Mantendo O Equilíbrio - Finale escrita por Alexis terminando a história


Capítulo 136
Capítulo 135


Notas iniciais do capítulo

Desse xodózinho eu não abro mão!
Faz DOIS ANOS que não posto aqui, mas não abandonei a história, viu? É essa galerinha que sempre me salva nos tempos difíceis - e o que não faltaram foram temporadas difíceis com a pandemia, não é?
Positivar a covid sem vacina foi um dos grandes desafios pra mim e que me detonou real. Felizmente não precisei internar, porém, o que tive de sequelas não foi fácil de lidar. Uma dessas sequelas foi a confusão mental. Foi mais uma vez MoE que me colocou, na medida do possível, de volta nos trilhos.
Li e reli, algumas vezes só as partes favoritas, depois temporadas avulsas e então do começo ao... ao último capítulo escrito - que vocês ainda não tiveram acesso haha
Foi pensando nisso que voltei aqui para POSTAR COMBOS de CAPÍTULOS INÉDITOS. Também porque vejo que as visualizações continuam e tenho certeza de que muitos ficaram curiosos pra saber o que acontece com esse povo tão querido.
Da mesma forma que me diverti horrores com essas criaturinhas, indico sempre voltar aqui e rememorar, recomeçar, reler, reanimar-se. Eu mesma sempre o farei, pois doses de MoE são realmente capazes de trazer coisas boas na gente, mesmo quando tá todo mundo ferrado (eles e nós hahaha). Indico também reviver as músicas, fazer a própria playlist (gigante) de vocês =)
Ainda fico chocada de como essa história foi tão longe, nunca escrevi algo TÃO longo. Surreal também com como tudo ficou tão bem encaixadinho. Só sei que fui que escrevi porque eles ainda falam comigo, me contam altos babados e me fazem escrever até de madrugada, essas pestinhas que amo.

Então, vamos de capítulo novo? Este em especial (e com muita coincidência) é sobre "jeitos de resgatar coisas" dentro da gente e músicas, muitas músicas para animar. ENJOY!



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— Tem certeza, querido?

Vinícius só faz uma carinha de “mãe, por favor” porque ele já explicou umas três vezes. Mas o instinto de Djane era de não querer deixá-lo sozinho, mesmo que sozinho ele não fosse ficar, pois Susana estava a caminho. Se não tivessem marcado para finalizar um trabalho, eu também ficaria. Mas já tinha passado a noite e a manhã com o Vini, já era minha hora de ir embora. Até porque queria atazanar certa pessoa e, de preferência, sem esperar mais um dia.

— E ela vai trazer o almoço mesmo? Porque posso pegar comid...

— Ela tá trazendo, mãe. Não se preocupe.

Na porta do carro de Djane, na garagem, assisto os dois na varandinha. Djane está resistente. É claro que ela notou o estado de espírito – e de corpo – de seu filho, e desde ontem. Ela chegou um pouco depois do jantar e, assim que bateu o olho no Vini, ficou sentida. Ele foi sincero ao menos, disse que estava conhecendo algumas coisas sobre sua outra mãe e havia coisas que mexiam com ele, sem entrar muito em detalhes. Mas se sentia bem. Brincou, inclusive, para que Djane não sentisse ciúme, porque para ele, não era que uma substituísse a outra, mas que ele foi amado pelas duas.

Senti que essa foi uma abertura muito boa que Vini deu para Djane. Que eles ainda iriam conversar sobre tudo isso e que ele queria tê-la ao seu lado. Foi um passo importante para os dois. Porém, Djane, como mãe coruja, título que vem conquistando no último ano, desejava dar colo e tirar toda a dor de seu menino. Era complicado para ela assistir e anuir. Tem conseguido – ou pelo menos na frente do Vini.

Desde a descoberta oficial do Vinícius, o dossiê e tudo, vez e outra conversamos sobre suas aflições e inseguranças. Djane quer ser manter forte. Compreendo total, mas acho que ela tem que abraçar o tudo, sem se esconder. Quando somos sinceros, e as pessoas estão abertas a essa sinceridade, o relacionamento cresce.

