Mantendo O Equilíbrio - Finale escrita por Alexis terminando a história


Capítulo 40
Capítulo 39


Notas iniciais do capítulo

Ó o auê aê! Esse post é comemorativo!
Fez um aninho (dia 30 de julho) que estou postando MoE no Nyah!

Pensei em postar um cap dia 30, mas como seria só um, achei melhor esperar.
PQ HOJE TEM AQUELE COMBO. Não aqueeeeeeeeeeeeele combo, mas um bom combo rs.

A hst começou a ser escrita mesmo lá pra meio de 2011, postada pela primeira vez em um blog em 2012 (nem adianta procurar hahaha, foi retirado por abandono do blog) e postado aqui ano passado. Como eu tinha bastante capítulos comigo, vários eram postados em "combos" especiais (tenho saudades tbm, eram tantas doses por dia!).

A quem acompanhou desde o começo, meus obrigadas de sempre! Quem conheceu pelo meio da história, meus obrigadas tbm. E quem começou por agora (embora ainda estejam lá na outra página, na primeira temporada), BEM-VINDOS TODOS, espero que curtam a viagem e meus obrigadas por lerem essa história. Não sou de divulgar mto por aí, só continuo a escrever.

Espero que estejam curtindo e, qualquer coisa, só me gritar nos reviews (ou mensagem privada).

Bora ver se vocês acertaram quem falava no trechinho que foi liberado no cap. anterior? Bora.

Enjoy!



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Eu atentava o Gui por ele ter faltado a reunião na minha casa na quarta-feira à noite, em que rolou o mais louco jogo de Uno. Até minha mãe comentou nas fotos que foram AMPLAMENTE divulgadas pelas meninas nas redes sociais, depois me ligou tarde da noite pra reclamar que eu fazia a festa e não ia visitá-la. Embora eu estivesse de férias, não podia ir, pois tinha estágio e nem Murilo tava em condições de sair, ele já tinha faltado muito. Visita de fim de semana também não dava porque ele tava um pouco sobrecarregado com seu trabalho, sem falar que tínhamos algumas coisas de casa pra resolver. Enfim, não adiantava o nosso argumento, nossa mãe choramingava no telefone morrendo de saudades. Seu trabalho também andava pesado, então nenhuma condição de ela nos visitar.

Também tava pilhando meu amigo, eu dizia a ele que o Bruno queria roubar seu trono – porque o Gui se propagava o rei maior e que na hora de cuidar de todo mundo na festa láaaaaa na viagem, só tinha sobrado pra ele. Mentira. Pior era eu que tava sob a supervisão dele em alto nível alcóolico. Murilo dizia que era história minha.

Estávamos na nossa mesa da lanchonete, ainda na empresa Muniz. É nosso point de encontro pós-expediente. Cheguei primeiro que ele e já encontrei Iara de papo com umas meninas do R.H. Ao que parecia, discutiam sobre um cara que anda dando em cima de umas funcionárias, e uma delas na mesa já tinha o notificado duas vezes com denúncia. Mais uma e ele seria suspenso. O cara devia mesmo estar incomodando, incitei, entrando na conversa. Iara afirmou que logo iria me mostrar quem era quando tivesse a oportunidade, pra eu evitar cruzar com esse tal. Ele não anda muito pela área por onde trabalho, mas né, pra evitar esse tipo de cidadão, eu tava comprando bem a ideia de me afastar ao máximo. Ainda corria uns rumores e super teorias sobre o caso do André. Não que eu ou Iara comentássemos algo além do nosso círculo íntimo, que se resumia a Gui, Thiago e Filipe.

Assim que as meninas se levantaram para ir embora, o Gui chegou e descansou na cadeira, anunciando:

– Acho melhor a gente dar um tempo aqui que lá fora tá o maior pé d’água. O trânsito deve tá daquele jeito, só íamos ficar parados.

Iara até resmungou:

– Poxa, e eu que queria chegar cedo em casa hoje. Acho que vou matar tempo também.

E foi aí que comecei a dar indiretas diretas sobre a noite que ele perdeu, que ele viu as fotos, não conseguiu ler os mil comentários e reclamou que foi injusto, pois realmente não podia ir. Eu tava detalhando o que a gente tinha aprontado e que a Iara embora tivesse sido a primeira a chegar a Uno no jogo, quem venceu mesmo foi a Flávia com as vendas nos olhos! Foi a mutretagem mais mutretagem de todas, pois ela não tinha controle de nada e ainda assim, conseguiu ganhar de todos.

