Mantendo O Equilíbrio - Finale escrita por Alexis terminando a história


Capítulo 12
Capítulo 11


Notas iniciais do capítulo

(Resolvi dar aloca e postar logo o 11 - e quase saiu um cap. errado aqui. Culpem/agradeçam aos feels)

A peça que aqui descrevi teve inspiração em um filme lindo que admiro chamado Sob a Luz da Fama (Center Stage), indico muito. É um daqueles que você acha que não tem nada demais, mas que sei lá, a produção é maravilhosa, por envolver mais que a dança (o balé, no caso) e ficção. Trouxe o trailer (http://www.youtube.com/watch?v=3wUos0jTlR0) para quem ficou curioso(a) e, embora seja um filme de 2000, ele me parece mais antigo rs A peça em si é baseada no workshop que a personagem principal participa e trouxe também a cena pra vocês (http://www.youtube.com/watch?v=Be5nfaa-wTU) - pode ser considerado "spoiler" para alguns, mas eu acho que não, já que não revela os traços reais que o filme retrata. Então vale dar uma olhadinha pra visualizarem como é mais ou menos, adaptei ao estilo MoE de ser (com direito a trilha sonora!)

Super enjoy!



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Não havia perdoado Sávio por suas desculpas. Pelo que aconteceu na viagem, por aquelas histórias sobre estar errado em suas impressões sobre nossa amizade, nem por aquela coisa toda da qual toda vez se esquiva. Não iria atrás desse último, se era o que ele tanto se preocupava, já havia deixado claro.

Nem estávamos numa trégua.

Quer dizer, estivemos, ontem, mas só ontem.

Conversamos. Ele havia me encontrado no Center num momento bem delicado, sentou-se ao meu lado no banco, ofereceu-me ajuda. Dispensei, sem exaltações. Meu estado não era dos melhores até para uma discussão mínima, imagina para dar um chega-pra-lá nele, que era inteligente o suficiente para se retirar sem que eu pedisse.

Bom, não pedi. Sávio ali não me fazia muita diferença. Nem se minha melhor amiga estive no seu lugar, eu não estaria muito da falatória. Àquele momento, só queria ficar na minha, apesar de manter o plano de ir ao casarão.

Só que, não sei como, Sávio me fez correspondê-lo.

Quer dizer, éramos como dois estranhos sentados ao mesmo banco de pedra, não nos encarávamos, apenas... mantínhamos certa conversação. Era meio banal. Contava-me que passava por ali por ter achado umas peças que um amigo seu solicitara para o conserto de seu computador, o do escritório do tio. Que o cara tava um pouco aperreado, então pra facilitar, Sávio havia se candidatado a ir às compras, só precisou das referências certas. Entre seus dedos balançava uma sacolinha branca que carregavam esse material.

Era um pouco difícil ver Sávio de tempo livre. Além do trabalho de funcionário público, e da própria faculdade, fez monitoria com Djane. Não se candidatou à disciplina de estágio supervisionado, estava muito atarefado esse semestre para tanto. Agora com as supostas férias – ele também ficou de final na matéria de Silvana, ele só teria essa disciplina e o trabalho público para se ocupar. Às vezes sei que se arriscava a gerir a loja do tio, loja de motos, mas era quando dava.

Não nego, a conversa sem muito propósito me ajudou um pouco. Perto dele eu não precisava me esconder, não precisava explicar nada. Por mais que quisesse interferir em meus fungados, me consolar talvez, senão me dar um abraço, ele tinha noção do espaço que eu mantinha dele. Se eu pedisse – e pedi – que não comentasse a respeito com ninguém, ele acataria sem objeções, pois via quão sério aquilo era. E que não tinha direito algum em ouvir de mim sobre o que era.

Mas fiz outro pedido também. Para esse também não houve objeções, só que quando viu minha frustração por Eric não estar no casarão, que era o salão de dança, Sávio não mais se manteve quieto. Ainda me sentia tão além que nem tinha me importado de ter estado com ele novamente na moto enquanto me levava até lá, só me vinha na cabeça de que aquilo fora uma perda de tempo. Sávio então me abordou na saída do salão, um pouco antes de voltarmos para onde a moto se encontrava estacionada.