É o que tenho feito com o Murilo. Também temos nossas resistências e também estamos encontrando nossa sintonia. E Djane vai entender isso aos poucos.

Com a chave do carro na mão, a sogrinha se dá por vencida. Eu já tinha me despedido (várias vezes) do namorado, que nessa manhã já não estava tão abatido. Depois de toda a emoção dos áudios, a felicidade encontrou uma morada sem igual no coração dele. Nunca vi o Vinícius tão... pleno. Completo. Poderia cair um míssil no seu quarto que ele realmente só iria virar, me dar um beijo e sorrir. Foi assim que passamos a noite. E a manhã, mesmo com Djane presente. 

— Bora, Djane. Porque ainda tenho que fazer uma surpresa pra...

— Criatura!

Os dois falam juntos e riem. É porque toda hora que alguém mencionava o Murilo, eu dizia que ele não perdia por esperar, toda geniosa.

Isso pelo menos quebra a bolha mãe e filho e Djane enfim se apressa. Antes de bater a porta do carro e enquanto o portão da garagem se abria, ela grita para o Vini, para que ligasse se precisasse de alguma coisa. Ele só nos assiste sair de ré, todo sorridente, dando tchau.

— Será que exagerei, Milena?

Djane me sussurra.

— Olha pra esse sorriso e responde você mesma.

Ela olha e sorri de volta.

E assim seguimos para o almoço de domingo na casa de seu Júlio, igualmente felissíssimas.

~;~

Irmãos tem cada coisa que só tendo um pra saber. Ou tendo alguém quase como um. Há melhores amigos que funcionam como “irmãos que nunca se teve”, assim como “primos melhores amigos que nunca se teve”. A Flávia é mais ou menos assim. Começou como a prima legal que eu já não tinha mais, e hoje é quase minha irmã. O Gui é o primo que não tenho, pois irmão já tem o Murilo e este vale por todas as pestes no mundo. E é com ele que tenho uma série de besteiras que, dentre nós, são muito importantes.

Até pouco tempo, eram apenas armações, apostas, acordos e ouros de troca. Hoje, o diálogo está prevalecendo. Mas volta e meia a gente se pega sendo gato e rato, como papai mesmo fala. Em nossa relação, isso vale e significa muito. Se isso está em baixa conosco, quer dizer que nós estamos em baixa um com o outro, porque são essas besteiras que dão vida à nossa relação irmã-irmão. E claro, tem muitas outras, porque não dá pra ficar contando no dedo, posso me esquecer de citar uma e assim por diante.

O caso é que Murilo conhece muito bem sobre meu “ideal” quanto a toque de celular. Não é que uma coisa tão trivial como um toque de celular pode desvendar algo sobre nós e ao mesmo tempo não? O dele geralmente é o mais básico possível, do próprio aparelho. Isso não quer dizer que ele aceita qualquer coisa, ele só não liga o bastante para deixar que seu toque o defina em algo. Eu, por outro lado, como é sabido, gosto de ouvir algo diferente. Algo mais eu. Que ao instante que tocar, saiba logo que é a mim que está chamando.

Agora vou saber que é Murilo quem me grita. Há um ano, seu toque era Lazy Song do Bruno Mars. A primeira vez que ouvi, senti que era dele sem ao menos ver a letra, por ter um ritmo bom e falar duma preguiça que, apesar de Murilo ser muito ativo, o ataca de vez em quando. E assim ficou, ele achou graça e essa música me garantiu muitas quebras de conversa.

Só que no ano passado, quando brigamos sério, eu removi essa configuração. Essa falta significou muito por evidenciar o quanto eu estava chateada com ele, coisa que ele descobriu muito depois, e que foi uma soma ao seu estado de culpa. Era eu o rejeitando de qualquer maneira.