– E qual foi o segredo que minha doce e encantadora namorada revelou?

Impressão minha ou ele tava tremendo na base pra saber se Flá tinha contado algo sobre ele? Risonha, dou um peteleco na testa dele, e acrescento:

– Quem disse que podemos comentar, bonitinho?

Iara também se manifesta, pra provocar.

– Não vale, ele não tava lá. Assim ele vai saber o meu segredo também.

Muito presunçoso, ele se recostou no espaldar da cadeira e se esticou a ponto de apoiar as pernas numa cadeira vazia ao lado. Como tava chovendo muito ainda – era incrível que a ala da lanchonete era praticamente a prova de som, pois não se ouvia a tempestade lá de fora – muitas pessoas ficaram presas na empresa esperando dar um break para irem embora.

– Tudo bem. Eu sei de maneiras pra arrancar tudinho da Flávia.

– Nem tente, bonitinho, o último que tentou algo contra a Iara... Bom, não sobreviveu pra contar.

Iara se vira pra mim:

– Milena, tu tá contando!

– Mas ele não tá entendendo.

– Talvez eu esteja.

Balanço a cabeça negativamente pra reafirmar que ele não tava, ele queria era provocar Iara, porque ela também não queria liberar o ouro pra ele. Eu ia mudar de tática quando o celular dela começou a vibrar em cima da mesa, tava no silencioso ainda. Fiquei curiosa de ouvir a música que era, ela disse que tinha trocado já.

– Ah, legal, quando meu pai começa a ligar essa hora... Alô? Aham. Tá chovendo muito e... É, deixei na sua mesa. Ah, não sei. Ok. Talvez três. Isso. Tá, tô indo aí.

Ajeitando sua vestimenta, Iara termina seu suco e se despede pra resolver um pepino de última hora que Filipe chamou. Aproveito o embalo e faço pedido de um lanche no balcão, junto com o de Aguinaldo, que parecia tão cansado, jogado na mesa. Assim que eu voltei para a mesa, lembrei de uma coisa que aconteceu essa tarde.

Bem, o supervisor de Gui havia me deixado encucada.

Mais cedo, quando eu estava saindo do banheiro – estou quase para deixar uma blusa de reserva no armário dos estagiários, me sujo fácil de café. Mas dessa vez foi culpa da Nina contando piadinha na mesa de café e eu simplesmente explodi em risos por uma – topei com o chefe dele. Na realidade, foi o cara que me pausou, assim, do nada:

– O que há com seu namorado, hein?

Primeiro, me espantei, claro. Segundo, ele sabia do Vini? Ele sabia que o Vini era filho do chefão? Ah, droga!, pensei.

– Meu namorado? O senhor o conhece?

Ele ficou desconfiado e um pouco incrédulo pela minha questão:

– Então o Aguinaldo não é seu namorado? É seu amante?

Wow, wow, wow. Eu ia esclarecer aquela bagaça de uma vez por todas – principalmente porque ele começou a divagar com um “essa juventude de hoje em dia”, mas deixei pra trás assim que me toquei que aquilo poderia ser sério. Na quinta eu não vi o Gui por quase o expediente todo, e nem voltei com ele, pois Vini foi me buscar, e hoje, sexta-feira, ainda não tinha o visto também. Só imaginei que ele estivesse bem ocupado.

– Aguinaldo? Mas ele não... Espera, o que tem ele?

– Não sei, esperava que você me dissesse.

– Hum... Com licença, então.

Resolvo abordar:

– Seu supervisor tava me perguntando hoje se eu sabia o que você tinha... Aconteceu algo?

Ele faz que lembra, e fecha os olhos, ainda jogado na cadeira, passando as mãos pelo rosto e cabelo, demonstrando cansaço e fartura daquilo.

– Ah, isso. Eu só... tava um pouco chateado mais cedo. Meu pai me ligou e a gente discutiu. Ele queria porque queria que eu arrumasse um contato pra ele naquela hora, que ele precisava, e eu tava trabalhando, não dava, aí ele começou a implicar com meu trabalho, ele dizia que era pra eu estar na empresa dele, e não fazendo a droga que eu fazia e, enfim, meu chefe me pegou numa hora ruim. Me desculpei e tal, só que acho que ele ficou um pouco suspeito.

– Hum, que chato. Ele pareceu um pouco preocupado quando nos encontramos. E agora acha que somos amantes.

