Mantendo O Equilíbrio - Finale escrita por Alexis terminando a história


Capítulo 30
Capítulo 29


Notas iniciais do capítulo

Dpois de um bom tempo com o site fora do ar, achei legal pegar vcs com uma surpresa...
Surpresas, na verdade. Espero que gostem o/

Enjoy!!



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O mundo se torna distante quando me enervo a ponto de não ver outra coisa senão o escuro de toda minha ira, e só me sobra o anseio de acabar com quem ousou interferir na minha vida ou, mais alucinante, na vida de quem eu amo e cuido. Me torno outro, sem arrependimentos. Comigo a raiva não apenas chega a um limite, ela transborda, e não somente pinga pelas beiradas, ela se derrama até que eu aniquile o ser que miro cautelosamente. Como o fogo que não se apaga até toda a matéria se desfizer, sinto que minha fúria não se acabará até não infligir toda a dor que preciso que meu inimigo sinta.

Sei que as pessoas pensam que a visão que tenho de minha irmã, Milena, é que ela é alguém muito frágil. Pelo contrário, ela é forte até demais que me espanta, e me orgulha, admito e admiro. Ela carrega mundos em suas costas sem mesmo dizer nada a respeito. Se for necessário, Milena o faz sem pestanejar. Como seu irmão, sempre o que quis era tirar todo esse peso dela, pois essa deveria ser minha função, protegê-la até dela mesma, ainda que isso me fizesse esquecer a mim próprio. Isso infelizmente se tornou uma obsessão, da qual ultimamente tenho tentado me controlar. Mas não dessa vez.

Eu não ouço as buzinas que provavelmente apitaram para mim, não ouço os xingamentos que me gritaram, não vejo nada e não sigo nada, senão o carro daquele desgraçado que não sabe com quem mexeu.

Minha irmã pode não merecer o que eu mesmo infrinjo a ela, mas outro mais eu não deixo. Uma coisa é ser o vilão do seu não-conto-de-fadas, se a Milena considera que minha proteção é ultrajante e sufocadora, e outra totalmente diferente é permitir que um sujeito infame toque-a, manche-a, e ele sair respirando como bem entende depois. Me ferve a cabeça só de pensar que houve alguém para a ameaçar e pior ainda, para se aproveitar dela. Que abusou de uma força masculina para se sobrepor às defesas dela. Mal posso respirar só de imaginar, e mal posso me conter enquanto existe certa distância que me separa do alvo.

Apesar de pequena, Milena tem uma forte presença, que a faz maior do pensa. Mas para mim, ela sempre será a minha pequena, a minha irmãzinha, a quem vou defender a qualquer custo, sob qualquer circunstância. Meu amor por ela é tanto que me cega e não me importo nenhum pouco sobre isso. Como agora, sinto-me cego, pela raiva porém, e determinado. Isso me alucina. O que é até melhor, pois significa que posso implicar mais força ao destroçar esse canalha chamado André Hermani.

Meu estado é de pura loucura. E conforme sigo esse cara feito um maníaco pelas avenidas e ruas, sinto que minhas forças aproveitam para se unir, de forma que há tensão em todo meu corpo e anseio mais ainda por poder descarregá-la por completo nesse ser.

Nesse momento não há promessa essa que me detenha, nem mesmo o discurso dela, ou a mágoa que eu possa gerar. Não importa o quanto eu a decepcione por fazer, quer dizer, cumprir meu papel de guardião. Já falhei outras vezes, essa não irá passar, tampouco escapar de meus punhos assim facilmente. Ninguém toca nela e anda depois. Ninguém.

Ultimamente tenho deixado uns passarem, por causa de nossa difícil relação. Não hoje, não agora. Que se dane! Denise que me aguarde, o que é dela tá guardado. Mas esse tal de Hermani, que vem faz um tempo a prejudicando, ah, hoje ele vai levar a conta toda.

Me chame de doente, de homicida, de qualquer coisa. Não me importo mesmo. Pra mim não há na verdade nome específico para isso que sinto e que preciso liberar. Apenas sinto, e me parece o bastante. Se amá-la desse jeito me torna agressivo, que assim seja. Ainda mais agora, que é necessário. Altamente necessário acabar com esse André.

Não há como esperar por uma opinião dela, nem mesmo que me desse carta branca, o que acho muito difícil. Pelo que Milena merece, eu não serei um cara legal. Não com esse pedaço de merda que descobri ser esse tal Hermani. Quando ele estacionar, que Deus me ajude, eu vou fazê-lo pagar até pelo que ele não fez, para que sequer pense em realizar. Ele mal me verá senão um borrão que o jogará ao inferno.

E como meus punhos desejam isso.