Desde então fiquei meio apática com tanta coisa que rolou, não só conosco, mas Vini, Djane, e todo um rumo de gente. Cheguei a trocar de música algumas vezes e, não faz muito tempo, de celular. Mas era somente uma música pra todo mundo, pra todo toque. Até mesmo a operadora me ligando. Sei que é algo idiota de se dizer ou fazer, mas... sabe? É esse tipo de coisa que me faz sentir eu, euzinha. Escolha minha, meu reflexo. E com a muvuca do meu último toque, personalizado pelo Vini e reclamado pelo Murilo, senti que era hora de retomar isso. Quase que retornar às origens.

O Vini estava descobrindo as suas, né? Quando estava mais sossegado e tocou no assunto do celular, eu lhe disse isso, sobre retornar às origens. Pra mim, isso significava uma pessoa e uma voz. Meu Ryan. Vini, alegrinho como estava, até prometeu que um dia iríamos a um show do One Republic – de preferência no Brasil. Eu emendei que um dia iríamos a um show do Matchbox Twenty, que descobri faz pouco tempo, era sua verdadeira banda favorita. E assim saímos da bolha fita-e-áudios de Viviane para uma inesperada bolha Vini-e-Milena bem romântica.

Fazia muito tempo que eu não cantava, disse Vinícius. Fazia muito tempo que eu não tinha um momento One Republic, eu repliquei. Ficamos assim juntinhos na cama entre sorrisos e beijos com Come Home para depois arriscar passos atrapalhados com All The Right Moves. E meu Ryan mantinha seu jeito de resgatar coisas de mim que eu não sabia dizer, só sentir. Parecia que eu voltava no tempo e me misturava ao futuro e presente, e era muito bom. As letras ainda eram hiper conhecidas, como uma marca minha, e simplesmente fluíam de mim.

E foi assim que os primeiros versos de Feel Again se tornaram o toque para quando Vinícius me ligasse e os primeiros acordes de I Lived virou meu toque universal. Do Murilo, essa peste que tanto nos encheu o saco? Sei que ele também sentia essa pequena falta, como um mimo que ele também esperava reconquistar. Ter um toque especial para ele era quase uma declaração de amor então, e dessa vez eu a tenho.

Sua música, desde a primeira batida, deu uma sintonia perfeita. E por isso todo um plano de teatro para declarar meu amor pela criatura.

Quando chegamos à casa de seu Júlio, vi que ele já tinha chegado. De qualquer forma, já tinha arquitetado com Iara e Djane para que colaborassem no teatro quando fosse o momento. No caso, depois do almoço.

Logo que seu Júlio fez menção de se retirar para o quarto, aproveito para sair da sala com ele e Filipe, que foi junto para acompanhá-lo. Ao sair do quarto e retornar à sala, já não encontro Iara, nem Djane, e me visto de atriz. Vejo meu mano em um dos sofás e faço que estou procurando pelo bendito do meu aparelho. Checo a área e logo pergunto ao meu irmão, assistindo algum programa aleatório de domingo, se havia o visto.

— Não, sei não. Tem certeza que trouxe?

— Trouxe. Estava mostrando até umas anotações pra Djane no carro e...

Paro de falar abruptamente pra entrar no personagem de preocupada. Murilo nota e abaixa o volume da tv. Quando dou por mim, ele já está ao meu lado, procurando comigo. Eu havia escondido no fundo do fundo de um canto dos sofás, debaixo de umas almofadas, assim vou para o lado da mesa e estante da sala para que ele não se aproxime muito antes do tempo.

— O jeito é ligar mesmo, Mu. Ainda bem que não tá no silencioso.

— Tá, peraí.

One Republic – Everybody Loves Me

Todo inocente ele busca o seu aparelho na mesinha da sala e disca meu número. Ao tempo que o leva à orelha, ele vai prestando atenção aos costumeiros locais que deixo meu celular, junto comigo. E aí se ouve uma batida diferente, que logo é acompanhada por um dedilhar em acordes leves, mas grave, de violão (ou guitarra, sei lá), vindo do outro lado da sala. Não era uma música nova, mas também não velha.

Com o telefone celular ainda na orelha, ele se volta para a origem do som e para mim e parece sorrir com os olhos. Nisso o meu Ryan solta a voz, e Murilo segue para pegar o aparelho. Em nenhum momento ele desliga. Acho que em um primeiro instante só é um prazer não ouvir o ih-ih-ih da Ellie Goulding.