Gui parece despertar quando solto essa última informação:

– O qu...?

– Ele veio com uma de “O que há com seu namorado?” e eu toda “Meu Deus, ele sabe do Vini!”. Só que não, ele achava que tu era meu namorado. Quando eu dei a entender que não, e que tinha outro na parada, ele perguntou se éramos amantes. Na cara dura! Mas aí não deu pra explicar de novo porque eu fiquei preocupada com isso... de que tinha acontecido algo e...

– Acho que nunca damos sorte de esclarecer isso....

Risonho, mas agradecido pela preocupação, Gui relaxa mais na cadeira. Só que não demora muito, ele fica tenso de novo. Noto primeiro por ele ter franzido sua expressão e pelo modo com que guardou o celular no bolso da calça, após ter mandado alguma mensagem. Fica tão tenso que até se ajeita melhor no seu assento. Fico achando que era sobre a mensagem, talvez seu pai perturbando-o de novo? Gui hesita e eu espero que ele diga.

E o que ele diz, bem... Me pega de surpresa.

– Escuta, Mi, eu queria conversar uma coisa com você e... agora que temos um tempo... Pode ser?

– Claro. Do que se trata?

– Bem... na segunda-feira, que brigamos, você deu a entender que queria me contar uma coisa. E não quero forçar a barra de novo, só... só que.... hã... eu tenho uma pergunta. Quer dizer, eu soube de umas coisas e...

Ele tava me deixando apreensiva com tanta coisa vaga.

– O caso é que na quarta, que não pude ir na sua casa... bom, foi porque eu tava vendo umas paradas do apartamento que tô querendo dividir com meu primo.

Eu ainda tava boiando e devo ter demonstrado bem. Por outro lado, meu amigo não parecia estar encontrando as palavras certas e, olhando demasiadamente para suas mãos em punho sobre a mesa e enfezado de repente, demorava em dizer algo de concreto.

– Eu... encontrei o Sávio.

Em seguida, Gui levanta o rosto e declara desgostoso para mim:

– E nós brigamos.

~;~

Mais dia ou menos dia eu iria me ver falando isso de qualquer maneira, acho que então havia chegado a hora. Não tinha por que mais oferecer resistência, ainda que fosse uma péssima memória.

– Lembra daquela calourada que fomos logo que entramos na faculdade? Que a gente se encontrou na saída? Naquela hora que eu tava indo embora... bom, antes disso, eu tinha ouvido um grupo de caras apostando sobre pegar garotas. Do que me lembre, faltava apenas uma para o André fechar o “pacote”... Era eu, entendi pela maneira com que eles descreviam. Me dissecaram... e não foi de uma boa maneira. O fato é que eles armavam pra pegar meninas, e foi nessa que Flá deve ter caído naquela noite.

A lanchonete estava mais vazia, mas pelo que tinha ouvido de um e outro funcionário indo e vindo, a chuva ainda não tinha dado trégua. Como não ouvíamos sequer um tilintar de gotas naquele lugar, tudo parecia muito pacífico. Vi a hora que os seguranças mudaram de turno, que os funcionários da noite se aprontavam para o expediente e nós permanecíamos ali.

Gui começou por me contar sobre a questão do apartamento enquanto comíamos devagar, aquilo era para me ambientar da situação, mas ele não se deteve muito ao assunto, apesar de ter enrolado um pouco. Apenas sei que ele quer sair de casa, tá planejando dividir um aluguel com o primo e por isso estavam vendo uns anúncios faz um tempo. Na noite de quarta-feira, eles foram visitar o primeiro de uma seleção que fizeram, falar com o senhorio e tal. Ao sair de lá, o carro do primo deu prego. A sorte é que tinha um mecânico perto e eles conseguiram atendimento.

Foi lá que Gui encontrou Sávio. Ao que este disse, estava lá monitorando uma entrega de material da loja do tio e ficou no estabelecimento porque o dono teve que buscar não sei o quê pra que o Sávio levasse para esse tio. Enquanto o primo era atendido por um dos funcionários, Gui escolheu esse momento para conversar com Sávio. Afinal, admitiu estar chateado com nosso companheiro de turma por causa daquele fatídico dia em que Murilo esmurrou André, que Sávio foi uma das testemunhas que seguiu pra delegacia com André. Meu melhor amigo não tinha me contado nada sobre isso até então – ninguém, na verdade.

