Mantendo O Equilíbrio - Finale escrita por Alexis terminando a história


Capítulo 22
Capítulo 21


Notas iniciais do capítulo

Parece que fazia séculos que eu não vinha postar (e foram duas longas - quase três - semanas!). Também tenho saudades, viu. As coisas agora estão se restabelecendo e, sabe como é, não consigo largar essa história até o fim :)
Depois daquele combo inesperado, hoje tem um capítulo um pouco grandinho. Tem rounds e "passes em branco". Esse último em particular é para se guardar, Milena que fique atenta.

Aos novos leitores/leitoras, sejam todos bem-vindos o/

Enjoy!



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Melhor que um disse-me-disse, tinha comigo que era preferível cuidar das minhas faltas com as pessoas. Por exemplo, confiar nelas para as histórias em primeira mão, aproveitar e sanar as dúvidas que só eu praticamente poderia resolver. Eis-me então no escritório de Djane, após garantir-me que estava para encerrar seus trabalhos. Enquanto esperava o sinal da internet se restabelecer, para mandar seus últimos relatórios para o sistema, conversava com ela.

Para falar a verdade, ela havia me “sequestrado”. Ao ver-me no pátio da faculdade, após ter feito a prova de Silvana, atraiu-me para sua sala no departamento e, antes que eu pudesse perguntar se ela estava ocupada ou algo assim, ela me puxou!

– Hoje você é minha, Milena. Minha!

Não era a primeira vez que um Garra fazia isso comigo – e nem seria a última, eu podia prever –, Djane sabia ser enfática quando queria. Até ouvi uma risadinha de Glorinha, sua secretária, que também tinha suas certezas de que dali não viria um momento diretora-professora e aluna.

Era “errado” eu estar lá, mas Djane insistia no argumento da “cultura informal”, aquele que diz sobre os costumes de interação em um setor ou departamento, que não precisa estar conforme o regimento, apenas de acordo para que não haja interrupções de serviço. Desse modo, com tudo se encaminhando, não iria atrapalhar um break. E sendo ela professora de uma disciplina de Ética, ela bem sabia das brechas do sistema.

Além disso, não havia quase ninguém do departamento ao prédio para nos acusar de comportamento inapropriado. Só assim mesmo deixei meu posto de relutante e parei de travar uma batalha com minha sogra, pois, mesmo “sequestrada”, eu era exigente. Nada de privilégios, finquei. Por isso Djane veio com toda uma argumentação pautada pra me dobrar. Ao conseguir que abandona seu lado de docente e se entrega ao perfil mais íntimo nosso. Só que alternava, entre amiga, sogra e mãe responsável que ela era.

Me fez escrever uma mensagem de texto para o Vini, para dispensá-lo de me buscar. Ousada ela! Seu filho, que só esperava um aviso por sobre a hora que eu iria sair, não sei o que deve ter achado da intervenção de sua mãe. Como ela não estava atrás de mim enquanto eu escrevia, não viu o P.S. que enviei a mais noutra sms:

Djane me capturou na sala dela, disse q me deixa em casa. Sem discussões. Te vejo depois. Avisa o Murilo. Acho q vamos demorar um pouquinho.

P.S.: Ela diz que tá na vez dela, que vocês já me roubaram demais. E AI de quem interromper. Vou ter que desligar o celular, acho.

Mandei uma também para Flávia, com Djane contando os minutos. Sério! A mulher estava um desassossego só. Foi quando desliguei o aparelho que ela amainou, e eu pude relatar sobre os ocorridos do dia anterior, que Vini não soube detalhar bem a ela.

Como havia comentado com Flávia, haviam sido três rounds.

Enquanto que o primeiro se tratou de um velho conflito interior de meu irmão, o segundo foi mais algo... recente, colocando em xeque a descoberta em si, o que Denise, então psicopata, armou. Fizemos a recapitulação dos fatos com calma, meu mano aguentando do jeito que dava, estourava de vez em quando, machucou a mão na parede numa dessas, quebrou outro vaso (que mamãe presenteou quando viemos morar juntos na capital), e quase se cortou com um dos cacos.

Claro que ele não tava aceitando bem as coisas todas, mas só pelo fato de ouvir e se manter sem querer quebrar a cara nem de Vini, nem de Eric, era muito do que se esperar dele.

Quer dizer, teve uma hora sim que Murilo quis partir para cima de Eric, quando chegamos na parte de contar detalhadamente o que aconteceu no sábado. Por não ter aceitado que ele tivesse me deixado com sozinha para lidar com o Anderson, no camarim.

Eric se defendeu:

– Mas eu quase parti a cara dele.

– Pois devia ter partido!

Me intrometi antes que aquilo virasse algo sério demais novamente, precisávamos seguir com os fatos.

– Te juro que ele me defendeu sim, mano, só que de violência em violência não dava mais. Anderson tava alterado e tal, mas era questão de jeito, dobrar ele, sei lá, então eu apartei.