Quando o Ryan ritmiza um “oh-oh-oh-oh” e retorna ao início, Murilo acha e cata meu celular e, como eu ansiava, olha diretamente para o visor. Logo sorri lindamente um pequeno sorriso tão dele.

— Novo toque?

Ele abaixa o seu da orelha, desliga e o meu aparelho para de tocar logo em seguida. Caminho devagar para perto, vendo sua maquinação trabalhar.

— Sim.

E não é que ele adivinha a banda? Eu apenas sorrio inocentemente.

— One Republic?

— Ao que parece, é minha marca. Não Ellie.

Meu irmãozão remexe um pouco a boca, ainda olhando o visor.

— Toque universal?

— Toque do Murilo.

Preciso dizer que aqueeeeeele seu sorriso se abre? Acho que não. Tava todo orgulhoso e se controlando pra não se achar.

— Qual o nome?

Everybody loves me.

— Sugestivo.

Rodeio a criatura e dou-lhe um tapa na cabeça, que ele reclama de imediato, embora ainda risonho.

— Quê que eu fiz agora?

— Pensa que eu não sei? Ficou enviando mensagem pro Vini, pra eu trocar a música.

Cruzo os braços, ainda toda atriz, me fingindo de indignada, e ele reage com graça.

— Ah. Foi só... só um incentivo.

— E o tapa foi um doce incentivo.

— O que importa é que você trocou o toque. Vou poder dormir em paz. E feliz. E... Esse teatro todo foi só pra me mostrar?

— Foi.

— Tu é minha irmã mesmo.

Preciso urgentemente me vacinar desses sorrisos. Ou... será mesmo? Acho que já passamos dessa fase. Então só aproveito que ele me abraça.

— É, eu sou.

Nossa bolha de irmãos é quebrada com Iara retornando à sala e exigindo seu toque.

Apenas sorrio e desafio ela a me ligar pra descobrir.

~;~

Green Day – Oh Love

(01:42)

— Você veio!

— Você me chamou.

Encontrar Daniela na entrada da pizzaria e ela me receber toda animada é mais um sorriso na minha coleção do dia. E já ouvir Oh Love do Green Day dali, de alguém ensaiando, é um ótimo presságio sobre nossa tarde.

Aproveito pra contar pra Dani que gostei mesmo da versão de Don’t Speak do link que me enviara, mas tinha outra música em mente para cantar com ela. Uma que o Vinícius me fazia ouvir em looping desde uma grande revelação. Não a da mãe dele, claro. Era sobre seu passado musical. Isso digo para Daniela.

— Qual música?

— Acredite ou não, Sk8ter boi.

— Ah, AMO essa música! Nossa, tem milênios que não ouvia.

Conforme vamos chegando ao salão principal, mesmo com algumas mudanças, andar por ali era reviver grandes emoções. Como não lembrar do aniversário improvisado da Flávia? Mas também o aniversário hiper planejado da Iara, onde a Dani foi agressiva com o Sávio e até com o Gui. Melhor não entrar nessa parte. Seguir em frente, certo, Milena? A lembrança do Filipe ouvindo a voz de Dani pela primeira vez acaba suplantando a má sensação.

— E eu! Isso me lembra que uma vez Filipe me confessou que andava cantando Avril Lavigne.

— Não! Mentira!

— Serinho! Te juro! Agora não lembro muito o porquê, só que era algo com a Iara. Acho que era o toque de celular dela.

E rio, porque acho que era isso mesmo e como “casa” certinho com a situação do meu toque anterior. Ao passo que o meu incomodava o Murilo, o de Iara fazia o Filipe cantar Avril Lavigne. Ao menos tentar.