Gui tomou aquilo como traição, como imagino que outras pessoas que saibam sobre essa ida à delegacia – e ainda não tenho noção bem de quem viu – também tenham. Gui não quis dizer-me tal história porque em primeira instância eu tinha problemas maiores para lidar ao momento e não quis ele que eu me decepcionasse com Sávio. Ele também achava super estranho como em dadas horas Sávio simplesmente era do nosso grupo, era amigo e parceiro, e noutras horas, ele enveredava-se para o grupinho de André. Além de estranhar, não gostava. Porém, por respeito a mim e à amizade que eu tinha com Sávio, Gui preferiu guardar esse detalhe. Até essa noite.

Acontece que Gui bateu de frente com Sávio, eles não se viam desde aquele trágico dia. Na ocasião, Sávio havia até me barrado de me meter na confusão, ele me segurava enquanto eu me debatia para fazer algo. Uma coisa que bem estranhei também e não pude me deter àquela hora foi que fui incisiva de perguntar a ele se não iria ajudar o amigo dele que estava apanhando. Ele respondeu-me apenas que André não era seu amigo. Só que a forma com que disse que... que foi suspeito. Eu não entendi na hora e também nunca entendia o que era aquele comportamento dele em relação a André, como ele se bandeava para o lado desse filho da mãe.

Uma vez, porém, fui lembrando-me aos poucos, ele chegou a falar que poderia explicar, mas, ante as circunstâncias, ele não poderia. Por causa dos limites que eu havia traçado a ele. Primeiro me disse quando me ajudou na vez em que eu sumi, depois, quando as coisas se acalmaram. Recordo da vez em que conversamos no saguão do prédio de Iara, que foi onde me refugiei, e de um breve diálogo nosso no pé da escada, na faculdade.

Em suas palavras, enquanto buscava me tranquilizar de minha fuga, ele afirmou algo como “só espero que um dia eu possa te contar como as coisas realmente aconteceram”, e na outra vez, desviando de minhas perguntas, “não é apenas a melhor hora”, que não dava para discutir o assunto, por mais que tivesse com ele as respostas. “Existem limites. Que você mesma estabeleceu. Então me deixe te respeitar, tudo bem?”. Desde então, não houve mais nada. Eu não procurei saber, ele não procurou esclarecer. Pelo menos não que eu saiba.

Flávia mesmo já tinha comentado que “ao mesmo tempo em que ele parecia muito certo, tinha algo muito errado com ele”. Para falar a verdade, eu não saberia dizer se tinha realmente o perdoado sobre aquilo da viagem, sua atitude insolente e aquele beijo. Procurei também não entender muito daquela sua explicação. Embora não tivesse ocorrido há muito tempo, eu sentia assim. Sentia como algo longe, muito longe de mim. Aos poucos fui me afastando e, com toda essa bagunça de vida, foi fácil me distanciar, ainda que de vez em quando a falta dele fosse grande. Como ele havia me perguntado ao fim da viagem, o fato era que não seríamos mais os mesmos. Então essa falta não era algo que eu poderia suprir.

No entanto, Sávio teria se reafirmado em um intento, de ainda reconquistar minha confiança. Era estranho pensar sobre isso, vez que sua presença agora não passava de uma lembrança. Desde aquela noite também eu não o via, tampouco tinha muito contato, que se resumia por vezes em troca de mensagens. Quer dizer, ele me enviava sms, às vezes falava no chat do e-mail, mas eu também acabava por não responder muita coisa. Ainda não tinha parado para pensar sobre esse momento por exato em que ele afirmara não ser amigo de André.

Eu já começava a interpretar à minha maneira ao que Gui me contava, de Sávio ter ido à delegacia como testemunha. Estava considerando traição também quando meu amigo me esclareceu. Gui não estava claramente confortável sobre aquilo, contudo.

– Mas ele diz ter ido, Mi, para te ajudar.

– Como? Me ajudar?

– Disse que não era pra corroborar ao que André reclamava. Era pra te defender. Sávio fez um testemunho contra.

Ele... fez? Minha boca deve ter ido ao chão como qualquer desenho animado daqueles quando era surpreendido. E me surpreendo apenas MUITO. Essa eu não poderia cogitar! Tampouco ao que Gui persistiu em continuar:

– Ele disse que era uma recompensação sobre o erro dele. Que ele devia isso a você, era o mínimo e ao alcance dele. Só que aí, Mi, aí que eu não entendi nada. Tipo, que raio de erro foi esse? Por que ele te devia? Eu já ia questionar quando ele começou a falar sobre o que rolou na delegacia.

