Mantendo O Equilíbrio - Finale escrita por Alexis terminando a história


Capítulo 108
Capítulo 107


Notas iniciais do capítulo

Enquanto o país só manda bomba atrás de bomba, vai aí um cap pra melhorar os ânimos.

Enjoy!



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Às 8h, a picape de cabine dupla de Filipe estava na porta da casa de Djane. Ele só usa esse carro quando tem que pegar estrada. Era bom por ser mais confortável e espaçoso, éramos cinco afinal. Eu, Flá, Iara, Vini e Filipe. Os dois iriam dividir as horas no volante pra não ficar muito cansados.

Apesar de terem que partir na manhã seguinte para seguir viagem até o rancho, eles também querem poder aproveitar a estada na casa da minha família. Mamãe tá super empolgada, diz que hoje vai ter sua torta especial. Mas do jeito que dona Ana e Djane estavam nos entupindo de comida para a estrada, não sei se chegaríamos a almoçar. Tinha pão de queijo, bolinho de tapioca, bolo de milho, bolo de trigo, algumas frutas pequenas e até gelatinas. Dava pra ir e voltar e sobrar, mas elas insistiam.

Djane podia esconder sua preocupação, mas seu receio sobre essa viagem estava lá, enquanto sorria e perguntava se não estávamos esquecendo nada, fio de carregador, celular, chave, dinheiro. Aproveitei bem de seu abraço apertado na hora da despedida. Vini e Filipe logo arrumaram as malas na parte traseira do carro e deram o sinal de que era a hora, senão chegaríamos tarde ao nosso destino.

Até a polícia rodoviária da nossa cidade, a rádio pegou. Quando começou a falhar, Filipe, dirigindo, pediu para Iara passar o pendrive que ela tinha preparado. Vini, no banco do carona, esperava receber da irmã para plugar no som do carro. Nessa hora a gente estava num papo um tanto aleatório, mas divertido, sobre mapas, geografia e GPS. A Flá contava sobre uma viagem sua com os pais um tempo atrás, que pegaram um caminho errado porque a placa foi posta, de propósito, por moradores da região, em um lugar diferente do que era para estar. O caso até saiu no jornal, porque muitas famílias foram parar em lugares inesperados. Por um grande acaso, a viagem, que era para ser muito monótona, se tornou algo bem interessante.

Com um ar de muita sabedoria, mas perdida na própria bolsa procurando o tal pendrive, Iara fala:

— Isso se chama serendipidade.

E a Flávia, na janela atrás de Filipe, se estica pra frente pra perguntar:

— Seren-o-quê?!

Divertida, entro na onda da Iara, enquanto seguro as coisas que ela acabava por me repassar, em busca do dispositivo.

— Serendipidade. Eu vi esse filme! Com o carinha do Superman.

— Sim, é com o ator mesmo de Superman! Achei legal que ficou misturado, atores nacionais e atores estrangeiros... Deu mais veracidade à história. Sobre a palavra, Flá, remete a uma situação surpresa que se revela muito boa. Não lembro bem o que acontece no filme, só sei que uma brasileira herda um terreno nos Estados Unidos e quer vender, mas chegando lá... Achei!

Iara levanta o pendrive em sinal de vitória e passa pro Vini, que ri da animação da irmã. Enquanto a ajudo a recolocar as coisas dentro da bolsa, invariavelmente lembro-me do Bruno reclamando que bolsa de mulher é o perigo. Se duvidar, alguma passagem para outro mundo. Do tanto de bolsadas que ele já levou cada vez que falou isso, logo ele deve chegar ao mundo da emergência por hemorragia interna.

 

Iara continua suas explicações para Flá e Vini pluga o dispositivo no aparelho de som, que demora um tempinho para reconhecer. Eu estava esticada entre as poltronas do motorista e carona (entre Filipe e Vini), ajeitando o saco-lixeirinha de viagem, quando começou a tocar a primeira música. Os primeiros acordes foram o que me fizeram levantar a cabeça e sorrir para o sogrinho, que, me olhando pelo retrovisor rapidamente, também sorriu. Vini, que segurava a portinhola do compartimento do carro entre as poltronas, captou essa troca de olhares, curioso. Sem falar nada, volto-me à sacolinha, cantarolando:

— We’ve been on the run, driving on the sun, looking out of number one…

O próximo verso é cantado também pelas meninas.

Trilha indicada/citada: Phantom Planet – California

 

—  California, here we come, right back where we started from…

Fecho o compartimento e vejo que a música já contaminou o carro. Filipe está balançando a cabeça, ainda com aquele sorrisinho no rosto e Flá e Iara também mexem a cabeça no ritmo.