– Fala.

Se não fosse o modo vibrante do meu celular ao bolso, provavelmente nem notaria que havia uma chamada. Atendo sem ao menos verificar quem seja, pois meus olhos estão cravados somente em um carro a poucos metros à minha frente.

– Cara, onde você tá?

Vinícius.

– Na rua.

– Olha, Filipe me ligou dizendo que você saiu transtornado lá da empresa. E tipo, FILIPE me ligou! O que aconteceu?

Tenho que desligar para não perder o foco. Tento ser breve:

– Eu preciso acertar as contas com alguém.

– Iara me ligou em seguida também, eu não tô entendendo mais nada. Ela me pediu para te impedir. Impedir de quê? O que aconteceu, droga?

Já devia era ter desligado, mas não consigo dar um total perdido em Vinícius. Ele merecia saber, afinal. Assim praticamente cuspo as palavras de tão trincado que me sentia.

– O canalha abusou dela.

Vinícius, infelizmente, não me compreende de primeira e se não fosse ele ser quem é, eu já teria desligado mesmo, sem me importar.

– Filipe abusou da Milena? QUE PORRA É ESSA?

– Não ele, o desgraçado do Hermani. Aquele que já havia prejudicado ela. Tô na cola dele. Não me diga para parar, Vinícius, porque nada irá me fazer parar agora até eu terminar isso.

Apesar de hesitar num primeiro instante, sei que nele posso confiar.

– E-eu... Você está pegando que caminho?

– O da faculdade dela.

– Ok, te encontro lá.

Desligo e jogo o aparelho no banco ao lado. Um pouco mais a minha frente, o infame se mantinha escondido em seu carro luxuoso e fechado. As poucas palavras que Filipe conseguiu me dizer depois de esse cara fugir eram que o destino do vagabundo era a faculdade. Se era lá que ele costumava dar seu show, hoje pode ter certeza que ele vai ter um bem diferente.

Mal esperava por ele parar aquele carro, eu nem precisaria estacionar.

Mais um pouco e... logo o teria em minhas mãos nada gentis.

~;~

Ofeguei quando cheguei à catraca de entrada e percebi um movimento lá fora. Era uma gritaria de horror e acalorada, sem muita dica sobre o que ocorria. Os seguranças correram logo que foram chamados, pois alguém veio lá de fora para a área perto da recepção, onde os guardas geralmente ficavam. Esse alguém que mal vi, por estar um pouco escuro, anunciou uma briga. Briga feia.

Não havia muitos alunos por ali, o que facilitou minha passagem, assim pulei a catraca na adrenalina, já que não daria tempo de puxar meu cartão da instituição e me lancei na rampa de entrada tentando entender o que era aquilo. Ouvi meus amigos me chamarem um pouco mais atrás, não dei atenção. Eu não podia esperar por eles, iria ver o que acontecia lá fora.

Quanto mais me aproximava, eu pedia que não fosse o que imaginava ser. Não queria acreditar. As pessoas na calçada iam se acumulando entre alunos, funcionários e transeuntes. Os seguranças atravessaram as barreiras que essa gente fazia e eu me enfiei lá junto, aproveitando a passagem. Quando dei por mim, estava dentro da roda maior. Num giro rápido para me ambientar vi, vi que a rua, que é uma variante da avenida, estava fechada mais na frente para passagens de carros por um em específico estar no meio.

Era o carro de Murilo.

Só aí eu gelei. E as coisas meio que rodaram. Me sentia perdida imersa ali, sem saber para onde olhar, afinal, estava escuro e haviam muitos rostos desconhecidos. Então me forcei a respirar, a focar em algo, e aí vi. Quer dizer, ouvi as pessoas mais amontoadas para o canto daquela roda toda, formando outra roda, e essa sim a da briga. Ouvi umas pessoas incentivando, outras solicitando ajuda dos seguranças, que aparentemente nada faziam.

De fato, os dois guardinhas do prédio estavam parados assistindo a cena. Assim que os avistei, corri de novo, alucinada. Os barulhos secos dos golpes se misturavam à comoção daquele povo todo e quando ouvi um urro, foi arrebatador. Bem pior que ver o carro de meu irmão estacionado de qualquer jeito, era ouvi-lo naquela luta.

Ele soube! Não sei como, mas soube do problema com André, pois era ele quem Murilo atacava. Ao chão, os dois se engalfinhavam e começavam a rolar. Levei a mão ao rosto, horrorizada e assustada, não sei se pela situação ou pela ira que consegui capturar por todo o corpo tenso de meu irmão, que disferia golpes e mais golpes com uma fúria que nunca vi. Era brutal. Visivelmente André sangrava e os dois urravam mais ainda, falando coisas inteligíveis, pois eu não os entendia.