Me deu uma sensação ruim quando meu melhor amigo veio com as perguntas. Até parei de mexer no meu canudinho do suco, enquanto Gui mesmo parecia um pouco perdido. Mas aí, tocar no assunto da delegacia, tornava tudo mais estranho. Era um ponto de vista que eu alcançava pelas impressões de Gui, não diretamente de Sávio. Por um momento, eu quis tê-las ouvido dele mesmo.

Até porque nem de Filipe eu tinha ouvido sobre essa parte em questão.

– Ao que parece, ele conhecia o advogado do André. Porque, sim, o infeliz também fez algazarra lá dentro com exigências, querendo privilégios, ofendeu um dos policiais, e o delegado mandou ele preso por desacato. Nessa hora, ninguém, dos caras que acompanhavam André, se manifestou. Só foram colher depoimento mesmo depois de André ter sido preso, e quem testemunhou foi ele e aquele Tony. Devia ele nem saber no que tava se metendo. O resto deu pra trás. Aí o advogado apareceu e Sávio conversou um pouco com ele sobre o caso.

Eu encarava a mesa tentando projetar aquela imagem e acho que eu podia ver. Ver Sávio sentado, falando com o policial, respondendo às perguntas de maneira a me ajudar. Não é que eu não poderia cogitar Sávio fazendo isso por mim, eu não pude cogitar era ele tomar atitude contra André, não dessa maneira. Ele é o tipo de pessoa que se afasta de atenções, que não gosta de se meter nas coisas dos outros. E, argh, e como ainda assim ele vivia na cola de André?

Longe daquele espaço da lanchonete, acaba que me vem um flash de memória para me confundir mais. Sávio estava sério ao abordar o assunto “André perturbando” comigo. Foi logo que eu tinha dado um soco no desgraçado por ter plantado documentos do serviço na minha pasta de estudante.

– Se ele fizer algo mais, você me contaria?

Me surpreendi pelo seu tom... como se contivesse uma raiva interior? Me pareceu Vinícius uma vez quando me questionara sobre as atitudes do enfermeiro bonito sobre mim. Impressão minha talvez.

– Do que está falando?

– André.

– Por quê?

Sávio mexeu a mandíbula de forma que me dizia que algo estava errado sem querer pronunciar as palavras exatas. Quando ele se fecha, é assim que reage. Ele não fazia isso tem um tempo. Quando achei que não falaria mais, ele me deu uma resposta:

– Posso ser pacifista, mas ninguém mexe com qu... com meus amigos desse jeito e deixo barato. Alguém tem que dar uma lição nesse cara.

– Pensei que fossem amigos...

– Algumas coisas não são o que parecem.

A verdade é que eu tinha vários sinais sobre o comportamento de Sávio em minha memória e ainda assim, as coisas não faziam o seu devido sentido. O mistério sempre o rondava e, pelo jeito, perdurava. E agora alcançava o Gui.

– E aí, Mi, ele me contou de algo que...

A pausa dele dava espaço para algo mais, que parecia exigir de seu controle. Sem mais comer, ele afastou o prato com o resto de seu sanduíche e inspirou, em busca talvez de aliviar a pressão. Era mais que desconforto, havia uma sombra ao rosto de meu amigo. Raiva. Desgosto. Ultraje. Algo estaria borbulhando.

Tive que dar a entender que ele continuasse, ou eu também não aguentaria. Sem olhar para meu lado, sua voz tensa era a única coisa que pareceu direta a mim:

– Que...?

– Que me deixou maluco.

– Que tipo de coisa?

– Coisas sobre André. E em como ele... te perseguia.

Não minto, por um segundo ou dois, eu achei... Achei que seria sobre o beijo. Mas não. Por isso eu trazia a questão daquela velha calourada, onde tudo começou. Onde Flávia na mesma noite já havia sido escalada e passado pelo esquema de André. Apostaria que eu não ficaria com ele mesmo se não tivesse ouvido aquela conversa, e justamente por ouvi-la, que tive conhecimento do real caráter daquele infeliz. Ao primeiro momento apenas o achei um conquistador, que tinha lá uma beleza considerável para se apegar com as garotas, mas aquele seu modo de falar... aquilo gerou um desprezo imediato de minha parte.