Murilo não gostou nadinha, e dali pra frente gostou menos ainda. Até a parte de domingo, com Flávia, como simplesmente despejei tudo para ela, eu quem detinha a voz. A partir daí foi a vez de Vinícius. Flávia o atraiu para uma conversa extraoficial.

Cabisbaixo, dessa vez sentado no braço do sofá, ao meu lado, Vinícius se deixou falar, os olhos vagos fitando a mesinha da sala a nossa frente. Ponderado, mas de certa apreensão, ele evitava olhar para qualquer um de nós.

– De manhã no domingo, quando Flávia atendeu minha ligação, senti que tivesse algo errado, mas acreditei que era por aquela história do Gui e tal. Quando me mandou uma mensagem já de tarde, disse que tinha algo para discutir e que era muito importante. Que envolvia a Milena... Tudo ficou mais estranho quando me pediu para não comentar, principalmente se o Murilo tivesse perto...

Nessa hora, meu mano apenas grunhiu:

– Foi naquela hora...?

Vini assentiu para Murilo e esclareceu melhor isso:

– A gente conversava por essa hora... sobre o festival e... Eric... Era depois do almoço. Com minha mãe e vovô descansando, ficou só eu e o Murilo vendo um filme qualquer.

Murilo admitiu, cenho franzido e um pouco relutante. Quando menciona o passado e Eric, aponta com a cabeça para este que se mantinha do outro do lado do sofá, ouvinte:

– Tava comentando sobre aquela vez que eu tinha visto Eric na rua, e em como... como... como eu não sentia necessariamente culpa por aquela briga da confraternização, mas, desde a volta da Milena da viagem e de ela ter me perdoado, e-eu... Não sei, estive me questionando sobre o que fiz. Mas continuava muito cego pelo que vi no passado, como tinha ficado muito mal naquele ano... e como eu atribuí tudo a ele. Com Vini falando sobre a peça e o festival, acabei levantando o assunto de novo.

Vinícius reafirmou a sms de minha amiga.

– Foi por aí que recebi a mensagem, a Flávia frisando para não contar nada. Ficou bem suspeito e eu tive de me virar pra cumprir esse pedido. Enrolei que era algo do meu trabalho, que eu tinha de sair pra resolver um problema de última. Então fui. Ela marcou naquela lanchonete perto da casa dela. Estavam os dois, Flávia e Gui.

Murilo se atentou para Vini ao chegar nessa parte. Não que antes não estivesse, mas também se mantinha cabisbaixo e quieto, absorvendo seus próprios temores. Nessa parte em especial, não sabia se eu queria ouvir, ou mesmo ouvir na presença de todos. Por mais que não mais os fitasse diretamente, me perdia no meu mundo e naquela sala.

Não precisava olhar para nenhum deles se eu sentia cada respiração e cada controle se segurando para não exceder. A visão periférica me alertava de cada movimento deles. Como quando Murilo se fechou com as mãos ao rosto ou como Eric batia o calcanhar ao chão repetidas vezes, porém silencioso, e também uma mão o cobrindo parcialmente.

E a raiva, a incredulidade crescente a cada pontuação de Vinícius. Ele levantou bruscamente quando isso o tomou de vez, ficou de costas para mim.

– Pelas expressões, já senti que não era algo bom. Quando ela começou então... foi um tanto chocante. Se era muito pra minha cabeça, eu mal podia pensar o que seria pro Murilo. E também não foi fácil pra ela, pra me contatar e despejar assim. Mesmo com tudo encontrando seu sentido, eu meio que... que não quis acreditar. Era brutal... Era absurdo.

Quando se refere a mim, parece amenizar o que sentia. Embora eu estivesse como que fora do ar, eu notei isso. Lembrei de nossas conversas, até ali mesmo naquele sofá, e em discussões, e como aquilo me doía que nem havia força para chorar ou soluçar. Mas estavam ali, umas poucas lágrimas molhando-me os olhos, eu as amparando. Era difícil, afinal. Outras poucas mais conseguiram descer logo que ouvi a declaração ademais de Vinícius e fechei violentamente os olhos, me excluindo para aquela visão dele se a voz era um pouco enfraquecida, e em momentos seguintes carregadas.

– E então pensar que era isso que você guardava, Mi... e como muitas cenas nossas que lembrei tiveram encaixes... e como eu queria te proteger, cuidar, e, Deus meu, apenas te amar e dizer que eu entendia enfim... Que estava tudo bem, que ficaria tudo bem...

Mas o Vini, ele não se manteve distante. Pela sua voz, acompanhei que se aproximava de mim. Não nego, senti um pouco de raiva de mim também, por colocá-lo naquela situação extrema. Por eu ter feito besteira demais, por ele ter suspeitado que eu as faria novamente, e as fiz mesmo. E ainda tinha meu irmão. Murilo pode ser uma pessoa muito fácil de lidar, contudo, quando se trata de proteger, ele pode ficar muito insano. Foi essa fera que Vinícius teve de enfrentar.