— California, Californiaaaaaaaa... Heeeeere we cooooooooooooooooome! California, Californiaaa... Heeeeere we cooooooooooooooooome! Oooh.

Fazemos o coro, as três animadas. Antes que eu cutuque o namorado, Iara toma a vez:

— Bora, Vini! Nada de trair o movimento!

— Estou poupando vocês da tragédia que sou eu cantando.

— Mentira, é a coisa mais fofa!

A coisa mais fofa arranhando, mas não complemento. Só boto pilha também. A Flávia ajuda.

— Vamo, Vini, tá chegando o refrão de novo.

— É, Vini, quem nunca cantou quando passava The O.C.?!

Eu via que ele estava um tanto encabulado, não gostava muito de cantar e principalmente com gente olhando. Adorava quando ele arriscava. Pra mim parecia tão charmoso quanto alguém afinado. O charme, claro, era mais por ele ficar todo embaraçadinho.

O refrão chegou de novo e Filipe inclusive aumentou o volume, nossos coros ao mesmo tempo se perdendo e ganhando força. E voltamos com a pilha.

— Vamo, Vini, por favor!

— É, Vini, cantaí!

— Lá vem o refrão de novo.

Acho que pra provar quão libertador era, Filipe se juntou a nós, que era a última parte da música. Nossa surpresa foi tamanha, que colocamos mais empenho nessa finale, e foi lindo, mesmo com o Vini se negando. Ao fim, o namorado quis brincar:

— Olha só que coincidência, quando eu ia cantar, a música termina.

E quem apronta é o Filipe, para gargalhadas das meninas e orgulhinho do meu coração:

— Não seja por isso, filho, não seja por isso.

E coloca a música pra repetir.

Ao assistir os dois argumentando sobre, só consigo pensar que esse era um bom reinício e que teria algo engraçado para contar na próxima ligação do Murilo. Não quero mais isso de papo meio morto ou resignado. A falta do meu irmão ainda era enorme, claro, mas nem só de tristeza eu devia viver nesses dias. Nem ele, nem ninguém.

Por isso canto com companheirismo mais uma vez os refrãos e acho que é tão libertador e acolhedor ao mesmo tempo que dessa vez sim o Vini adere aos nossos pedidos. Com a força de todos, eu vejo, a gente vai conquistar muitas coisas mais.

~;~

— Deixe-me ver se tenho o nome de todos: Helena, sua mãe; Marília, sua avó; Otávio, seu pa...

Em um posto de gasolina fazemos uma pausa rápida para esticar as pernas e ir ao banheiro. Como fui uma das primeiras a ir, por conta da bexiga cheia, fui a primeira a retornar. Encontrei Filipe abastecendo e me encostei no carro, de braços cruzados, observando-o. Ao me perceber ali, ele quis tirar umas últimas dúvidas sobre minha família. Parecia ansioso.

— Relaxa, que ninguém morde. Bom, talvez meu avô. Mas ele já passou dessa fase. Acho, né? Se ele tentar alguma coisa, é só me dizer, que dou um jeitinho. Vovô ainda é um tantinho ciumento.

— Acho que o Murilo já havia comentado algo por alto sobre isso.

Filipe esboça um sorrisinho ao receber o troco do frentista. Logo está encostado no carro ao meu lado, na mesma posição, olhando para a estrada, para o nada. Havia muitos caminhões por ali, vans e carros pequenos. Ao lado da loja de conveniências do posto, tinha uma lanchonete. Não estava nem cheio, nem vazio, então o clima era bem calmo.

— Na última vez que fomos para lá, vovô tava mais manso em relação ao Vini. Papai que ainda colocava um pouquinho de terror nele. Por gosto mesmo.

— Bom, essa diversão nenhum pai nega, né?

Filipe pisca pra mim e eu não resisto em perguntar:

— Ainda apronta com o Sávio?

— Quando dá, não resisto, confesso. Sei que ele é um bom garoto, mas, por garantia, e um tantinho de diversão... Acontece.

— Sei, acontece. Não me olha assim, não estou dizendo nada.

Filipe repensa o caso, meneando a cabeça. Por um momento fica sério.

— A Iara se acostumou a ser sozinha e acho bom que isso ela tem mudado nos últimos tempos. Autocentrada e prática, ela se fechou por muita coisa que passou. Vê-la aberta às pessoas é um alívio pessoal, sabe? E ela sabe que só quero sua felicidade. Se o Sávio é um desses motivos, bom. Não intervenho. Mas cuidado de vez em quando não é crime, é?! Quem ama, cuida.