Perto do pequeno palco, encontramos num banquinho um dos caras da banda, um que não conheço, tocando e cantando a música de Green Day. Acabamos entrando no ritmo com palmas e um coro baixo, já no finalzinho:

— Oh looove, oooh loooove, won't you raaaain on me toniiiiight? Oh riiiide, free riiide, won't you take me close to yoooou? Far away, far away, waste away toniiiight, I'm wearing my heart on a noose... Far away, far away, waste away toniiiight, tonight my heart's on the loose. Far away, far away, waste away toniiiight, tonight my heart's on the loose… Far away, far away, waste away toniiiight, tonight my heart's on the loose. Tonight my heart's on the loose. Tonight my heart's on the loose.

Com chuva de palmas, encerramos a canção. Eu estava impressionada por como eu lembrava da letra todinha. Dani nos apresenta:

— CK, essa é a Milena, minha amiga da faculdade que falei. Lena, esse é o Caleb.

— CK?

— Apelido de escola. Prazer.

Apertamos as mãos e logo estamos os três sentados na ponta do palco, conversando sobre músicas e apresentações. Queria saber o que eles andavam ensaiando, se tinha algum pedido em especial nos últimos tempos. CK responde:

— Até que tá bem livre e gosto disso, porque tem muita música que a gente pira aqui em cima. A gente se sente o próprio artista, mesmo no meio de uma pizzaria. As visualizações do youtube também crescem mais quando são músicas mais contemporâneas. E quando certa pessoa aqui canta.

Ele olha todo engenhoso, com graça, para Dani, que joga um de seus estojos da bolsa nele.

— Só posso voltar quando terminar as provas, tu sabe. Nesse meio tempo, ensaio. Até porque isso me esvazia pra estudar melhor. Olha, o Dieguito chegou!

O tal Dieguito eu conhecia de vista de outros carnavais. Quer dizer, outras apresentações. Era o baterista. Com ele, chega também mais dois rapazes, mas como se dispersam pra outros lados do recinto, não sei dizer realmente se fazem algo com a banda ou se são funcionários do estabelecimento.

— Comecem o aquecimento que eu já volto.

CK sai ao passo que Dieguito assume a bateria e começa a testar o instrumento, ver se está tudo calibrado. Já Daniela se ajeita, coluna ereta, e bate na vaga ao chão do palco bem ao seu lado, para que eu sente mais perto:

— Vem que te mostro o aquecimento, Lena.

— E tá sério assim, é?

— Totalmente! Minha garganta nunca agradeceu tanto ao conhecer o aquecimento vocal!

Primeiro apenas respiramos. Depois fazemos uma massagem ao rosto, das têmporas e bochechas à boca e queixo. Emitimos uns zumbidos com uns exercícios engraçados e, sei lá, só no exercício eu fico um pouco sem fôlego. Daniela ri, diz que é normal. Quer dizer que meu pulmão tá muito “sedentário”. Mas conforme vamos repetindo o exercício, acho que sinto realmente o pulmão e cordas vocais entrando em atividade. É uma sensação esquisita, mas interessante. Para finalizar, retomamos a respiração. Ao tempo que terminamos, CK já está de volta.

— E aí, as garotas já tem uma música?

Dani joga pra ele o portfólio de letras e cifras em uma página aberta. Pra esticar mais nossos músculos, ela optou por uma aleatória de entrada.

Teenagers então!

Separamos rapidinho os versos, de maneira que eu cantaria só os refrões com ela, acompanhando a letra pelo celular, nós sentadas mesmo.

My Chemical Romance – Teenagers

 

Dani começa baixinho pra depois soltar seu vozeirão conforme CK vai seguindo com acordes no violão. Inevitavelmente sigo com umas palmas entrando no ritmo. Em algum tempo, Dieguito sai da bateria e vai mexer em uns aparelhos mais ao fundo. Só quando estamos no refrão que percebo que é a câmera.

— They saaaid all teenagers scaaare, the living shit out of meee, they could care less as long as someone'll bleed, so darken your clothes, or strike a violent pose, maybe they'll leave you alone, but not me.

Em outro momento acho que eu me sentiria nervosa, mas, pelo contrário, com Daniela e os meninos tão confortáveis, numa sintonia deles, acabo relaxando junto, só aproveitando e encontrando meu espacinho ali.