Foi brando em sua abordagem:

– O que é isso, Milena?

Desviei dele, tomando o caminho para a moto. Sávio acompanhou-me, apressou o passo para ficar emparelhado comigo. Só que aí mudou a sua abordagem para preocupado.

– Eu... Só preciso falar com ele.

– Bom, ele não está aqui... Eu estou.

Parei de repente, ele continuou seus passos até perceber meu esquivo.

– Você não pode fazer nada.

– Experimenta. Me diz algo.

– Sávio...

Seus esforços para mim foram em vão, mas quis deixar claro que era melhor ele não continuar com aquilo. Antes que eu dissesse algo mesmo, já andando novamente, ele me interrompeu, com um lampejo que teve:

– Não é ele que vai orquestrar um trabalho naquele workshop de amanhã?

– Sim.

– Então fala com ele lá.

– É meio urgente.

– Bom, me parece que você vai ter que esperar de qualquer jeito. Eu... posso esperar com você.

Peguei o capacete que ofertou, e não pude olhar para ele enquanto respondia. Não era hora de lidar com Sávio. Quando me chama pelo apelido e eu fecho forte os olhos com chateação, ele percebe e se conserta rápido. Mas, novamente, não era hora de lidar com ele, ali, enquanto eu tinha tanto para segurar.

– É melhor que você não espere.

– Lena. Milena...

– Isso não é sobre você, ok?

Quando chego com Vinícius no local da apresentação do workshop, em um dos auditórios para qual fomos direcionados no Departamento de Artes da universidade em que sediava o evento, que íamos procurar por uns assentos bons enquanto é cedo para guardar, nós nos vemos no saguão de entrada. Eu e Sávio. Ele acenou com a cabeça num breve cumprimento e deveria ter parado por aí. Deveria ter se mantido quieto.

Ontem Vinícius tentou exaustivamente resolver a equação (leia-se “adivinhar”) sobre aquilo que Murilo havia o informado, queria porque queria saber quem era essa pessoa com quem eu tinha brigado, se ele conhecia, qual foi o motivo da discussão, onde foi, chutou todos que pudesse lembrar, eu nada dizia. Entendia sua intenção, mas queria que parasse. Quando achei que tinha desistido, ele passou para os seres mitológicos e fantasiosos das histórias universais.

Foi fofo. Me arrancou um risinho básico por suas tentativas.

E era bem quentinho estar debaixo de suas asas.

Era seguro.

Só que quando Sávio fala, no saguão, pressinto que Vinícius se chateia:

– Estou aqui caso precise de mim.

Logo que o outro some por entre as pessoas, que Vini franze a testa e me aperta mais contra si, para me manter longe de Sávio, ele solta um “o que isso quer dizer?” baixo que de pronto tento explicar que era por causa de Flávia, que ele tava dando uma força quanto ao caso do término dela com Gui, coisa que já havia comentado com ele.

– Ele apenas disse por dizer. Vem, vamos ver nossos lugares.

Meu alívio é que dessa vez tenho uma desculpa plausível na ponta da língua. Para todo caso, no entanto, havia feito um pedido à Daniela, que fosse o que fosse, que ela me cobrisse. Contei apenas que Vinícius andava me sondando por uma discussão que me meti, e não queria mais que levantasse o assunto. Espivitada como é, ela daria um jeitinho de contornar se fosse o caso.

E assim o fez quando topamos com ela e Bruno nos procurando lá dentro, na plateia. Estava tão animada pela apresentação que eu quase assimilei isso dela. Muito quase.

~;~

É incrível como a arte tem essa coisa de nos encantar.

Não importa se é uma música, se é uma fotografia, uma pintura, uma escultura, arquitetura, a dança, o teatro, a literatura. É um paralelo que chama nossa atenção em sua delicadeza, usa e abusa dos recursos disponíveis tanto para exprimir algo quanto para imprimir algo no outro, no destinatário ou mesmo transeunte que eventualmente dá de encontro.