Eu que não ia entrar nessa. Poderia escrever uma série de livros sobre minhas reservas sobre o assunto, mas acho que é uma daquelas coisas que a gente só aprende passando. Além do mais, minha história é bem diferente da Iara. Então só chuto uma pedrinha dali, distraída, e Filipe percebe em que ponto tocou. Sei que sim pelo modo desconfortável que fica, que pigarreia e vai pelas beiradas do assunto para replicar a si mesmo.

— Ainda tem muita coisa para acontecer por agora e eu só queria me certificar de que ela vai ficar bem com tantas mudanças.

— Fala de irem morar com seu Júlio?

— Também. Tem ainda aquela questão de ela voltar a estudar agora, o que acarreta também uma mudança no trabalho e às vezes penso que sou chat...

— Espera, voltar a estudar? Ela vai...?!

Filipe leva uma mão ao rosto ao perceber a burrada.

— Santo Deus, era surpresa e eu contei! Me promete que vai fazer cara de surpresa, Milena, me promete!

— Nem precisa dizer mais nada, vou esperar as notícias dela.

— Ah, fico bem orgulhoso por ela... que teve que deixar os estudos de lado tão cedo. Aquela família dela... Enfim, estou falando de novo.

— Só quer dizer que o senhor está bem preocupado.

— Não vou mentir, Milena. Essa viagem também me deixa inquieto.

— Pelo Vini?

— Pelos dois. O Vini e o Silveira. O Vini e Viviane. Iara e Viviane. Iara e... Posso contar um segredo?

Olho pra trás e espio para ver se tem algum sinal das criaturas que demoravam a aparecer e nada. Nada mesmo. Onde teriam se metido?

E por que Filipe tá tão inquieto com isso?

— Diz aí.

— Nos mudar para a casa de meu pai me parece necessário de muitas maneiras. Meu pai precisa de mais assistência e às vezes penso que Iara precisa de mais atenção. Desde que ela fechou aquela investigação sobre a mãe, quis lhe dar a família que ela sempre sonhou e agora... Bem, agora temos o caminho aberto. Mas essa viagem... Ela pode trazer velhos fantasmas. Ela acha que eu tinha mais medo da reação do Vinícius, mas a verdade é que meu medo maior era de decepcioná-la.

Envolta de tantos pensamentos, isso me pega um pouco de surpresa. Quer dizer, eu também achei que Filipe se pelava mais de medo do Vini de que outra coisa. Murilo já havia puxado essa teoria sobre Iara, eu ficara balançada. E agora me surpreendo. E continuo a ouvir, atenta.

— Já estava, de certa forma, acostumado em ficar por fora da vida do Vini. Desapontar minha filha seria... bem mais difícil. Ainda fico preocupado sobre a reação dela sobre essa viagem. Remexer em coisas sobre Viviane. Lígia. Ela quem se prontificou a vir. Não tinha como dizer-lhe não. Por isso fico tão...

Filipe suspira e parece não encontrar a palavra. Me aproximo do sogrinho e encosto a cabeça no seu ombro, como se fosse possível tirar-lhe essas nóias. Bem eu sei o que é fazer o velório antes de qualquer coisa e no momento estou experimentando a espera... A fé. Tranquilidade tem me parecido bem essencial.

Mas não dá pra chegar e vender uma história dessas pra quem tá num redemoinho de pensamentos pesados. Tem que ir com jeitinho.

— Relaxa, Filipe, você até que tá indo muito bem. Nem eu percebi. Tá ficando craque, hein? Mas não devia. Não devia guardar isso da Iara. Sério. Palavra de quem ainda tá pagando essa conta no banco. Pra falar a verdade, meu nome já tá é no Serasa. Só ainda não fui a leilão.

— Acho que já fui a leilão, Milena.

— E a gente te resgatou, não resgatou?

Filipe coça a cabeça, pensativo.

— Tem que abrir esse jogo com ela, você sabe. Eu sei que vocês brigaram feio por essa história da investigação e entendo totalmente o seu receio. Mas não dá pra proteger ela pra sempre. Afinal, essa história também é dela. Não estou dizendo para o senhor simplesmente jogar essas preocupações de uma vez, só... ir com calma. Pensar mais a respeito. Agora que a história do Vini surgiu no horizonte... O senhor podia aproveitar como oportunidade, quem sabe.

— Ás vezes penso que só devia calar minha boca.