– Eu tinha de manter a calma e saber trabalhar com aquela informação. Ter cuidado de como lidar com ela, afinal, quando você soubesse, Mi... que a Flávia... Se já não bastasse o medo que ela tinha por revelar assim, abruptamente, eu tinha meu medo do que você faria, se noutras vezes... E Murilo, senti que eu deveria prepará-lo. Devia isso a ele. Não apenas por ser seu irmão, mas... meu amigo, meu irmão também, entende? Eu já havia estragado algumas coisas antes.

– Vini...

Ergui-me mais para olhar para ele, respirei fundo e passei as mãos aos olhos para melhorar a visão embaçada que tinha dele. Queria dizer que não nos devia nada, que tudo que havíamos feito por ele fora de coração, por nos importar, mesmo que, na época, não fôssemos tão ligados. Tudo aconteceu tão ligeiro naqueles dias que pensar demais antes de fazer qualquer coisa era desnecessário, era perda de tempo. Foi muita coisa para a cabeça de Vini processar. Estávamos lá por ele, nem que fosse pra jogar Uno quando não houvesse mais o que fazer.

Vini entendeu que era esse meu argumento, só pelo tom que adotei para intervir. E ele interviu de volta, me cortando. Ele também agiu pelo coração, era o que queria frisar. Frisou. Não era necessariamente um coração tomado por responsabilidade, não, era tomado pelo simples se importar.

E como ele dita, me toca também. Mais que enternecer, dá mais dimensão ao nosso relacionamento, ao que sentimos. Como às vezes podemos duvidar do outro, como podemos quebrar a cara e nem sempre estarmos certos.

– Não, eu falo sério. Tem hora que... que sinceramente parece que você não vê como você é importante pra mim, Mi... Vocês são. E como tudo relacionado a você me interessa, vivo falando isso. Às vezes faço besteira, ok, mas... acho que é bom dar umas erradas assim pra saber fazer direito lá na frente. E saber quanta diferença vai fazer. Já tinha minhas burradas, essa era então a hora de agir certo.

Essa sua determinação me deu orgulho, pude sorrir um pouco pelas suas últimas constatações. A verdade é que o subestimava, muito talvez. Meu Vini era mais do que eu via e do que eu cogitava. Podia ter suas inseguranças, mas estava lá, tentando. Tentando se provar até, e acho que foi isso que representou para ele. Uma chance de mostrar que podia confiar nele, e dar essa passagem, ainda que não parecesse o certo noutras situações.

Mas o que veio depois...

Confiava nele, porém, sobre contar a história de Denise, do caderno de anotações, de minha e várias histórias mais, percebi que só não quis que soubesse. Era um lado negro feio e disforme, uma mancha no meu histórico que não era fácil de se mostrar. Ainda mais se era encoberto por toda uma carga de orgulho ferido meu.

Eu própria tinha dificuldades de lidar com aquilo. De ouvir da boca dos outros o que nunca pude resolver e não teria forças sozinha para isso. Precisava deles, sabia, mas ainda havia fios involuntários me puxando de volta. A mentira era tão mais fácil, falsamente menos dolorosa e atrativa. Quase desejei voltar no tempo e socar tudo de volta ao fundo de meu guarda-roupa.

Mas... não.

Não quando merecíamos mais que aquilo, não se havia um fim próximo... Apenas não, um Não que poderia me fazer arfar, mas que era determinante para acabar de uma vez por todas. E esse Não vinha de todos ali presentes, de suas tensões e suas sinceridades, suas proteções e, acima de tudo, o carinho por mim.

Ainda que exigissem nada em troca, eles se doavam, se importavam. Era a minha vez de me doar, mas me doar de verdade, não oferecer algo com restrições, com limites. Um relacionamento equilibrado é isso, uma ligação de duas vias. Se eles, que eram tão duros, tão certos em suas cabeças, estavam na luta, cedendo, e eu ainda por cima exigindo, eu deveria tomar conta de exigir de mim mesma.

Exigir para não cair na mesma armadilha psicológica que Denise deixou, uma que eu beirava novamente. Podiam eles ter se lançado de me puxar daquele poço, mas o fato é que eu deveria mais que ter aceito o resgate. Embora tenha me agarrado fortemente a eles, havia momentos que eu recuava, que tremia.

Como quando eu ouvia sobre o maldito caderno.

– A Flávia me afirmou que teria como arranjar o caderninho. Desculpe, mas enquanto eu não o visse, não sossegaria.

Me forcei então a manter a calma, lidar com aquilo. Ou era ou era, sem olhar pra trás, por isso assenti para Vini, tirando qualquer culpa que pudesse ter. Ao fundo, sentia que era como quando ergui o olhar pela primeira vez em crise de fobia para meu mano, em que o fitei numa noite de trovões, coisa que nunca tinha feito antes. Agarrava-me à compreensão, ao extremo. Era quase que um sinal de bandeira branca. Embora fosse algo tão pequeno, era algo de qualquer maneira. Algo que, não sei como eu expressava, eu só deixava sair de mim, assim, como se pudesse gritar só por um aspecto facial meu. Ao observar Vini, tive a sensação de que ele havia capturado isso. Capturou bem próximo, me confirmou na despedida.