Para tanto, a arte pede uma pausa, porque ela quer te contar, te mostrar alguma coisa. Pode ser uma coisa simples, pode ser algo extraordinário, depende dos olhos de quem observa e do coração, no que desperta.

Em muitos de meus estudos ainda na escola, quando Eric me deu uma força na matéria de Artes, ele costumava colocar quadros (de sua casa mesmo) para que eu exercitasse a observação. E dela, claro, extrair mais que o óbvio. De quadros passava para a fotografia, fotos nossas e quaisquer que tivéssemos.

Era legal ficar examinando o fundo delas, coisas e pessoas que quase não nos atentamos. Tanto era capturado pela câmera sem que percebêssemos, eram até expressões engraçadas, de pessoas que nem conhecíamos. Desde então, quando me deparava com uma foto, eu geralmente vagava os olhos pelos outros elementos lá impressos. Nunca me esqueci do pedaço de pizza aos meus pés no aniversário da Flávia no ano passado. Pra mim, era o charme, ainda que quase ninguém se atentasse para o fato da pizza jazer lá na foto. Ela tinha sua história, uma que meu coração guardava com todo carinho.

Mas a fotografia é uma arte, por assim dizer, congelada. Você pode revisitar acontecimentos e lembranças a partir de uma, ok; já com a música, a dança, ou o próprio teatro, eles exigem certa atenção extra de você. A música pode até tocar infinitamente, seja num aparelho de som, seja nas nossas cabeças, mas não é interessante como alguns cliques podem surgir após anos escutando a mesma canção? Como fazemos releituras a partir do que estamos sentindo ou precisando ouvir? Como elas nos envolvem, que significados novos possam vir conforme vamos conhecendo mais do mundo? É como reler e reler o mesmo livro, a mesma história e permanecer colhendo frutos a cada viagem.

A dança e o teatro? Eles são mais... instantâneos e efêmeros. Passam numa velocidade que nem sentimos por vezes, porém, enquanto passam, vão deixando um rastro de sentimentos. É aquela pausa do mundo que mencionei, você se permite invadir esse paralelo para o qual te chamam, você dá atenção, você se entrega, e tem seu retorno.

Por mais simplista que seja a história composta por Eric e os outros produtores para a peça “Todos os Movimentos Certos”, ela era rica em vários pontos. A mistura do teatro com a dança era o centro da coisa toda, dava aquele toque especial de apresentar. Por um momento então pude deixar toda minha problemática de lado, apreciar e prestigiar o trabalho dele.

Começou desde o momento em que se pôs ao palco, que era enorme e se dividia em dois, que, ao longo dos curtos atos, eles alternavam para as cenas, que tinham cenários diferentes. Isso devia facilitar na hora de fazer as trocas, pois enquanto um lado estava em funcionamento, o outro estava em mudança esperando seu momento. Eric fez uma breve introdução sobre sua peça, haviam jurados entremeados ao público – eles que avaliavam os trabalhos – para que tivessem mais acesso à resposta de todos e os efeitos, sem detiverem só a pontos mais técnicos das produções.

Isso foi o que ouvi comentarem.

No discurso, Eric mencionou que era uma história aparentemente comum, mas que, pelo modo que seria revelada que faria a diferença. O enredo base era de uma garota bailarina treinando para uma apresentação e seu parceiro de dança tinha certa cobiça por ela, um conquistador. Só que ela se vê num triângulo amoroso quando o professor-coreógrafo também transparece um sentimento por ela. Daí viriam os passos, os movimentos certos, para conquistá-la. Eric dedicou a peça para todos, especialmente sua mãe, alguns companheiros e alguém, que ele preferiu não mencionar o nome, só que ele desejava que estivesse ali.

Estou aqui, Eric.

E preciso muito conversar com você.

Teria que assistir à peça se quisesse falar com ele. Não o fazia por obrigação, eu realmente fui por admiração, de um trabalho seu que não acompanhei desde cedo, dessas coisas da vida que nos afastamos, e estava lá. Ele me queria lá. Havia me dito, naquele nosso último encontro, que dedicaria a mim, só porque dentre as músicas escolhidas para a apresentação, estaria One Republic, minha banda preferida.

