... Agora ela está em um relacionamento novo. Pode ela não saber onde tá pisando, isso não quer dizer que ela não saiba lidar com a situação. Djane é mais que grandinha, Vini, ela é sua mãe. Se ela dormiu ou não com ele, não é da sua conta.

Ele não deixa por um minuto de trazer sua aversão à conversa.

– Eu só tô dizendo que ele passou dos limites.

– E eu acho que ele tá bem dentro dos limites. Isso é uma coisa muito normal.

– Não, Lena, respeitador seria se ele tivesse pelo menos dormido no quarto de hóspedes. E não foi esse o caso pelo visto.

Suspiro devagar, coço a nuca. Tá, muita calma nessa hora. Jeitinho, Milena, jeitinho. Tenho que fazê-lo ver como o próprio está se comportando e então trazer a razão de volta.

E lá vamos nós de novo.

– Ok, Vini, não me odeie pelo que vou dizer.

Após assumir esse tom de alerta...

– Só acho que isso... Isso é muito hipócrita da sua parte, viu.

– O que quer dizer?

– O que mais seria? Vini, vamos recapitular um instantinho, me acompanha nessa. Na primeira vez que você ficou lá em casa, EMBORA no quarto de hóspedes, você não ficou sozinho, ficou? Nós dividimos aquela cama e foi mais de uma noite.

– Sim, só que a gente só dorm...

– A gente só dormiu sim. Mas xiu, que não acabou. Independente disso, o Murilo não tinha sequer conhecimento dessas noites que passamos juntos. Nem nunca teve e provavelmente nunca terá, para nosso bem. Fora essas, teve as vezes que você ficou comigo no meu quarto. Uma vez tu até caiu da cama, lembra? Pra se esconder do Murilo, que tava todo lerdo por causa daquela medicação, quando ele machucou o ombro? Pois é, eu lembro bem. Isso sem falar das vezes que eu fiquei na sua casa, a gente sempre dividiu uma cama, nem que fosse só pra dormir mesmo. E outras e outras oportunidades e situações. Eu não tô dizendo que eles só dormiram ou outra coisa, eu tô dizendo que é feio da sua parte encarar isso como desrespeito e, pior, como se fosse motivo pra uma sexta guerra mundial.

Ele se cala enquanto diminui a velocidade para parar diante de um semáforo. Eu agradecia o fato de isso não estar o abalando a ponto de descontrolá-lo. Caso fosse, teria de tomar uma atitude drástica, nem que tivesse de arrancá-lo do volante.

Aborrecido, Vinícius quase afunda no seu banco e se mantém inquieto. Confuso era o que seu perfil me gritava. Com tudo o que eu dissera enfim ele pensava mais a respeito e abaixara a crista.

Porém, não desistia.

– Eu só... hum.

– Entendo que isso possa parecer difícil de ver de perto, e que queira cuidar de Djane, que ela não se machuque e tal, mas, de verdade, você vai magoá-la se discutir isso com ela. Pense em como os dois vão ficar constrangidos, poxa. Até outro dia quando o Murilo veio com esse papo pra cima de mim, foi estranho. E olha que vocês são amigos. Tu precisava ver a cara dele...

Acho que tô indo bem.

– Eu não tô dizendo pra você conversar sobre camisinhas, nem com o Murilo, nem com o Renat...

– MILENA, POXA!

Acho que não tô indo mais bem. Rio e não rio por rir, é mais como algo pra me manter sã e centrada, a conversa era séria demais para isso. Ainda bem que ele não volta a me interpretar mal.

– Me escuta, Vini, só me escuta. Isso pode não ser nada e isso pode ser um passo à frente na relação deles. Lembre-se que isso não é de agora, e Renato não desistiu, mesmo quando Djane foi “obrigada” a deixar tudo para trás. O que quer que seja, ela não vai pedir autorização. Isso eles resolvem, não você.

Novamente calado, Vini se preserva em pensamentos. Assim fica por uns minutos, não interrompo. Ele precisava de um tempinho consigo, ao menos para reconhecer e considerar tudo que argumentei, eu compreendia seu lado. Já me contentava com ele prestando atenção à missa, mesmo em vista de ele demorar para cumprimentar o padre.