Não comentou nada pelo momento, se permitiu a relatar mais e mais. Flávia ficou de conseguir o caderninho, ela me fez dormir mais cedo, o que não foi nada dificultoso dado o meu estado de exaustão. Encontrou com Vini, entregou o material. Em casa, Djane o notou um pouco disperso, mas ele acusou de novo um problema no trabalho. Depois de dobrá-la, se lançou na leitura. Não entendeu boa parte e foi lendo até acabar. Tinha em mente de começar por mim, só que aquilo o consumiu madrugada a dentro. Praticamente não dormiu. De manhã cedo mandou uma mensagem a Murilo, pediu para que não fosse trabalhar, pois ele tinha algo muito delicado para mostrar.

Se já era ruim o bastante ouvir o lado de Vini, pior foi ouvir de Murilo. Eu visualizava conforme era descrito, eu via os detalhes. Não era por ter uma imaginação fértil para tal ponto, é que tinha vivido situações extremas com meu irmão. Quis muito que parasse, pois era mais que doloroso, era tortuoso! Só que Murilo também precisava desabafar isso, extravasar-se. Foi a hora que perambulou pela sala, novamente nervoso. Quando a fúria mais uma vez o tomou, ninguém se mexeu para deter. E aí ele machucou a mão na parede ao socá-la numa fúria que explodiu.

Foi enquanto retomei minha vez, misturada às vozes dos dois homens de minha vida sobre a fuga, que Eric pareceu ter despertado daquilo tudo. Foi outra luta para acalmá-lo, queria brigar comigo pela minha atitude de ter prendido os dois dentro de casa, o clima pesou, Vinícius e Murilo quase viraram bicho de novo, deu gritaria e foi bem difícil apartar. Bem por aí que Murilo quebrou o vaso, pois o empurrei de volta para um canto e, nervoso, ele tentou provocar Eric, só que atingiu o vaso. Quis arrumar ele mesmo, zangado, quase se machucando no processo.

Já quando descrevi mais por onde me refugiei de primeira e com quem unicamente me comuniquei, Sávio e Iara, senti um pouco da insegurança de meu Vini. Uma vez tinha fugido dele, imagino que dessa vez ele pensou que eu correria para ele... porém, quando percebeu que não foi nem pra Flávia que corri, o pânico foi generalizado. Esclareci de pronto então sobre a questão do carro em que entrei. Foi a primeira vez que vi alívio em Vinícius quando algo envolvia o Sávio.

Assim, devagar, conforme ia dando, fomos pontuando tudo. Era tarde da noite quando Eric disse que ia embora, já estávamos resolvidos, precisávamos de um tempo para digerir. Ele não concordava com como as coisas se deram; no entanto, foi aos poucos aceitando a situação, visto que não poderia fazer mais nada. Bom, a não ser tirar satisfações com a maldita, só que tratei logo de tirar isso da cabeça deles, não era hora e nem o momento para se pensar nisso se passamos por tanto nas últimas horas, nos últimos dias. Merecíamos descanso, poxa!

Murilo por essa hora se mantinha afastado, Vini conversava baixo com ele. Fui acompanhar Eric até a porta. Após nos despedir-nos, que Eric chegou ao seu carro, ainda puxando um pouco de sua perna, resquícios daquele incidente, Murilo surgiu à porta. Só fui perceber quando o chamou de volta.

– Como assim, de volta? O que ele queria?

Djane estava a par de tudo. Tudo mesmo. Quer dizer, sobre Denise. Vinícius teve de contar a ela pelo menos o básico sobre o que estava acontecendo, ela ainda conseguiu arrancar mais umas coisas dele quando chegou em minha casa para acompanhar a história de meu sumiço naquela tarde.

Era estranho, ela ter algo de antemão me esperando. Também era outra que mal parecia acreditar, em como aquilo tudo fora possível. E, por óbvio, quis tomar providências sobre isso, algo que fizesse Denise pagar. Respondi apenas que ainda não estava preparada para uma coisa dessas, era melhor que déssemos um tempo. Ela quase insistiu, só não o fez por ver que aquilo mexia de uma forma comigo que preferiu só ouvir o resto de meu infindável relato.

Claro que muita coisa tive que passar por cima, afinal, era muito pra contar e discutir. Ela não sabia, no entanto, de umas coisas mais, que, apostava eu, que teria a mesma reação de meu mano. Estava quase chegando lá.

– Murilo quis se redimir, pelo que havia feito, brigado e acusado Eric por esses anos. Pedir perdão pelo que causou. Foi o fim do round dois, por assim dizer.

Aí ela se espanta. E olha que Djane não é bem mulher de se espantar fácil.

– Espera, se o cume do segundo round foi Murilo ter se desculpado com Eric, o que foi o terceiro round?

Eu não me orgulhava bem do terceiro round. Foi entre mim e Murilo de novo.