— They saaaid all teenagers scaaare, the living shit out of meee, they could care less as long as someone'll bleed, so darken your clothes, or strike a violent pose, maybe they'll leave you alone, but not me.

Dali pulamos para I Don’t Love You, da mesma banda. Dessa vez, o combinado era que o CK cantasse as estrofes enquanto tocava no violão e nós nos juntarmos a ele nos refrões.

My Chemical Romance – I Don’t Love You

 

Fico impressionada com a voz dele e seu tom tão parecido com o próprio artista. Mesmo sendo apenas um ensaio de aquecimento, ele transmitia sentimento. Pelo que pude capturar dele até então, me parece um cara bem brincalhão, mas que quando está cantando, ele se compromete mesmo. Daniela também tem demonstrado um posicionamento mais profissional. Continua moleca, claro, mas sua entrega na voz está ainda mais impressionante do que já era. Fico orgulhosa por ela.

— Wheeeeeen you gooo, would you eeeven turn to saaay? I don't looove yoou, like I did yesterdaaay.

Quando Dieguito liga a câmera, tanto Dani quanto CK dão um aceno e um sorriso pro foco e eu acabo fazendo o mesmo, embora mais sisuda. Tentava não olhar muito pra câmera ou pro Dieguito mexendo nela. Observava mais e mais suas posturas. No segundo refrão e clímax da música, deixei que somente os dois brilhassem num ritmo mais ameno e significativo, entregues à música.

— Wheen you gooo, would you eeven turn to saaay? I don't loove yoou, like I did yesterday.

Por fim fico só “cantando” junto sem som, acompanhando o mood, balançando as mãos de um lado pro outro e balançando a cabeça no ritmo. Estava envolvida, ué. Bato palmas para eles com gosto quando acaba a canção.

— Wow, gente, wow! Tô aqui maravilhada. Mandaram muito bem!

CK agradece um pouco tímido, mas ri quando Dani se joga em cima de mim com um “aaaaa”. Ela já não parecia tão desconsertada comigo. Na verdade, estava mais solta. Eu também, eu acho. Parecíamos de bem de novo. Ou melhor, estávamos de bem de novo.

E isso era bom. Era bom rir super de boa, se sentir mais livre, brincar à vontade.

— Hora da Avril!

Daniela sai de cima de mim com essa lembrança e pega um dos portfólios por ali. Na capa, vejo o título “Músicas Pop Internacional Anos 2000”. Acho legal a organização deles. Vou separando os versos com Dani quando CK sai rapidinho pra buscar água. Quando retorna, o baixista chega e Dani tem a brilhante ideia de ensaiar com todo mundo, sem ser acústico, como estávamos fazendo.

Fico um pouco acanhada, mas pelo jeitinho espevitado dela e pela força do CK, acabo topando. Ele até colocou uma gravatinha em mim! Ai, Deus. Eu no palco, de pé, com microfone e tudo. Tudo parece maior e mais sério.

— Respira, Lena. Só vamos brincar, ok? Não é, pessoal?

Os meninos respondem coisas como “é”, “isso aí”, “nada demais”. Sorrio pra amenizar o nervosismo que bateu de repente e isso ajuda um pouco. A galera termina de ajeitar os instrumentos e demais aparelhos e alguém coloca a música pra tocar, pra entrar um clima. Isso ajuda mais ainda. Pra começar, escolhemos o hino filosófico da Avril: Complicated.

Como exercício de palco, Daniela começa a cantar sem som, pulando e brincando com os garotos ao redor. Entro nessa, imitando a própria artista, apertando o suporte do microfone e mexendo na minha gravata improvisada. Até solto mais o cabelo, pra ficar o escorrido típico da Avril de quando gravou essa música. Em algum ponto estamos juntas extravasando e vivendo a música. Quando chega ao fim, ela avisa que a banda ia começar e a gente só deveria continuar na vibe.