Apesar dos mil detalhes para se ater, foi fácil se deixar levar pela peça, assim como até me animar um pouco o espírito. Ao lado dos amigos, que também assistiam maravilhados, dei um descanso a mim mesma para curtir a produção que era. Magnífica, não podia negar. Embora fosse uma leiga para as artes, era incontestável o fato de elas produzirem efeitos sobre nós, dos mais nobres aos mais intrínsecos ao ser.

Foi a primeira vez desde a coisa toda com Anderson que me emocionei sem ser por algo com que me preocupava. Estive a cada ato, embalada, agradecendo mentalmente a Eric por aquilo. E que fosse sua maior compensação após o desastre do ano passado, que tanto lhe atrapalhou, eu mal podia me perdoar até ter um orgulho dele.

Próxima do palco, estava minha turma quase em peso. Ocupamos boa parte, pegamos umas três fileiras praticamente, só entre nós, conhecidos. De uma ponta seguia Sávio, Flávia, eu, Vini, Susana e outros mais da turma da faculdade de Vinícius. Na fila da frente, da ponta, Bruno, Dani, Marcinha, Gui e uma galera da nossa turma. Nem Murilo, nem Aline ou a irmã de Flávia que tanto quiseram ir, não puderam comparecer.

Trilha indicada/citada: Natasha Bedingfield – Unwritten

Quando começou o primeiro ato, que Daniela identificou a música – já havia dito para ela algumas, só não lembrava todas – ela ficou se segurando pra não pirar junto. Era um pop bem simples e leve, que, à cutucada de Bruno para a namorada se comportar, ela apenas continuou cantando baixinho, acompanhando.

Mostrava um treino de dança entre três casais, aula comandada por um professor. Embora a música fosse ritmada para o pop e o treino de dança fosse de algo mais clássico como valsa, dava a entender que aquele era mais um dia de ensaio para a tal turma, até porque não estávamos vestidos para uma apresentação. O casal principal tinha alguns problemas quanto ao portar-se, erravam bastante, o professor tinha que toda hora ajeitá-los, pois não seguiam um ritmo em comum.

Na verdade, o parceiro da garota meio que se aproveitava de uns movimentos para mostrar seu interesse, o que a encabulava. Uma hora o professor se irritou, no meio do segundo refrão, puxou a aluna para si e mostrou como se faziam os passos. Ao final, ficou claro que o professor se sentiu diferente. Mas que teve de assistir o aluno repetir, em movimentos mais suaves, os passos com sua aluna, quem aí já dava atenção ao parceiro, então também diferente.

Trilha indicada/citada: Shinedown – If Only You Knew

No segundo ato, quase minutinhos após a queda das cortinas, a vibe era totalmente diferente. Era um rock hard alternativo, algo estilo mais voltado para Sávio do que para Daniela, ainda que ela seja bem eclética quanto a músicas. Me senti impelida até de dar uma olhada nele, me contive. Nossa trégua havia se fechado, voltei-me para a peça.

Estavam ambientados em um bar, tal como aquele em que estive com Sávio, era escuro. O aluno paquerava outras garotas, bebia, e saía de cena quando visualizava a chegada da mocinha. Do outro lado do balcão, o professor observava tudo um tanto taciturno. If you only knew (se você apenas soubesse), era o que a música repetia bastante.

Ele aproveitou a oportunidade para se aproximar da garota, que correspondia bem a ele, dançaram um pouco juntos conforme eles foram conversando – coisa que não ouvíamos, o único recurso era a música que rolava. Só que aí o aluno retornava à cena, a aluna deixa o professor em favor do cafajeste. Termina com a garota se afastando do aluno quando ele fez uma grande investida nela, e se não bastasse isso, as garotas do início o envolveram. Ela percebe que aquilo não passava de enganação.