– Milena... não estou gostando dessa sua carinha. O que você fez?

– Eu... usei meu passe em branco.

Djane apenas parou de mexer na caneta que batia em seus dedos, perdida por minha referência.

~;~

Faz um tempo havia explicado para Djane como funcionava um pouco da relação de convivência com meu irmão, uma peça que a gente tem que saber lidar se não quer que ele tenha poder e autoridade sobre você. Murilo foi bem o tipo de pessoa que acreditou que aumentar a voz e mandar e desmandar resolvia algo. Não mais hoje, venho esse tempo todo fazendo com que ele me trate por igual. Foi uma jornada inteira pra conseguir isso, e no meio dessas idas e vindas, estabelecemos uns códigos e acertos sobre como podíamos viver pacificamente.

Sobre o passe em branco, entretanto, ninguém mais sabia além de eu e ele por até então não termos apelado para esse recurso. Quer dizer, fazia um bom tempo que não o usávamos. Estávamos zerados. Isso até no outro dia Murilo próprio ter me cedido um em troca de um favor que fiz para ele. Guardei, sem saber quando iria usá-lo, ou se provavelmente iria usar, se ele é um recurso de muito poder, tem que saber quando puxá-lo da manga e fazer com que valha por toda sua carga.

– Passe em branco?

– Você sabe, do meu sistema com Murilo. Aquele sistema de trocas, acordos que temos. Isso foi depois de o Vinícius ir embora, restando apenas eu e o Murilo cansados. Quando meu mano soltou a bomba, tive que pensar rápido.

– Que bomba?

– Olha, Djane, Vini te contou essa... história... do meu passado... por você estar muito próxima a nós e tal, e é muito estranho poder conversar sobre isso com qualquer um de vocês se tudo isso parece um pesadelo que só se torna real a cada minuto. Mas uma coisa é vocês saberem, outra coisa é... é meus pais saberem.

Me recolhi na cadeira, evitando a surpresa e o fato de a ficha cair em sua cabeça. Sei que cai. Ainda assim, ela arrisca de deixar o pensamento correr e presumir:

– Milena... está insinuando que...

– Que Murilo quer contar tudo a nossa família, sim. Ainda mais se envolve alguém que é, de certa forma, próxima a nós. Denise é nossa prima... Posso ter exigido muito dele nisso tudo, mas ele tá exigindo isso de mim, que é extremo do extremo, Djane!

– Mas Milena, como você disse, ela é prima de vocês, sua família tem que saber de uma coisa dessas! O que essa garota fez... eu mal tenho nome pra isso. É um tipo de violência única. Isso é psicopatia! Murilo tá certo em tomar essa providência.

Um pouco altiva, replico e explico minha atitude:

– Eu sei, Djane, acredite, eu sei! Só não quero, ok? Não quero. Principalmente minha mãe. Eu não... não aguentaria. Sério. Min-nha mãe... você sabe como ela surtaria. Dá nem pra dimensionar. Ela ainda vive com certa fantasia sobre mim, eu não quero estragar isso. Acabaria com ela... Aceitei o Murilo, o Vini, a Flávia, o Gui... aceitei você, Djane. Mas minha mãe... não. Não, apenas não. Já foi gente demais nessa família pra ser danificada.

Divergente, Djane tenta outra abordagem, mais calma, porém, em nenhum momento deixando a carga de seriedade.

– Se fosse com meu filho, eu gostaria de saber.

É um argumento forte. Só não o suficiente para me convencer.

– Sei que sim. Isso, no entanto, não impediria o Vini de manter algo do tipo para ele. A senhora sabe que não. Só tem coisas que não valem a pena. Não adianta o quanto vocês me digam, discutam comigo, tentem me dissuadir disso... Apenas respeitem minha posição. É só o que peço.

Desgostosa, remexe com a boca e suspira, como se eu apenas estivesse sendo teimosa. Não era teimosia.

– É muito para se pedir, querida. Como Murilo está quanto a isso?

– Se fazendo de irredutível, chateado. Disse que posso ficar com meu passe em branco, que ele não vai acatar meu pedido... E aí que está, essa é a real desse recurso. Você tem que aceitar, não importa o que se diga... Ainda tem vovó! Vovó com problema no coração. Ele quer matar ela ou algo parecido?

Deus, só de pensar de isso chegar aos ouvidos dela, eu própria tenho meu infarto.

– E seu pai? Seu avô? Acha que...?

– Não sei. Uma coisa é encarar o bicho que é o Murilo, outra é... meu pai. Saber que alguém me machucou e ele esteve longe, imagino que possa se sentir muito culpado, por ter nos aproximado. Mas se fosse para não contar para a mamãe ou a vovó, acho que aceitaria que ele ou vovô soubessem. Eles sabem muito do que a gente joga pra debaixo do tapete.

Era vovô que sabia do trauma de meu irmão, apenas ele. Acho que não era a toa como esses dois se comportavam juntos, vovô o entendia, o acompanhava. A arte da trambicagem era à parte, ou soube se fazer parte. Quando eu descobri – demorei – sobre isso acho que compreendi mais da relação deles.