Avril Lavigne - Complicated

 

Dani dá início aos “oh oh” e lalala” preliminares, ainda brincalhona, solta. E eu pego os primeiros versos, também bem mais relaxada, imitando a Avril, que mal noto que tem alguém guiando a câmera lá do salão:

Chill out, what you yelling for? Lay back, it's all been done before, and if you could only let it be, you will seeee…

Aponto para Dani, que interage comigo do outro lado do palco:

— I like you the way you are, when we're driving in your car, and you're talking to me one on one but you becoooome…

Sorrio e entro mais no personagem:

— Somebody else, 'round everyone else, you're watching your back, like you can't relaaax… You're trying to be cooool, you look like a fool to meeee…

Agarramos o suporte do microfone com força e andamos para o meio do palco, para cantar o refrão juntas:

— Teeeell me, why'd you have to go and make things so complicated? I see the way you're acting like you're somebody else gets me frustrated, life's like this: you fall, and you crawl, and you break, and you take what you get, and you turn it into… Honesty and promise me I'm never gonna find you fake it… No, no, no.

A segunda parte é Dani que começa e vamos alternando novamente, ainda brincando uma com a outra, piscando uma pra outra, apontando uma pra outra, e até o CK uma hora canta também, interagindo com a gente numa grande bagunça. Na parada dramática da música, recomeço, de olhos fechados e tudo, toda envolvida:

Chill out, what you yelling for? Lay back, it's all been done before, and if you could only let it be, you will seeee…

— Somebody else, 'round everyone else, you're watching your back, like you can't relaaax… You're trying to be cooool, you look like a fool to meeee…

— Yeah, to me!

Voltamos à bagunça, pulando, girando, sorrindo. A gravata que começou no meu pescoço já tinha passado pra Dani, depois pro Caio, o baixista, e terminou no CK. O boné de uns dos meninos também já tinha rodado, assim como um casaco, que eu não fazia ideia de quem era. Eu, que achei que ia ficar só no meu canto, já tinha dado várias voltas pelo palco, trocando de lugar com Dani e brincando com todos.

Mal Complicated terminou, Dani começou a cantarolar My Happy Ending, e a banda só seguiu. Pelo que já vi no Youtube, eles já tinham tocado algumas vezes. Como eu não lembrava muito bem a letra, fiquei apoiando a performance nos refrões como voz de fundo.

Avril Lavigne – My Happy Ending

 

Vez que era uma música mais amena e dramática, não bagunçamos ou brincamos tanto como a primeira. Mas no clímax, Dani se juntou a mim e ora cantamos abraçadas, ora cantamos de mãos dadas, com algum sincronismo que vamos criando ali na hora.

 

Avril Lavigne – Runaway

 

Acabo cansando rápido e pauso no final para tomar um pouco de água, mas Dani continua e engata Runaway, uma música que gosto muito, porém já não lembrava muita coisa da letra também. Mas volto pra curtição e arrisco. Erro a letra, mas já nem ligava. CK e Dani me dão mais suporte, me dando mais espaço e consigo acompanhá-los lá pelo clímax. Cantamos juntos o refrão final.

Nesse ponto, eu já não sabia meu nome, eu não tinha vida lá fora, eu não tinha problemas. Era um sentimento enorme de liberdade. Estava elétrica! Por isso passeei melhor com o microfone quando começaram a tocar Smile.

Avril Lavigne – Smile

 

Não sei dizer se foi de propósito, mas Dani nessa hora fez sua pausa para beber água e eu fico no centro do palco como principal vocalista. Mais afastada, ela toma um tempo pra respirar e de onde está fica me incentivando e vou seguindo suas orientações. Eram coisas como segurar melhor o microfone, dançar um pouco ou ficar perto do CK ou do Caio pra dividir um momento com eles. Mano, eu tava pirando muito! Só no último refrão que Dani volta e nos juntamos com pulinhos pra encerrar a canção.

Damos um pequeno break entre conversas e risadas – altas – por sinal. Dani tinha me explicado que o dono da pizzaria tinha investido na parte acústica do local, então o som ou nossa pequena baderna não interferia no trabalho da cozinha, nem na organização do salão. Era só preciso ter cuidado com as fiações mesmo.