— E isso não iria calar seus pensamentos, iria?

Antes que Filipe pudesse responder, ouvimos passos perto de nós e nos viramos a tempo para que não ouvissem o papo. Era o Vini chegando. As meninas logo mais atrás.

Coloco a mão na cintura e questiono alto o bastante:

— Onde vocês se meteram, hein?

~;~

Estar de volta a sua casa como visita é uma sensação esquisita. Ali meio que sempre foi seu lugar, mas a sensação é de ter perdido um pouco dessa impressão. Como se estivesse faltando alguma coisa. Alguém. Por mais que eu esteja rodeada de pessoas, constato, e pessoas que amo, ninguém pode suprir a ausência do meu irmão. Ele é a minha casa. Pensativa, desembaraço meu cabelo molhado pós-banho sentada na cama do meu quarto e assisto mamãe se embananar desconcertada por o colchão de ar ter furado. Era onde Iara iria dormir uma noite conosco. Flávia estava tomando seu banho e Iara estava tentando dizer pra minha mãe que não tinha problema.

— Mas eu arrumei tão bonitinho. Desse jeito você vai ter que ficar na cabana, com seu irmão e seu pai.

Não nego que foi de esquentar o coração ouvir mamãe falar “irmão” e “pai” se referindo ao Vini e Filipe em relação à Iara. Não nego que deixei um sorrisinho escapar.

— Filha, não ri de sua mãe.

— Juro que não é por isso, mãe.

Iara me olha e fico na dúvida se ela pegou o feeling. Ela acaba voltando ao assunto. O local de dormir.

— Não tem problema, dona Helena. Eu posso ficar na cabana.

— E a festa do pijama das meninas?

Ok, agora a Iara pegou o feeling de facepalm meu para minha mãe e sorriu. Quem disse que ia ter festa do pijama, mãe?

Eles vão viajar amanhã de manhã, mãe. Não inventa.

— Só queria que pudesse fic... Ahhhh! Tem uma rede! Como não pensei nisso antes?! Tem bastante espaço aqui e temos como colocar uma.

— Rede então, dona Helena.

— Continua a festa do pijama!

Mamãe bate palminhas, animada, e sai do quarto para ir atrás da rede. De sobrancelhas levantadas, sigo ela com o olhar até sumir. Volto a desembaraçar meu cabelo conforme Iara busca em sua mala uma muda de roupa para o almoço em família. Afirmo logo:

— Essa é minha mãe. Entrega logo que tá aprontando algo.

— Ela é ótima!

— Ela é mesmo. Então acho que vamos ter uma festa do pijama. Agora me pergunto é o que mamãe considera como festa do pijama. Que filmes será que ela anda vendo?

Flá volta para o quarto e pega a conversa pela metade. Iara aproveita para ir tomar seu banho.

— Quem anda vendo filme?

— Mamãe.

Rindo, minha amiga se debruça sobre sua mala para guardar alguns itens que trouxera do banheiro.

— Ela te ligou de novo por conta de algum filme de suspense?

— Até que não. Tava dizendo pra Iara que mamãe vai aprontar algo hoje. Essa noite. Uma tal de festa do pijama, e aqui no quarto.

— Já disse que sua mãe é ótima?

— A Iara disse.

Não passa um minuto e minha mãe retorna com a rede, para montar às pressas. Iara sai do quarto mexendo no celular e Flá está desenrolando a fiação do seu. Eu tento não ficar dependente, checando toda hora o meu. Quero sossegar nesse fim de semana. Termino de pentear o cabelo e vou cutucar a onça com vara curta, que estava tendo dificuldades de armar a rede.

— Deixa, mãe, eu termino de arrumar daqui a pouco.

— Mas a Iara deve tá cansada, vai querer deitar após o almoço.

— Eu dou minha cama, pode deixar.

— Só quero que fique tudo direitinho.

— E tá tudo direitinho, mãe. Anda, vamo almoçar.

— Mas...

— É a sua torta especial. Vai aceitar que alguém corte ela sem a sua presença?

— Ninguém mexe na minha torta!

Depois dessa, não preciso dizer mais nada. Flá ri discretamente, assistindo a cena. Mamãe larga a rede e se apronta, ajeitando os cabelos e a blusa, alvoraçada e animada de novo. Quando marcha até a porta e para, apontando pra gente seguir ela, pois não sairia dali sem a gente, me animo mais e boto pilha na Flá:

— Bora, que eu tô com fome!

— Mas eu preciso colocar meu celular pra carregar.