Talvez não fosse tão enérgico como Murilo, mas, com certeza, calmo ele não ficaria. Era outro que também não se dava bem com Denise, ela sempre era boa demais para permanecer muito tempo com qualquer um dos nossos avós, algo nela nunca bateu. Algumas vezes até me apontou uma predileção deles sobre mim ou Murilo. Isso, no entanto, nunca fez Denise se esforçar por algo mais com eles, eram movidos apenas por aparências. A conveniência de terem caído na mesma família.

Não era amor. E duvido bastante se ela tem amor por alguém senão ela mesma.

Se isso pode ser chamado de amor-próprio.

– Por mais que eu odeie isso, não estou preparada para desistir. Não vou deixar Murilo contar. Acho que dessa vez eu não o perdoaria de verdade. Não consigo me ver perdoando-o por essa, se assim o fizer.

Foi o que afirmei a ele, na cara dura.

Tudo parecia muito calmo após a saída de Eric, as nossas cabeças estavam a mil, eu podia crer. Quase que calados que jantamos juntos. Eu mesma mal sentia o gosto, comia mesmo porque tinha certo buraco no meu estômago, não tinha certeza se era fome. O fato é que minha mente estava tomada por todos aqueles feels, sob e sobre a pele.

Era tanto pra se processar que acho que até meu cérebro travou. Me doía a cabeça, me sentia exausta de novo. Aquilo me exauria de um jeito como se tivesse num trabalho pesado. Pensei até em tomar umas vitaminas (roubar as de meu mano, as que ele se comprometeu em tomar após aquela época que passou doente e agora vive esquecendo, nem sentiria falta) para reforçar meu sistema nervoso, devia estar transtornado pelas últimas emoções. Meus músculos pulsavam enquanto eu jazia no sofá.

Mas tratei de ignorar o peso de meu corpo quando Murilo foi dar uma de resoluto, ao descansar na poltrona após o jantar, logo que Vinícius foi embora, deixou escapar que ele teria de pensar muito sobre como comunicaria a nossa família. Aí que eu o cortei.

– Não.

Desnorteado, meu mano não sacou de primeira. Dado ao estado meu, imaginei que o dele não era muito diferente.

– Não o quê?

– Não, você não vai comunicar nada.

Simples assim, eu quis. Já Murilo...

– Como assim? Claro que eu vou!

– Não, não vai. Tá ficando doido? Vocês saberem já é o bastante, obrigada. Melhor deixar nossa família FORA disso.

– Em que mundo você vive, Lena? Isso é sério. Sério demais.

– Não importa. Além do mais, tenho meu passe em branco. Uso agora. Pronto. Veto que qualquer coisa sobre isso chegue aos ouvidos de alguém de nossa família.

De primeira, ele quase não acreditou. Como se aquilo que queria fazer não fosse absurdo o suficiente. Nossos pais! Nossa família! Isso era extremo demais. Parece que não tinha noção da bomba que detinha em mãos, ou do que viria a acontecer se a plantasse na sala da casa de nossos pais.

Novamente enérgico, meu mano se alterou. Quando achei que poderia descansar, o ringue badalara, outro round se sucedia, dessa vez sem plateia senão nós mesmos:

Não digo EU, que fique com seu passe em branco. Não vou aceitar isso, Lena, nem vem. Vou pensar em um jeito e a gente vai encarar isso, não tem outra maneira e ponto.

– Ponto nada, tem sim. Você não pode me negar isso. Posso fazer ou pedir qualquer coisa e não serei julgada ou negada, lembra-se? Do juramento? Você quer mesmo quebrar isso? Depois de anos?

Levantou-se num átimo, jogou os braços pra cima, estourou:

– Que se dane o juramento, que se dane o passe em branco! Acha que tô pensando em juramento agora? Eu tô pensando é no teu bem.

Tentando manter o nível de ponderada, queria evitar estourar também. Havia fincado no meu propósito, assim exclamei o que tive de exclamar. Infelizmente não soou nada ponderado, apenas pontuado e... alterado.

– Isso não vai me fazer bem! Nem a ninguém! Que se dane você, não vou permitir que faça uma coisas dessas. Nem agora, nem nunca. Tá me ouvindo? Não! Não vai comunicar nada. Vamos deixar do jeito que está.

Apontando para o nada, ele fez que havia batido o martelo e quis sair andando. Me revoltei, claro. Achava que poderia dizer isso pra mim e sair, assim, como se eu fosse aceitar? Como que bastasse a palavra dele? Que seria a palavra final? Levantei para interpelá-lo.

– Já tomei a decisão. Você não pode fazer nada a respeito.

– Você que não tá sacando, Mu, quem não pode fazer nada a respeito é você. Isso não se trata de você. Quando teve aquela parada da Aline, foi rapidinho que veio me implorar pra não contar nada, mas isso... Isso você acha que sabe muito, né?