Ele mostra isso bem quando passa de rádio quando a que estava sintonizada colocou para tocar We Found Love, da Rihanna, que era a “música de Djane” – melhor dizendo, a versão de Djane livre, leve e solta. Eu só o confortei tocando-lhe a mão assim que trocou de rádio.

Já chegando na rua de sua casa que ele torna a falar. Estava bem mais calmo, apesar de se reservar um pouco descontente com aquilo.

– Eu ainda não gosto, só pra você saber.

– Eu sei, amor, e sinto muito que se sinta assim.

– Mas você entende, não entende?

– Claro, Vini. Só não concordo. Você quer vê-la feliz, não quer?

– Quero.

– Então, desencana. Não se coloque em situação difícil mais do que já se sente. Até porque tem tudo para perder nos argumentos. Você não quer isso, quer?

Resistente e coçando os olhos, ele suspira.

– Não. Só não imaginei q...

Aí Vinícius meio que trava. Isso porque avista o carro de Renato lá na porta da casa dele de novo. Ele nada diz e nem precisa, sua postura revela tudo.

Acho que seria este seu teste de resistência.

Bom, eu estaria bem do seu lado.

~;~

Me recosto ao banco do carro, só observando a avenida pouco iluminada lá fora. Um tempo chuvoso se aproximava. Ao enfim olhar para o céu e lá na visão da natureza me deter, eu agradecia por a previsão ter alertado que não haveria um temporal e Murilo me confirmou que não haveria trovões. Era um alívio pensar que mesmo com todo o céu coberto de nuvens pesadas, estas que praticamente nem deixavam a lua dizer oi, essa noite seria mais uma de sono tranquilo.

– Milena? Está tudo bem?

Como que acordando pro mundo, me viro para Renato, ele quem me leva para casa de novo. Na semana passada, quando Vini queria porque queria me convencer a ficar e passar a noite com ele, por andar confuso com outras questões, outras histórias, não tive outra escolha senão enrolar meu próprio namorado. Fingi assentir que ficaria ali e embromei que iria só ao banheiro. Nunca voltei. Eu iria dar meu jeito de voltar pra casa, calculava isso enquanto saía do quarto dele, ligaria pro Murilo, chamaria um táxi, o que fosse, estava um pouco tarde.

Assim que irrompi à sala, topei com Renato e Djane no maior love. Eles eram tão fofos juntos. Me fez rir, discreta e feliz, como a primeira vez que realmente os peguei – quer dizer, eu e Gui, lá na faculdade. Foi com muito custo que os interrompi com um pigarreio. E aí lancei meu pedido de carona, assim como tão logo me expliquei, que Vini estava muito esgotado, eu não queria que ele tivesse que dirigir naquele estado, me preocupava.

Contei até que tinha passado um papo no namorado e que estava ali meio que fugida. Seria cômico se não fosse constrangedor o bastante. Renato concordou e o esperei na porta, dando-lhe uns minutinhos para se despedir de Djane. Já quanto a Vini, eu consegui fazê-lo acreditar que ele sonhou que eu havia dito sim para ficar e passar a noite.

– Está. Por que pergunta?

– Nada, só achei você meio tristinha.

Na realidade, ele quem parecia triste. Notei que estava muito calado, mas também não comentei nada. Bom, não tinha intimidade com ele o bastante para puxar história e eu que não ia me meter na discussão dele com Djane. Pensei em falar com ela, porém, como os ânimos estavam um pouco esquentados, foi melhor fazer com que Renato se retirasse e aproveitei para vir com ele, assim tanto Djane quanto Vinícius teriam um tempo para amainar.

– Acho que é o cansaço.

Mal falo e um bocejo me toma. De fato, foi um dia longo – e que começou cedo, com Vinícius de juízo perturbado, enfim calmo. Com muita coisa na cabeça, eu me reservava um tempinho também para só ver o chão passar, era de algum modo relaxante.

Meio sem jeito, Renato me dá umas olhadelas, como que hesitante sobre o que teve tão há pouco na casa de Djane. Percebo isso por visão periférica. Eu, por outro lado, me mantenho quieta, preferindo não invadir sua privacidade. Renato também parecia cansado. Havia com certeza algo mais do que foi presenciado, só não era educado perguntar, não assim na lata.