— Coloca depois. Hora do almoço é hora do almoço. Sagrado.

Puxo minha amiga e colo em mamãe, os olhos brilhando de orgulho e saudade. Algo me diz que vale totalmente cair nas noias dela. Dessa vez não vou ser a chata de falar, vou é procurar aproveitar. Por mim e por ela, que também sente falta de seus homens da casa.

~;~

 

Após o almoço delicioso e recheado de conversas, fomos para a sala dar um tempo para a sobremesa. Flá e Vini dizem que não entra nem gota d’água, que dirá um pedaço de pudim com calda. Flá na verdade fica estirada do meu lado no sofá sem conseguir se mexer. Pra quem tava enrolando pra comer, ela almoçou bem e bem demais ao ponto de ficar estufada. Mentalmente anoto essa para contar pro Murilo depois, junto ao mico que paguei perante Filipe quando achei que a Flá estava mostrando onde quebrei a cabeça do Vini noutra viagem. Acabou que fui eu quem disse alto demais e Iara me ajudou enterrar o caso ao contar sobre a vez que o Vini e Murilo inventaram de aceitar um desafio do vô-sogro sobre comer pimenta.

Apesar de mamãe ainda ter frisado sobre ter cuidado do Vini como gostaria que fizessem com o Murilo, tão logo lá estava ela costurando planos com Filipe sobre reunir, em alguma oportunidade, a grande família. Se eu não conhecesse a peça, diria que mamãe está apaixonada pelo meu sogro. Ela tá... simplesmente encantada. Eles falaram pelos cotovelos o almoço inteiro. Acho que nunca vi Filipe tão conversador como agora – o que é também um perigo pra sociedade! Primeiro foi Djane, agora Filipe. Seu Júlio é o próximo da lista. Conquistar as pessoas parece que é de família.

Até vovô. Meu Deus, vovô. Que furacão foi esse que passou e mudou os ares, as perspectivas de vovô? Ele não tá implicando com o Vini, nem com Filipe. Tá fazendo suas graças, claro, mas já não senti aquele fundinho de malícia. Fico a imaginar se tem o dedo do Murilo nisso. Falando em dedo, enquanto vovó já degusta de sua sobremesa, sem querer topo num porta-retratos da mesinha ao lado quando me mexo pra me ajeitar no sofá e lembro de uma peripécia. Logo que mamãe serve a Iara, eu provoco:

— Mamãe acha o Murilo, mas não acha as fotos de escoteiro do Murilo. Tem o dedo de alguém aí, tenho certeza.

Pois é, ela encontrou um tomagooshi meu que eu acreditei não mais existir. Sim, o nome dele era Murilo. Já disse que eu gosto de provocar?

— Eu disse pro seu pai que acho que fomos roubados.

— Quem roubaria fotos do meu neto numa peça de escola?

Vovô questionou, aproveitando sua sobremesa, que dessa vez minha avó deixou ele relaxar. Ele até disse pro Filipe voltar mais vezes quando vovó falou que ele podia comer doce. Acho que Filipe não sacou o que ele quis dizer com isso, só sorriu satisfeito pelo convite. Mas todo mundo entendeu quando mamãe respondeu a questão, tranquila. Melhor, todo mundo me deu aquela olhada enviesada com um sorrisinho.

— Não sei, tem doido pra tudo!

Esse povo me conhece demais!

— Me parece um bom mistério.

Condescendente, Filipe responde recebendo sua taça com pudim. Eu estaria ajudando mamãe se ela não tivesse insistido em me fazer sentar e fazer sala. Noutros tempos ela taria explorando eu e Murilo. Pelo visto, os tempos mudaram. A gente acha que o que fica pra trás não muda, mas a verdade é que a gente não fica o suficiente pra ver mudar. Então pode ser que nos pegue de surpresa. No momento, é só essa minha sensação. Observo o movimento da casa, o falatório, as risadas, a vibe... e já não me sinto tão só. Ou tão ansiosa. Meu irmão pode ser meu sentimento de casa, mas ele não pode contemplar o sentimento de família. É preciso de mais de uma pessoinha pra isso.

Acho que não poderia estar em outro lugar senão aqui, neste momento.

Um dia ainda vamos reunir essa grande família.


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Notas finais do capítulo

Imagina essa família toda numa mesma mesa hahaha

Trechinho?

"- O que é isso, Vinícius?
— Isso o quê?
— Essa vermelhidão no seu rosto.
— Vermelhidão?
— É... de quem tá constrangido.
— E-eu? Constrangido?"

MUAHAHAHAHA



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