E quem disse que quis me dar ouvidos? Que quis rediscutir? Ele saiu da sala, deixou-me para trás, plantada, pronta para argumentar o que viesse. Tava nem aí se ele estava cansado, também tava, oras. Eu que não ia deixar que aquela ideia absurda se tornasse concreta, tinha de aproveitar o momento e frisar que não passava de um lampejo ruim. Por isso insisti.

– Eu não quero brigar com você, Mi. Apenas isso.

– Agora quer desviar do assunto. Muito bonito.

Infelizmente, tive de apelar. Menosprezar sua atitude com um tom irônico era uma forma de atingir. Tanto que tocou certeiramente nele, como previ. Voltou-se para mim de onde estava na mesma hora.

– Não tô desviando. Quer contar? Conta. Pode publicar, pode fazer outdoor na porta de casa. Pode noticiar nas rádios. Perto dessa história da Denise, o caso com a Aline não é nada. Só não quis provocar alguma preocupação... desnecessária.

Ah, agora era desnecessária. Mas persisti no rumo que havia escolhido. Aquele jeitão dele contido e trincado não me assustava em nada.

– Se tudo já acabou, não seria outra preocupação desnecessária, oras?

– Não. Claro que não. Eu não vou ficar de braços cruzados enquanto aquela... aquela vadia respira por aí. É claro que vou tomar minhas providências. E preciso do apoio da nossa família para isso.

Complementei a deixa, braços cruzados e tudo, muito firme. Meu irmão rosnou um pouco e segurou os cabelos, contendo-se mais, evitava se afundar mais na discussão, eu quem não facilitava. Era hora de me impor.

– Ao qual eu disse não.

– E eu também disse não. Continuo a dizer NÃO.

Era até melhor ele esquivar-se de reações agressivas, pois eu podia trabalhar com abordagens mais adequadas. Como vem deixando de gritar, estamos em modo experimental. Dessa vez não se trata de dobrá-lo, é só de dissuadir mesmo. De que era uma terrível ideia.

Só que não havia tempo para planejar o que se dizer, as palavras saíram na lata, ditando o que havia comigo e que tinha minhas dúvidas. Era um tanto drástico até, só que eu precisava disso. Precisava dizê-las, não importasse o tom ou que fizesse parecer. Só que hesitei de última quando me vi, ali, as jogando.

Não deu outra senão Murilo reagir a elas, indignado.

– Você não tá entendendo. Se você fizer isso...

– O quê? Que vai fazer? Vai fugir de novo? Vou ter que te prender aqui ou algo assim?

– Droga, Murilo, não brinca com isso.

– Quem disse que eu tô brincando? Agora eu quero saber, o que vai fazer a respeito?

Acuada, me distanciei, dei as costas para ele. Ouvi que se reaproximou, suas pisadas eram irrequietas ao chão, como que indo e vindo, sem noção de para onde seguir, onde ficar, se avançar ou retroceder. Era minha vez de remexer aos cabelos, uma inútil tentativa de paralisar uma dor que já consumia o cérebro. Era involuntário, afinal, bagunçar os fios. Se pudesse desembaraçar nós de problema da mente como desembaraçava cabelos, podia agradecer. Com tanta tecnologia no mundo, como isso não nos era possível ainda?

Tomei um ar, me forcei a voltar-me para a situação. Assim como ele não me deixaria em paz, eu não sossegaria até conseguir algo. Pelo menos tempo, que pensasse melhor, nada precipitado.

– Pensei que já tivéssemos passado essa fase, mano. Mal reconquista minha confiança de volta e já quer perder?

Foi quase como que retórico. Ainda assim ele não deixou de responder. Repliquei logo em cima também, mais calma, no entanto.

– Isso é chantagem.

– Não, Murilo. Isso é o que sinto. Se fizer isso, eu não te perdoo. E bem diferente da última vez, eu não me vejo te perdoando por isso. Não vou me fechar para você, não vou fugir. Mas algo certamente vai se perder e não vai ter jeito.

Ele abrandou, passou a mão ao rosto e ficou sem o que me responder. Eu, por outro lado, não hesitei, descarreguei algumas coisas, do tipo que provavelmente o preocupariam novamente. Queria lhe mostrar que não seria como da última vez. Pus assim as cartas na mesa, todas viradas para ele e por ele.

– Mi...

– Não vou parar de te amar, ou de me importar. Não vou parar de falar com você, ou... que seja. Não vou te renegar. Mas isso... isso vai ficar entre nós. Como uma parede de vidro, e de vidro grosso, que vai estar ali para nos separar. Nos veremos através dele cada vez que esse caso for mencionado. Vai estar nos meus olhos cada vez que você tentar pedir desculpa, que sei que vai pedir. E não vai ter jeito. E não falo só de agora, ouso dizer que ao longo dos anos.

Perdido, Murilo de novo ficou sem ter o que me dizer. Tanto parecia perpassar em sua cabeça, numa velocidade que nem ele podia acompanhar. Senti que ele se esforçou pra qualquer coisa, pois não queria ceder. Não do jeito que eu exigia.