– Então... hã... Vinícius está chateado.

– Por que acha?

– Porque vi sangue nos olhos dele? Senti que não era mais bem-vindo.

Era a terceira vez só hoje que tinha que lidar com meu carona confuso. Digo, primeiro Gui, no caminho até a casa de Flávia, querendo entender o suposto surto de bondade de sua mãe, depois Vinícius, pirando sobre a mãe ter passado a noite com um homem em casa, e Renato, o tal homem, perdido por causa de uma briga com Djane. Se eu chegar em casa e Murilo estiver com problemas com Aline, eu vou pedir salário e regalias. Mimos, muitos mimos. Pelo menos com meu chefe Thiago e sua irmã as coisas andam indo bem, é menos um na lista.

De qualquer maneira, procuro tranquilizar o professor Carvalho.

– Eles podem não ser mãe e filhos consanguíneos, mas são sim farinha do mesmo saco, sabia? São durões e muito resistentes. Djane doente então, deve soltar um pouco de fogo no começo.

É, Djane se recusava a aceitar que estava começando a adoecer. Com o tempo mudando constantemente era difícil não pegar uma gripe ou algo do tipo. Murilo tava entupido de vitaminas, assim como eu, então pra gente estava mais fácil desviar de todo um muco. Já Djane... bom, ela dizia que era só uma coceirinha na garganta.

Logo que Vinícius estacionou o carro dentro da garagem, ele teimava em entrar e ter que encarar o casalzinho “sabendo o que ele sabia”. Reclamava que estavam de sacanagem contra ele, e eu praticamente tive que puxá-lo do carro e empurrá-lo pra casa.

– Vai, seu bobo.

– Bobo nada, e ele é outro que de bobo tem nada.

– Sem olhares acusadores, viu, bonitinho. Tô de olho em ti.

Ele resmungava.

– Vocês tão me torturando e nem posso fazer nada a respeito.

– O que foi que a gente combinou, hein?

– Táaaa.

E foi bem aí que entramos na sala e, sozinho, Renato levantou-se depressa, um pouco apreensivo. Veio até nós e eu segurei a mão de Vini para pará-lo em qualquer coisa que pudesse fazer ou reagir. Aí professor Carvalho revelou o que era sua preocupação.

Que Djane estava um pouco febril e recusava-se a tomar alguma coisa. Que foi uma dificuldade fazê-la largar o trabalho e ir pra casa. Que mal quis comer e ainda não largava uma série de documentos. Renato pedia nossa ajuda pra dobrar a mulher, para que averiguasse sobre a tal febre. Assentimos e esperamos que Djane voltasse à sala.

Assim que retornou, ela declarou antes de mais nada:

– Já sei que ele contou, nem precisa vir com essa pra cima de mim.

Eu ia permanecer fiel ao pedido do professor, mesmo com Djane se comportando daquele jeito, mas aí o Vinícius foi e traiu o movimento! Pior, entregou tudo de bandeja.

– Mãe, se for febre, a senhora tem que tomar alguma coisa.

Muito obrigada, Vini, por estragar o esquema.

Foi o que eu disse antes de dar um tapa em seu braço enquanto repreparávamos o jantar que Djane recusou de primeira. Foi com muito custo que ela aceitou comer alguma coisa, sempre afirmando que aquilo era um complô contra ela e que estava perfeitamente bem. A mulher era dura, não queria ceder.

Já na mesa de jantar que, bom, nem eu nem Vinícius estávamos presentes, mas ficou claro que Djane brigou com Renato. Assim que eu ouvi lá do quarto alguma coisa cair e se quebrar, Vini correu comigo para a sala. Não foi nada demais, só a jarra de água que Djane disse ter escorregado. Renato me confirmou na saída que foi isso que aconteceu mesmo, então não me preocupei de eles terem discutido feio ou algo do tipo a tal ponto. Eles só estavam brigados mesmo.

Pra todo caso, resolvi tirá-lo de lá, se ficou claro que Djane continuava esquentada e Vini... é, Vini não tava ajudando.