Vi que um funcionário, que não lembro o nome, pedia a um dos seguranças para intervir, que ao menos separasse. Mas o cara negou, incerto de qualquer coisa. Claro que ele sabia que quem apanhava ali era aluno da instituição, e que aluno era esse, porque André é dessas pessoas que adora se fazer conhecido, como se mandasse e desmandasse em qualquer coisa só pelo poder de seu sobrenome.

Isso não o ajudava agora.

Não sabia dizer se o segurança nada fazia por a briga não estar se realizando tecnicamente dentro da área da faculdade – o estacionamento da frente era aberto ao público da rua, ocupado boa parte pelos alunos, mas não era exclusivo da faculdade como era o campo de trás – ou achavam que André merecia o que levava. Podiam usar a primeira desculpa como defesa de si, porém, na minha cabeça, era mais fácil acreditar que era pela segunda teoria.

Eu tentei me aproximar mais, não sei pra quê, não tinha ideia do que fazer para que parassem. Se os seguranças nada faziam, o que seria de mim lá no meio? Não teria força alguma, mas sei lá, aquilo mexeu demais comigo que, quando vi, já gritava. Minha voz se perdia mesmo que gritasse a plenos pulmões. Murilo não ia parar, era visível com toda a força que aplicava, por isso eu pedia, eu gritava para as pessoas. Que elas fizessem algo já que eu sozinha não daria conta. Eu tinha muito medo do quanto Murilo poderia bater mais, ele poderia matar André só de espancar!

Com muito custo, as pessoas pareceram me ouvir. Alguém mais me puxou, não sei quem, e era eu quem agora me debatia, pois queriam me arrastar para longe. Enquanto isso, uns caras se juntaram para apartar. Até conseguiram soltar André das mãos de Murilo, que, apesar de cansado, demonstrava que havia muita energia para ser gasta em mais golpes. Vi isso através das pessoas, estavam novamente me movendo, eu resistindo. Assim que virei-me para ver quem era esse, estanquei com Sávio, nervoso, me puxando. E aí gritei de novo, porque Murilo voltou a avançar em André, que agora pedia arrego, pedia ajuda aos companheiros, estes que só olhavam a cena e se afastavam, também não querendo se meter na briga. Estavam muito amedrontados para se mexer a favor do “amigo”.

Nisso, Murilo puxou André, já manchado o rosto quase que por completo em sangue, e o jogou em cima de um capô de carro do lado. André tentava se defender com pouco esforço, mas ir contra a ira de Murilo era impossível. Ele tinha uma força para disferir golpes bem precisos e desviava bem de qualquer tentativa besta de André, que provava ser péssimo nesse quesito.

Ele gritava de volta ameaças de prisão, de processo. Murilo nem ouvia, continuava com aquela marca de acesso aos olhos que dava um arrepio na espinha de qualquer um. Tentava se engalfinhar, mas era André mesmo quem levava boa parte. Por dentro sabia que ele merecia uns golpes, muitas vezes quis bater no maldito, mas eu era daquela ideia de evitar brigas ao máximo. E essa em particular, era muito desvantajosa.

Precisava de fato era parar Murilo de alguma forma. André bem que poderia jogar meu irmão na cadeia por causa disso. Céus, só de pensar que meu mano seria preso por agressão, eu desfalecia um pouco. Parei até de resistir quando Sávio passou o braço por meu dorso, impedindo-me de avançar até a briga.

– Ele vai matar André, pode ser preso! Você não vai ajudar seu amigo?

Quase cuspi isso ao Sávio, indignada por ele tampouco ter alguma dignidade de intervir. Só que o que me responde, e como o faz, eu não poderia prever nunca:

– André NÃO É meu amigo.

Por um momento eu não ligo para isso, só quero que alguém tirasse André – ou que restava dele – das mãos de meu irmão.

– Mas Murilo é meu irmão. Alguém tem que o fazer parar!

A rodinha aumentava e seus urros também. Se não fosse tão violento, juraria que ali rolavam apostas, não duvidando muito daqueles folgados que eram da panelinha de André. De qualquer forma, alguém já deve ter chamado a polícia, em vista daquela confusão séria demais. Eu necessitava fazer aquilo parar a qualquer custo.

– Se você não vai, eu vou.

Me desvencilhei num momento de desorientação de Sávio e fui. Me meti na outra roda aos protestos de Sávio e de mais vozes que me chamavam de volta. Quando parei diante de meu mano, nem precisei me mexer para algo mais, pois Murilo arranjou forças sabe-se lá de onde para parar. Arquejando, largou André sobre o capô do carro, limpou-se com a manga da camisa, esfregando-a ao rosto. O outro nem conseguia se mexer quase, cuspiu sangue ao chão, tossia e resmungava coisas inteligíveis. E aí tudo parou quando Murilo se viu diante de mim.