Trilha indicada/citada: Plumb – I Can’t Do This

Novamente as cortinas caíram ao fim da música, cada uma ditava o tempo corrido das cenas, e mais minutinhos de intervalo, caso de 4, 5, e estavam em outro cenário. Dessa vez a música era um rock com vocal feminino, mantinha o clima alternativo. Reconheci aos poucos que era Plumb, como Eric havia me informado.

Estava na rua, a aluna, apoiada nos joelhos, com respiração forte, como se tivesse corrido uma maratona. E chorava. Ela havia fugido do bar, dava pra perceber. O professor foi o primeiro a chegar à cena, também “cansado” por uma correria. Ao fundo, os “figurantes” andavam em constância, ligeiros, para dar aquela sensação, imagino, de sufoco e rua, avenida, espaço aberto para onde a garota havia corrido.

Só que conforme a cena foi se dando, que a correria foi se amenizando, os “figurantes” diminuíam o passo e seguiam o ritmo da cena sofrível. O professor chegou a tocar a aluna pelas costas, que, envergonhada, se retraía, e isso refletia novamente nos “figurantes”, que passavam a dançar conforme a dor dela. Como que a própria rejeição. I can’t do this (não consigo fazer isso) se fazia ouvido constantemente. Era incrível, era belo. Um flashmob que transmitia os sentimentos confusos da garota.

O aluno cafajeste então aparecia ao espaço, empurrava o professor, eles ensaiavam uma briga, socos, a garota teve que interceder. E quando ela se mete entre eles, o cafajeste a galanteia de um lado, o professor faz sua tentativa por outro.

O segundo refrão rolava, enquanto ela permanecia confusa, sem saber a quem corresponder. Enquanto isso, no fundo, o flashmob era tomado por movimentos dispersos, ritmados e cruzados, até que ao ponto crítico da música, um pouco pausado, em que tanto o cafajeste como o professor, a puxavam cada um de lado, pelos braços da garota, os dançarinos formavam uma corda humana que pendia. De um lado para o outro conforme da garota era exigido uma resposta. Só que alternavam, enquanto ela era puxada para a direita, a corda humana ia pra esquerda.

Quase como um grito num verso que repetia I can’t do this, a aluna se desprendeu deles, caiu ao chão. Assim como a corda humana, que caiu para trás, mas não deixavam de ter uns movimentos leves, cada dançarino com senso de autopreservação, se fechavam. E aí tudo ficava escuro. A música finalizara.

Para o ato final, o break de espera fora um pouco mais longo. As pessoas cochichavam suas teorias, suas apostas, interpretavam às suas maneiras. Me envolvi fácil, afinal, não era algo que se via todos os dias, era uma proposta diferente. Claro que todo mundo torcia pelo professor, mas as garotas torciam mais por ele ser um gato. Pra ver como eu estava imersiva na apresentação, até nisso me atentei. Não que tenha transparecido isso para Vinícius, que fazia seus comentários condizentes com os de Bruno, resmungos apenas, como sempre. Foi na verdade Susana quem elogiava demais o ator do professor.

Numa dessas breves conversas, Vini me cochichou ao ouvido:

– Agora sim, está mais corada rindo.

– Te disse para não se preocupar.

– Como se adiantasse algo, né? Mas que bom que já está melhor. Só não olha demais pra esse professor, já tem mulher demais espiando esse cara.

Para esse comentário ele se faz mais alto em seu tom de conversa, ao que os meninos da nossa área concordavam. Apenas acarinhei o rosto do namorado, tendo fé em mim mesma que ele deveria me bastar para me sentir segura.

– Pensei que se garantisse...

– E me garanto!

Então fomos interrompidos, se ouviu a introdução da música final, a minha música. Era o último ato. Todos os movimentos certos.

Trilha indicada/citada: One Republic – All The Right Moves

As luzes voltavam ao palco, uma por uma até que pudéssemos visualizar aqueles três casais do início, separados em duas fileiras, uma de homens, outra de mulheres, para a dança que se seguiria. Estavam vestidos impecavelmente com roupas clássicas, eles de smoking, elas de vestidões, e todos mascarados. Não sabíamos quem era quem, os cochichos pelo público se davam em adivinhações.