– Ela tá zangada comigo.

– Por causa da história da febre?

– Não exatamente. A febre é só uma ponta do iceberg. É que Djane anda trabalhando demais, o que me preocupa.

– Verdade, venho notado que ela tem chegado tarde e desgastada. Chega cansada e estressada. Ela não é mulher de parar, mas também não precisa tanto.

– Justamente, Milena. Só que não se trata apenas disso. É que... você sabe que as rematrículas começam amanhã, não sabe? Todo semestre é aquele alvoroço, por isso aumentaram o prazo, pra poder atender melhor os alunos. Aí vão começar essa semana, e não na última antes das férias, como de costume. O fato é que Djane está inscrita para dar aulas enquanto permanece nesse seu cargo atual. E você viu como foi difícil o semestre passado. Foi muito puxado pra ela.

De fato foi. E ainda tá sendo. Com o mês de férias o trabalho de Djane deveria ter diminuído e não foi bem o que aconteceu. Parece que fez foi triplicar. Renato vai me explicando com calma alguns casos, como de uma conferência nova que apareceu e ela deu um jeito de participar. São coisas importantes para a carreira, mas que para Djane já poderia ser dispensável, ela tem um bom histórico e, por assim dizer, “créditos” para deixar eventos como esses passarem. Djane não está descansando, ela está é trabalhando demais. Muito além do que deveria.

– Que fique entre nós, até a secretária dela já me abordou, também preocupada. Pediu segredo, bem sabendo como Djane é, mas conto a você... Glorinha pegou Djane dormindo sobre a mesa.

Eu me chocava, embora não devesse. Quer dizer, eu via aquilo e como às vezes Djane ficava um pouco doida por tanto trabalho, e não levei isso a sério. Ninguém ao que parece, a não ser Renato. Eles já tinham discutido isso antes e agora com o estado febril da mulher, ela não queria arredar o pé. Era bem desafiante enfrentá-la. Pelo visto, não era bem mais do tipo de coisa que dá pra se resolver com uma conversa, porque Renato já tinha feito isso e deu no que deu. Djane precisava de uma intervenção, Renato me afirma e eu concordo. Uma real intervenção, já que se tratava de saúde e com saúde não se brinca.

– A briga é que pedi a ela para solicitar dispensa do corpo docente, isso enquanto é tempo, dá pra arranjar professor substituto. Tenho até quem indicar. Aí com essa história de febre, Djane acha que tô arrumando desculpa. E agora, aliados. Ela não quer me ouvir e... Argh, me desculpe por isso. Não devia estar falando tudo isso.

– Não, tudo bem. Mostra que o senhor quer cuidar dela, só isso. Acho bonito.

Meu comentário parece desarmar o homem, que estaciona na porta de minha casa. Tava tão fofo que nem se Djane me enterrasse viva – o que provavelmente faria, talvez até sem pestanejar, eu o ajudaria, Renato estava começando a perder o controle da situação e precisava de reforço.

– Não queria ter que pedir isso, mas... Acha que consegue me ajudar?

– Sozinha não. A gente precisa de mais gente nessa parada, Djane não vai ceder fácil.

Sorrindo, embora triste, Renato balança a cabeça assentindo e já imagina o que estaria rodando em minha cabecinha. Ele se precipita, no entanto.

– Você já tem um plano, é isso?

– Não por exato. Mas vou pensar em algo e rápido.

– Vai falar com o Vinícius?

– Ele tem que estar no meio, não tem jeito. Ele precisa ceder também.

– Odeio ter que...

Ponho a mão em seu ombro, em solidariedade.

– Eu sei. E Djane também aposto. Vamos tentar, ok?

– Ok, fico mais tranquilo.

– Pra todo caso, se prepara. Vem chumbo grosso.

– Eu sei. Conheço beeeeeeeem a peça.

E eu, posso bem dizer como beeeeeeeeeeem conheço essa peça. Djane mal saberia pelo que poderia esperar, pois um plano, ah, um plano perfeito já se desdobrava em minha cabeça.


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Notas finais do capítulo

Então rolou briga, hein? Vinícius no meio... Confusão maior.
E agora um plano. O que será que dona Milena vai aprontar?