Ambos alterados, sofríveis, fizemos uma pausa no tempo. Ele me olhava quase que desconcertado, ainda que não arrependido de seu feito, feito esse que agora deixava para trás. Limpou-se mais uma vez, bateu a areia de sua camisa e calça, passou a manga pelo rosto e testa, sem mais me fitar. Permaneci parada a sua frente, só de boca aberta... observando seu estrago. O quão bicho ele havia se tornado. Selvagem, violento.

E nenhuma raiva me veio.

As pessoas se moviam ao nosso redor, algumas ajudando André a se recuperar, eu ouvia seus resmungos e reclamações, seus xingamentos e ordens de processo. André latia mais uma vez. Só que esses latidos entravam por um ouvido e saíam por outro. Tudo na verdade passava por mim sem que eu filtrasse algo, pois eu só queria ver meu irmão.

Mais uma vez nessa noite, no entanto, levei uma mão ao rosto, com pavor daquela situação. O que aconteceria com meu irmão? Ninguém se aproximava dele com real tremor por como reagiria mais uma vez. Era visível como as pessoas se mantinham afastadas dele, como se a qualquer hora ele pudesse virar aquele bicho novamente. Ele não viraria, eu sentia. Via naqueles olhos baixos que era o fim.

E como na noite em que nos reencontrávamos após aquela minha fuga repentina, Murilo não se mexeu para vir até mim. Era compreensível com nosso histórico de que ele cogitava uma retaliação de minha parte, e que por isso ficou sem ação. Podia captar todo um medo sobre o que aconteceu meses atrás, retomando aquelas coisas ruins em função desse seu descontrole e de seu gênio forte.

Então novamente o surpreendi. Dei o primeiro, o segundo, o terceiro, os passos necessários para correr até ele e me jogar nele, que me abraçou de volta em ternura. Era difícil imaginar que meu mano poderia oferecer isso após tudo aquilo, mas eu tinha certeza disso. Apertei-o contra mim sem me importar se doeria ou não, e notei que a fera se amansava mais, dobrando-se todo sobre mim como se pudesse se esconder. Depois de todo aquele show, como ele poderia querer sumir?

Houve algo mais, eu quem optei por não mais prestar atenção ao nosso redor. O importante ali era ele, somente ele, calado... envergonhado? Não sei, ele me comprimia junto. Foi ainda abraçada a ele que estranhei, em minha visão turva, que a roda se dispersava novamente, e aí Vinícius invadia a área, gritando por nossos nomes. Meu irmão não se mexeu, parecia irredutível de me soltar, assim eu só assisti ao que se seguiu. Vinícius nos avistou, aproximou-se e entendeu o que havia acontecido ao notar o estado de André, que era ajudado por seus companheiros a levantar-se.

Pelo semblante que vi, ele também entendeu que chegara tarde demais... Não queria que nenhum de meus dois homens sujassem suas mãos. O estrago, todavia, estava feito. Me restava apenas abraçar o alívio antes de qualquer coisa, já que nada mais ali me importava.

Aos meus braços, meu mano se mexia, ainda muito tenso, a fim de falar. Reuniu forças e só assim pôde declarar alguma coisa. E o sussurro que veio... Me deu mais vontade de chorar.

– Por favor... Por favor, Mi... Não me diz que eu estraguei tudo de novo, ele.. ele...

Pelo contrário, eu não era totalmente contra. Entendia e entendia demais para lhe passar qualquer sermão que fosse. Assim reforcei minha insegurança e a dele quando afirmei que...

– Não estragou, Murilo, não dessa vez.

Tornei a abraçá-lo, com mais força e alívio, alívio esse que se alastrava pelos músculos enrijecidos de meu mano. Isso quando não se viu soluçando, reações atrasadas tomando a nós dois como só um. Já que não via mais nada ou me ligava em nada, me permiti fechar os olhos e cuidar dele. Por mim, o mundo podia explodir. Pelo menos alguma paz eu teria dado àquele ser de bom coração a quem eu tinha por irmão.

Dessa vez eu também fiz certo.

Ou pelo menos na minha perspectiva.


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Notas finais do capítulo

Iluuuuuuuuuuuuuuuuustre ponto de vista convidado, hein? Tá mais pra metido!
Esse o Murilo exigiu que eu escrevesse, de tão maluco que ele tava - ele também me pôs doida! André que não facilitou, né?
Só sei que tá complicado pro lado do Murilo agora, viu...



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