Ao fundo não havia um flashmob, era um telão que mostrava cenas de danças formais como aquela que se começava a se dar ao refrão inicial, os casais se uniam. Reconheci do próprio clipe de One Republic as imagens, entremeavam-se a outras, que já não pude identificar, pois a trama se realizava ainda ao palco.

Não foi difícil ter noção do casal principal conforme a dança se seguia. Enquanto a aluna dançava bem, seguindo o ritmo, o cafajeste, entre investidas, errava muito os passos, como foi desde o começo. E quando acertava, ela o fazia errar, o empurrava sugestivamente.

Aquilo foi tomando dimensão forte ao desenvolvimento da música, pois a garota começou a desprezar os movimentos do parceiro, as investidas principalmente, que não paravam, ela correspondia quase tão somente ao grupo, que não se abalava pelos erros do aluno. No terceiro refrão, o cafajeste deu um encontro tão forte com outro dançarino num movimento que a garota se revoltou com seu par. Empurrou tão bruscamente que ele caiu ao chão.

Isso sim abalou a apresentação, veio o espanto do público, os dançarinos paralisaram. Não bastando essa pausa, a aluna se abaixou, arrancou a máscara do parceiro, e o expulsou do palco. Com certa resistência ele se foi. E os outros dançarinos ficaram a encará-la.

Nisso, veio um momento da música, um instrumental, que se prolongou bastante, percebi que foi estendido. Pois foi o tempo de a garota surpreender a todos, ela desceu do palco, a luz da produção foi guiando seus passos até... o público. Onde estava o professor! Ela lhe estendeu a máscara. Era ele quem devia ser seu parceiro.

Nem deu muito para ele pensar, o público se animou para incentivar o professor-coreógrafo a aceitar a oferta. Tão prontamente aceitou, subiu ao palco primeiro que ela para poder dar-lhe uma mão na hora de voltar, que ela aceitou com muita graciosidade.

Assim eles concluíram a dança, com giros, coreografados, a coisa mais bela. Ao fim da música, que continha um violoncelo em evidência ao som, enquanto os outros casais diminuíam devagar seus passos, o professor parou, tirou a máscara, tanto sua quanto de sua aluna. E a beijou.

As luzes apagaram geral. As cortinas caíram. A música acabou. O público aplaudiu fortemente. Ao voltar das luzes do ambiente, aplaudiram de pé. Mais ainda quando as cortinas subiram e todo o elenco, assim como parte da produção, agradecia ali.

Num autofalante foi anunciada a próxima peça. Estavam todos ainda muito esfuziantes pela apresentação, mas também ansiosos pelo que viria a seguir. Assim as meninas anunciaram que iam ao banheiro, rápido, outras iriam à bombonière, eu apenas as segui, deixando Vinícius marcando lugar.

Extasiada, a minha saída da plateia não era para isso que as meninas diziam. Eu queria procurar Eric. Vi alguns produtores espalhados pelo saguão que logo se reencheu pelo break de apresentações. Dentre eles, sim, lá estava Eric. Mais uma vez naquela noite ele me roubava um bater diferente no coração. Era alívio. Era admiração. Que infelizmente não durou muito.

Pelo vuco-vuco das pessoas, assim que avistei Eric, ele avistou alguém também, de quem não gostou, percebi mesmo de longe isso em sua expressão. Segui o caminho de seu olhar e imagino ter repetido sua reação. Como num triângulo ao meio do povo agitado, na outra ponta estava Anderson. Que olhava diretamente para mim.

– Milena, você vem?

Perguntou Daniela ao meu lado, me forçando a acompanhá-la de volta.

– Não, Dani, vai indo. Daqui a pouco volto. Se alguém perguntar, diz que... não sei, me cobre, ok?

– Ok. Só não demora, que ainda vai ter uma paródia de...

Não a ouço mais quando vira. Todo o saguão cheio e zoadento pra mim emudece. Porque à minha frente Anderson e Eric convergiam na minha direção. Com um engolir a seco via que minha anestesia se findava. E meus tremores recomeçavam.


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Notas finais do capítulo

Apenas que... EITA.



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