"Quando voltei, Djane ainda tava discutindo com as paredes, pois dona Ana se retirou para a cozinha, para fazer o almoço, e Murilo estava todo esticado, de sorriso maroto, no sofá, passando canal. E calado, deixando Djane surtar sozinha.
Quando ela me vê de volta à sala...
— Foi o Renato, não foi? Ele que começou isso tudo! Eu aposto que ele foi correr para você, Milena, aposto. Quero só ver quando... quando o Vinícius chegar e ver o que vocês fizeram."

Hohoho

E agora a parte 2 sobre o especial de trilha sonora de MoE! Podia escrever mil coisas sobre essa trilha sonora, mas vou destacar as “mais mais” da história. Vamo ver se vocês lembram?!

— Brianstorm (Arctic Monkeys): a cena da fuga do cachorro. Salve-se quem puder!
— Feels Like Tonight (Daughtry): quando o Vini quase se declara pra Milena um pouco antes do blecaute. Segura coração! É de morrer de amor *---*
— Dançando (Agridoce): Vini e Milena dançando no aniversário da Flávia. Muitos feels.
— The Truth (Kris Allen Feat. Pat Monahan): a crise por Vinícius ter descoberto a verdade sobre seus pais. Foi... complicado.
— You're The Reason Why (Lonestar): quando o Vini fica com ciúmes demais e vai atrás da Milena. Eles descobrem que os sentimentos eram mútuos. Fofo demais!
— Next To Me (Civil Twilight): a primeira noite do casal. Civil Twilight deu aquele toque especial à história.
— Dancing With Myself (Billy Idol): a trégua da Milena com o Murilo nas festividades de fim de ano. Havia esperança.
— So Small (ItaloBrothers): quando a Milena começava a entender que era hora de estabelecer novos limites para sua relação com Vini e Murilo, que ambos não entendiam a situação porque não sabiam A verdade sobre certo passado...
— Life In Color (One Republic): foi como uma nova resolução para a Milena de ser uma pessoa melhor e de ter uma “vida em cores”, verdadeira.
— Overprotected/Stronger (Britney Spears): representou o grito de Milena para afastar toda e qualquer proteção e mostrar que ainda havia muita coisa não resolvida entre ela e Murilo, coisas antigas.
— My Reply (The Ataris): foi uma tentativa de autopreservação quando a Milena reencontrou Eric e ele propôs por os pratos a limpo com a situação sobre a Denise.
— Everything Changes (Staind): o solo de guitarra simplesmente grita a quebra de limites entre Milena e Sávio, numa situação complicada.
— Everybody’s Changing (Keane): quando Milena se sente no limite por ter reencontrado Denise na viagem da faculdade e decide perdoar o Murilo. Isso marca uma fase bem delicada.
— Walking (Alexz Johnson): Alexz Johnson sempre norteou várias cenas e até partes da história e com essa música não foi diferente. Foi a quebra oficial das amarras da Milena, mas também um ponto alto de seus maiores medos.
— I Won’t Give Up (Jason Mraz): essa significou a aceitação e o júbilo entre Milena e Vinícius quando se reencontraram após a fuga. Foi lindo *----*
— Dark Side (Kelly Clarkson): essa teve um grande peso no reencontro da Milena com o Murilo, além de uma prenúncia de algo melhor. A letra basicamente fala por si quando diz “Mas nós valemos a pena -- Eu sei que você vale -- Você vai me amar? -- Mesmo com meu lado escuro?”.

Não tive noção de que as músicas se tornaram tantas enquanto não as uni numa playlist só. Já passaram de 100! – cof cof tbm, né, Alexis, se for contabilizar os capítulos cof cof abafa o caso – Dá até pra acompanhar as fases e temporadas ao listar tudo, quase como um guia. Tem música que não posso escutar sem inevitavelmente me lembrar da cena em que foi encaixada *----* Espero que vocês curtam tbm e marquem as cenas na memória de vocês.

Num próximo post vou trazer a última parte sobre a trilha sonora com músicas adversas que tiveram seu destaque na história. Já vão pensando em algumas aí, viu!

Até breve,

Alexis.



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