Eu só quis ir embora daquela festa, tinha discutido com Murilo antes da festa, sobre eu ter que sair e eu tinha inventado que era uma saída com antigos contatos da escola. Menti porque ele ainda era muito meticuloso comigo sobre me proteger e não fazia muito tempo que tínhamos nos reaproximado. Se eu chegasse a dizer o que me fez voltar cedo, ele pegaria no meu pé, fantasiaria sobre as razões, iríamos brigar de novo e... é, o jeito era me manter calada. Peguei o caminho mais fácil.

Só que manter tudo isso de André em segredo acabou por proteger o desgraçado de toda uma fila de protetores e defensores meus.

As mãos rígidas de Gui estavam sobre a mesa, uma massacrando a outra com força, e ele por todo parecia trincado. Suspirei por ele ter tido conhecimento basicamente por outra pessoa, e, por óbvio, eu queria o tranquilizar. Que aquilo havia passado e que ele foi pra mim um anjo que apareceu na porta. Sobrepus as minhas mãos às dele e, branda, venho a declarar:

– Você não sabe o quanto eu agradeço até hoje por ter te visto naquela noite, Gui. Um rosto conhecido e, decerto, confiável. Você apareceu na hora certa.

– Aquela festa tava uma droga, isso sim. Mas você poderia ter me dito sobre isso... de André. Alguma vez durante esse tempo todo. Porra, Milena!

Diferente da nossa última briga, Gui não tenta se afastar de mim. Mas continua consideravelmente raivoso com isso e eu tento contornar com minhas explicações.

– Achei mais fácil não mencionar. Não quis me nominar uma vítima. Eu escapei.

Dessa vez, no entanto, ele se volta pra mim, zangado. Não havia como dizer se era por mim, André, Sávio, ou pela situação. Ou tudo.

– Mas não por muito tempo, Mi. Caramba, o Sávio me contou tanta coisa que... Puta merda, Mi! Em quase três anos eu só vi uns casos e de repente o SÁVIO tava SABENDO MAIS DO QUE EU?

– O que ele tava sabendo, afinal?

Gui desvia o olhar novamente, jogando-se ao espaldar na cadeira, suspira cansado. Hesitava isso sim.

– O que era, Gui? Fala!

– Sávio sabia desse esquema aí. Sabia por que André implicava com você. Disse que às vezes discutia feio com ele ou outro quando você virava tópico de conversa entre os caras... por causa dos rolos da faculdade, que tava tendo com o professor Bart e Djane. Disse que te defendia, mas não resolvia muita coisa. De qualquer forma, ele acabava sabendo por estar no meio deles, e eu... Bom, você nunca contava. Eu devia ter desconfiado que havia algo mais pra vocês guerrearem tanto.

Meu melhor amigo se torturava. Mas posso apostar que no fundo, estamos todos chateados por não ter podido ter feito alguma coisa também, senão, ter percebido mais. Estamos chateados com nós mesmos. A voz de Djane me soa na cabeça, ela me consolava por aquela outra briga com Gui. E tinha tanta, tanta, tanta razão sobre isso.

– E de pensar que eu fiz com que você ficasse com a vaga para trabalhar ao lado daquele merda, o quanto não teve que aguentar, e-eu...

– Gui...

– Não tô te odiando, Lena, não é isso. Também não vou me zangar ou me chatear pelos seus feitos, não quero briga, eu só... só... sinto que falhei, droga. Eu devia t...!

– Não, Gui, não vamos por esse caminho, ok? Além do mais, o que quer que saísse da boca de André a meu respeito eram só latidos. Sim, ele me perturbou muito. Foi uma paz ele ter ficado um semestre fora, e foi um inferno ele ter caído na nossa turma por ter perdido esse período. Agora já passou. A pior parte já passou.

Queria poder dizer que já podíamos respirar, mas algo nele apenas me afirmou que não. O modo como sua testa voltou a se franzir, a sua frustração dá vez para a tensão novamente, que cruzou os braços, mas tão logo elevou um braço e sua mão tomou seu rosto, Gui balançando a cabeça como se negasse aquilo a ele mesmo... Gui não acreditava que tinha passado mesmo. Não teria como o condenar por isso.

Ou por isso:

– Não, Mi... Tem mais.

Não gosto de como isso soa. Não gosto como ele parece travar.

– Mais o quê? Sobre André?

– Não. Sobre o motivo de nossa real briga. O motivo para eu ter dado um soc...

Meu amigo toma fôlego enquanto eu seguro o meu:

– Dois socos no Sávio.

GUI O QUÊ?

– Ele te beijou.


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Notas finais do capítulo

WOW, MANO, WOW.



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