— Pronta pra Sk8ter boi?

 Não digo nada, só assinto com um tamanho sorriso na cara, mega animada.

Ela avisa a galera e Dieguito prepara um manejo na bateria pra começar. Mas aí pede um momento e, espevitada, procura a câmera para falar:

— Essa música é pra você, Vini! Obrigada, de nada! Vai, Dieguito!

Já tínhamos separado os versos, então eu estava no ponto bala. Mas faço diferente dessa vez, pois vou pro lado de Dani pra dividir e interagir direto com ela, como se fôssemos personagens contando a história.

Avril Lavigne – Sk8ter Boi

 

— He was a boy, she was a girl, can I make it any more obvious? He was a punk, she did ballet… What more can I say?

Andando pelo palco, Dani assume a narrativa, revirando os olhos quando menciona a parte que os amigos da garota se meteram entre o casal por puro preconceito:

He wanted her, she'd never tell, secretly she wanted him as well… But all of her friends stuck up their nose, they had a problem with his baggy clothes.

Enquanto pulamos e nos juntamos pro refrão, do nada surge uma ventilação no nosso rosto. A gente só reage com graça, ainda adotando o deboche que a música transparece.

— He was a skater boy, she said, "see you later, boy", he wasn't good enough for her… She had a pretty face, but her head was up in space, she needed to come back down to earth!

Retomo os versos, cada vez mais elétrica e me sentindo a Avril mais uma vez:

— Five years from now, she sits at home feeding the baby, she's all alone… She turns on TV, guess who she sees… Skater boy rockin' up MTV.

Daniela também imita a artista e sua postura pela maneira que segura o microfone:

— She calls up her friends, they already know and they've all got tickets to see his show… She tags along, stands in the crowd, looks up at the man that she turned down…

Ao voltarmos ao refrão, nos encontramos no centro do palco, cara a cara:

— He was a skater boy, she said, "see you later, boy", he wasn't good enough for her, now he's a super star, slammin' on his guitar... Does your pretty face see what he's worth? He was a skater boy, she said, "see you later, boy"… He wasn't good enough for her, now he's a super star, slammin' on his guitar… Does your pretty face see what he's worth?

Damos uns soquinhos no ar, como a própria Avril e nos separamos. Eu para pegar o boné de novo, ela para jogar a gravata no CK. Ao lado de Caio, guio a canção para o clímax:

— Sorry, girl, but you missed out, well, tough, luck, that boy's mine now… We are more than just good friends, this is how the story ends…

E ao lado de CK, Daniela também agita:

— Too bad that you couldn't see, see the man that boy could be… There is more that meets the eye, I see the soul that is inside…

Voltamos ao centro do palco e surramos entre si:

— He's just a boy and I'm just a girl, can I make it any more obvious?

— We are in love, haven't you heard? How we rock each others world?

E retomamos os pulos de punk:

— I'm with the skater boy, I said, "see you later, boy", I'll be back stage after the show… I'll be at the studio, singing the song we wrote, about a girl you used to know… I'm with the skater boy, I said, "see you later, boy", I'll be back stage after the show… I'll be at the studio, singing the song we wrote… About a girl you used to knoooow!

Esse momento era totalmente nosso.


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Notas finais do capítulo

VOLTEI OU VOLTEI NO ESTILO?

Trechinho do próximo:

"- Ai, criaturinha. Você vai me fazer dizer, né?
— O quê? Que me ama?
Ele fecha os olhinhos, todo gracioso. Eu? Risos nervosos, sem graça.
— Também, mas algo pior que isso.
Murilo muda de expressão, desconfiado.
— Não sei se quero saber."

e

"De onde estou, levanto. Se a fera despertou, a minha fera interior também. Olho bem para ele, que, de tão nervoso, está todo vermelho e ofegante, e uma raiva me sobe. Sinto meus olhos se encherem de água e de ódio. Nem meu pai, que é meu pai, nem Murilo, que é o Murilo, levantariam a voz para mim assim. E nem deles eu aceitaria essa violência. De ninguém."

EITA, CLIMÃO!



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