Com um balançar de cabeça, um sussurro ao silêncio do cômodo eu ouvi, vindo dele. Em seu olhar erguido para mim, suplicava mais com que palavras. Aquele brilho me tocou. Só não foi o bastante.

– Lena, e-eu... por favor, não. Não me pede isso.

– Não, não me pede você isso. Principalmente se não tem o direito.

Agressivo, ele quase quis subir umas oitavas. Praticamente cuspiu as palavras, que saíram esbaforidas pela pressão que lutava contra dentro daquela cabeça trincada. Murilo pulsava em ódio só de mencionar Denise.

– Eu não vou permitir que ela saia impune...

– Não estou falando sobre isso. Se quiser jogar gasolina na maldita, joga. Joga que eu levo o fósforo. Mas para a família... nossa família... não.

– Só que eu preciso deles.

– E eu preciso de você para aceitar isso. Que nos basta já. Vou precisar de você, Mu, e espero que essa parede não esteja entre nós.

Posto em situação difícil, mais uma vez ele se calou, ficou com seus pensamentos digerindo o novo round. Quando voltou a falar, não foi bem o que pensei que diria. Não facilitava pra mim assim como eu não facilitava para ele.

– Estou aqui para você, sempre estive e sempre vou estar.

– Eu sei. Mas e a confiança, onde fica? E se amanhã... quando... eu...

Quase me escapuliu o que Filipe havia me confidenciado, ao que Murilo notou.

– O que? Que tem amanhã?

– Quer saber? Nada, apenas força de expressão. Melhor ir dormir, foi um dia longo e cheio. Temos muito na cabeça, merecemos um descanso, não mais um problema.

Quase me bati à boca, soei como Sávio, quem eu praticamente condenava por me fazer todos aqueles rodeios. Mais um problema. Mal vi o vinco de confusão em meu irmão, me virei. Ele, cuidadoso, aproximou-se, chegando às minhas costas. Podia senti-lo inseguro outra vez.

– Pode falar.

– Não, deixa pra depois.

– Mi... Se isso for um de seus artifícios...

Minha fama linda me ferrava nessa. Usei tanto a máscara e a manipulação pra me livrar das situações que agora meu irmão não sabia quando eu era verdadeira. Amparei outra gota ao rosto quando pensei, me apunhalando, “e a confiança, onde fica?”, coisa que proferira não fazia muitos minutos. Mas era capaz de aceitar essa sua atitude para comigo, eu merecia, afinal.

– Não dessa vez, mano. Apenas deixe assim. Vamos conversar outra hora, ok?

Ele não respondeu, ele me abraçou. Passou seus braços acolhedores por meu dorso que nem vi, só senti quando estava ali, sendo engolida por esse ser enorme, que me tomava para si, fungando, receoso de qualquer coisa ademais. Me perguntava quando eu pararia de acabar com aquela cabeça e aquele coração doce dele.

Meu orgulho poderia ser enorme por querer manter tudo sobre meu controle, mas sobre isso, sobre esse pedido, eu não me orgulhava em nada. Mesmo assim, não desistia. Deixei que me abraçasse, apesar de não ter lhe retribuído. Ao nos desvencilharmos, fiz um carinho ao seu rosto e me retirei, fui para o quarto.

Ia fechar a porta quando ele pousou a mão sobre ela. Curto e direto, ele se lançou:

– Mantenho minha atitude.

– E eu a minha.

– Suponho que... melhor eu ir para meu quarto dessa vez?

– Não vou fugir, pode ficar tranquilo.

– Mas vai ficar bem?

– Não sei se posso te garantir isso.

E assim foi. Pela manhã eu não havia o visto, nem à tarde. Como Vini me buscou para almoçarmos em sua casa, depois me deixou na de Flávia. Não tive notícias mais, nem Vini quis tocar no assunto direito. Não precisei mencionar, eu sabia que Murilo havia relatado tudo só pelo jeito com que me olhara por um momento. Será que estava com medo de alguma atitude minha exagerada? Estávamos ao extremo, era capaz de não duvidar que eu faria besteira mais uma vez.

Só que eu não iria fazer. E queria não ter um histórico todo para prejudicar minha imagem assim. Djane só suspira, tensa.

– Vocês estavam de cabeça quente.

– Talvez. Só não retiro nada do que eu disse.

– E quanto a seu pai e avô? Acha que pode... reconsiderar?

– Ainda não pensei bem sobre isso.

E sobre pensar muito eu tinha as mais diversas coisas na cabeça ainda. Muitas que sequer ninguém ali poderia adivinhar. O jeito mesmo era dar um tempo para as coisas amainarem. Era no pouco a pouco que a gente ia superar, ou pelo menos lidar.

A diferença? Estou disposta. Para quaisquer rounds mais que possam vir e que, com toda certeza, virão.


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Notas finais do capítulo

Milena não facilita não.
Mas até que anda bem consciente ultimamente, não acham?



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